sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21539: Casos: a verdade sobre... (16): Onde foi o "berço da nacionalidade" ? Terá sido em Feto Lugajole, uma colina à cota de 200 mt, frente à atual tabanca de Lugajole ? Fica a 5 km da fronteira, a 40 km de Madina do Boé... E ainda hojé é intransitável de carro, em setembro... (Patrício Ribeiro, Bissau)

 


 Foto nº4 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  2005 > Restos do Quartel de Madina > Entrevista a dois antigos militares,   ainda tinham a caderneta militar portuguesa.

 
 Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  2010> Passeio para visitar o local onde o PAIGC diz que proclamou a independência em 24/9/1973.


Foto nº 5  > 
Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  2010>   Monumento à independência.



Foto nº 6 >  Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  Lugajole > Na colina declararam a independência, ao fundo, foto obtida  a partir do Centro de Saúde


Foto nº 1 > 1/7/2018 > Escola de Madina do Boé e cantina escolar



Foto nº 1A > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  1/7/2018 > Escola Básica (EB) de Madina do Boé > Cantina Escolar > Programa financiado  pelo Departamento Americano de Agricultura (USDA) , sendo o promotor o Porgrama Alimentar Mundial (WFP).


 Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  2005 > Vendu Leidi > Antiga guerrilheira que costumava acompanhar o Amílcar Cabral nas deslocações ao Boé. Esta foto foi tirada, na tabanca Vendu Leidi ( ver mapa militar Vendu Leidi) a sul de Lugajol, junto a fronteira da Guine Conacri, quando a RTP a foi entrevistae para um programa sobre a independência. 


 

Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé > Uma da diversas escola, 2018,  no caminho entre Beli e Madina


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé > 2018 >  Uma das diversas escolas, em tabancas que encontramos no caminho entre Beli e Madina.



Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro(2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Patrício Ribeiro 

 [, português, natural de Águeda, criado e casado em Angola,  com família no Huambo, antiga Nova Lisboa, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.; tem também uma "ponta", junto ao rio Vouga, Agueda, onde se refugiou agora, fugindo da pandemia de Covid-19: é o português que melhor conhece a Guiné e os guineenses, o último dos nossos africanistas: tem uma centena de referências o nosso blogue]


Data - domingo, 8/11, 15:41


 
Boas tardes,

É estranho a RTP nunca ter passado nas televisões a reportagem que fizeram nas colinas do Boé, em 2005.

Será que a reportagem mexeu em Lisboa, em algo que não interessava alterar?  Ou foram os antigos militares Portugueses naturais da Guiné, que a reportagem filmou com as cadernetas militares, dentro do que resta do antigo Quartel de Madina, que não interessava informar?

Não sei quantas operações militares foram feitas durante a ocupação de Beli, para o sul do rio Féfine, para os lados de Vendu Leidi…

Certamente seria zona livre do PAIGC, “naturalmente” pela dificuldade de lá chegar (onde os Angolanos andam a fazer furos de sondagem de Bauxite)

A independência foi declarada em cima de uma colina, à cota 200 mt,  “por cima da Tabanca de Lugajole” (conforme monumento, que lá foi construído).

- 5 Km, da fronteira.

-10 km, a sul de Beli.

-40 km, a leste de Madina do Boé (e onde em setembro é quase impossível lá chegar por estrada, devido à época da chuvas).

Esta zona é muito bonita, nem parece que estamos na Guiné.


Abraço, de domingo de confinado.

Patrício Ribeiro

2. Mensagem enviada em 25 de outubro último pelo Patrício Ribeiro

Luís,

Para nós os confinados, aqui vai.

Sobre a "Montanha Cabral", nunca ouvi falar deste lugar, das diversas vezes que fui a Madina do Boè.

Falei com 2 investigadores Portugueses  que conheces, o Geólogo, Paulo Aves e o Biólogo, Luís Catarino, que também fizeram trabalhos no Boé, mas também não conhecem a "Montanha Cabral".

Madina fica á cota de 90 mt, em uma zona plana (foto 1) mas uma das diversas colinas,  a Dongal Dandu, perto de Dundum,  tem a cota 170 mt (ver carta geológica da Guiné Bissau do Paulo Alves, assim como mapas militares e outros que me ofereceste em CD)

Ver P 18.862, com outras fotos, que enviei daquela zona (*).

Parabéns à Joana Benzinho e sua equipa que, com muito sacrifício, andam a levar a língua Portuguesa a locais de difícil acesso,

Depois da AMI [, AssistênciaMédica Internacional,]  nos anos 80 com a sua equipa médica, chega mais alguém a falar Português ao Boé, esta língua é pouco falada naquela zona.

Envio uma foto de uma antiga guerrilheira do PAIGC ( foto nº 2 tirada em 2005), que costumava acompanhar o Amílcar Cabral, quando ele se deslocava pelas colinas do Boé.

Esta foto foi tirada, na tabanca Vendu LeidI ( ver abaixo mapa militar de Vendu Leidi),  a sul de Lugajol, junto a fronteira da Guine Conacri, quando a RTP a foi entrevistar, para um programa sobre o dia da Independência da Guiné Bissau.

Não sei quantas operações militares, se terão feito para o sul do rio Féfine. Certamente seria zona libertada do PAIGC “naturalmente” pela dificuldade de lá chegar (ver mapa de Capebonde)

“A independência [, em 24 de setembro de 1973] foi declarada a mais de 200 mt altura, numa colina perto da tabanca de Lugajole”:  ver monumento (fotos nº  3, 5 e 6 ), poste P 5050 (**)

Ora em  setembro é quase impossível chegar, mesmo hoje,  por estrada, àquela zona. [Recorde-se que a indepência unilateral da Guiné-Bissau foi feita pelo PAIGC em 24 de setembro de 1973.]

É estranho a RTP nunca passado “esta reportagem”, feita nas colinas do Boé em 2005. Será que a reportagem mexeu em Lisboa, em algo que não interessava alterar ? Ou foram as muitas cadernetas de antigos militares Portugueses,  naturais da Guiné, que a reportagem filmou, dentro do que resta do antigo Quartel, que não interessava informar ? (foto nº 4) (Ver o Poste P5050 de 4.10.2009) (**).

A tabanca de Lugajole ( ver mapa de Beli) está à cota 110 mt, de onde se pode ver perto uma colina com mais de 200 mt de altitude (foto 5), onde alegadamente  foi declarada a Independência, na zona do Felo Lugajole.

