sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23978: Memória dos lugares (446): Sinchã Alfa, na estrada Cabuca-Nova Lamego (hoje Gabu): interessante, 52 anos depois, constrói-se uma escola no local de um antiga rampa de lançamento de foguetões 122 mm

 

Guiné > Região de Gabu > Carta de Cabuca (1959 ) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Cabuca, Sinchã Alfa, a sudeste de Nova Lamego, e rio Corubal.



 Guiné > Carta geral da antiga província portuguesa da Guiné (1961) / Escala 1/500 mil > Pormenor: posição relativa de Cabuca e Sinchã Alfa a sudeste de Nova Lamego (Gabu Sara). Temos 40 referências a Cabuca.



Infografia: Nuno Rubim / Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2008)


1. Comentário de Valdemar Queiroz ao poste P23976 (*)



Valdemar Queiroz, minhoto por criação, lisboeta por eleição, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; aqui, na foto, em Contuboel, 1969. Trancado em casa, por causa da sua DPOC de estimação, com o filho, a nora  e os netos lá longe nos Países Baixos, é um "consumidor compulsivo" do nosso blogue e extraordinário contribuinte ativo da nossa Tabanca Grande... Que Deus, Alá e os bons irãs lhe deem muitos anos de vida (e a saúde q.b.).


Sinchã Alfa

O local da tabanca Sincha Alfa ficava junto à estrada a meio caminho Nova Lamego-Cabuca, passei por lá várias vezes. (**)

Não sei quando teria sido abandonada, em 1969 já não tinha população.

Próximo de Sincha Alfa foram montadas as rampas de lançamento dos foguetões 122 mm lançados sobre Nova Lamego em 5 de abrail de 1970.

No dia seguinte, foi o meu 4º. Pelotão da CART.11, "Os Lacraus", que encontrou o local da instalação das rampas de lançamento dos 122 mm.

Interessante, 52 anos depois de no local de lançamento de mortíferos foguetões, que por sorte não atingiram ninguém, aparecer a construção de uma Escola.

Que a Escola perdure por muitos anos.




Guiné > Região de Gabu > Cabuca > CART 2479 / CART 11 > 23 de março de 1970 >  Além de material abandonado (morteiro 82, completo, e granadas), o PAIGC  deixou um morto


2. Nota do editor LG:

Camaradas que passaram por (ou conheceram) Cabuca;

  • António Barbosa, ex-alf mil op esp/ranger, 2.ª C / BART 6523 (Cabuca, 1973/74);
  • Armando Gomes ex-1.º cabo ap armas pesadas, CCAÇ 2383 (Cabuca 1968/70);
  • Carlos Arnaut, ex-alf mil art, 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72);
  • João Silva (1950-2022), ex-fur mil at inf, de rendição individual, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973) e CIM Bolama (Bolama, 1973/74);
  • José António Gomes de Sousa, ex-sold condutor auto, CCAV 3404/BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73);
  • José da Luz Rosário, ex-fur mil, Pel Canh S/R 2298 (Cabuca e Buruntuma, 1971/72);
  • José Pereira, ex-1.º cabo inf, 3.ª CCAÇ e CCAÇ 5 (Nova Lamego, Cabuca, Cheche e Canjadude, 1966/68);
  • Ricardo Figueiredo, ex-fur mil, 2ª C / BART 6523, Cabuca (1973/74);
  • Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70).


11 comentários:

Abilio Duarte disse...

Olá Valdemar,
Então foi assim, ( parece que foi hoje) estava eu e mais uns camaradas, não sei se estavas presente, a jantar no libanês, em ( Gabu) Nova Lamego, quando depois de um bom bife e já estava na sobremesa, quando começaram a passar sobre a nossa cabeça os mísseis a caminho do campo de aviação, que iria ser mais tarde inaugurado pelo Silva Cunha, onde estacionariam os Fiat´s.

