Queridos amigos,
Aqui se põe termo à visita aos jardins dos Marqueses de Fronteira, azulejos admiráveis num jardim do tipo italiano, alguém disse que há a considerar neste palácio duas partes bem distintas, pois que parte da decoração interior é do século XVIII, mas o aspeto exterior, a riquíssima decoração cerâmica dos terraços e jardins, bem como a disposição geral destes, datam da primitiva e constituem o mais interessante e completo exemplo existente em Portugal de uma vivenda nobre seiscentista. Aliás deslumbra a vista do jardim e da Galeria dos Reis a partir do interior do palácio, ver a belíssima combinação entre a Casa do Fresco, nos jardins, com os anexos da capela, percorrer os painéis de azulejos no terraço, com a capela à vista, e saber que estes jardins cercados de uma azulejaria de sereias e tritões e tudo o que a fantasia oferece da vasta mitologia permite pensar que estes canteiros cercados de bucho, de acordo com as estações do ano, vêm desabrochar narcisos, margaridas, jacintos, tulipas, escovinhas, anémonas, rainúnculos e outros primores da jardinagem. Jardins e palácio são indissociáveis dada a estética harmoniosa que os completa, o que aqui se fez foi visitar ao pormenor estes primorosos jardins... E fica-nos desde já a vontade de voltar.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (40):
Os esplendorosos jardins do Palácio dos Marqueses de Fronteira (2)
Mário Beja Santos
Em São Domingos de Benfica, confinando com um fim ao Parque Florestal de Monsanto, de paredes meias com a Quinta dos Marqueses de Abrantes, levantou-se o Palácio dos Marqueses de Fronteira, por todos considerado um dos mais belos de Portugal, um verdadeiro museu de azulejos, de cerâmica, de belo estuque lavrado, fundado pelo 2º Conde da Torre e 1º Marquês de Fronteira, D. João Mascarenhas. E se o palácio é um tesouro, os seus jardins não lhe ficam atrás. É deles que vamos mostrar imagens que não iludem as preciosidades que acolhem os visitantes. Serve-nos de bússola o livro Jardins e Palácio dos Marqueses de Fronteira, por José Cassiano Neves, Quetzal Editores, 1995.
Recorda-se que estamos a falar de jardins ao gosto italiano, um amplo espaço circundado de terraços, escadarias como a bela balaustrada em mármore de Carrara. Tal terraço é continuado por um corredor que circunda o palácio para a direita, parece uma meia moldura onde ao fundo está uma interessante fonte com conchas, búzios, vidros de várias cores, fragmentos de loiças orientais, tudo fazendo desenhos bizarros – é a fonte da Carranquinha. Rodapés de azulejos é coisa que não faltam, polícromos, do século XVII.
O visitante, é inevitável, olha surpreso para temas da fidalguia, quadros mitológicos, bustos régios, cavaleiros à moda velasqueana, cavalos empinados, a circundar a fonte. Painéis de azulejos de murete, aqui e acolá, suscitam a atenção. E percorre-se a Galeria dos Reis bisbilhotando os que são de Portugal, sabendo que os Filipes, com quem tão estrenuamente os Mascarenhas lutaram, não têm ali lugar. Mesmo na Galeria dos Reis não faltam temas mitológicos, lá está Pã. Descendo da galeria para os tanques octogonais, há para ali uma bonita e artística taça, graciosidade é coisa que não falta nos jardins dos Marqueses de Fronteira. Como esta imagem abona é perfeito o enlace entre o palácio e os jardins.
O grande lago é espetacular e monumental, faz parte da lógica da conceção do jardim, vale a pena andar ali a bisbilhotar de um lado para o outro a alta parede do fundo do lago com os seus doze painéis de azulejo, três grutas e mais dois painéis laterais, com repuxo ao centro. Grandes painéis de azulejos figuram em tamanho natural, são os tais cavaleiros em grande galopada de altivo e marcial arranque, por isso se diz que à moda de Velasquez, este genial pintor espanhol assim concebeu os seus retratos equestres do Infante Baltasar Carlos, de Filipe IV e do Conde-Duque de Olivares.
Aqui o visitante se detém à busca de pormenores, já viu os guapos cavaleiros, alguns deles bem identificados, entre a casa dos Mascarenhas, um deles tem mesmo à sua volta uma cercadura com os títulos a que deu origem: Conde de Santa Cruz, Conde de Óbidos, Conde da Torre, Conde de Conculim, Marquês de Fronteira, Marquês de Montalvão, Conde de Sabugal, Conde de Serém, Conde de Castelo Novo, Conde de Palma, Conde de Vila da Horta.