Esta tabanca passou a ser importante pós-independência. Tem diversas construções prefabricadas de betão, provavelmente construídas pela fábrica, que os Cubanos tinham em Bissau, na década de 80 ainda funcionava.

Foi lá construído um bom Centro de Saúde, em blocos de cimento. Onde já dormi, era o melhor hotel da região…

Há poucos anos, tentaram fazer lá mais uma romaria, mas a jangada não deixou.

Foram construídas muitas escolas na região (foto  nº 8) em pequenas tabancas, de muito difícil acesso, onde só é possível as viaturas chegarem no tempo seco. Ao longo do caminho que acompanha o Rio Cobolom, e não em cima nas colinas...

O caminho é entre a tabanca de Cobolom,  é muito bonito, até cruzamento entre Madina e Dandum .

Perto deste cruzamento, morreu o Domingos Ramos, atingido pelos morteiros do quartel de Madina. (ver foto do Memorial, no P 18.863).

A Região do Boé  sofreu grandes alterações nos últimos anos… as casas características dos Fulas, que eram quase todas cobertas a palha e redondas, já quase não existem, agora são retangulares e cobertas a chapa de zinco, como quase por toda a Guiné, perderam a originalidade (foto nº 7).

Os Angolanos, andaram lá a fazer uns furos de sondagem, para a exploração de Bauxite, para os lados de Vendu Leidi.

Já outros procuram, naquela zona, ouro, ainda outros procuram diamantes, etc. Deve haver alguma “coisa” naquelas Colinas e não só as grutas, onde o PAIGC guardava munições.

Já que do outro lado da fronteira, na montanha do Futa Jalom, andam para lá os chineses entretidos, em diversas minas de minerais, junto á estrada de Koundara para Labé. Mas também se dão ao trabalho de abrir a estrada pela montanha acima a ligar as duas cidades.

 Para os Guineenses, o ouro atual é a castanha de cajú… Que dá para construir casas novas e também e trocar a palha da cobertura das casas, por chapas de zinco, e passa a não ser necessário trocar de 4 em 4 anos.

Abraço, que vou fugir para a lareira.(***)



Guiné > Região de Gabu > Setor de Boé > Carta de Vendu Leidi (1959) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa da tabanca de Vendu Leidi, junto à fronteira com a Guiné-Conacri. A sudeste fica o Felo Canhage, uma das colinas do Boé que se aproxima da cota dos 300 metros. A tabanca fica a sul de Lugajole.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné (2020)



Guiné > Região de Gabu > Setor de Boé > Carta de Béli (1959) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Béli, de Lugajole e do rio Fétiné, afluente do rio Corubal, que divide o Boé ao meio, a parte ocidental e a parte oriental. A declaração de independência teria sido feita  num colina, à cota de 200 metros, Feto Lugajole... Mas não havia estradas para este sítio, na altura, não se sabendo como o PAIGC transportou os seus convidados...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné (2020)



Guiné > Região de Gabu > Setor de Boé > Carta de Capebonde (1959) (Escala 1/50 mil) > Não havia tabancas nem estradas, apenas um picada que atravessava a fronteira vinda de Béli...

__________

Notas do editor:


(*) Vd.poste de 21 de julho de  2018 > Guiné 61/74 - P18862: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (7): Os meus passeios pelo Boé - Parte I: 30 de junho de 2018: a travessia do Rio Corubal, de jangada, em Ché Ché

(**) Vd. de 4 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (27): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)

(***) Último poste da série > 13 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21538: Casos: a verdade sobre... (15): A retirada de Madina do Boé e o enfraquecimento do flanco sul / sudeste do território (regiões de Gabu e Bafatá) (Valdemar Queiroz / Cherno Baldé / António Rosinha / Fernando Gouveia)

30 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Porque é que o PAIGC manteve durante estes anos todos esta "ficção", a de ter declarado a independência da Guiné-Bissau, à revelia dos colonialistas portugueses, em 24 de setembro de 1973, em Madina do Boé, na região ocidental do Boé ?

Talvez um dia ainda algum sobrevivente dessa cerimnónia nos revele esse "segredo de Estado" bem guardado... Não é um tira-teimas, da nossa parte, apenas gostamos, aqui, de falar verdade... Teremos sido os primeiros a recolher outros testemunhos que não os oficiais e os oficiosos sobre o local onde ocorrido a cerimónia da independência perantes alguns, poucos, observadores estrangeiros (mas que não eram "independentes")...

O PAIGC beneficiou do "efeito de halo" da retirada,por ordem de Spínola, de Madina do Boé em 5 de fevereiro de 169 e do desastre de Cheche, no dia seguinte... Por outro lado, o cineasta cubano José Massip tiha lançdo em 1968 umdocumento, de média metragem (38') com o título "Madina do Boé".... Houve quem visse, nessa peça, uma tese sobre as bases da construção do estado guineense... O filme não é intelectuamente honesto ao integrar (, sem mencionar a sua origem na ficha técnica,) imagens de arquivo do ataque de 10 de novembro de 1966 ao aquartelamento de Madina do Boé que foi um desastre militar para o PAIGC, dele resultando a morte do comandante Domingos Ramos, ao lado do lendário Ulisses Estrada...

Madina do Boé tornou-se um ícone...

A AMI (, Assistência Médica Internacional,) teve uma missão de saúde em Lugajole, nos anos 90, se não erro... Um médico, nosso amigo, que esteve na AMI, na Guiné, e conheceu Lugajole, diz-me que a independência não foi declarada lá...Mas há lá, nessa tabanca, uma monumento alusivo a essa data histórica para os guineenses... = Patrício Ribeiro, que também conhece a zona, ro razões profissionais, e que também acesso a alguns "segredos de Estado"..., diz-nos que alegadamente a cerimónia teria decorrido em Felo Lugajole, um colina com 200 metros de altitude... Simplesmente em setembro ninguém lá vai de carro, ainda hoje...A logística, para a cerimónia, e as questões de segurança levam-nos a torcer o nariz em relação a esta nova pista...

O nosso amigo médico prometeu-me um dia revelar o que sabe...Mas, que fique claro: não nos move qualquer animosidade, antes pelo contrário, em relação à Guiné e ao povo guinense. Também Portugal e os portugueses ao fim de quase 9 séculos ainda não chegaram a um consenso sobre o berço da nacionalidade... Cada um puxa a braço à sua sardinha...