Eh pá, muito eu e os outros, corremos para o nosso Quartel de Baixo, nas horas do cacete, lembro-me que estava de havaianas, e cheguei descalço, com os pés todos arrebentados.

No dia seguinte o meu pelotão, também fomos contigo, fazer o reconhecimento do local de onde tinham sido lançados os 122mm, e encontramos o local, assim , como rações de combate húngaras e tabaco cubano.

E ainda está na minha memória, esta e outras situações que o botas de Santa Comba, nos deu como aventuras, nas nossas férias em Africa. Pois como dizem os retornados, nós fomos para a Guiné passar férias.

As tuas melhoras e um abração, pelo bons tempos que passámos juntos.

Abílio Duarte

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os "jactos do povo", o GRAAD, foram saudados pelo Luís Cabral como um grande avanço tecnológico na guerra (Vd. Crónica da Libertação, Lisboa, "O Jornal", 1984, pp. 353-356)... Acho que merece a pena publicar alguns excertos...

Depois da invasão de Conacri, o Amílcar Cabral conseguiu tudo ou quase tudo o que queria dos russos... Felizmente para as NT, os "jactos do povo" faziam grande estrondo e poucos estragos... A Guiné não tinha grandes aglomerações urbanas, tirando Bissau... Atacar Nova Lamego a partir de Sinchã Alfa, provavelmente sem as nossas cartas militares, a "olhómetro", acagaçou a malta mas não fez grandes estragos...

O Manecas da Silva e o Joaquim Pedro Silva (Baró),dois cabo-verdianos, foram encarregues de dar formação aos guerrilheiros que manejavam o GRAAD...

O famoso "Jacto do Povo" (na gíria do PAIGC), o foguetão ou foguete de 122 mm, terá sido utilizado pela primeira vez 24 de outubro de 1969. e portanto ainda ainda da invasão de Conacri (22 de novembro de 1970) contra Bedanda e só depois em novembro de 1969, numa flagelação contra Bolama, segundo o nosso especialista em artilharia , o nosso camarada e amigo Nuno Rubim.

Felizmente para nós, era um arma pouco precisa e fiável e a Guiné, tirando Bissau, a BA 12 em Bissalanca e Bafatá não tinha grandes alvos, civis ou militares, apropriados... Afinal, a História com H grande, também se faz com a pequena história.

De qualquer modo, está visto que o Amílcar Cabral, com as suas falinhas mansas de "menino de coro", lá ia levando a água ao moinho... com a grande ajuda da "grande pátria do socialismo"...Sacrificando tudo e todos, incluindo a sua própria família (que "exilou" em Rabat, Marrocos)...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/07/guine-6174-p20012-15-anos-blogar-desde.html

Eduardo Estrela disse...

Bolama foi flagelada com foguetões cerca das 9 horas da noite do dia 3 de novembro de 1969.
Foram lançados 4 foguetões.
Três estouraram e um outro caiu na bolanha junto ao centro de repouso do CIM, tendo ficado enterrado na lama sem explodir.
Foi a despedida e o aviso do PAIGC às CCaç 13 e 14, que se preparavam para deixar Bolama.
Em Bissau foi-nos comunicado o tipo de arma utilizada com a indicação de que era a primeira vez que estava a ser manuseada.
E os artilheiros do PAIGC para além do ronco das granadas a rebentar fizeram fogo com alguma técnica de Orientação de tiro pois a coisa podia ter dado para o nosso azar.
A casa do cabo Augusto na rua principal de Bolama ficou sem o telhado só com a deslocação do ar do rebentamento da granada que caiu perto.
Uma outra rebentou no rio, não muito longe da LDG e outra na praça Ulisses Grant, que deixou uma cratera bem grande.
Abraço
Eduardo Estrela

Valdemar Silva disse...