Já se visitou a Galeria dos Reis, vai-se agora a caminho de um lago em forma octogonal, entre fetos e camélias, tendo a meio três golfinhos enlaçados. Andando por esse jardim, num dos topos, temos a Casa de Água ou do Fresco, trabalho de embrechado, com conchas, fragmentos de porcelana e vidro e lascas de pedra. Aqui encontramos faunos no interior da casa e cá fora revestimentos em forma de S, representando animais marinhos.
Atenção às costas dos bancos que envolvem o tanque dos S, porventura está aqui alguma da mais prodigiosa riqueza azulejar, cenas de pesca ao coral, painel com macacos e gatos representando a ala de música e o barbeiro. E divindades mitológicas, omnipresentes.
Requer-se tempo e gosto para ver os tipos de pesca, as sereias e os tritões, os búzios e as conchas, a variedade de figuras alegóricas no meio de arcos de vegetação, entender que esta aristocracia se dava bem com os temas da música e da dança, com fantasias e efabulações, como uma orquestra composta de gatos e macacos que tocam e cantam e onde não falta a menina dos cinco olhos para castigar quem desafina… Como diz Cassiano Neves, toda esta policromia azulejar data do primeiro terço do século XVII. Atenda-se que no plano superior a este jardim, há um novo lago, de forma quadrangular, tendo nove nichos, com outras tantas figuras mitológicas, conhecido por Lago dos Pretos. E o visitante nunca deve abstrair o ambiente circundante da Mata de Monsanto onde se encontram ainda algumas espécies da antiga vegetação da Serra de Monsanto, enquadramento natural do Palácio dos Marqueses de Fronteira.
A visita por natureza é inextinguível, aqui se vem de novo reclamado por esta estética admirável, não é por acaso que estes jardins estão entre os mais belos que há em Portugal. Finda a visita, haverá um dia em que aqui se regressará para falar das coisas do palácio. Fica o elemento de ligação, o estuque brasonado que nos receberá no dia em que aqui se baterá à porta do palácio.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 26 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23033: Os nossos seres, saberes e lazeres (493): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (32): Os esplendorosos jardins do Palácio dos Marqueses de Fronteira (1) (Mário Beja Santos)
Mário Beja Santos
Em São Domingos de Benfica, confinando com um fim ao Parque Florestal de Monsanto, de paredes meias com a Quinta dos Marqueses de Abrantes, levantou-se o Palácio dos Marqueses de Fronteira, por todos considerado um dos mais belos de Portugal, um verdadeiro museu de azulejos, de cerâmica, de belo estuque lavrado, fundado pelo 2º Conde da Torre e 1º Marquês de Fronteira, D. João Mascarenhas. E se o palácio é um tesouro, os seus jardins não lhe ficam atrás. É deles que vamos mostrar imagens que não iludem as preciosidades que acolhem os visitantes. Serve-nos de bússola o livro Jardins e Palácio dos Marqueses de Fronteira, por José Cassiano Neves, Quetzal Editores, 1995.
Recorda-se que estamos a falar de jardins ao gosto italiano, um amplo espaço circundado de terraços, escadarias como a bela balaustrada em mármore de Carrara. Tal terraço é continuado por um corredor que circunda o palácio para a direita, parece uma meia moldura onde ao fundo está uma interessante fonte com conchas, búzios, vidros de várias cores, fragmentos de loiças orientais, tudo fazendo desenhos bizarros – é a fonte da Carranquinha. Rodapés de azulejos é coisa que não faltam, polícromos, do século XVII.
O visitante, é inevitável, olha surpreso para temas da fidalguia, quadros mitológicos, bustos régios, cavaleiros à moda velasqueana, cavalos empinados, a circundar a fonte. Painéis de azulejos de murete, aqui e acolá, suscitam a atenção. E percorre-se a Galeria dos Reis bisbilhotando os que são de Portugal, sabendo que os Filipes, com quem tão estrenuamente os Mascarenhas lutaram, não têm ali lugar. Mesmo na Galeria dos Reis não faltam temas mitológicos, lá está Pã. Descendo da galeria para os tanques octogonais, há para ali uma bonita e artística taça, graciosidade é coisa que não falta nos jardins dos Marqueses de Fronteira. Como esta imagem abona é perfeito o enlace entre o palácio e os jardins.
O grande lago é espetacular e monumental, faz parte da lógica da conceção do jardim, vale a pena andar ali a bisbilhotar de um lado para o outro a alta parede do fundo do lago com os seus doze painéis de azulejo, três grutas e mais dois painéis laterais, com repuxo ao centro. Grandes painéis de azulejos figuram em tamanho natural, são os tais cavaleiros em grande galopada de altivo e marcial arranque, por isso se diz que à moda de Velasquez, este genial pintor espanhol assim concebeu os seus retratos equestres do Infante Baltasar Carlos, de Filipe IV e do Conde-Duque de Olivares.
