domingo, 10 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23156: Humor de caserna (45): Histórias pícaras: O Gasparinho - Parte II (José Borrego): (v) Meu comandante, vá chamar filho a outro


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > Pelotão de Artilharia / GA 7 > Agosto de 1972 > Espetacular foto noturna do obus 14 em ação...

Algumas características técnicas do Obus 14 cm m/943: 

(i) Origem Reino Unido; 

(ii) Ano de fabrico: 1941 (entrada ao serviço: 1943); 

(iii) Calibre: 140 mm; 

(iv) Guarnição: 10 elementos; 

(v) Peso do obus 6190 Kg; 

(vi) Peso da granada HE; 40,5 Kg; 

(vii) Alcance: 15.600 m; 

(viii) Campo de tiro horizontal: -530 mil a +530 mil; 

(ix) Campo de tiro vertical; -90 mil a 800 mil; 

(x) Cadência de tiro: 2 TOM; 

(xi) Locomoção Tração Automóvel... 

Observ: Foi descontinuado em 1987, é hoje peça de museu...

Foto (e legenda): © Vasco Santos (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Temos andado a recompilar histórias do (ou atribuídas ao) cap art José Joaquim Vilares Gaspar, o primeiro de três comandantes que teve a CART 3330 (Nhamate e Bula, 1970/72), e que depois  foi promovido a major, 2º cmdt do BA 7, por volta dos finais de 1970. No CTIG, ficou conhecido pelo diminutivo Gasparinho. Faleceu por volta de 1977.  (*)

Eis mais um depoimento sobre ele,  e mais uma história (se não duas...), desta feita já aqui contada em tempos (Poste P4628, de 2 de julho de 2009), pelo nosso camarada José Francisco Robalo Borrego, ten cor art ref, que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau (GA 7) e ao 9.º Pel Art (Bajocunda 1970/72). 

É também uma boa ocasião para relembrar aqui os nossos valorosos arilheiros do GA 7 / GA 7 (Grupo de Artilharia de Campanha 7 / Grupo de Artilharia 7)


Histórias pícaras > Gasparinho

(v) Meu comandante, vá chamar filho a outro...

(...) Em fins de 1970 (Outubro?), apresentou-se no Grupo de Artilharia n.º 7 (GA7) o Senhor major Gaspar, acabado de ser promovido, para assumir as funções de 2.º comandante do Grupo. 

O major Gaspar, também conhecido por Gasparinho, comandava a Companhia de Artilharia 3330, estacionada em Nhamate e mais tarde em Bula. Era uma Companhia independente, cuja unidade mobilizadora foi o extinto Regimento de Artilharia n.º3 (RAL 3) em Évora.

O comandante do GA7 era o Senhor tenente-coronel Ferreira da Silva que tinha por alcunha o Assassino da Voz Meiga, porque ao dirigir-se aos seus subordinados fossem eles oficiais, sargentos ou praças tinha por hábito tratá-los por “filho” ("Ó filho isto, ó filho aquilo"...) mas na hora de administrar a justiça e disciplina (RDM) era um “pai” pouco meigo.

Um dia tratou o major Gaspar por “filho” e, como este gostava pouco de paternalismos, terá advertido o comandante que pai só tinha um e que não admitia que o voltasse a tratar com tal “afecto”.

Devido ao feitio do comandante, ou talvez não, o certo é que não morriam de amores um pelo outro e, segundo se dizia, tinham muitas divergências e acesas discussões.

No dia de todos os Santos era tradição fazer-se uma formatura geral com representantes dos três Ramos das Forças Armadas em frente ao Palácio do Governador da Província, salvo erro.

A representação do Exército coube ao GA7 com a incumbência de enviar uma força para a cerimónia do dia de finados, força essa, que sob a responsabilidade do major Gaspar terá chegado ligeiramente atrasada ao local da formatura, o que desagradou profundamente ao comandante perante o olhar das altas entidades.

Como cmdt e responsável máximo, o ten cor Ferreira da Silva terá feito uma chamada de atenção ao major Gaspar, que,  não tendo gostado da “repreensão” em público, desatou aos berros e com insultos ao cmdt, sendo retirado do local por um oficial conhecido, pondo termo ao espectáculo deplorável!

