1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Janeiro de 2019:
Queridos amigos,
Depois de um quadro expositivo, marcadamente teórico sobre a evolução do racismo, caraterização e manifestações, era altura de entrar declaradamente na apreciação do colonialismo português. Charles Ralph Boxer (1904-2000) publicou este livro em 1969, caiu nos governantes do Estado Novo como uma bomba. Só não lhe chamaram comunista porque ele era visceralmente conservador. Era professor no King's College em Londres, Doutor Honoris causa em Utrecht e Lisboa, agraciado com a Ordem de Santiago de Espada. Ora Boxer ia desmontar, na sequência de outros trabalhos já publicados nessa década, a falácia do Portugal multirracial e luso-tropical, revelou, com documentação sólida na mão que o colonialismo português era categoricamente discriminador e com práticas raciais indesmentíveis, desde os primeiros séculos do império, como se verá também no texto seguinte.
Um abraço do
Mário
A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (5)
Beja Santos
Charles Boxer |
Em termos historiográficos, como salienta Ramada Curto, é de leitura indispensável. Boxer distanciara-se das teses de António Sérgio e de Jaime Cortesão, para quem a formação de Portugal estaria nas atividades marítimas, enfatizando que o Portugal medieval era uma sociedade cuja estratificação social e base económica eram determinadas pela agricultura, as atividades marítimas eram fragmentárias e intermitentes, a dinâmica da marinha comercial situa-se no fim do século XIV. Boxer irá sugerir um outro feixe de razões económicas para a expansão portuguesa, e detalha-as neste livro. É uma longa viagem, redigida numa escrita vibrante e acessível como só os grandes mestres possuem o dom, percorrer-se-á todo o Império Português desde a cristandade medieval, disseca-se o projeto henriquino, o ouro da Mina e a demanda do Preste João, a longa exploração em torno do litoral da costa africana, depois o fundamento do império militar no Oriente e a constituição da rota das especiarias nos mares da Ásia, a evangelização dos locais do Oriente onde se fixaram os portugueses, depois os escravos e o açúcar do Atlântico Sul, entre os séculos XVI e XVII, os renhidos combates contra os holandeses; depara-se-nos, entre os séculos XVII e XVIII o refluxo do I Império, dá-se a contração no Oriente, assiste-se nesse mesmo período a um renascimento económico de Portugal e do seu império ultramarino graças ao Brasil, não já o açúcar mas o ouro e as pedras preciosas; dar-se-á nota da carreira da Índia e das frotas do Brasil, em simultâneo disseca-se o que foi o Padroado da Coroa e as missões católicas, e é então que se chega à matéria mais explosiva que o autor designa por “pureza de sangue” e “raças infectas”.
E logo o primeiro período ameaça tempestade:
“Não faltam eminentes autoridades contemporâneas que afirmem que os Portugueses nunca tiveram quaisquer preconceitos raciais dignos de menção. O que essas autoridades não explicam é a razão pela qual, nesse caso, os Portugueses, durante séculos, puseram uma tal tónica no conceito de ‘limpeza’ ou ‘pureza de sangue’ não apenas de um ponto de vista classista mas também de um ponto de vista racial, nem a razão por que expressões como ‘raças infectas’ se encontram com tanta frequência em documentos oficiais e na correspondência privada até ao último quartel do século XVIII”.
E logo adianta que os cristãos-novos e os escravos negros não eram os únicos indivíduos em relação aos quais se fazia discriminação, nem todos os católicos apostólicos romanos eram, de modo algum, elegíveis para os cargos oficiais.