A nós só nos interessam os factos e a verdade dos factos... As "lendas e narrativas" são outra coisa, mas não fazem a História...

Valdemar Silva disse...

Outra coisa faz confusão: toda aquela zona era um deserto sem nenhum interesse.
Afinal, pelas fotos e pela 'é a região mais bonita da Guiné', verificamos que aquela zona era bem diferente da que foi "pintada" e melhor lhe caberia não o 'Algarve da Guiné' mas antes a 'Sintra da Guiné'.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Claro que o Spínola e os seus conselheiros nunca viram o filme do José Massip, "Madina do Boé"... A nossa "inteligência militar" devia ser tacanha e preconceituosa, coisa que qualquer "inteligência" não pode ser...

Por outro lado, nessa altura não havia ainda a Internet para se poder sacar o filme...

Mas, se mesmo a "preto e branco", dá para perceber que, sem Madina ou com Madina, a guerrilha do PAIGC movimentava-se como peixe dentro da água nos rios do Cprubal e do Féfine... E depois havia estrads, para os camiões russos, a partir da fronteira, para o Boké e Koundara...

Dizer que aquilo não tinha "qualquer interesse estratégico" (Hélio Felgas dixit), é tentar tapar o sol com a peneira...

A localização de Madina é que era errada, desde o início... Era um buraco de todo tamanho, que facilmente se reduziria a pó se o PAIGC já tivesse o morteiro 120, o foguetão 122, e a artilharia 130, que usou contra Guileje (em 1973), para não falar do Strela...

Nunca seria o nosso Bien Dien Phu porque o Almílcar Cabral não era o Giap, nem tinha o seu génio militar, nem os guineenses eram os norte-vietnamitas, nem tinha as centenas de mlhares de "toupeiras" e "biciclitas" de todas as idades, a abrir valas, a furar montanhas, a carregar munições e armamento e sacos de arroz de 300 quilos para a frente de batalha... Nem tinha um vizinho poderoso como a China... Nem muito menos podia dar-se ao luxo de perder milhares e milhares de homens numa só batalha...

Afinal, não era nenhum deserto, o Boé... E hoje é só(!) o Parque Nacional do Boé!... Com 105 mil hectares... Hoje a Guiné-Bissau tem 4 parques nacionais e 3 parques naturais... Um pequeno país com uma espantosa biodiversidade!...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em 2014, quando ainda estava em criação o Parque Nacional do Boé, o IBAP - Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegiadas fazia o seguinte levantmento da situação:

Caracterização Geográfica
• Situado no leste do país.
• Superfície total de 105 370ha.
• Inclui ainda o Corredor de Tche-tche (49 922ha).
• Atravessado pelo rio Corubal, principal curso de água doce do país.
• Geomorfologia muito particular no contexto da Guiné-Bissau, pela orografia com
um relevo ondulado pouco vigoroso mas notório (contrastando com as planuras no
restante território) proporcionando valores paisagísticos assinaláveis.


Património Ambiental
• Este parque inclui alguns dos sectores mais selvagens e remotos do país, com
extensas savanas arborizadas intercaladas por clareiras amplas.
• Fauna de grandes mamíferos inclui alguns dos últimos redutos de espécies
carismáticas muito raras e ameaçadas no país como o leão e o mabeco Lycaon
pictus (ainda presentes em 2014)
• População importante de chimpanzés amplamente distribuídos no parque e para
além dos limites deste.
• Presença de outros primatas globalmente ameaçados como o macaco-fidalgovermelho
Piliocolobus badius e o macaco-de-capuz Cercocebus atys, bem como
de outras espécies como o macaco-cão que já se vão tornando raras em boa parte
da Guiné-Bissau.
• Outros mamíferos interessantes presentes nesta área incluem, por exemplo, o
búfalo, o boca-branco, o leopardo e o hipopótamo.
• Na região do Boé, censos preliminares de aves documentaram a presença de
mais de 170 espécies, sendo certo que mais estudos aumentarão significativamente
esta lista.
• Existência da lagoa do Vendu-tcham, uma das maiores lagoas de água doce do
país, com potencial interesse para a avifauna e para a ictiofauna.

(Continua)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Parque Nacional do Boé (continuação)

Comunidades humanas residentes
• População residente é de 4 975 habitantes distribuídos por 29 tabancas, sendo:
− Parque de Boé: 1 999 habitantes distribuídos por 12 tabancas.
− Corredor de Tche-tche: 2 230 habitantes distribuídos por 17 tabancas.
• População dominada pela etnia fula, com uma proporção crescente de fulas
originários da Guiné-Conacri.
Problemáticas/desafios prioritários de conservação
• Expansão do pastoreio (sobretudo gado bovino) por pastores itinerantes, com
concomitantes desbravamentos, queimadas e perseguição de predadores.
• Caça ilegal.
• Envenenamentos potencialmente afectando grandes predadores (leão, leopardo,
mabeco) e necrófagos (abutres).
• Expansão do caju.
• Desflorestação e queimadas para a agricultura itinerante e expansão das
pastagens.
• Actividade madeireira ilegal.
• Imigração a partir da Guiné-Conacri.
• Exploração mineira: não é ainda claro se a exploração de bauxite na região do
Boé poderá vir a ter um impacto neste parque.

Fonte: IBAP

http://ibapgbissau.org/Documentos/Planos%20Estrat%C3%A9gicos/Estrategia%20Nacional%20para%20AP's%20-%202014-2020.pdf

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O único parque nacional que nós temos... é o da Peneda-Gerês, com 70 mil hectares....

https://pnpgeres.pt/

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Factos & Farsas no Lugadjole... (1)

