sexta-feira, 31 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24180: Notas de leitura (1568): Arroios à Mesa não esqueceu as especialidades guineenses (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Julho de 2020:

Queridos amigos,
Não há vida multiétnica em Portugal como nesta freguesia de Arroios, um oásis de tolerância e de respeito, com uma diversidade de estabelecimentos abertos a toda a gente, comércio de vários continentes, igrejas e mesquitas, a festa chinesa que atravessa a Avenida Almirante Reis é acontecimento retumbante, mesmo uma biblioteca histórica como São Lázaro acolhe acervos do Médio Oriente, pode-se fazer turismo interno para ver gente de 92 procedências, com os seus falares próprios. E a sua gastronomia, também o seu modo de viver, nos permite ir a Arroios para degustar receitas multiculturais que o chefe Fábio Bernardino organizou para gente interessada, desde a comida portuguesa à de outros dois continentes e também ao Leste europeu. Veja se é assunto que lhe interessa, Arroios à Mesa é um manual de receitas que se pode pedir à Junta de Freguesia de Arroios. Nas coisas da cozinha, e de acordo com o que aqui se pode comer na freguesia de Arroios, votos dos melhores sucessos.

Um abraço do
Mário



Arroios à Mesa não esqueceu as especialidades guineenses

Mário Beja Santos

Temos aqui uma singular iniciativa editorial da Junta de Freguesia de Arroios, a mais multiétnica do nosso país, aqui vivem representantes de 92 nacionalidades, aqui é possível comer um borscht, pyrizhki, sarapatel, chacuti, cabrito com inhame, mufete de peixe, frango com mandioca, moussaka, não faltando a representação portuguesa a grande nível: broa de sardinha e pimentos, caldeirada de peixe, massada de peixe, feijoada de chocos à 31 de Janeiro, arroz de bacalhau com grelos, berbigão à Mercado de Arroios e arroz doce. Tudo organizado pelo chefe Fábio Bernardino, edição de 2021 da Junta de Freguesia de Arroios, a quem o leitor se deve dirigir para procurar adquirir este precioso manual, ou para experimentar em cozinha própria ou para se lançar em restaurantes e casas de pasto da freguesia. Há dados muito curiosos que acompanham o receituário: a comunidade chinesa na freguesia era a terceira maior só ultrapassada pela brasileira e a angolana (dados do censo de 2011); a comunidade indiana nesta freguesia era a segunda maior de um país originário da Ásia, logo a seguir à chinesa; os cabo-verdianos são a segunda maior de um país africano, logo a seguir à angolana; Angola era a segunda maior logo a seguir à brasileira e a maior de um país africano.

E assim chegamos à Guiné-Bissau cujas comidas são marcadas pela presença de frutos-do-mar e arroz, comunidade que era a quarta maior de um país africano, a seguir a Angola, Cabo Verde e Moçambique. A escolha de menus é de estalo. Logo a sopa de peixe e amendoim, segue-se o Sigá com todos os seus ingredientes (quiabos, cebola, beringela, camarões, vinho branco, coentros picados, óleo de palma, azeite, alho, malagueta e sumo de limão – é quase obrigatório acompanhar de arroz). A sobremesa para mim é uma inteira novidade, arroz doce de amendoim torrado, junta-se a receita, ou para experimentar em casa ou para andar à procura em estabelecimento de Arroios.

Depois do belo receituário de Moçambique, uma palavra ao Leste europeu onde além da mussaka temos Draniki com cebola e baclava, com todos os seus ingredientes (nozes, massa filó, uvas passas, amêndoas, pistachios, mel, azeite, raspas e sumos de laranjas, vagem de baunilha) e sobre Portugal estamos conversados. Para gastrónomos e gastrófilos, este manual é uma tentação. O meu não sai cá de casa, os interessados que se dirijam à Junta de Freguesia de Arroios, serão seguramente bem-sucedidos.

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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24172: Notas de leitura (1567): "Guinéus", por Alexandre Barbosa, um dos últimos grandes títulos da literatura colonial (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Antº Rosinha disse...

Muita gente quer civis quer militares nunca chegaram a usar e usufruir as especialidades das culinárias africanas nas ex-colónias africanas portuguesas.

Os africanos viam os brancos comer as batatas e o bacalhau com azeite de oliveira e pensavam que a gente se alimentava mal.

E na verdade um dia em que na tropa se resolveu pôr a tropa indígena, (em Angola), por uma questão da "política da psico" a comer à "tropa branca", para os africanos foi muito mau negócio, porque saiam do refeitório e iam matar a fome para a porta do quartel onde estava uma séria de cozinheiras a vender comida à base de oleo de palma os ingredientes familiares e tradicionais para "matar a sua fome".

Ou seja, para eles devia ser ao contrário, acabar com faca e garfo, com azeite de oliveira e batas cozidas.