A abordagem não pode ser linear, tem matizes de complexidade, e Boxer dá exemplos que disparam em várias direções. Um congolês educado em Lisboa foi nomeado bispo titular de Útica em 1518. Um breve papal desse mesmo ano autorizava o capelão real de Lisboa a ordenar “etíopes, indianos e africanos” que pudessem ter atingido os padrões morais e educacionais exigidos para o sacerdócio. Em 1541, o Vigário-Geral de Goa convenceu as autoridades civis eclesiásticas a patrocinarem a fundação de um seminário para a educação e treino religioso de jovens asiáticos e africanos orientais, os jesuítas assenhorearam-se da instituição e associaram-na ao seu Colégio de São Paulo. Mas muitos religiosos eram céticos à experiência multirracial. São Francisco Xavier advogava a ideia de que noviços indianos não deviam ser admitidos na Companhia de Jesus. Boxer observa o desdenhoso desprezo manifestado pelos leigos portugueses face aos padres indianos e euroasiáticos.
E quando se fala em complexidade, tendo havido apenas um indiano que foi ordenado padre da Companhia de Jesus, tendo mesmo o grande reorganizador das missões jesuítas na Ásia, Alexandre Valignano, aberto uma exceção em favor da admissão de japoneses ao sacerdócio, alargando-a aos indochineses e coreanos, opôs-se determinantemente à admissão de indianos na Companhia de Jesus, e escreveu mesmo: “Tanto porque todas as raças escuras são muito estúpidas e viciosas, e espiritualmente do mais baixo nível que é possível, como também porque os portugueses as tratam com o maior dos desprezos, e ainda porque entre os habitantes da região são menos estimados do que os portugueses”. Mais tarde ou mais cedo, diz Boxer, todas as ordens religiosas que trabalhavam sob a alçada do padroado asiático adotaram o precedente estabelecido pelos Jesuítas.
Complexidade, os portugueses compreenderam que não podiam destruir o antiquíssimo sistema de castas hindu, teriam de viver em harmonia com ele: com os brâmanes, ou classe sacerdotal; os xátrias, ou classe militar; os vaixiás, de que faziam parte mercadores e camponeses; e os sudras, ou lacaios e servos. Tudo Boxer descreve minuciosamente, e com documentos na mão.
Referindo-se a África Ocidental, dirá que aqui predominou uma atitude muito mais liberal, tendo sido ordenados alguns congoleses educados em Lisboa logo no reinado de D. Manuel, precedente que foi seguido sucessivamente nas ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, e, depois de considerável hesitação, em Angola. E no Brasil nunca se pôs sequer o problema de ordenar ameríndios puros.
Como se irá ver seguidamente.
(continua)
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Nota do editor
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Último poste da série de 30 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20399: Historiografia da Presença Portuguesa em África (189): I Exposição Colonial, Porto, junho/setembro de 1934: fotogaleria do encerramento...
18 comentários:
Diz Mário Beja Santos que o jesuíta italiano Alexandre Valignano (em chinês范礼安 Fàn Lǐ'ān (Chieti, 15 de Fevereiro de 1539 - Macau, 20 de Janeiro de 1606) terá aberto uma exceção em favor da admissão de japoneses ao sacerdócio, alargando-a aos indochineses e coreanos, opôs-se determinantemente à admissão de indianos na Companhia de Jesus, e escreveu mesmo: “Tanto porque todas as raças escuras são muito estúpidas e viciosas, e espiritualmente do mais baixo nível que é possível, como também porque os portugueses as tratam com o maior dos desprezos, e ainda porque entre os habitantes da região são menos estimados do que os portugueses”. Mais tarde ou mais cedo, diz Boxer, todas as ordens religiosas que trabalhavam sob a alçada do padroado asiático adotaram o precedente estabelecido pelos Jesuítas". (Fim de citação)Esta última frase é uma inverdade histórica, no século XVIII havia dois seminários para meninos chineses a funcionar em Pequim, anexos às igrejas de Nantang, portuguesa, e de Beitang, francesa.
