quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22963: Efemérides (362): Faz hoje 49 anos que a CCAÇ 12 e a CART 3494 sofreram uma emboscada em Ponta Varela, Xime, sofrendo um ferido ligeiro e o IN 2 mortos e 1 ferido... E para mim foi o batismo de fogo (António Duarte)



Excerto da história do BART 3873 (Bambadinca, 1971/74) (*)


[António Duarte, foto à esquerda: [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974; economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; tem mais de meia centena de referências no nosso blogue]

1. Mensagem do António Duarte

Data - 3 fev 2022, 18:59 
Assunto - Emboscadas de 3/2/1973 e 25/2/1973

Boa tarde Camaradas e Amigos.

Faz hoje 49 anos que a CCAÇ  12 e a CART  3494 tiveram uma emboscada perto de Ponta Varela. (**)

Segundo o livro do Batalhão de Artilharia 3873, o IN  teve 2 mortos e 1 ferido. As nossas tropas 1 ferido ligeiro.
 
Para a terceira geração da CCAÇ 12 foi o primeiro contacto com o IN e jâ com o ca
pitão Simão, o cap mil inf  José António de Campos Simão.

Participámos neste "evento" três membros da nossa Tabanca:  eu, o António Sucena Rodrigues, infelizmente já falecido,  e o Jorge Araújo,  da "subtabanca" de Abu Dhabi (Emiratos Árabes Unidos).
.
O João Candeias da Silva e o Emílio Costa (os dois da CCAÇ 12) com os quais mantenho contacto, pessoalmente com o Candeias e por mensagem com o Emílio, também foram recordados deste acontecimento.

De salientar que o Jorge Araújo da CART 3494, já tinha tido outros contactos, um deles com 1 morto do nosso lado (fur Bento em 22 de abril de 1972).

Daquilo que me recordo no regresso ao Xime, o Araújo relatou que teve mesmo num frente a frente com um homem do PAIGC (à época a  CCAÇ12, ainda estava em Bambadinca).

Fica a curiosidade que um dos nossos, na troca de carregador vazio por um segundo, cheio, perdeu o primeiro e acaba por chegar ao quartel com menos um carregador de G3. Consequência, teve de o pagar. Rídiculo. Penso que foram 5 escudos, mas o nosso primeiro não perdoou.
 
Assim era, um guerra poupadinha e com contas certas.

Na foto junto vai evidenciada uma nova emboscada a 25 do mesmo mês, que fica para depois, mas onde não estive, por ter vindo de férias.

E pronto, por hoje é tudo.

Estranho, passado tantos anos ainda recordamos estes temas. A experiência foi mesmo traumatizante.

Abraço,
António Duarte
Cart 3493 (Mansambo)  e Ccaç 12 (Bambadinca e Xime( (1971/74)
____________

Notas do editor:



6 comentários:

Jorge Araujo disse...

Pois é camarada António Duarte: há factos da nossa vida (de todos nós) que o tempo não consegue apagar... e então os da guerra... jamais!

Antes de mais, quero dizer-te, assim como ao colectivo da Tabanca, que deixei de dirigir a Tabanca dos Emirados desde a passada 6.ª feira, para recuperar o cargo na Tabanca do Pragal (Almada). Foram seis meses lá, e agora seis meses cá.

Quanto ao tema de hoje, que recuperas com grande oportunidade, sempre te digo que para mim não é uma efeméride, nem duas, mas sim três. Ou seja, foram as "cenas" da «Guarida 18», depois a viagem para Bafatá e, depois, o início do 2.º período de férias na metrópole. Foram muitas emoções em pouco tempo.

Ainda ontem, dia 02Fev2022, em contacto telefónico com o meu/nosso camarada Carneiro (ex-Alf. Mil. de Operações Especiais da minha CART 3494) recordámos o episódio ocorrido em 03Fev1973, na região da Ponta Varela. Ele já não participou nas últimas actividades efectuadas pela 3494, no Xime, devido ao facto de ter sido nomeado para as "africanas", tal como aconteceu com o camarada Joaquim Mexia Alves (ex-ALf. Mil de Operações Especiais da CART 3492).

Continua...

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

À data desta emboscada eu continuava a "cobri-me de glória, na defesa do solo pátrio" mas em Mansabá.
Nem soube dessa acção.

Um Ab.
António J. P. Costa

Jorge Araujo disse...

Continuação...

Sobre o facto de ter estado no "frente-a-frente" (ao virar da esquina), o resultado do "encontro" deu lugar a um louvor atribuído pelo nosso Cmdt do BART 3873, TCor Tiago Martins (1919-1992), publicado em 24 de Outubro do mesmo ano, isto é, quase nove meses depois da ocorrência.

Como curiosidade, só após o falecimento da minha mãe, em 27Dez2015, é que tomei conhecimento da Ordem de Serviço n.º 251, do meu Batalhão, com a data indicada anteriormente. Este documento foi encontrado no vasto espólio que me deixou (estou a falar de papel) ao qual designei, na altura, como o «Baú de Minha Mãe».

Para completar este quadro de memórias, com quarenta e nove anos, vou enviar ao camarada Luís Graça, por correio interno, o documento supra, onde consta, também, um louvor atribuído ao Cap. Mil. Inf. José António de Campos Simão, da CCAÇ 12, que agora recordaste.

Para ti e para o colectivo da Tabanca, envio um forte abraço de amizade.

Saúde.
Jorge Araújo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, ´grande Jorge das Arábias, já chegou a tua "encomendinha", vou abrir e ler...Este blogue vive, dizes bem, do nosso baú de memórias, incluindo o baú que nos deixaram os nossos pais... Saibamos estimar os nossos baús... Matenhas. Luís

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

O Antonio Duarte escreveu:

"Fica a curiosidade que um dos nossos, na troca de carregador vazio por um segundo, cheio, perdeu o primeiro e acaba por chegar ao quartel com menos um carregador de G3. Consequência, teve de o pagar. Rídiculo. Penso que foram 5 escudos, mas o nosso primeiro não perdoou.

Assim era, um guerra poupadinha e com contas certas."

A proposito desta curiosidade, ha um adagio fula que diz assim: "Os macacos nao sao poupados, mas também nao se poupam uns aos outros", claro que alguém teria denunciado o caso ao PRIMEIRO, acho eu.

Se a vida militar nao funcionasse como uma barraca de fanado entre os africanos onde sao sempre os PRIMEIROS que mandam, seria mesmo interessante que ao PRIMEIRO fosse decretado participar numa daquelas operaçoes que duravam 1 semana no mato de Fiofioli com 6 carregadores de G3 e ainda 2 granadas de bazuka. Isto é que seria fazer justiça aos pobres operacionais das companhias de intervençao.

Quando era criança e assistia as saidas para o mato, dizia para comigo que, quando viesse a ser soldado, recusar-me-ia a tarefa de carregar as compridas e pesadas granadas de bazuca. Na altura, desconhecia a importancia tactica e psicologica que tinham nas flagelaçoes e num reencontro a distancia.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé


Anónimo disse...

Boa tarde Cherno

És um poço de sabedoria fula. No caso de nosso camarada que perdeu o carregador, foi ele próprio que foi ter com o primeiro sargento a pedir um novo carregador. Não pensava ele que tinha de pagar. Mas enfim "guerra de contas certas"
Abraços para ti.

Boa tarde Araújo

Folgo que estejas de volta. Mais uns dias e temos de combinar um almoço, convidando o Lino e outro camarada da ccaç12.

Penso que vi no livro do batalhão o registo do teu louvor. Vou procurar.
Abraços