1973 – Março.5 (2ªfeira)
Junto às fronteiras sudeste e leste da Guiné, os 4 subcomités inquisitoriais do PAIGC recebem os respectivos grupos (de um total de 94) implicados no assassinato de Amílcar Cabral, que lhes são entregues sob escolta por militares do exército guinéu «uma vez que Sekou Touré não permitiu que os interrogássemos em Conackry».
– «Os suspeitos, mantidos [até agora em Conackry pela segurança do PDG] em regime de detenção, são divididos em quatro grupos “a serem entregues pelos guineenses nas [bases recuadas do PAIGC junto às] fronteiras de Candjafra [sul], Boé [i.e, Koudougou no sudeste], Foulamorie [fronteira de Piche] e Caurane [nordeste, tendo o grupo de João Tomás Cabral transitado pela base de Koundará]”. A devolução efectua-se a 5 de Março. “Foram escoltados por soldados da Guiné-Conackry e entregues às autoridades locais do partido”. [...] Cada bando de conspiradores é recebido por uma subcomissão, encarregue de dirigir o respectivo processo. [...] À frente de cada subcomissão¹ está um membro do Comité Executivo da Luta. [...] “Entre os combatentes tinha havido uma espécie de juramento de vingança, que nós responsáveis tínhamos dificuldade [!?] em acalmar”, descreve Agnelo Dantas, destacado na Frente Norte (e que viria a ser [em 76-88] comandante-geral das Forças Armadas de Cabo Verde). Inocêncio Cani, o matador, é enviado para Madina do Boé. [...] Cani terá sido seviciado, segundo informação obtida por um colaborador da polícia em conversa com Lourenço Gomes: “Antes de ser executado foi torturado, tendo-lhe sido arrancadas as unhas das mãos e dos pés”. [...] A comissão que o julga é presidida por Victor Saúde Maria: “Foi ouvido, condenado e fuzilado”. [...] Em Madina do Boé esteve também Silvino da Luz. [...] Sobre Aristides Barbosa, ex-preso do Tarrafal, incidem carregadas desconfianças. É sentenciado em Lugadjole [antiga tabanca]², por uma subcomissão presidida por Fidélis Almada, de que também faz parte Paulo Correia. “Fiz questão de ser eu a ouvi-lo”, diz Fidélis: “Fez grandes revelações, coisas espantosas sobre ligações com a PIDE [DGS] e o trabalho do Exército português”. Condenado à morte, foi fuzilado. Juntamente com Barbosa foram abatidos “mais três ou quatro, de um número dez vezes maior”. [...] Pedro Pires assiste [em Candjafra] aos interrogatórios da Frente Sul, juntamente com [o comandante-adjunto] Constantino Teixeira. “Não houve propriamente sentença, foi uma condenação expedita, própria da guerra. Alguns queriam que eu não assistisse aos fuzilamentos, mas eu dei ordens claras: todos nós estaremos presentes, porque todos somos responsáveis pela condenação. Houve um que não queria assistir, mas eu obriguei-o. [...] Formou-se um pelotão ‘ad-hoc’ e foi o chefe do pelotão quem deu a ordem de disparar”. São abatidos cerca de uma dezena de insurrectos, enterrados no local. [...] A Conackry vão chegando relatos dos processos. Alguns deles são aterradores. De todos, sobressai o tratamento infligido a Mamadou N’djai [ex-chefe dos guardas do secretariado]. Fernando Baginha, o português que leccionava na Escola-Piloto, lembra-se de ouvir “coisas absolutamente abomináveis, actos de verdadeira selvajaria”. [...] As notícias sobre a liquidação dos conjurados cedo chegam a Bissau: “Foram executados por um pelotão de fuzilamento, 13 terroristas acusados de estarem implicados no assassínio de Amílcar Cabral. Entre os elementos executados, deviam-se encontrar os [8] terroristas: Mário Mamadou Turé, Inocêncio Cani, João Tomás Cabral, Luís Teixeira³, Mamadou N’Djai, Emílio Costa4, Inácio Soares da Gama, Valentino Cabral Mangana [e outros 17]5, que [...] foram os principais instigadores do complot”.»6

João Carlos Abreu dos Santos disse...

[apêndice a)]
¹ (em Candjafra fuzilamento do grupo de Mamadou N’Djai, presidido por Pedro Pires; no Boé fuzilamento do grupo de Inocêncio Cani, presidido por Victor Saúde Maria; no Lugadjole fuzilamento do grupo de Aristides Teodorico Barbosa, presidido por Fidélis Cabral de Almada; e em Caurane fuzilamento do grupo de João Tomás Cabral, presidido por Otto Schacht); ² (cerca de 10km norte da fronteira sul-sueste com a Guiné-Conackry; após o pelotão da CCac1790 ter abandonado o destacamento em Béli em 15Jun68 e recolhido a Madina-do-Boé, na picada Dinguiral para Béli e a cerca de 4km sudeste desta última, junto à margem oriental do curso médio de um dos afluentes do rio Feline, a tabanca do Lugadjole ficou sem população); ³ (ex-funcionário dos correios em Bissau, fugiu para Conackry onde passou a residir; comandante de um barco do PAIGC, responsável pelos reabastecimentos da Frente Sul); 4 (Emílio “Baiface” da Costa, nascido em Nhala-de-Cima, circunscrição de Tite, de etnia papel; comandante de um barco do PAIGC); 5 (Marcelino “Nené” Vaz Ferreira: radiotelegrafista com especialização de telecomunicações durante dois anos na Europa de Leste; ex-chefe da secção técnica da emissora do PAIGC; em meados de 67 participou no Boé Oriental na conspiração contra o secretário-geral. Bassiro Turé: irmão de Mário Mamadou Turé. Malan Nancó: em 17Set71 fugido de Bissau com os irmãos Turé; ficou colocado na tipografia do partido. Finhane-Na-Dum: de etnia balanta, também funcionário da tipografia. Saido Baldé: operador do centro emissor de Nhacra, em 23Set72 fugiu para Conackry; foi colocado no campo de instrução do PAIGC nos arredores daquela cidade. Jaime Barbosa: dirigente do PAIGC; aguardava julgamento por violação. Bacar Cani: guarda do secretariado; autor da fatal rajada de metralhadora que matou o secretário-geral. Sana Cassamá: motorista do secretariado. Joaquim da Costa: comandante da vedeta nº7 que raptou o secretário-geral adjunto. Mário Sá: segundo-comandante de um barco do partido. Estevão Lima: elemento da Marinha do partido; Laminé Indjai: membro do executivo do partido. Lansana Bangoura: recém-admitido nas fileiras do partido. Abdu Djassi e Bil Ubaio, quadros guineenses; Fernando Pina e João da Silva, militantes mestiços); 6 (Castanheira, op.cit pp.94-96)
[continua]

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Factos & Farsas no Lugadjole... (2)