O que leva Mário Beja Santos a assumir uma posição racista e a detestar a expansão portuguesa pelo mundo? O que o leva agora a denegrir ( socorrendo-se de Charles Boxer) a nossa gesta pelos quatro cantos da Terra? Para Mário Beja Santos fomos sempre colonialistas do pior, destaco a facilidade com que Mário Beja Santos se refere a frases e conceitos que prevaleciam na Europa do século XVI, e que não podem ser avaliados segundo as nossas ideias e conceitos de hoje, do século XXI.Passaram-se quinhentos anos, o mundo, o conhecimento do mundo e dos homens mudou. No século XVI, o que diziam dos portugueses os muçulmanos, os indianos, os chineses? Verdadeiras barbaridades. Na Ming Shi 明史, a Crónica da dinastia Ming (sec.XVII) os portugueses até são descritos como antropófagos, gente que comia crianças cozidas em caldeirões.
Tive a sorte e a honra de conhecer e ser amigo do Prof. Charles Ralph Boxer. Macau e a expansão portuguesa no Extremo Oriente uniram-nos, por bem. Tenho uma carta dele para mim, escrita dois anos antes de morrer, que talvez valha a pena publicar neste blogue.
Boxer era um grande senhor, com uma fabulosa experiência de vida em Hong Kong, Macau e Japão. É verdade que o inglês criticou a maneira grandiloquente e exagerada (éramos todos iluminados e heróis!) de recordar e fazer a nossa História, ao modo do Estado Novo. E quase sempre com razão. Mas era um grande amigo de Portugal, e tinha enorme admiração pela aventura e loucura dos Descobrimentos Portugueses. O Mário Beja Santos terá de ler inúmeros textos de Charles Boxer, de que todos nós, portugueses, excepto ele MBS, nos podemos orgulhar.
Abraço,
António Graça de Abreu
Pois é, a saga continua e penso que só o Mário Beja Santos poderá escalpelizar o que vai dentro dele, se puder e quiser.Porque efectivamente alguma coisa se passa com ele para desancar os nossos antepassados e a sua história continuamente.Enfim
Carlos Gaspar
É intrigante para gerações de colonialistas das grandes potências, inclusive a nossa vizinha Espanha, como foi possível esta coisinha insignificante à beira mar plantada, e intrigante mesmo para muitos de nós nacionais, como foi possível a epopeia dos descobrimentos e de alguma colonização que essas potências não conseguiram impedir que fizessemos.
Então alguns tentam compreender com estes tipo de estudos, e uma no cravo outra na ferradura, chegam à conclusão que desgraçámos e tratámos mal meio mundo, justificando assim que essas grandes e civilazadíssimas potências fizeram coisas maravilhosas com os seus apartheides, com a liquidição de toda a gente que existia na Austrália, (oceania)com todos os indios norte americanos, para citar um exemplo que apaga qualquer barbarida que os portugueses, ou mesmo os próprios espanhois acusados de que acabaram com civilizações (maias, aztecas).
Ao contrário dos ingleses, que fizeram os Estados UNidos, enorme potência, sem peles vermelhas a "chatear", portugal deixou um Brasil, onde em 2019, ainda andam lá uma data de índios a "chatear branco".
Portugal semeou fortalezas desde Marrocos, costa oriental e ocidental de África, Etiópia, Gana, etc. pelas costa de Ásia, de onde fomos sendo empurrados por Holanda, França, Inglaterra, mas ficam admirados como foi possível impedir que o Brasil não tenha sido dividido por Holandeses, Franceses, Espanhois e outros mais.
que tentaram de armas na mão, correr com o portuguesito.
Sim, essa gente toda tentou dividir aquele mundo mal amanhado.
O Brasil é tão intrigante para meio mundo, que se assiste com frequência na televisão, jornais e rádio debates: foi um azar os portugueses terem corrido com os franceses do Rio de Janeiro, com os holandeses do Recife e nordeste, e outras bocas das mais boçais que podemos imaginar, a desfazer do português.
Como vivi 5 anos por meio Brasil, em obras no meio do povão, como "refugiado/retornado" do 25 de Abril, imaginem qual não foi o meu gozo a assistir àquilo tudo, a ouvir, ver e a aprender.