A fotografia do morto do PAIGC teve muito tempo guardada sem ser publicada por respeito dos que morrem na merda da guerra.
Não sei quem foi o fotógrafo que me apanhou a ver o cadáver, que também apanhou o macabro pormenor de um pé dentro duma caixa que não pertencia ao morto.
Nesse dia, eu e o meu 4ª. Pelotão, da CART.11, tínhamos ido urgentemente abastecer Cabuca de munições por terem sofrido um grande ataque durante a noite. Não sei, não me lembro, se a rapaziada de Cabuca saiu para dar luta fora do arame farpado, certo foi o IN ter sofrido grandes baixas para retirar rapidamente deixando um morto, resto de feridos e muito material no terreno. Provavelmente teria sido ferido o comandante do ataque.

Como vemos, o aparelho de lançamento dos 122mm é composto por um tubo, um tripé e um cabo de ligação. O tubo instalado em 5-4-1970, na Sinchã Alfa, foi ligado a uma bateria auto, visto ter deixado marcas inequívocas no terreno.

Os 122mm estavam a aparecer nos ataques a grandes povoações, como foi o caso da cidade de Nova Lamego.
Foi interessante a conversa do quem tem razão, entre o meu capitão, o inspector da pide e o major de operações do Batalhão.
Lá tive de ser eu, o meu alferes estava evacuado por doença em Bissau, a dar a explicação mais correcta possível para completar o draft do ataque.
O caçador/informador da pide dizia que tinha sido no "Rossio" eu dizia que tinha sido junto da "Velha Tendinha" que o "Rossio" é muito grande. O homem dizia em Sinchã Alfa e eu dizia no largo da tabanca junto do poilão, mais precisamente.
No dia seguinte eu e meu pelotão, o nosso capitão Pinto, o major de operações, o caçador e o pide fomos ao local desfazer as duvidas. O jeep do pide tive de ficar para traz por o seu roldado ser mais estreito que o da GMC e Unimogs que tinham passado a picagem da estrada.
No fim não havia dúvidas, a rampa de lançamento tinha sido montada junto da "Velha Tendinha".

Ai Velha Tendinha
Que o Rossio é teu
Tu és muito minha
E eu sou muito teu.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Rectificação
"O jeep....teve.....o seu rodado ser....."

Acrescento, o caçador/informador da pide teve informações sem se deslocar ao local por isso apenas dizer ser em Sinchã Alfa.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sinchã Alfa pode ter sido abandonada, pela população, na sequência da retirada das NT de Madina do Boé, Béli e Cheche... Os dois aquartelamentos mais a sul de Nova Lamego passaram a ser Canjadude (na estrada Nova Lamego-Cheche) e Cabuca (junto ao rio Corubal e à fronteira)...

Percebe-se as razões por que a região (inóspita do Boé) foi abandonada pelas NT, ao tempo de Spínola (6 de fevereiro de 1969)... mas é óbvio que o espaço vazio foi sendo progressivamente preenchido pelo PAIGC, ainda em meados de 1960, depois de vencidas as fortes resistência da guerrilha, que achavam que os fulas do Boé tinham poderes mágicos...

No meu tempo, com a CCAÇ 12 já no setor L1 (julho de 1961/março de 1971) sofremos as consequências da progressiva erosão do flanco sul e sudeste do "chão fula", margem direita do rio Corubal (regiões de Bafatá e Gabu)... Deixou de haver uma zona-tampão... Não admira que o Amílcar Cabral adorasse o Boé, ia de carro até à fronteira e não longe, ma Guiné-Conacri, tinha a base de Boké, com um hospital...Mas o Boé tem muitas histórias trágicas para contar...Histórias de traições, atentados, fuzilamentos...

Antº Rosinha disse...

De Cabuca a Gabu em linha reta medido no Google Earth são mais de 20 Klm.
Como parece uma arma tão leve (ligeira), talvez o PAIGC se tenha aproximado ainda mais de GABU.

Tambem já li noutro post antigo que esta arma atingia 11 Klm apenas.

Agora se usassem as cartas da Guiné que temos aqui, um oficial cubano ou soviético facilmente escolhendo um ponto notável na carta tipo um pontáo numa picada, conseguia coordenar um tiro a qualquer distância desde que a arma lá chegasse.

Valdemar Silva disse...

Antº. Rosinha
Sincha Alfa ficava a meio caminho Nova Lamego-Cabuca, sensivelmente a cerca de 10/12 km
Os seis foguetões disparados ultrapassaram a localidade caindo perto da nova pista que ia ser inaugurada para uso dos FIATs, que parecia ser essa a intenção do ataque.
O local escolhido, com certeza, teve em conta o tempo de aproximação/fuga e o alcance do nossa artilharia de Dara e o morteiro 81 de minha CART11, no Quartel de Baixo.
Não me recordo se chegamos a disparar do nosso 81, por eu ter saído do Quartel para defesa do posto do gerador geral e também não me lembro se a artilharia de Dara fez fogo.
Os tiros do IN foram bem calculados falhando na precisão de acertar na pista, mas a grande nabice foi do municiador não ter sacado a cavilha de segurança dos foguetões que por isso não fizeram ronco. Não me recordo se houve algum que rebentasse, mas não houve ninguém atingido ou danos materiais.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Abilio Duarte disse...

Valdemar,
o fogo do IN 122mm, caiu no fim da pista de Nova Lamego ( GABÚ), numa plantação de Cajú, e também numa plantação de tomates, que havia ao longo da pista. O prejuízo foi todo esse, exceto, o meu cagaço.

O Local de lançamento, dos ditos 122mm, e que eu fui ver, não eram muito longe, não sei referir ou determinar a distância, mas recordo que quem saia de Gabú, na estrada para Piche, o primeiro cruzamento á direita, passado uns Kms. o guia nos levou lá.

Era uma zona estratégica para a defesa de Gabú, muitas vezes ia mos para lá emboscar, e foi por aí que o Aurélio Duarte teve o problema, que já conta mos.

Abraço.

Valdemar Silva disse...

Duarte
Sim, saímos pela estrada de Piche e virávamos na primeira à direita em direcção de Cabuca. Sincha Alfa aparecia passados uns 8 km na estrada para Cabuca.
Não te recordas de eu ir com o capitão ao Comando do Batalhão por causa da info do pide não ser igual à nossa. Foi o meu Pelotão que descobriu o local preciso que o gajo chamava zona Campanta.
As nossas emboscadas noturnas eram feitas para esse lado direito, mas na estrada para Canjadude.
O Aurélio teve problemas a seguir Ponte próximo de Oco Maunde, julgo que foi a primeira vez que o IN entrou em Nova Lamego. Não me lembro o que é que o Aurélio veio fazer a Nova Lamego em Nov1970, nós em Paúnca já estávamos a preparar as malas para a peluda

Abraço
Valdemar Queiroz

paulo santiago disse...

A propósito do GRAAD,lembrei-me de um ataque que presenciei na altura do Carnaval de 1971.Julgo que já contei no blogue anos atrás.
Naquela noite,talvez Sábado ou Seg.feira de Carnaval,havia um baile na Escola junto do quartel.Eu fiquei pelo bar,andava agarrado a um pau,a coxa direita cozida,após um acidente com um morteiro 60.
Não sei a hora,ouvi umas saídas ao longe.Saí do bar,e vi um rasto de foguetes e passados segundos os respectivos rebentamentos.Imaginei que o ataque fosse a Aldeia Formosa (Quebo).Contei 52 foguetes,e se a memória não falha,vinham em grupos de quatro.O Saltinho tinha ligação com Aldeia através do AVP!,e aconteceu que através daquele meio houve uma troca de mensagens,nós Saltinho a pensar que o ataque era para AF,estes a pensar que era para nós.
Resumindo,os foguetes cairam todos entre os dois quartéis.
Passados dias chegou info de Bissau que dizia ter sido naquela noite a primeira vez que,na Guiné,fora utiizada a Katiucha,também conhecida por"orgaos de estaline"...um fracasso naquele tipo de guerra.

P.Santiago