Queridos amigos,
Era o embaraço da escolha, tal a oferta farfalhuda de núcleos museológicos, de ermidas, igrejas e exposições. Vir a Tavira e não pôr o nariz no Palácio da Galeria é como ir a Roma e não visitar os museus do Vaticano. O Palácio da Galeria/Museu Municipal de Tavira tem valor excecional, no subsolo temos vestígios da presença fenícia, depois há as molduras góticas, o edifício está moldado pela moderna estética renascentista. Nele habitaram os Aragão de Sousa, família nobre ligada à defesa das praças lusas do Norte de África, durante o século XVI, estas praças muito contribuíram para momentos áureos de Tavira. Há depois os elementos barrocos, está preservada a Galeria Quinhentista. Palácio recuperado e adaptado para fins culturais em 2001, é aqui que venho visitar mestre Almada Negreiros e daqui o viandante irá partir, bem consolado, percorrendo o centro de Tavira à beira rio, dia de sorte, culminou com um poente mediterrânico.
É assim a vida, a surpresa com que não se contava na viagem.
Um abraço do
Mário
Tavira, a encruzilhada de civilizações (2)
Beja Santos
Entra-se no Museu Municipal de Tavira/Palácio da Galeria para ver a mulher representada por Almada Negreiros, nada menos nada mais do que 55 obras, desenhos e pintura, a larga maioria pertencentes ao acervo da coleção moderna do Museu Calouste Gulbenkian, bem assim como excertos da sua obra literária e textos publicados nos jornais e revistas da época. A exposição visa mostrar a representação da mulher com um “olhar moderno”.
A curadora da exposição prestou declarações a uma agência noticiosa ao tempo da exposição tendo dito que “o olhar sobre a mulher ao longo da história da arte ocidental é um olhar masculino e aqui também não fugimos a essa regra. Estamos a falar de um homem que olha a mulher, que a retrata e que a torna objecto da sua pintura, do seu desenho ou da sua obra literária”. A curadora lembrou que Almada foi “um artista que abraçou a modernidade, que quis ser moderno acima de tudo, representou uma mulher emancipada”. E, mais adiante: “As mulheres já não são só objectos de contemplação ou representadas como passivas na obra dele, vamos sistematicamente encontrar mulheres activas, mulheres desportivas – sobre as quais aliás ele escreve também –, mulheres bailarinas, cantoras, e que não estão em nenhuma posição necessariamente subalterna, pelo menos não são mostradas dessa forma e isso, mostrá-las de maneira diferente, era também sinal de modernidade”.
Almada Negreiros (1893-1970) viveu as primeiras décadas do século XX – período a que pertencem as obras expostas, enalteceu nos seus trabalhos este fenómeno da emancipação da mulher, por vezes associada a uma certa libertação de costumes e a uma vida boémia dos chamados anos loucos de 1920.
Um óleo célebre de Almada em que se representa com a sua mulher, a pintora Sarah Afonso.
Exposição magnífica, se é necessário adjetivar o que tão impressivas imagens oferecem ao leitor. Tavira tem presença fenícia, muçulmana, vestígios medievais, tem marcas do tardo-gótico e de um majestoso barroco, isto para já não falar de palácios e habitações solarengas de grande porte, algumas delas flanqueando o Rio Gilão, a caminho da Ria Formosa. Vamos passear, há um pôr do sol magnífico que espera por nós.
É fascinante descer do Palácio da Galeria até chegar aqui, onde o Rio Gibão vai abraçar a Ria Formosa, o viandante é um sortudo, com o dia e a hora, um poente magnífico no dia cálido, apetece caminhar mais para ganhar apetite para um jantar de peixe. E depois preparar, entre estes cheiros de maresia o dia de amanhã, o último em Tavira, mas sempre com uma enorme vontade de regressar.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20067: Os nossos seres, saberes e lazeres (348): Tavira, a encruzilhada de civilizações (1) (Mário Beja Santos)
1 comentário:
Pois, o que isto tem ver com a guerra na Guiné?
Pois, quanta rapaziada esteve na tropa em Tavira, nos anos 60 e 70 do séc. XX, e depois foi mobilizada para a guerra na Guiné?
Pois, naquele tempo não havia Museu para ver quadros do Almada, nem pachorra para olhar o que Tavira tinha para ver e 'nunca mais chega o fim de semana para ir a casa' diriam todos.
(….eram as 'excursões turísticas da juventude' em vez das 'prá terceira idade' actuais, diriam os irónicos do costume)
Valdemar Queiroz
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