“Numa casa portuguesa fica bem Pão e Vinho sobre a mesa” e em Alcobaça não é exceção.
A tradição do vinho e da vinha está muito enraizada na cultura e economia populares
Com a devida vénia à Camara Municipal de Alcobaça
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 17 de Junho de 2022:
O VINHO NOSSO DE CADA DIA
Alcobaça é uma cidade hoje muito aquém da vitalidade de outros tempos em que era uma vila pulsante das suas gentes na sua indústria e comércio. Era o epicentro de uma região agrícola e vinícola, que inundavam as feiras e mercados semanais e a praça de produtos hortícolas diária.
Esse movimento desaguava numa troca de bens e serviços entre o campo e a vila, onde o comércio de roupas, ferragens, casas pasto e cafés era exuberante e rentável.
Nas aldeias onde pontuam as pequenas quintas de subsistência, o cultivo era variado desde a fruta temporã mais para oeste e legumes batatas e cenouras mais para os campos da Cela e Valado dos Frades que Alcobaça dividia a meias com a Nazaré.
Mas não havia agricultor por pequeno que fosse, que não guardasse um cantinho para a vinha legado dos Monges de Cister. Era um sítio sagrado, onde os garotos criavam água na boca a olhar para os cachos doirados, mais proibidos que o fruto proibido do Eden.
Eram para fazer o vinho por isso intocáveis.
Era motivo de orgulho o vinho que cada um fazia e dava a provar aos amigos, não faltando as comparações mais ao menos críticas, com o de outros, que não estavam presentes.
Mas Alcobaça tinha fama nos vinhos da Adega Cooperativa. (visitar o Museu do Vinho). Os brancos e tintos muito apreciados e até a serem incluídos no Grande Livro de Pantagruel.[*]
Eu, oriundo de família operária sem terra, só despertei para vinho na Guiné onde nos era servida uma coisa parecida que vinha em bidons de 200 litros. Inicialmente intragável, logo me fui habituando à beberagem que comparava com Dão bem fresco, quando almoçava no Libanês em Bafatá.
Eram memoriais essas idas a Bafafá, onde nos dávamos aos excessos que o magro pré nos permitia uma vez por mês.
Quando regressei e passei a conviver com o meu sogro, homem do campo que também era afinador de teares e que fazia da sua terra um autêntico jardim. Também fazia o seu vinho ou água pé, que invariavelmente se bebia bem quando era novo, mas depois eu desviava-me dele pouco tempo depois. Dizia ele muito eufórico “que aquilo é que era vinho real” e sabemos nós que na época se fez muito a “martelo”.
Mas eu não sabendo fazer mas sabendo, que havia outras formas de o fazer, lá lhe fui soprando aos ouvidos que ele deveria ir há junta Nacional dos Vinhos mandar analisar a terra e eles, que o aconselhassem o tipo de castas, que deveria usar numa vinha virada a nascente por isso de terra fria.
E assim ele fez para minha estranheza. De lá veio com os conselhos e os bacelos das castas em percentagem para o vinho ficar bom. Não me lembro das castas mas pelo menos uma era de Bordeaux.
Assim quando fez o vinho ninguém parou de o elogiar pela “pomada”, que tinha produzido, era na verdade um excelente vinho e passou a ser enquanto ele cuidou da fazenda e da vinha.
Há dias fiquei surpreendido com folheto de super-mercados onde eram publicitados como sendo grandes e caros vinhos, que o enólogo aconselha por exemplo:
- um “Douro e Cor Violeta de Concentração e Persistência Elevada. Intensidade e Acidez média com sabor a ameixa, caril e baunilha,
- ou um Alentejo Cor Rubi/ Granada, de Concentração Elevada e Acidez Média. Com Sabor a Especiarias, Ameixa e Carne,
- ou outro Alentejo com cor, concentração, intensidade e acidez média. Com Sabor a Ameixa, Baunilha, Coco, Caril e Café”
Meus caros camaradas, é caso para perguntar para onde foram as uvas? Onde estão as Tourigas nacional, o Fernão Pires, o Trincadeiro que faziam o aclamado vinho do meu sogro como “vinho real”?
Isto leva-me ao velho dito, que o armazenista de vinhos dizia ao filho; “Meu filho, fica sabendo que até de uvas se faz vinho”.
Hoje bebo um copo à vossa saúde e agradeço a todos os que me desejaram bom aniversário.[1]
Um abraço
17/06/2022
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[*] - Os Monges da Abadia de Cister deixaram legado também na doçaria e licores de onde sobressais a Ginja de Alcobaça que não tem igual.
[*] No Grande Livro de Pantagruel reza assim;
Alcobaça. Nesta região - a Al-cacer-bem-el-Abbaci dos antigos mouros - caracterizada por uma grande diversidade de terrenos e de climas, existem admiráveis vinhos, cuja fama já vem do Século XII, devendo principalmente os leves e muito aromáticos tintos, de cores brilhantes e suave sabor, das castas João-de-Santarém, Grand-Noir, Tintinha e Trincadeira. Os brancos de Alfeizerão – de uvas Fernão-Pires, Rabo de Ovelha e Tamarez - também merecem especial atenção. “Tais vinhos reais do meu sogro”.
“Bebe sempre o vinho mais puro que possas adquirir, porque o verdadeiro vinho anima e fortalece”.
Papa Leão XIII
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Notas do editor:
Vd. poste de 17 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23358: Parabéns a você (2075): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)
Último poste da série de 13 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23347: (In)citações (209): As virtudes do Ensino em tempos remotos (Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF)
4 comentários:
Juvenal.
Em tempos, por altura do S. Martinho fui para esses lados com uns amigos comprar uns litros de vinho novo.
Demos a volta por várias terras, a provar qual o melhor tintol para trazer.
Sabia a petróleo e dava sono, saímos de regresso já de madrugada com quatro garrafões: dois vazios e os outros pouco faltava.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Oh. Juvenal, como eu eu gostava de beber contigo uns copázios valentes de vinhos ucranianos! Mas o teu PCP só te dá para vodka adulterada, com mistelas envenenadas made in Putin.Que os néctares de Alcobaça te salvem...
António Graça de Abreu
Valdemar Silva
Tiveste azar ou foste mal aconselhado. De facto os pequenos produtores antigos enfermam dos mesmos erros que o meu sogro emendou. "Mecha" a mais e barricas velhas.
Hoje existem bons produtores e o vinho da adega cooperativa não sendo um grande vinho é cuidado e bom.
Se tiveres interessado recomendo-te produtores já com marca registada.
Ao AGA não vale a pena responder a não ser, que escolhe mal os temas quando fala comigo quando faz uns trocadilhos a despropósito ao querer-me colar a opções politicas que não são para aqui chamadas. Quanto ao Vodka nunca bebi eu normalmente bebo gin-tónico ou whisky escocês
'Se tiveres interessado recomendo-te produtores já com marca registada.'
Oh Juvenal que bom seria eu estar interessado num tintol de marca registada, mas a f.p. da
DPOC só me permite falar do bioxene. Beber, propriamente, para mim é um verbo transitivo só para líquido de nascente ou da chuva.
E eu que gostava de tinto antes, durante e depois das refeições, mas nada de mais que a conta.
Um abraço e cuidado com a falta de chuva
Valdemar Queiroz
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