Para quem conhecia a personalidade do major Gaspar, aquilo foi uma atitude perfeitamente natural em linha com o seu temperamento. Para a época era, ou parecia ser, um oficial desinibido, frontal e, por vezes, desafiador da disciplina. Dizia-se que na sua folha se serviços tinha tantos louvores como castigos e que gozava de alguma simpatia, junto do Senhor General António de Spínola, devido às suas características peculiares.

No regresso à Unidade os dois comandantes discutiram o incidente anteriormente ocorrido, tendo ambos chegado, ou quase chegado, a vias de facto e a situação só não foi mais grave, porque um oficial se intrometeu entre os dois.

Perante a insubordinação do major Gaspar, o cmdt mandou chamar o Sargento da Guarda para prender o major, mas este dizia ao 1.º sargento que não podia prendê-lo, porque não estava em flagrante delito.

Este episódio durou algum tempo em que um mandava avançar o Sargento da Guarda e o outro mandava-o recuar... Houve até quem dissesse que o sargento da guarda, impaciente e nervoso, terá suplicado: "Meus comandantes, decidam-se lá, porque, segundo o Regulamento, o comandante da guarda não pode abandonar o distrito da guarda, por muito tempo". Tal era o desconforto…!

Face ao sucedido,  o escalão superior procedeu ao respectivo processo disciplinar e criminal, acabando os dois por serem punidos com penas de prisão. (...)

(José Borrego)


[ Seleção / Revisão / fixação de texto e título, para efeitos de publicação deste poste no blogue: LG ]

13 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

O obus 14 cm tinha os aparelhos de pontaria graduados em graus e minutos e não em milésimos.

Um Ab.
António . P. Costa

Carlos Vinhal disse...

O senhor Major Vilares Gaspar substituiu no meu tempo, no COP 6, o senhor TCor Correia de Campos. Por sua vez, o senhor Major Vilares Gaspar foi substituído pelo senhor Cap Carlos Alberto Marques Abreu, hoje Coronel, que faz questão de comparecer nos raros convívios da CART 2732 organizados no continente.
Francamente, não me lembro do senhor Major Vilares Gaspar. Terá tido uma passagem curta pelo COP 6, em Mansabá?
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Carlos Vinhal disse...

Informação complementar
O COP 6 foi reactivado em Mansabá em 12NOV70, tendo como comandante o Maj Inf Fernando Barroso de Moura que foi substituído pelo TCor Pára Horácio Cerveira Alves de Oliveira.
Em 19MAR71 assumiu de novo o comando do COP 6 o Maj Inf Barroso de Moura, substutuído em 07MAI71 pelo ainda Maj Cav António Valadares Correia de Campos, promovido a TCor ainda ao comando do COP 6.
Seguiram-se-lhe: o Maj Art José Joaquim Vilares Gaspar, o Cap Art Carlos Alberto Marques de Abreu e por último o Maj Art Mário Júlio Machado da Graça Malaquias.
O COP 6 foi desactivado definitivamente em 20JUL72.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Anónimo disse...


Camarada e amigo Carlos, fui para a tua Cart 2732, em Mansabá em setembro de 1971, a substituir um alferes da família Meneres que tinha sido transferido para Bissau, não por actos de bravura, mas por haver uma grande amizade entre o general Spínola e essa abastada família do norte. Ao tempo quem comandava o Cop. 6 era o capitão Carlos Alberto Abreu. Nos finais de 1971, ou princípios de 1972, o major Gaspar regressou ao comando do Cop. 6, onde se demorou talvez um mês, pois numa ida a Bissau, contava-se, que depois de uma grande bebedeira ele e outro camarada, terão andado aos tiros à Bandeira e foi evacuado , por psiquiatria para a Metrópole.
Quando esteve em Mansabá encontrei-o muitas vezes no bar que eu gostava de frequentar também.
Lembro-me bem, ficou-me gravado, um dia que ele e outros graduados do ar condicionado de Bissau, foram de helicóptero ao Morés, no rescaldo de uma operação realizada por companhias de comandos africanas, apoiadas por artilharia e aviação. Encontrei-o no bar a beber , destroçado e enojado, expressão dele. Não lhe quis fazer perguntas, bebi whiskei também como ele.
Ouvi a alguém , não posso precisar a sua veracidade que terá estado na India Portuguesa
até ao seu trágico abandono, terá casado lá, com uma senhora inglesa de quem se terá divorciado, em poucos anos.
Abraço
Francisco Baptista