Aqui o visitante se detém à busca de pormenores, já viu os guapos cavaleiros, alguns deles bem identificados, entre a casa dos Mascarenhas, um deles tem mesmo à sua volta uma cercadura com os títulos a que deu origem: Conde de Santa Cruz, Conde de Óbidos, Conde da Torre, Conde de Conculim, Marquês de Fronteira, Marquês de Montalvão, Conde de Sabugal, Conde de Serém, Conde de Castelo Novo, Conde de Palma, Conde de Vila da Horta.
Já se visitou a Galeria dos Reis, vai-se agora a caminho de um lago em forma octogonal, entre fetos e camélias, tendo a meio três golfinhos enlaçados. Andando por esse jardim, num dos topos, temos a Casa de Água ou do Fresco, trabalho de embrechado, com conchas, fragmentos de porcelana e vidro e lascas de pedra. Aqui encontramos faunos no interior da casa e cá fora revestimentos em forma de S, representando animais marinhos.
Atenção às costas dos bancos que envolvem o tanque dos S, porventura está aqui alguma da mais prodigiosa riqueza azulejar, cenas de pesca ao coral, painel com macacos e gatos representando a ala de música e o barbeiro. E divindades mitológicas, omnipresentes.
Requer-se tempo e gosto para ver os tipos de pesca, as sereias e os tritões, os búzios e as conchas, a variedade de figuras alegóricas no meio de arcos de vegetação, entender que esta aristocracia se dava bem com os temas da música e da dança, com fantasias e efabulações, como uma orquestra composta de gatos e macacos que tocam e cantam e onde não falta a menina dos cinco olhos para castigar quem desafina… Como diz Cassiano Neves, toda esta policromia azulejar data do primeiro terço do século XVII. Atenda-se que no plano superior a este jardim, há um novo lago, de forma quadrangular, tendo nove nichos, com outras tantas figuras mitológicas, conhecido por Lago dos Pretos. E o visitante nunca deve abstrair o ambiente circundante da Mata de Monsanto onde se encontram ainda algumas espécies da antiga vegetação da Serra de Monsanto, enquadramento natural do Palácio dos Marqueses de Fronteira.
A visita por natureza é inextinguível, aqui se vem de novo reclamado por esta estética admirável, não é por acaso que estes jardins estão entre os mais belos que há em Portugal. Finda a visita, haverá um dia em que aqui se regressará para falar das coisas do palácio. Fica o elemento de ligação, o estuque brasonado que nos receberá no dia em que aqui se baterá à porta do palácio.
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Nota do editor
Último poste da série de 26 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23033: Os nossos seres, saberes e lazeres (493): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (32): Os esplendorosos jardins do Palácio dos Marqueses de Fronteira (1) (Mário Beja Santos)
4 comentários:
O estado de degradação em que se encontram os azulejos é altamente preocupante. É verdade que eles estão ao ar livre e, por isso, sujeitos às agressões ambientais, mas a evidente falta de cuidado agrava ainda mais o problema. Os herdeiros do falecido Fernando de Mascarenhas (que foi um notável mecenas da cultura portuguesa) não se preocupam com isto?
Olá Camaradas
A última foto é curiosa. Parece ser uma lisonja (espécie de distintivo heráldico habitualmente usado por damas) colocada numa cartela. Sotoposto à lisonja, encontramos um troféu que é um conjunto mais ou menos amontoado de objectos normalmente de carácter bélico. O coronel parece ser de duque e por cima não há elmo, mas o timbre parece estar a 3/4 para a destra. Os fronteira são marqueses o que deveria estar legível no "brasão".
Um Ab.
António J. P. Costa
Olá Camaradas
Volto à antena para dizer que as o troféu não é muito simétrico, ao contrário da cartela que o é quase. As faixas onduladas de ouro e vermelho (goles) são características da família fronteira. Porém, embora saiba pouco disto parece-me que o timbre é demasiado pequeno. Uma coisa é certa os brasões/lisonjas só raramente não são "falantes" e estão sempre "certos" e foram correctamente desenhados/pintados.
Um Ab.
António J. P. Costa
Nos finais dos anos 60 do século passado fui visitante, algumas vezes, desse Palácio e desses jardins, assistindo e participando em sessões culturais, de poesia e música.
Ao ver (rever) estas imagens deu-me alguma saudade e é pena se a degradação não for travada.
Hélder Sousa
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