"O português só fez mulatos e matou indios, o Brasil não deve nada aos portugueses",
"Os portugueses são tão atrazados como os pretos",
"O português não pode ver uma mulata"...estas bocas eram do povão em qualquer esquina.
Ora como as várias colónias, italiana, espanhola, alemã, para falar das mais numerosas no Brasil, precisam de se afirmar, vão fazendo a sua propaganda, desfazendo cá da malta, e inculcando estas "verdades" sobre o portuga à maneira deles.
Eu gosto muito desta gente que Beja Santos nos vai trazendo, só me admiro porque AGA se escandaliza tanto com ele.
Ainda hei-de contar histórias brasileiras e angolanas que vivi ao vivo (sem contraditório, o que é chato e por isso exito) para explicar como compreendo e aceito estes autores que escrevem sobre a maneira como nos desenrascámos.
Só que nunca conseguem entender os poucos sucessos que tivémos, ou não querem entender.
Rosinha, é isso mesmo.
Será tabu publicar no nosso blogue, os acontecimentos das perseguições e conversões forçadas dos goeses ao cristianismo feita pelos portugueses, já denunciado em livros, jornais e programas de televisão?
Não podemos aqui falar disso, que 'ai meu deus que estão a dizer mal dos portugueses que tanto deram ao mundo'?
Do 'tanto deram ao mundo' todos nós sabemos isso e até nos foi ensinado que não havia diferença entre um transmontano e um bijagó, pois: ambos não sabiam ler nem escrever, mas o bijagó não tinha BI de português.
Mas, não consigo perceber se o problema é do Graça Abreu não gostar de ver o Beja Santos a publicar estes temas ou de, simplesmente, não gostar de os ver publicados aqui no blogue.
Sabemos como foi difícil, em longo dos tempos, a colonização dos territórios portugueses em África, veja-se as acções, mais recentes, de pacificação do Mouzinho e Teixeira Pinto nos finais do séc. XIX, actos coloniais e finalmente a guerra de 1961-1974.
Valdemar Queiroz
Não entendes, Rosinha?
Então aí vai a opinião de um inglês, em 1700, sobre pessoas como tu e como eu, portugueses, gente que, segundo doutas opiniões, com as quais tu concordas, será uma espécie de escória da raça humana.Que tristeza...
"Os portugueses são, sem dúvida, a raça mais feia da Europa. Bem podem eles considerar a denominação de homem branco como uma distinção. Os portugueses descendem de uma mistura de judeus, negros e franceses, pela sua aparência e qualidade parecem ter reservado para si as piores partes de cada um destes povos. Tal como os judeus, são mesquinhos, enganadores e avarentos. Dos mouros, são ciumentos, cruéis e vingativos. Tal como os povos de cor, são servis, pouco dóceis e falsos e parecem-se com os franceses na vaidade, artifício e gabarolice"
John Colbatch - An Account of the Court of Portugal under the Reign of the Present King Dom Pedro II. London: s.n, 1700.
Abraço,
António Graça de Abreu
O português, pouco mais de um milhão em Quinhentos, é um povo extraordinário, dado a poucas grandes euforias e muitas pequenas depressões... Declaração de conflito de interesses: não tenho qualquer responsabilidade por atos e omissões dos meus antepassados... A noção de "responsabilidade coletiva" é uma construção monstruosa...
Os meus antepassados foram simplesmente homens, como eu, nem herois (mais do que homens, menos do que deuses), nem muito menos deuses...
Saibamos cultivar o humor, que implica saber rir dos outros e de nós próprios... Saibamos escutar os outros, sem que nos "eriçarmo-nos"... Bom conselho, mano mais velho Rosinha, o último dos africanistas lusitanos!... Luís Graça
Meu caro Waldemar
Falas nas "perseguições e conversões forçadas dos goeses ao cristianismo feita pelos portugueses, já denunciado em livros, jornais e programas de televisão?"