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Fui amigo do Maj. Gaspar. Procurarei fazer umas rectificações.
Creio que foi princípios de 1972, que o major Gaspar tomou ao comando do Cop. 6, onde se demorou pouco tempo (talvez um mês). Efectivamente, numa ida a Bissau, ele e outro camarada, terão andado aos tiros à Bandeira (à passagem por Nhacra(?) após o que foi evacuado para a Metrópole, com problemas psiquiátricos.
Do que sei dele vi que era um frequentador de bares. Porém tinha atenuantes pois andava naquela vida desde a passagem pelo estado na Índia Portuguesa.Casou lá, com uma senhora indiana (inglesa) de quem se terá divorciado, em poucos anos.
Não esteve prisioneiro, mas a vida correu-lhe mal, por lá. Na Guiné, andaria, pois "destroçado e enojado" e eu acrescento cansado e saturado, sendo um homem inteligente e frontal, a vida que levava era-lhe penosa. Em Bissau na companhia do tal camarada que veio com ele de Mansabá fez alguns distúrbios.
Conheci-o na EPA, num curso que frequentámos com diversos camaradas e vi que estava claramente perturbado. As histórias que dele se contam têm (muitas) um fundo de verdade.

Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
As histórias do (ou atribuídas ao) cap. art, José Joaquim Vilares Gaspar, (na Metrópole, em Moçambique e Guiné são múltiplas e, como eu digo no comentário anterior verdadeiras ou com bom fundo de verdade. Foi um primeiro comandante da CART 3330 (Nhamate, Unche, Manga e Sangué e Bula, 1970/72). Depois de promovido a major, foi nomeado 2º cmdt do GA 7, por volta dos finais de 1971. Creio que terá falecido em finais de 1977.
Num livro, em dois volumes, escrito pelo ex-fur. mil.º João(?) de Melo vem uma cópia da nota que escreveu expondo a situação do seu pessoal e aquartelamento e que considero um depoimento muito completo sobre o nosso aparelho logístico e que termina com a célebre frase: "Siga a Marinha"!
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas


À data da apresentação do Maj. Gaspar, no GA 7, o comandante era o coronel (recém-promovido) Ferreira da Silva que tinha por alcunha o "Assassino da Voz Meiga", porque ao dirigir-se aos seus subordinados (...) tinha por hábito tratá-los por “filho”. Na hora de administrar a justiça e disciplina não dei que fosse especialmente severo, mas na vida diária tinha um comportamento que não se pode considerar que se pautasse pela cordialidade. Guardei um documento em que pode ser provado o que afirmo em termos de conduta pessoal. Da presença dos dois comandantes do Grupo era previsível que as coisas corressem mal, por incompatibilidade de génios. Contudo, o Maj. Gaspar, contra aquilo que eu lhe conhecia comportou-se com a máxima lisura e procurando sempre sanar os conflitos que apareciam. Confesso que fiquei surpreendido.
Não pesenciei a cena em que terá chamado a atenção do comandante, para o tratamento "familiar" que ele lhe estava a dar. Mas, efectivamente, a certa altura, as divergências entre ambos eram claras.
A cena mais caricata, entres os dois, ocorreu nos treinos para as cerimónias do dia de Todos-os-Santos de 1971 e eu sou o oficial se intrometeu entre os dois, evitando que a situação tivesse tomado contornos de gravidade.
O coordenador das cerimónias seria o Maj. Gaspar e no cemitério já se encontravam as representação do Exército, Marinha e Força Aérea que se foram colocando nos respectivos lugares. Nessa altura, o major mandou o Alf. Camacho ir buscar a Artilharia, cuja finalidade seria fazer tiros de salva. O alferes voltou dizendo que o Cmdt não tinha deixado "sair a Artilharia". Não veio a artilharia, mas veio comandante e foi nessa altura que houve uma primeira troca de palavras, bastante amargas.
Com alguma habilidade consegui levar ao maj. Gaspar ao GA 7. Curiosamente, encontrámos à entrada do hospital civil a Furr. Enf.ª Para Natércia de quem o major era amigo. Ficámos a conversar uns minutos e eu pensei que tudo estaria sanado, dada a afabilidade do diálogo.
Todavia, no regresso à Unidade, o major deu-me ordem de que saísse do gabinete do Cmdt, ficando os dois com a porta fechada a discutir o incidente ocorrido. Só ouvi a discussão, mas, no final dela saíram os dois, tendo-se o Cmdt metido no carro e abandonado a unidade, ante frases de crítica do Maj. Gaspar.
Ouvi dizer que, no dia seguinte, tiveram um encontro no "Vaticano" (o nome Chefia do Serviço de Assistência Religiosa) e terá sido aí que chegaram(?) a vias de facto.

Não presenciei a cena junto da Porta de Armas, mas admito que se tenha passado como o TCor Borrego conta.
Sei que o major foi punido pelo comandante, mas não sei em que termos. Cumpriu nos "Adidos". Li a reclamação (de 5 páginas) que o Maj. Gaspar apresentou e considerei-a brilhante e muito exacta. Tenho pena de não ter a respectiva cópia.
Depois o escalão superior procedeu ao respectivo processo disciplinar e criminal, acabando os dois por serem punidos com penas de prisão. O Major Gaspar terá cumprido dois anos de prisão no Forte de Elvas, após o respectivo julgamento criminal. O Cor. F. da Silva terminou a sua carreira profissional após uma punição, cujos termos também não conheço.

Um Ab.
António J. P. Costa

antonio graça de abreu disse...

Os nossos oficiais do QP, Quadro Permanente, também tinham os seus problemas. Claro, a guerra que parecia infindável nas suas vidas. Há, haverá sempre mil histórias por contar. Sei do que falo porque no meu CAOP 1 tive o privilégio de estar em Teixeira Pinto, em Mansoa, em Cufar, ao lado de mais de uma dezena de oficiais do Quadro Permanente. Valeu tudo, até debaixo de fogo. Leiam o meu Diário da Guiné. Tenho imenso respeito por esses meus camaradas.

Abraço,

António Graça de Abreu

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não é nem pode ser nossa intenção (face às nossas regras editoriais) transfomar alguém, dos nossos camaradas da Guiné, praças, sargentos ou oficiais, do contingente geral, milicianos ou do quadro permanente, em "bobos da corte"ou "bombos da festa"...

O "humor de caserna" é coisa "séria": existe, sempre existiu e existirá... E temo aqui cultivado, carinhosamente, no nosso blogue. Veja-se a popularidade das "estórias cabralianas"... Ou as "cenas" do "Caco Baldé"...

O "Gasparinho" enfileira, doravante, ao lado do nosso querido "alfero Cabral"... Infelizmente os dois já partiram para o Olimpo dos Combatentes. Devem, por certo, já ter-se conhecido. Ambos eram, de artilharia e passaram por Vendas Novas e pela Guiné... Ambos eram mestres em "histórias pícaras"... Um escreveu-as, o outro deixou que os outros as recolhessem, contassem, divulgassem... Os postes que temos estado a publicar são uma homenagem à sua memória.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Creio que a alcunha "Gasparinho" vinha de Angola, onde, no início a cifra era quase elementar.
Tendo chegado atrasado a uma missão enviou ao comando superior uma Msg em que pedia instruções. A Msg que saiu seria: "Gasparinho de Quibaxe pergunta se pode fazer hoje o que devia ter feito ontem".

Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Num dos comentários acima o António J. P. Costa faz uma referência ao Alferes Camacho, de seu nome completo Eduardo Manuel da Silva Camacho. Era Alferes de Transmissões de Artilharia. Foi meu colega no Liceu Nacional da Horta, um amigo dos quatro costados. No passado convidei-o a ingressar na Tabanca mas em vão.
Abraço transatlântico.
José Câmara

António J. P. Costa disse...

OK, José Câmara
Era esse mesmo.
Um Ab.
António Costa

Eduardo Camacho disse...

