quinta-feira, 14 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23167: Humor de caserna (47): O Gasparinho, que eu... não conheci no BAC 1 / GA 7 (Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; ex-comandante do 22º Pel Art, Fulacunda, 1969/70)

1. Comentário publicado na nossa página do Facebook, Tabanca Grande Luía Graça, pelo nosso camarada Domingos Robalo, com data de 11 de abril de 2022, 21h18;

Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; foi comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); nasceu em Castelo Branco, trabalhou na Lisnave, vive em Almada; tem 26 eferências no nosso blogue. 

[ Foto atual, à esquerda, Tabanca da Linha, Algés, 2019; foto de Manuel Resende].



Olá amigos, camaradas. 

Li os relatos do blogue (*) e algo não bate certo em termos de datas em relação ao major Gaspar. Irei confirmar, pois sou desse tempo na BAC1/GA7. 

Em março de 1969, estava eu colocado no RALIS, tendo como 2° Comandante o Coronel Ferreira da Silva. Já na altura não era militar de quem se gostasse. 

Em maio de 69 embarco para a Guiné, sendo mobilizado em rendição individual,  colocado ns BAC1, então comandada pelo capitão Moura S. 

Em novembro de 69 venho de férias e em Almada conversei casualmente com um anterior camarada do RALIS, que me informou da mobilização do Coronel Ferreira da Silva para comandar a BAC1, em vias de passar a GAC7, o que viria acontecer pouco tempo depois.

 Quando regressei de férias e me apresentei na unidade eu e o "novo comandante" já eramos conhecidos por termos tido alguns arrufos no RALIS. 

"Ó filho" era um termo muito do agrado deste militar. Um dia, o Sargento Canário do QP e encarregado das obras da unidade, já falecido, teve um caso com o " Ó filho" e foi de imediato recambiado para o mato. Disse o Coronel:  "Então Canário, as obras andam ou não andam? Resposta do Seiras,  sargento; "Meu comandante, como quer que as obras andem se não têm pernas ?". 

O Comandante não gostou do à vontade do "pobre Canário", que já teria mais de 50 anos de idade, eu era um puto com 21 anos. 

Ao tempo do capitão Moura S. era eu que participava na regulação de tiro em todos os PELART do TO juntamente com o capitão Viriato O. alternando com o capitão Fradique. O coronel, comandante da unidade resolveu ir fazer uma regulação de tiro a um PELART. Deu os elementos ao chefe de secção, furriel Monj.... fez-se a pontaria, tudo pronto?! Fogo...!!!

Granada pelo ar..., vai cair numa palhota amiga, vários feridos... Aqui deu- se a bronca. De quem foi a culpa? Dos dados mal calculados, mal introduzidos na BF ou deficiente comunicação? 

Levantou-se um auto que andou enrolado muito tempo até que chegaram mesmo a propor ao furriel que assumisse culpa e poder embarcar e passar à peluda. Só que este não aceitou porque entendeu não ter de assumir uma culpa que não sentia ter. 

Entretanto, o Coronel tinha dado baixa e regressou à Metrópole. Em maio de 71 sou desmobilizado e regresso com mais um louvor, desta feita dado pelo 2° Comandante, recém chegado de Piche, o major Mexia, já falecido. 

O major Gaspar será figura posterior à minha desmobilização. Do coronel, nunca mais ouvi referência, a não ser agora no blogue.

Os oficiais do QP, à data de maio de 71 eram ; major Mexia, capitães Viriato, Fradique, Pereira S, Evaristo e Lourenço, estes últimos da A.A. [Artilharia Anti-Aérea].

Mais estórias haveria, mas a prosa já vai longa. 

Abraço. Saudações artilheiras. Domingos Robalo.

__________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 11 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23158: Humor de caserna (46): Histórias pícaras: O Gasparinho - Parte III (António J. Pereira da Costa / Luís Faria / José Afonso / José Borrego): (vi) Picagem automática: as rajadas de G3 em vez da pica; (vii) Mensagem-relâmpago: Quem viu passar as minhas chapas de zinco, levadas pelo tornado? (viii) Informo Vexa que Sexa passou na mecha

9 comentários:

Valdemar Silva disse...

Essa do "Ó filho" faz-me lembrar uma que se passou comigo há uns meses no Hospital.
Dizem que é para por os doentes mais à vontade. Uma médica/enfermeira/auxiliar, não sei ao certo por estar "mascarada covid", para eu deixar passar o tubo do oxigênio virou-se para mim e disse: ó filho abre lá as perninhas para eu meter o tubo. Tá bem filha, respondi eu, mas não aleijes muito. Bronca das grandes, com um aviso de 'já vi que é muito espertinho' e foi uma noite toda sem me ligar patavina.