1973 – Setembro.19 (4ªfeira)
No extremo sudeste da Guiné, aproveitando a circunstância de ainda não ter chegado à capital provincial o novo governador e comandante-chefe general Bethencourt Rodrigues (há 5 dias empossado em Lisboa), o estado-maior do PAIGC tenta reunir – naquela região árida e demograficamente desertificada –, uma Assembleia Nacional Popular a fim de ali proclamar a independência das «regiões libertadas». Mas em Bissau o comandante-chefe adjunto do CTIG brigadeiro Leitão Marques, homem de confiança do ex-governador Spínola, está atento à efeméride da fundação do PAIGC e ao raiar do dia ordena ao comando da BA12 o bombardeamento aéreo daquele sector, forçando os nacionalistas a protelar as suas intenções.
– «Dois factores alterariam a data [para a noite de 23Set73] e o local [para a mata do Lugadjole no extremo Boé Oriental]. A proclamação estava inicialmente prevista para 19 de Setembro, em Balana, na mesma região mas mais a ocidente. A segurança antiaérea da reunião era absolutamente necessária, pois as autoridades portuguesas conheciam o plano do PAIGC e podiam deduzir as efemérides [aniversário de fundação do PAIGC] que pretenderia comemorar, bem como os previsíveis locais para a celebração. Quando a coluna militar formada numa base [Kambera]¹ situada na República da Guiné, que servia de escolta aos principais dirigentes e convidados, se internara já no território em direcção ao local previsto [Balana, sector onde em 03Abr72 esteve clandestinamente a troika de observadores da ONU], apareceu a grande altitude um “caça” português e apurou-se que o respectivo responsável [da segurança do PAIGC] providenciara os mísseis [SAM-7] mas esquecera-se dos seus mecanismos de lançamento. Os dirigentes do PAIGC decidiram seguir para leste, numa caminhada de 3 dias, por haver informações de que nas bases do Boé existiam tais mecanismos, o que não se confirmou. O outro incidente que pesou na alteração da data da proclamação, respeitou à presença da imprensa senegalesa no acto, em que o PAIGC tinha grande interesse porque as representações em Dacar das maiores agências de informação proporcionariam imediata repercussão mundial do acontecimento. A ruptura das relações diplomáticas com a Guiné-Conackry fez com que Dacar, alegando a sua insegurança, não enviasse representantes apesar das diligências de última hora do PAIGC.»²
– «No dia em que se sabia que começaram a entrar membros do partido, através da fronteira sul, destruíram a jangada da fronteira. Bombardearam a jangada, bombardearam aquela área toda. Nós estávamos já em Boké, a caminho do sul, quando chegaram essas informações. Então desviámos para leste e mandámos logo um grupo para o Leste.»³
¹ (na vertente nw do Monte Guimi, sul da picada que sai da fronteira para Madina-do-Boé na direcção do Chéche); ² (Duarte Silva, op.cit pp.135); ³ (Luís Cabral, em 13Jan95 a Antunes);
[continua]

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Factos & Farsas no Lugadjole... (3)

1973 – Setembro.23 (domingo)
Ao fim da noite perto da fronteira sudeste da Guiné, em vésperas da abertura anual da AG/ONU, o comité central do PAIGC organiza na mata do Lugadjole a sua 1a Assembleia Nacional Popular, presidida pelo secretário-geral Aristides Pereira.
– «Preparámos tudo no Leste para no dia seguinte fazer o Congresso. Toda a noite mexemos para isso e houve um momento interessantíssimo: a nossa garantia eram as antiaéreas e o Nino foi encarregado de fazer a defesa antiaérea do congresso. Depois dos ensaios todos das cerimónias, durante a noite, levar as pessoas a ler as coisas como deve ser, depois de todo o preparativo fui-me deitar eram para aí 2 ou 3 da manhã. O Constantino Teixeira e o Nino Vieira bateram à porta da barraca e disseram que tínhamos que fazer o congresso naquela noite, porque tinham trazido as rampas de lançamento mas não tinham trazido os foguetes. Respondi-lhes que deviam assumir as suas responsabilidades, porque com toda a imprensa estrangeira que ali estava connosco as coisas deveriam ser feitas com toda a dignidade, como estava previsto.»³
– «A 23 de Setembro a Assembleia Nacional popular realizou a sua 1a reunião, em que os delegados eleitos no ano anterior estavam presentes.»4
³ (Luís Cabral, em 13Jan95 a Freire Antunes); 4 (Queba Sambú, op.cit pp.43)
[continua]

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Factos & Farsas no Lugadjole... (epílogo 1/4)

1973 – Setembro.24
Nas imediações da fronteira sudeste da Guiné Portuguesa, o comité central do PAIGC – constituído em Assembleia Nacional Popular reunida na mata do Lugadjole, «Região do Boé» oriental –, às 08:55 «proclama solenemente o Estado da Guiné-Bissau, através de um texto com 19 parágrafos dividido em 5 partes» e – após o desfilar de um destacamento das FARP –, aprova «a Constituição da República da Guiné-Bissau, com 58 artigos agrupados em 4 capítulos», dela se destacando no capítulo introdutório os seguintes «princípios político-constitucionais da Constituição do Boé»:
– «O anti-colonialismo e o anti-imperialismo, ficando determinada a “expulsão das forças agressoras do colonialismo português da parte do território que ainda ocupam na Guiné-Bissau”, de acordo com o 9º parágrafo da Proclamação; a unidade entre a Guiné-Bissau e o arquipélago do Cabo Verde, fixando-se como objectivo a “libertação total da Guiné e Cabo Verde do colonialismo e a sua unificação num Estado de acordo com a vontade popular”, conforme declarado no 8º parágrafo da Proclamação; a hegemonia do Partido sobre o Estado porque “o PAIGC é a força dirigente da sociedade”, instituindo-se assim como “expressão suprema da vontade soberana do povo, decide da orientação política do Estado, estimula a criação e o desenvolvimento de organizações de massa democráticas”, tudo de acordo com os parágrafos 2º, 5º e 6º da Proclamação; a democracia nacional revolucionária, conforme à teoria marxista-leninista aprovada há 8 anos em Moscovo durante a Conferência dos 81 Partidos Comunistas; e finalmente o progresso social baseado em “condições políticas, económicas e culturais necessárias à liquidação da exploração do homem pelo homem e de todas as formas de sujeição da pessoa humana”, tendo em conta que “o Estado desempenha um papel decisivo na planificação», porque «a propriedade do estado colonialista e a propriedade dos traidores à Pátria serão transformadas em propriedade nacional”.»