O meu Amigo José Câmara, na sequência dos comentários do Sr. Cor. Artª António Pereira da Costa, que conheci no GA7, quando comandava a BAAA 3434 - Avezinhas, relativamente ao Post que vem sendo comentado, indica o meu nome como tendo sido Of. Mil. Trms. Artª do Grupo de Artilharia nº 7 - GA7. No entanto, para o assunto em apreço interessa dizer que, aquando do ocorrido entre o Ten. Cor. António Luís Ferreira da Silva e o Maj. Joaquim Vilares Gaspar, eu exercia, desde 7-9-1971, cumulativamente com aquelas funções, as de Chefe da Secretaria do Comando, tendo ido substituir um Ofic. do SGE.
A ocorrência que tem levado a uma série de comentários teve lugar no dia 30 de Outubro de 1971 (sábado) e tal como diz o Cor. P. da Costa, o que se estava a passar no Cemitério eram ensaios preparatórios para a cerimónia que havia de ter lugar na 2ª feira, dia de Todos os Santos, com representações dos 3 ramos da FA.
Devido às funções que exercia, não estive no Cemitério, nem participei nos preparativos desta cerimónia e não me recordo a que Alferes terá sido cometida a tarefa referida. Uma hipótese é ter sido ao Alf. Cabral, Adj. Of. Op.
Naquela manhã do dia 31 de Outubro (sábado) encontrava-me na Secretaria a aguardar a chegada do Cmdt. para ir a Despacho e estava admirado pelo atraso, desconhecendo o que se estava a passar no Cemitério. Entretanto o Cmdt chegou no VW, entrou no Gabinete, cuja porta ficava junto à da Secretaria e eu fui para despacho, mas ele não comentou comigo nada sobre o ocorrido.
Eu, como habitualmente, ficava de pé junto à secretária, voltado para a porta. Passado algum tempo surge o Sr. Maj. Gaspar que, de lá, profere algumas frases que, para mim, não faziam sentido e naquele momento achei que algo de anormal se passava. Depois entrou no Gabinete e abeirou-se da frente da secretária e voltou a proferir mais algumas frases, sendo que o T. Cor. F. Silva continuava a assinar documentos como se nada de anormal se estivesse a passar.
Escassos momentos depois chegam, inopinadamente, vários Capitães, salvo erro seis, que dialogaram com os dois, ao que não assisti, porque sou chamado à parte, por um deles, que me explica o que se passava. Depois todos os capitães saíram com o Maj. Gaspar e desconheço para onde foram.
Neste sábado, logo a seguir ao almoço sou chamado ao Quartel, onde o Cmdt. me esperava e onde estive até tarde.
O Domingo, dia 31 de Outubro, foi um dia em que os dois protagonistas estiveram muito interessados em dialogar comigo, por razões distintas. O Sr. Maj. Gaspar foi ao meu encontro junto da Capela Militar de Santa Luzia, onde trocámos algumas e breves impressões, mas que foi o tempo suficiente para que chegasse ao conhecimento do T.Cor. F. Silva, que logo a seguir ao almoço mandou chamar-me a casa dele. A partir daqui a minha relação com os dois protagonistas ficou alterada, muito especialmente com o Cmdt..
O Sr. Maj. Gaspar cessou funções no GA7 em 31-10-1971, conforme consta da O.S. nº 6 de 1-11-1971 do GA7.
Durante o período em que o Sr. Major Gaspar esteve a cumprir os cinco dias de prisão simples, alguns Alf. Mils., de cujo grupo eu fazia parte, fomos visitá-lo e notei que estava abatido. Apesar dos poucos meses que convivi com ele, achei-o sempre simpático, bem disposto e dinâmico.
Soube, já depois do “25 de Abril”, em data que não sei precisar (1975??), que estava a decorrer o julgamento deste caso, mas não cheguei a saber o desfecho.
Tal como refere o Cor. P. da Costa, desconheço que tenha havido qualquer ocorrência com o Sargento da Guarda na Porta de Armas, até porque não consigo localizar no tempo quando poderá ter tido lugar esse incidente.
Espero que a minha memória não me tenha atraiçoado e que o meu relato seja o mais fidedigno possível, visto que já lá vão 50 anos.
Cumprimentos e votos de Feliz Páscoa aos Editores deste importante Blogue que acompanho assiduamente e ainda ao Cor. Pereira da Costa que leio atentamente os seus Pots, na expetativa de encontrar informação sobre a “História da Artilharia na Guiné”.
Eduardo Camacho