Já foste a Goa, já falaste com goeses cristãos, já te misturaste com o povo de Goa?
Estive lá em Novembro de 2016 e escrevi então, mas creio que tu também não entendes:
Goa, um pé em Mormugão,
todo o olhar em Vasco da Gama.
Goa, do velho Afonso de Albuquerque,
espadeirando pelas costas do Malabar,
na aventura insana de conquistar o Oriente.
Goa, dos grandes vice-reis e senhores de outrora,
hoje em lápides enegrecidas pelo tempo.
Goa, de Bardez a Salsete, o pó resplandecente da fé,
e sinuosos silêncios.
Goa, de cem mil cruzes diante de cem mil lares,
braços de Cristo abertos para o mundo,
cemitérios de cristãos unindo céu e terra.
Goa, uma Roma Oriental cintilando na basílica do Bom Jesus,
cinco séculos a acastanhar a pedra,
e São Francisco Xavier, benfazejo e amigo,
num túmulo de prata, pedrarias e cristal.
Goa, da velhíssima Sé Catedral,
maior igreja da Ásia, imaculadamente branca,
no altar-mor, dois jovens, mais uns tantos amigos,
todos humildemente descalços,
um casamento em língua portuguesa.
Goa, da igreja de S. Caetano,
semelhante à basílica de S. Pedro,
para enlevar corações, levá-los a Roma
ou talvez ao paraíso.
Goa, da orgulhosa Pangim,
do bairro colonial das Fontaínhas,
onde se baila o corridinho,
e um cônsul português sorri e dança.
Goa, de especiarias e perfumes,
na carregação das naus,
para inebriar os dias e as noites.
Goa, da doce e formosa Manteigui,
nas palavras de Bocage “puta rafada”,
cujos “meigos olhos, que a foder ensinam
até nos dedos dos pés tesões acendem”.
Goa, dos breves companheiros de jornada,
o André, o Edgar, a Maria, o Reis,
dos Gomes Market, do Faria Heaven, do Santosh Garage,
tantos ramos florescendo da cepa lusitana
entretecidos pelo perpassar dos séculos.
Goa, das últimas famílias indo-portuguesas
entrecruzando sangue e afectos,
laboriosas gentes nas confusões do presente,
com as pedras e o coração no passado, construindo o futuro.
Goa, dos fortes de Tiracol ou da Aguada,
velhos canhões, há séculos disparando pedaços de nada,
para a águas do Mandovi e do vazio,
e um velho farol, o primeiro iluminando os mares da Ásia.
Goa indiana, pois claro, dona do seu destino,
com templos hindus para venerar os deuses,
Shiva, Brama, Vishnu, Krishna,
e pequenas divindades descansando no fundo do vale,
no recato sombreado dos palmares.
Goa, das praias de infindáveis areias,
Calangute, Dona Paula, ou Benaulim,
para humedecer o corpo e respirar o sol.
Goa, um adeus no entardecer dos dias,
e uma lágrima, para sempre.
António Graça de Abreu
Graça Abreu
Muito bonito o que escreveste em 2016, apenas um reparo no '...no bairro colonial das Fontainhas' podia ser, simplesmente, bairro das Fontainhas.
Mas, podes consultar livros, jornais, revistas e arquivos da RTP sobre o que eu questionei e depois falas do tema.
Essa do Valdemar com 'W' bem poderia ter sido, mas no ano em que eu nasci, 1945, o Salazar proibiu estrangeirismos, mas o Tomás podia escrever Thomas.
O meu pai escrevia com um W e no Assento de Nascimento também, mas a Cédula já aparece com V. Houve um professor/examinador num exame meu do secundário que rasurou o meu BI, do V fez um dublo V e ficou Waldemar, mas com o tempo começou a desbotar e via-se perfeitamente estar rasurado tendo que substituir por um novo alegando o ter perdido, para não arranjar chatices.
Waldemar foi nome de vários reis da Dinamarca, o Waldemar II casou com uma princesa portuguesa filha de D. Afonso II, não se sabe se por muito bonita ou muito feia os dinamarqueses nunca gostara dela, parece que era por ser morena.
Valdemar Queiroz
Caro Rosinha
Certamente não estaremos "sintonizados" em muitas coisas mas não deixo, de modo nenhum, de me confessar admirador da tua frontalidade, da tua honestidade no modo como aprecias as coisas, como as encaras, como as relativizas.
Dizes por aí, mais acima, que te "admiras porque AGA se escandaliza tanto com" o Beja Santos.
Para mim isso não tem admiração, entendo como uma patologia, uma obsessão, uma fixação doentia.
Há pessoas, como o Graça de Abreu, que se esforçam por politizar esta coisa do Blogue, estando constantemente a dividir em "bons e maus" (claro que os "bons" são os que pensam como ele, e os "maus" são os "outros" os que, alegadamente, têm uma "agenda escondida" ou até talvez não escondida, e são apologistas de "ideologias ultrapassadas") mas a "gritar" que se afastam do fulcro do Blogue.
Não são raras as vezes em que, de modo provocatório, depois de desenvolver os seus pontos de vista, o António G. "espicaça" com alguma coisa do género "para onde este Blogue caminha" ou "é isto que interessa ao Blogue?".
Ora bem, não me atrevo a dizer que por vezes o G. Abreu não tem razão nas suas observações, até sou capaz de compartilhar algumas das suas inquietudes mas, por exemplo, ainda no comentário inicial de hoje ele começa por escrever "Diz Mário Beja Santos que o jesuíta italiano Alexandre Valignano....", não seria mais sério escrever "Mário Beja Santos, CITANDO CHARLES BOXER, diz que o jesuíta italiano etc. e tal...".
Não é uma questão de somenos, trata-se apenas, como é hábito do AGA, discordar, justamente, do que é apresentado (e tem esse direito, e tem até, como escrevi acima, razão várias vezes para os seus sobressaltos) mas distorce as coisas de modo a "dizer" que "aquilo" é o Beja Santos e não os textos e os Autores que são apresentados focando então o odioso no Beja Santos e vá de "malhar", concitando muitas vezes apoios para essas diatribes em pessoas que também passam a vida a lamentar que são "marginalizados aqueles que pensam de modo diferente das "propostas" do Mário Beja.
Não deixaria de ser engraçado se eu, por exemplo, colocando-me na pele do Graça de Abreu truncasse a parte em que cita Ming Shi 明史, a Crónica da dinastia Ming (séc.XVII) e me focasse no que ele transcreve "os portugueses até são descritos como antropófagos, gente que comia crianças cozidas em caldeirões", e lhe atribuísse a autoria dessa "bojarda"...
Irónico, não?
Vá, vá lá, vamos deixar de implicações.
De atribuir "intenções". De proporcionar "processos" e "apontar a dedo" preferências políticas.
Isso sim, é que faz desviar o foco deste já longo e diversificado fórum.
Não há obrigatoriedade de sermos todos "amigos".
No meu entender devemos promover o respeito pelas diferenças, valorizando o que nos une e relativizando o que desune ou separa.
Abraços, meus caros.
Hélder Sousa
Li um livro de Stephen Zweig há muitos anos em Angola (em Angola liam-se muitos livros, não havia tv e havia poucos jornais), havia muito tempo para ler, livro esse que se chama Fernão de Magalhães, e mais tarde li outro livro este de um inglês que não me lembro o nome, sobre Vasco da Gama.
Autores que não eram portugueses e documentados e sem outras intenções que não a realidade do que se passou com estes navegadores, para mim, depois dessas leituras, como dizia o Camões:"cale-se tudo o que a antiga musa canta".