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Factos & Farsas no Lugadjole... (epílogo 2/4)

– «No dia 24 de Setembro de 1973, às 8 e meia da manhã, começámos as cerimónias.»¹
Logo de seguida e sem interrupções, a auto-designada Assembleia Nacional Popular elege um Conselho de Estado (Lei 2/73) presidido por Luís Severino Almeida Cabral (meio-irmão do fundador do Partido), e um Conselho de Comissários de Estado (Lei 3/73), sendo o «primeiro executivo da Guiné-Bissau» constituído por elementos do CEL² e do CSL³ (comissários e sub-comissários4), responsáveis em maioria pelos julgamentos sumários e fuzilamentos levados a cabo há menos de 7 meses na mesma região.
– «Secretário-geral Aristides Pereira (do secretariado permanente)² e secretário-geral adjunto Luís Cabral (presidente do Conselho de Estado e deputado pela região de Bissau), vice-presidente do Conselho de Estado major Umaru Djaló (comandante-adjunto da Frente Sul e deputado pela região de Catió)² e secretário do Conselho de Estado comandante Lúcio Soares (regressado de Moscovo em 30Dez72 e deputado por Bolama)². Membros do Conselho de Estado: Paulo Correia (inquiridor em 05Mar73 e deputado por Gabú,² será fuzilado em 86), Lourenço Gomes (inquiridor em 05Mar73 e deputado pela região do Canchungo)², Carmen Pereira (chefe-de-brigada na Frente Sul e deputada pela região de Bissau)², Pascoal Alves (comissário em Ziguinchor e deputado pela região de Bissau)², Bacar Cassamá (deputado pela região de Bafatá)³, Francisca Vaz Turpin (controleira da Frente Sul e deputada pela região do Quinara), Musana Sambu (deputado pela região de Catió), Uangna Tchuda (deputado pela região de Bula), Mansata Sambu (deputado pela região do Cubisseco) e El Hadj Fodê Mai Turê (deputado pela região do Oio). Forças Armadas: comandante-geral João Bernardo ‘Nino’ Vieira (inquiridor em 05Mar73 e ex-comandante-chefe da Frente Sul)², adjunto do comando-geral major Pedro Pires (inquiridor em 05Mar73,² será nomeado em 03Set74 comandante-geral das FARP) e comissário principal Francisco “Chico Té” Mendes (membro do secretariado permanente e comandante da Frente Norte)². Comunicações e Transportes, Otto Schacht (inquiridor em 05Mar73, membro do CE e deputado pela região de Catió)²; Justiça, Fidélis Cabral de Almada (advogado formado em Portugal e no Brasil, inquiridor-mor em 05Mar73)²; Negócios Estrangeiros, Victor Saúde Maria (inquiridor em 05Mar73)²; Economia e Finanças, António Vasco da Costa Rebelo Cabral (economista e inquiridor em 05Mar73)²; Segurança Nacional e Ordem Pública, Constantino “Tchutcho Axon” Teixeira (inquiridor em 05Mar73 e segundo-comandante da Frente Sul)²; sem pasta, José Araújo (inquiridor em 05Mar73,² será nomeado em Mai74 comissário da secretaria-geral do Estado); Planificação Agrícola, Carlos Correia (engenheiro agrónomo e responsável pela segurança da Frente Sul)²; Interior, Abdulai Barri (comandante das FARP)²; Informação e Turismo, Manuel Maria Monteiro “Manecas” dos Santos (comandante da Frente Norte)³,4; Educação e Cultura, Manuel Saturnino da Costa (comandante das FARP) )³,4; Saúde e Assuntos Sociais, João da Costa (segundo-comandante da base recuada de Candjafra)³,4; Comércio e Artesanato, Armando Ramos³,4; Agricultura e Pecuária, Samba Laminé Mané (engenheiro agrónomo)4; Controle Económico e Financeiro, Mário Cabral (engenheiro agrónomo)4; Indústria, Energia e Hidráulica, Filinto Vaz Martins (engenheiro)4; Juventude e Desportos, Adelino Nunes Correia (engenheiro)4; Desenvolvimento de Recursos Naturais, Júlio Semedo4; Estatística e Planificação, Luís de Oliveira Sanca4; procurador-geral, João da Cruz Pinto; governador do Banco Nacional, Victor Freire Monteiro (economista); Obras Públicas e Urbanismo, Alberto Lima Gomes (arquitecto,4 será nomeado em 03Set74).»

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Factos & Farsas no Lugadjole... (epílogo 3/4)

– «Em 24 de Setembro de 1973, a ANP: aprovou primeiro, “exprimindo a vontade soberana do povo”, a Proclamação do Estado da Guiné-Bissau”, independente e soberano; logo de seguida, no exercício do 'poder constituinte', aprovou a Constituição da República da Guiné-Bissau; depois, já transformada em 'orgão constituído do poder do Estado', elegeu o Conselho de Estado e o Conselho de Comissários do Estado. Mais precisamente, a ANP aprovou os diplomas [Leis 1/73 a 4/73] que fixaram o 'quadro jurídico-político' da criação da Guiné-Bissau e os fundamentos da sua ordem jurídica [...], dispondo sobre os termos da vigência transitória da lei portuguesa, pois se trata de uma cláusula geral de recepção (ou novação) do direito ordinário anterior, o qual passará a ter um novo fundamento de validade e a ficar sujeito aos princípios materiais da nova Constituição [...], textos na época divulgados pelos meios noticiosos de que o PAIGC dispunha.»5
Mas apesar de nesta auto-designada Assembleia Nacional Popular o PAIGC persistir em se intitular “Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde”, é afastada qualquer proclamação ou comunicado relativo àquele arquipélago.
– «Eleito o novo executivo de luta, Luís Cabral nomeado presidente do Conselho de Estado, orgão colectivo que passaria a assegurar a presidência do primeiro executivo da Guiné-Bissau, foi proclamado o Estado da Guiné-Bissau, “nação africana forjada na luta”: “O Estado da Guiné-Bissau lança um apelo a todos os Estados independentes do mundo para que o reconheçam ‘de jure’ como Estado soberano, de acordo com o Direito e a prática internacionais. Ele exprime a sua decisão de participar na vida internacional, nomeadamente no seio da Organização da Unidade Africana e da Organização das Nações Unidas, onde o nosso povo poderá dar a sua contribuição para a solução dos problemas fundamentais do nosso tempo, da África e do Mundo”. O problema do arquipélago do Cabo Verde só viria a ser discutido em conversações ulteriores.»6
– «Resta saber como poderá esta unidade [da Guiné-Bissau com Cabo Verde] sobreviver [...], entre aqueles que esperam directivas do presidente Sekou Touré da Guiné e aqueles que se manifestam a favor do mais moderado presidente Senghor do Senegal; e ainda no próprio território entre os vários grupos tribais, particularmente os balantas de quem o PAIGC recebe a sua força, e os fulas e os mandingas que tendem para aliar-se aos portugueses. Além disso, haverá problemas supravenientes com a incorporação das ilhas de Cabo Verde no Estado da Guiné-Bissau. As ilhas pouco têm de comum com o território continental, a não ser a herança portuguesa e a sua natural pobreza. O Ocidente está especialmente interessado no futuro das bases estratégicas naval e aérea de Portugal nas ilhas de Cabo Verde e não veria com agrado que eles caíssem nas mãos dos sovietes. Quando [...] a [dita] Assembleia Nacional [Popular do PAIGC] referiu a declaração de independência, ficou assente que a Guiné-Bissau deveria aderir aos princípios do não-alinhamento. Ora, tanto Washington como Moscovo mostram-se ansiosos em verificar até onde irá o não alinhamento do país.»7
– «Guiné: apesar de ter sido anunciada a proclamação de um Estado independente pelos terroristas, estes estavam completamente contidos e não dispunham de qualquer parcela do território, embora tivessem recebido grande reforço de material bélico moderno proveniente da Rússia, e do Vietname onde o fim da guerra tinha deixado grandes massas de armas modernas disponíveis para outros locais de emprego.»8

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Factos & Farsas no Lugadjole... (epílogo 4/4)

No dia seguinte (25/9) em Estocolmo, decorre a prevista manif de «apoio aos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas», promovido pelo respectivo comité sueco.
Menos de 24 horas decorridas (26/9), em Dacar os correspondentes da Reuter e da AFP expedem telexes urgentes com a notícia de que, no sudeste da Guiné Portuguesa, o PAIGC proclamou «anteontem» a «independência da República da Guiné-Bissau».
– «Em Setembro de 1973, quando a Guiné declarou unilateralmente a independência, Mário Soares, de Paris enviou um telegrama de felicitações a Aristides Pereira.»9
– «Era o meu dever de militante antifascista e anticolonialista. Inseria-se na lógica do meu combate contra a Ditadura e o colonialismo. [...] Eu achava que era preciso chegar, quanto antes, a um acordo na base do reconhecimento da independência. Era a única forma de ganhar credibilidade internacional para podermos negociar com as outras colónias nas melhores condições. A guerra na Guiné estava perdida. Para muitos países, a Guiné era já vista e auxiliada como um país independente.»10

¹ (Luís Cabral, em 13Jan95 a Freire Antunes); 5 (Duarte Silva, op.cit pp.137); 6 (Sambú, op.cit pp.43-45); 7 (Nicholas Ashford, in “The Times” Londres 27Ago74); 8 (Ferreira, op.cit pp.394); 9 (Avillez, op.cit pp.301); 10 (Soares, idem);

Valdemar Silva disse...

Nestes "Factos e Farsas no Lugadjole" não se percebem muito bem 'naquela região árida e demograficamente desertificada' e as fotografias tiradas em 2005 que aparecem no poste.
Também não se percebe se facto e farsa ou farsa do facto o parágrafo:
'Logo de seguida e sem interrupções, a auto-designada Assembleia Nacional Popular elege um Conselho de Estado.....'.
Afinal constata-se ter sido de seguida e sem interrupções, mas não se chega nessa constatação ter sido, realmente, uma Assembleia Nacional.
Também falta a descrição de grande interesse factual quantas balas teriam sido gastas nos fuzilamentos para justificação nas contas do armeiro.
E que não aparecesse a teoria marxista-leninista, Moscovo, Partidos Comunistas, Mário Soares a enviar cumprimentos não seriam uns bons factos e farsas.
E cá vão aparecendo estes factos e farsas ou farsas dos factos, sempre de grande interesse meio século depois, mesmo que por demais referenciados no nosso blogue.
Mas porquê estes agora?

Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

José Valdemar Ramos Queiroz da Silva,
Perante os seus insolentes, quanto despropositados, àpartes & palpites, apenas me apraz dirigir-lhe palavra - final -, porquanto as suas recorrentes provocações me não merecem mais que... isto:
Todos os factos supra reportados se encontram consubstanciados e cada qual afecto a respectivas citações bibliográficas.
E quanto ao m/qualificativo 'farsas": 'qed' pela História.
«Porquê agora?»
Porque m'apetece!
Tá bem?! Ou teria de lhe solicitar prévio parecer/autorização?
O que v. sabe ou pensa saber, já a mim esqueceu.
Passe bem.

--
(ao fundador/editor deste blog, Luís Manuel da Graça Henriques, fará favor de dar uma palavrinha particular àquele "comentador" seu contemporâneo na Guiné; agradeço, a bem da cordialidade e urbanidade necessárias).

Antº Rosinha disse...


Do 1º grupo de médicos da AMI para a região de Lugajol, (1988?)fazia parte um antigo fuzileiro naval, que tinha feito a tropa na Guiné.

Era um médico bastante jovem, curioso e dinâmico, e permaneceu nessa missão médica vários meses.

Tanto tempo em contacto com a população local, muitas curiosidades deve ter satisfeito esse médico.

Não me lembro do seu nome e se soubesse não o mencionaria, evidentemente.

Valdemar Silva disse...

Ó João Carlos Abreu dos Santos tenha calma.
Existem ainda vivos três José Valdemar Ramos Queiroz da Silva, mas julga que refere a mim.
(ena até já descobriu que o R. é de Ramos, muito bem.)
Repare, até estou a trá-lo por você, pese embora aqui no blogue nos tratarmos por tu.
Deixe-se de tretas, de factos e farsas, tá bem. Não venha com as suas habituais provocações ou outros tiques de queixo do colarinho apertado.
Sabe que mais, apeteceu-me e vou repetir, mas porquê aqueles factos e farsas agora?

Em todo o caso, saúde e cuidado com o novo coronavirus.
Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

O insulto é sempre o último argumento dos pusilânimes.

Valdemar Silva disse...

JCAS
Pois, você sabe que não são permitidos duelos na Estrada da Ameixoeira, de geriátricos muito menos, e escolhe armas verbais sem pontaria.
Ponto final.

E cá vamos andando
Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

So, keep your words soft and sweet just in case you have to eat them.

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... citando:
- «Tal significa: respeitar as boas regras de convívio que estão em vigor entre nós; não há moderação dos comentários.»

Valdemar Silva disse...

JCAS
O que é que quer de fazer?
Primeiro, para o blogue internacional, atira a bola pra canto com uma sarrafada, depois quer respeito pelas boas regras de convívio e moderação nos comentários.

Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Estou a divertir-me à brava!
- «Como um cachorro que volta a farejar o que vomitou, assim é o imbecil que anda sempre a repetir as mesmas asneiras.»

Anónimo disse...

ESCLARECIMENTO

Caro Rosinha esse médico não sou eu.
Estive em 98 durante a guerra civil como voluntário da AMI, sediado em canjufa , fazendo uma cobertura sanitária de toda a região de Gabú.

Sobre o tema supra já dei para este peditório.
Conheço a região do Boé, na época seca é quase desértico com caraterísticas de savana, e na época das chuvas cresce muito arvoredo junto às linhas de água e é praticamente intransitável.
Conheço a tabanca de lugajole onde a AMI teve uma missão durante vários anos desde finais de 80 e e principios dos 90.

Quem contactou com ex-guerrilheiros desde os de mais elevada hierarquia até aos de base, sabe perfeitamente qual é o tipo de comportamento, quando falam a orgãos de comunicação ou similares o PAIGC segue a escola soviética (vidé Maria Turra ), mas quando em contacto meramente pessoal são muito simpáticos e não têm problema nenhum em dizer a verdade.
Têm muito respeito por nós ex-combatentes, inclusivé não têm problema nenhum em dizer que se Portugal quisesse voltar novamente a administrar a Guiné eles não voltariam a revoltar-se contra nós.
Cada um que tire as suas conclusões.

AB

C.Martins

PS
´E EVIDENTE QUE O PAIGC AO PROCLAMAR A INDEPENDÊNCIA TINHA QUE DIZER QUE FOI EM TERRITÓRIO DA GUINÉ.

António Martins Matos disse...

Factos e Opiniões

Vamos aos factos:
Nunca saberemos onde aconteceu a Declaração de Independência.
A razão de tal desconhecimento é ser um assunto sigiloso, do tipo Segredo de Estado. A República da Guiné-Bissau não pode reconhecer publicamente que a referida Declaração tenha sido feita fora do seu território.
Primeiro foi Madina do Boé, mais tarde agarrou-se a Lugadjole.
O filme sobre o evento, feito por uma equipa sueca, mostra viaturas a desfilar ao longo de uma estrada, debaixo de uma mata cerrada. Diz o presente post, “ainda hoje é quase impossível chegar a Lugadjole por estrada”.

Vamos às opiniões:
Para mim, que, por causa do livro sobre os Strelas, andei a esgravatar este assunto, encontrei variadas soluções, a terceira mais falada… Vendu Leidi.
A minha opinião é outra, Léla, a duzentos e vinte quilómetros de Bissalanca, fora do alcance dos Fiat-G91 e apenas a três quilómetros da fronteira, já no território da Guiné Conacri. Tem tudo o que aparece nos filme, estrada, mata frondosa, segurança.
Quanto àquela historieta de terem levado as rampas dos Strelas mas se terem esquecido dos sistemas de pontaria… a história do capuchinho vermelho é mais credível.
Que os Strelas nem tinham rampas de lançamento!

Antº Rosinha disse...

C. Martins, eu sei que não és tu, pois que esse ex-fuzileiro e mais outros dois médicos e um enfermeiro, chegaram a estar alojados dois dias numa residência minha no Gabu, a tomar balanço para atravessar a jangada de Che-Che para aquele fim de mundo.

Não me lembro do nome de nenhum deles, (é da idade minha), sei que o chefe e o enfermeiro, mais velhos, já faleceram, mas o fuzileiro e o outro médico que penso era da Covilhã, são gente mais jovem.

Penso que essa equipa labutava para os lados de Arruda dos Vinhos, pelo menos o chefe da equipa.

É fácil para ti localizar esse fuzileiro, teu colega.

Cumprimentos

Valdemar Silva disse...

Caro António Martins Matos
Os foguetões 122mm eram lançados por um, chamemos-lhe rampa, tubo assente num tripé.
Quando na noite de 05/04/70 Nova Lamego foi flagelada com seis foguetões 122mm (mísseis), sem provocarem nenhum estrago devido à má pontaria e ao não terem explodido, depressa foram pedidas informações sobre este novo armamento do IN, até então desconhecido.
No dia seguinte foi o meu Pelotão, da CART11, quem foi "descobrir" o local e os vestígios do lançamento o mais exato possível. Localizamos o preciso local da instalação da rampa de lançamento, que de imediato transmiti (por ausência do Cmdt. do Pelotão fui eu quem o substituiu) para serem feitas peritagens ao local. Depressa se chegou à conclusão ter sido utilizado um tripé e pelos vestígios do solo queimado terem "subido" por uma espécie de tubo ligado por uma bateria de automóvel/camião. Nos dias seguintes eu e o meu Capitão Cmdt da CART11 fomos a reuniões no Comando do Batalhão para melhor esclarecimento.
No P9352 aparece uma foto do aparelho de lançamento, e podemos ler no interessante "Diário da Guiné", de AGA, do dia 22/08/72 'Nova Lamego fora agora flagelada por foguetões 122mm. Não sei ainda o que são, nem o estrago que provocam', ... dois anos e meio depois!!
É, também, interessante ler, até por estar dentro do tema deste poste, o do dia 26/09/73 'O PAIGC declarou a sua independência. Por aqui nada mudou...oficialmente, somos nós portugueses quem estamos a ocupar a pátria deles'.
Nos "Strela" como «rampa de lançamento» também era utilizado um tubo sem tripé, ou seja fazia parte do equipamento de lançamento uma espécie de bazooka manobrada ao ombro do atirador. Seria muito estranho terem os mísseis e não terem o tubo de lançamento, ou terem mísseis, tubos de lançamento e não saberem utiliza-los.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Esqueci-me de começar o poste anterior por:
Caro António Martins Matos, como muito bem sabe.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro A.M.MATOS

Quase no alvo... grande PILAV.

E.N. n.º 23 mais a sul... localidade.. não digo porque posso ser processado, e não tenho provas materiais.

AB

C.Martins