E VIVA A ARTILHARIA

Saúde da Boa
Valdemar Queiroz
(Ap. Art.: EPA Set-Dez/67-RAP3 1968 - CART.11 "Os Lacraus" Fev/69-Dez/70)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, trata-se de um acto de enfermagem... Por outro lado, é deontologicamente inaceitável o tratamento por tu (nos doentes adultos). Está na moda o tratamento por querido/a, isto, aquilo... Não deve ser recíproca... Trata-os por senhor/a, enfermeiro/a, doutor/a....

Com a hospitalização ha uma tendência para a infantilização, a regressão... De parte a parte. Por parte dos profissionais é uma questão de poder... Mas há doentes que "gostam" de voltar ao "ventre materno" e a "posição fetal"... Não é o teu caso,que és brincalhão e tens que encontrar estrategias para saber lidar com a p... da tua doença.

Mas também sabes que numa situação daquelas, com um gajo na horizontal e entubado, a relação de poder é assimétrica... Santa Pascoa... LG

Valdemar Silva disse...

OK Luís
Eu até sei medir, e de que maneira, a "distância" que me devo colocar naquelas situações. Habitualmente costumo ser um doente cooperante, em todos os aspectos.
Mas, daquela vez pensei estar à vontade e fui engraçadinho com a pessoa errada.

Boa Páscoa, que por esses lados deve ser boa até chorar por mais.
A minha avô Maria fazia umas filhoses de Páscoa, com massa de farinha de trigo e ovos estendida e muito fininhas, fritas com dois pingos de azeite e depois servida com açúcar e canela, também conhecida por cá como panquecas e crepes. Julgo que filhoses vem do galego filloas.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Hélder Valério disse...

Caros Valdemar e Luís (e restantes camaradas, claro)

Isso dessas "familiaridades", claro que há, deve haver, "regras deontológicas", mas acho que também depende muito das singularidades.

Não tenho memória se alguma vez fiz referência ao que vou relatar a seguir. Caso sim, "relevem", pois a "memória" já vai sendo mais "vaga ideia". Caso não, fica aqui o registo.

Há 4 anos atrás, no final de Janeiro de 2018, na sequência de várias diligências que fui fazendo relacionadas com a próstata, fui mandado fazer uma "biópsia de fusão", o que aconteceu no Hospital de São Luís, ao Bairro Alto, em Lisboa.
Quando cheguei à receção, a funcionária indicou-me um quarto num dos pisos, para me preparar, e disse que "daqui a pouco um senhor enfermeiro já vai ter consigo para lhe dar instruções".
Entretanto um amigo que, por acaso, tinha começado a trabalhar nesse dia no Hospital, ao ver-me veio animar-me e mostrar-me uma pintura na escada e esclareceu que se tratava de homenagem ao Fernando Pessoa, que tinha falecido ali. Fiquei esclarecido e muuuito animado!
Pouco tempo depois, batem à porta e entra uma "senhora enfermeira", com ar simpático, toda "despachada" e diz o meu nome e pergunta
- "Vem fazer biópsia de fusão, verdade?"
- Disse que sim, ao nome e à finalidade, mas que era mesmo para isso, só para isso, "não era para fazer mais nada".
- "Então, o que quer dizer com isso?", perguntou.
-" É que lá em baixo disseram que vinha um "senhor enfermeiro e afinal parece que houve mudança. Eu não quero "mudar" nada!"
Acho que percebeu a gracinha e disse:
- "Fique descansado que venho só para lhe fazer três maldades".
- "Ai sim? E quais são elas?"
- "Bem, a primeira é que aqui na Ficha diz que tem diabetes e por isso tenho que lhe fazer uma picadinha no dedo para se ver a situação atual".
- "Se for só isso, dê lá a picada".
- "Pois, mas também tenho que lhe colocar um cateter"
- "É pá, isso já não agrada nada, não gosto de agulhas"
- "Pois, está bem, mas tem que ser!"
- "Se tem que ser, faça lá isso com jeitinho mas até já estou com medo de perguntar qual a terceira maldade"
- "Ah, isso? É que tenho de lhe rapar os pelos aí em baixo"
- "É pá, não está certo. Você quer é envergonhar-me, então não podiam ter dito antes que eu fazia isso em casa?"
- "Qual quê, vocês homens, não sabem fazer isso bem"! Vá tire as calças e deite-se aí na cama voltado para a janela que vou buscar uma bata".
Sai do quarto, mas imediatamente reabre a porta e diz "e as cuecas também!"
Claro que obedeci mas tirei também a camisa e coloquei-me tal como tinha sido ordenado: estendido na cama, de lado, e voltado para a janela.
Em breve a diligente enfermeira reabre a porta do quarto e exclama:
- "Oh lá lá, todo descascado! Mas não mandei tirar a camisa!"
- "Como vinha trazer uma bata, achei por bem fazer logo tudo".