Sobre as descobertas, fiquei imunizado quando autores ou políticos vêm, ou pela mão de Beja Santos ou estranhos, desfazer daqueles feitos, até gosto de apreciar o "despeito" e argumentos descontextualizados.
Sobre a colonização e descolonização, racismo e apartheides, depois de ver desde suecos, franceses, dinamarqueses, italianos, americanos e alemães, na Guiné, em Angola e no Brasil, boquiabertos a perguntarem-me, (me a mim), se era verdade que estivemos ali quinhentos anos, sem compreenderem o que estivemos lá a fazer, a partir daí, também fiquei imunizado, a autores que Beja Santos nos traz nas suas leituras.
Esses autores em geral, apenas estão a perguntar-se como gente tão desorganizada, tãp incapaz de se desenvolver na sua casa, meia dúzia de gatos pingados, fizeram tantas avarias.
Em plena ilha da Madeira, onde eu trabalhei alguns anos, uns tantos turistas bascos cruzaram-se comigo e um deles perguntou-me se eu era português, aí começou a ficar enfurecido, porque nós é que tinhamos cojones, eles bascos não valiam nada.
Enfim AGA, compreendo o que pensas, mas sem estes autores do Beja Santos, ficavamos um tanto, eu e tu, um pouco às aranhas.
Toda a gente sabe que o portuga é burro, feio, porco, e mau.
Toda a gente sabe que o nórdico é super inteligente, belo, lavadinho e muito bonzinho.
"PORTANTOS PÁ..DEIXEM-SE DE MERDAS" E GOZEM OS DIAS QUE VOS RESTAM DAS VOSSAS VIDAS---AMEN.
AB
C.Martins
Rectifico, a Princesa Portuguesa que casou com o Valdemar II da Dinamarca foi D. Berengária filha de D. Sancho I Rei de Portugal.
Valdemar Queiroz
"Uma nação que habitualmente pense mal de si mesma acabará por merecer o conceito de si que anteformou. Envenena-se mentalmente."
Fernando Pessoa disse.
Sigam o conselho médico do nosso C.Martins:
"DEIXEM-SE DE MERDAS E GOZEM OS DIAS QUE VOS RESTAM DAS VOSSAS VIDAS."
Abraço,
António Graça de Abreu
Meu Caro Camarada e Amigo G.de Abreu.
Sabendo-te um conhecedor (e especialista )da cultura chinesa,sinto sérias dificuldades em compreender o teu uso do termo “médico “ referindo a feliz frase do nosso Camarada C.Martins.
Eu,em ignorâncias resultantes do demasiado contacto diário com as minhas renas,julguei existir no pensamento expresso por C.Martins algo da profunda e insinuante cultura asiática.
Pretensões Polares...mais nada.
Um abraço do J.Belo
Caro António Rosinha
Ao ler o que escreveu quanto às suas experiências no Brasil e ao modo como os brasileiros olham para os portugueses,tanto actuais como “históricos”,acabei por recordar o por mim sentido quando também por lá andei em viagens de negócios familiares.
Viagens centradas no Recife e,principalmente,Baía.
Em inúmeras e interessantes conversas com brasileiros descendentes dos escravos africanos (conversas travadas em restaurantes e bares dos ditos “finos”,mas também em muito interessantes “tascas” de bairro),foi sendo-me apresentada uma visão do portuga no Brasil nas suas relações raciais com africanos muito diferente da que me tinha sido dada pelos que me tinham educado nos burgueses Estoris e Parada de Cascais.
A prova do nosso não racismo universal (!) colocada a”pedra e cal” no meu espírito de jovem usando a mistura racial no Brasil como exemplo máximo acabou tristemente por ruir com aquelas conversas e realidades envolventes.
Sem terem sido de modo algum agressivas ou acusatórias,foram importantes nas perspectivas apresentadas quanto aos modos de actuação
dos portugas em relação aos negros locais.
Nunca é fácil perderem-se mitos da juventude.
Um abraço do J.Belo
Meus caros Rosinha e Zé Belo.
Estive três vezes no Brasil, a última em 2015 durante dois meses. Tenho família (primos direitos) no Rio e em São Paulo. Claro que me contaram muita piada do português. Algumas com fundo de verdade. Mas o Brasil é independente desde 1822, os portugueses deixaram de mandar há 197 anos. Se nós fomos o português que os pariu, eles, brasileiros, cresceram,libertaram-se das fraldas e roupinhas lusitanas, são independentes há dois séculos, mas muita gente no Brasil ainda gosta, sempre, de deitar as culpas do subdesenvolvimento, da corrupção, para cima das costas largas do português que os colonizou. A colonização portuguesa não foi um abraço de virtude, como não foi a inglesa, a francesa, a holandesa noutras partes do mundo, mas a nossa acabou há duzentos anos. Que culpa têm os portugueses das favelas do Rio, de São Paulo, de tanta pobreza que infelizmente ainda existe por todo o Brasil? Que culpa têm os portugueses da inevitabilidade da existência de políticos como lulas e bolsonaros?
O nosso camarada C. Martins é médico, devemos seguir os conselhos do nossos médicos.
Abraço,
António Graça de Abreu
O Brasil, para mim, depois do que vi em cinco anos a trabalhar e conviver em vários estados brasileiros, e dos treze anos de guerra em Angola do que vi e convivi em todos os distritos, menos cabinda, e também na Guiné, no meio de meio mundo a cooperar naquele deminuto país, sem saber a quem andavam a "enganar", é tudo um "faz-me rir".
AGA e JB, não são os nossos ex-colonizados que nos mordem mais nos nossos calcanhares, verifiquei, comprovei ao vivo que são os neo-colonizadores,de imensas nacionalidades do mundo inteiro, que vieram ocupar o vácuo que deixamos com a nossa retirada, que andam às voltas a morder no próprio rabo, para justificar a "merda" que provocaram com a sua presença, sem entenderem como apesar de tudo ainda somos nós o portuga, a sobreviver na paz-de-deus, naqueles infernos que eles provocaram.
De maneira que aparece o discurso anti-tuga, à maneira e ao jeito daquelas cooperações/explorações, (neo-colonialismo puro) que vai penetrar/emprenhar, alguns espíritos dos ex-colonizados.
Em alguns espíritos, não muitos, há mais nossos nacionais a serem mais infectados por essa maldicência.
Que nós precisamos de muita manha, para sobrevivermos, nesses infernos onde nos metemos, é verdade, só com muita manha, porque nos falta a força, o capital e a diciplina de potências fortes, que ocuparam, exploraram, desenvolveram, mataram e esfolaram, e nós à nossa maneira apenas comemos pelas beirinhas e deixamos o prato intacto, e os povos sabem isso.
Pessoalmente tive ocasião de ouvir, ouvir...sem saberem que eu era português (sou muito claro e quando não era careca tinha um cabelo "russo mau pêlo"), e um baiano depois de me massacrar com um discurso anti-tuga, se fossem desde os espanhois até aos americanos, tudo seria bom menos o portuga, que só exploraram, roubaram e não deixaram nada...etc., e áí, como eles dizem, "Áí", fiz-lhe umas contas de cabeça em que lhe provei que o que os portugueses exploraram do Brasil foi tão pouco que nem deu para pagar o casco dos navios da esquadra do Pedro Álvares Cabral, quanto mais as velas e o soldo e as vidas da tripulação.
Passados mais de 30 anos eu e a minha mulher quando vemos os baianos encher os nossos coliseus, lembramo-nos da reacção do baiano que me massacrou:
A reação do cara? O quê, você afinal é português? e eu a pensar "qui tu era austráquico, porra!" "mi disculpa cara"!
JB, e AGA, eu não comovo muito com certas coisas, porque a minha vida foi um gozo, pena que não encontro os meus caixotes de retornado!
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