Feito o "serviço" deu-me um comprimido (vallium? lorenin? não me lembro), para ir para a anestesia já "meio preparado" mas lembro que quando me entregou na sala anexa à sala de cirurgia ainda a ouvi dizer à médica anestesista "aqui está o paciente bem disposto"!

Bem disposto? Estava mas era "apreensivo" e todas aquelas palermices eram para disfarçar.

Mas a historieta também pode servir para mostrar que a "rigidez deontológica" pode ser ultrapassada em função das diferentes pessoas.

Saúde da Boa!

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Uma boa história, Hélder, bem podia servir para a formação do nosso pessoal médico e de enfermagem... E a propósito do "pudor médico", quero-te só lembrar que até meados do séc. XVII, não havia parceiros, homens, só mulheres, em França, a "sage-femme"... Foi preciso morrer a amante de Luis XIV, a duquesa de Orleães (se não erro...) para o cirurgião - parteiro entrar na alcova real... A força de braço era um argumento maior do que o pudor social... quando estava em causa a vida do filho do rei... Claro que isto deu guerras entre médicos, cirurgiões (que ainda não eram médicos, as poderosas "sage-femmes" e os padres...).

Valdemar Silva disse...

Em Abril/1973, na Clínica de St. António, da Reboleira, só havia enfermeiras e auxiliares mulheres, e o que o Hélder conta por lá também acontecia, nas operações ao apêndice, com a pergunta de gilete na mão: rapa você ou rapo eu?.
Comigo, ainda por causa do celebre furúnculo e devido ao local tinha de ser rapado por terceiros e foi a seco que até arrepiava.

Mas, em tempos e por vários hospitais do País havia as Irmãzinhas da Caridade que faziam as vezes das actuais auxiliares e até de enfermagem. Não sei se era só em hospitais da Misericórdia ou gerais, agora, julgo eu, as Irmãzinhas têm outras actividades comerciais e não dá para auxiliar nos hospitais.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas



Em Março de 1969, eu também estava colocado no RAL 1, tendo como 2° Comandante o Ten-Coronel Ferreira da Silva. e realmente "já na altura não era militar de quem se gostasse".
Creio que o último Cmdt da BAC1, foi o capitão Moura Soares.
Ao que julgo, o primeiro Cmdt do GA 7 foi o Ten-Coronel Ferreira da Silva (promovido a coronel em finais de 1971 ou já em 1972).

O ainda Ten-Coronel tinha dado baixa e regressou à Metrópole, mas voltou ao TO. O 2° Comandante, (recém chegado de Piche), era o major Mexia, já falecido, que eu também conheci. Era uma pessoa educada e afável, mas que, talvez por isso, não conseguia entender-se com o Cmdt. Expôs superiormente a situação e foi transferido para a 4.ª Rep/CTIG e foi substituído pelo major Gaspar.

Abraço e Boa Páscoa
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

O Major Mexia chamava-se João Mexia Leitão.
Um Ab.
António Costa

Carlos Vinhal disse...

Olá Hélder V e restantes camaradas.
Falando ainda de deontologia.
Eu apesar de algo tímido, principalmente em presença de "grandes plateias", tenho algum sentido de humor e consigo por vezes ser irónico.
No dia da operação que fiz ao joelho em Junho passado, porque não comia nada desde o pequeno almoço e eram já 2 da tarde, enquanto esperava para entrar na sala de operações, lembrei-me de pedir, ao que julgo seria o enfermeiro responsável, um bife com ovo a cavalo acompanhado com uma batatas fritas, pois estava cheio de fome. No meio daquele silêncio, ele, alto e bom som, grita: - Sai um bife com ovo a cavalo e batatas fritas para a sala 1. Foi risada geral.
Fui brincando enquanto permaneci na sala de operações e no recobro.
Quando chegou o pessoal com a minha cama para me levar para o quarto, o enfermeiro dirigiu-se a mim e deu-me um abraço. Não sei porquê mas senti um abraço de um filho que não tive.
Na nossa condição de velhotes (?) já quase todos e todas, médicos e enfermeiros, poderiam ser nossos filhos. Não há deontologia que se aguente.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira