Cracá do Pel Caç Nat 52 (1966/1974), "Os Gaviões". Divisa: "Matar ou morrer"
Operação Gavião (Madina / Belel, 4-6 de Abril de 1968)
1. Todos os anos, pela época seca, de preferência entre março e abril, o comando do batalhão sediado em Bambadinca, Sector L1, zona leste, região de Bafatá, mandava uma força de cerca de 300 homens à procura do acampamento IN do Enxalé, algures na península de Madina / Belel, mesmo já no limite do Sector, a sudeste da base de Sara. Por aqui o IN e a população sob o seu controlo viviam com relativa tranquilidade, só sendo importunados por alguma incursão de tropas helitransportadas ou pelos bombardeamentos da FAP. A ida a Madina / Belel era quase sempre azarada: em geral as NT levavam prisioneiros que serviam de guias, e que procuravam ludibriar as NT, "perdendo-se" propositadamente ou tentando inclusive a fuga (como aconteceu, por exemplo, na Op Anda Cá, 22 e 23 de fevereiro de 1968) (*),
Todos os anos aconteciam erros de planeamento, guias que se perdiam, itinerários mal escolhidos, PCV (antes da época do Strela...) que denunciavam a presença das NT, falhas no abastecimento de água, progressão para o objectivo a horas proibidas, confusão de (ou chegada tardia aos objetivos), flagelações do IN, tabancas abandonadas e queimadas, casos de exaustão, insolação e desidratação, indisciplina de fogo, ataques de abelhas, debandada geral, perda de armas e muniçóes, e até de homens, regresso dramático ao Enxalé com viaturas a sair até São Belchior para transportar os mais "desgraçados", tentatativa de recuperação, no dia seguinte, do material perdidos… e, claro, relatórios por vezes fantasiosos, pouco rigorosos, etc....
Em 1968 (Op Gavião), aconteceram também estas coisas, próprias de uma guerra de contraguerrilha, num terreno inóspito para muitas das tropas portuguesas... É também caso para dizer, "tugas pocos pero locos" (**).
2. Op Gavião: Desenrolar da acção
Iniciada no dia 4 de abril de 1968, às 18h00, com a duração de 3 dias, tinha como finalidade excutar uma acção ofensiva na mata de Belel, começando por um golpe de mão ao acampamento IN do Enxalé.
Forças ( c. 300 homens) que tomaram parte na operação:
(i) Cmdt: 2º cmdt BART 1904;
(ii) Destacamento A: CART 2338 a 4 Gr Com + Pel Caç Nat 52;
(iii) Destacamento B: CART 2339, a 4 Gr Comb + Pel Caç Nat 53
Destacamento A
O Pel Caç Nat 52 deslocou-se de Missirá para a região de Aldeia do Cuor, no dia 4 de abril de 1968, às 15h00, onde se instalou protegendo a cambança das restantes forças do Destacamento (CART 2338), cambança essa que foi efectuadas às 18h45 do mesmo dia.
Uma vez completo o Destacamemnto, as NT iniciaram a marcha para Missirá, tendo pernoitado um pouco antes de o atingir, pelas 22h00.
Reiniciaram o movimento no dia 5, às 5h30, utilizando um guia natural de Missirá, ao qual foi acordado e indicado qual o serviço a desempenhar só pouco antes do início do movimento, por razões de sigilo e segurança.
Ao fim da tarde do dia 5 atingiu um ponto cerca de 1 km atrás do local previsto onde pernoitou.
Reiniciado o movimento no dia 6, pelas 5h30, foi detectado um sentinela por volta das 7h30. Começou então a instação de 3 Gr Comb para proteger o ataque dos outros dois grupos.
Entretanto a sentinela detectou as NT e fugiu. Passados poucos minutos o IN emboscou as NT com LGFog e armas automáticas.
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Zacarias Saiegh, mais tarde, na 1ª CCmds Africanos, como tenente graduado 'comando' |
Com o Pel Caç Nat 52 à frente, impulsionado pelo seu comandante, o fur mil Zacarias Saiegh, que demonstrou um sangue frio, decisão e temeridade dignos de serem apontados, reagiu à emboscada, perseguindo o IN durante cerca de 1,5 km.
Deparou nessa altura com a tabanca de Belel que imediatamente atacou e destruiu totalmente, tabanca essa que tinha sido abandonada recentememnte, e que tinha 25 palhotas. Foram destruídos ainda um tanque de água e uma horta grande.
Aquando da destruição da tabanca pelo fogo, foram ouvidos uns rebentamentos muito fortes, o que levou a concluir tratar-se de um pequeno paiol.
Entretanto, o PCV infornou o Destacamento A que o objetivo destruído era o objectivo do Dest B e deu ordens para reiniciar o regresso para o local previsto onde se devia emboscar durante a acção do Dest B, o que foi cumprido,
Ao chegar ao local previsto, encontrou-se com o outro Dest, que já tinha destruído o objetivo deste Dest (B), e acabava de sofrer um ataque de abelhas que tinha provocado uma grande desorganziação.
Tendo então recebido ordem do PCV para iniciar o regresso da operação, acordou com o Dest B que seguisse este na frente por já conhecer o caminho. Entretanto, ao iniciar o movimenmto depois da preparação das macas improvisadas para o transporte dos elementos mais atingidos pelo ataque das abelhas, o que demorou um certo tempo, foram emboscados novamente por forças do IN, tendo sido pedido então apoio aéreo, o que foi recusado pelo PCV.
Foi reiniciado o movimento com algumas paragens motivadas por flagelações do IN, com armas automáticas, e mais dois ataques de abelhas na margem do Rio Gandurandim, o que provocou nova desorganização nos Destacamentos.
Por fim foi atingida a estrada Finete-Enxalé, sendo o Destacamemto recolhido em viaturas em São Belchior, atingindo o Enxalé no dia 6, às 18h30.
Aí, mais tarde, foi constatado o desaparecimento de uma praça metropolitana pelo que o cmdt do Destacamento A resolveu na madrugada seguinte ir à sua procura, não tendo sido necessário por a praça ter aparecido no Enxalé no dia 7, às 6h00.
Iniciou-se a cambança do Rio Geba para o Xime, e daí, em viaturas, iniciou-se o movimento para Fá que foi atingida no dia 8, às 15h00.
Constatou-se que, durante o ataque de abelhas, duas praças perderam as armas, pelo que o Cmdt do BART ordenou a ida de 1 Gr Comb deste Dest, e um do Dest B no dia seguinte, 8, às 5h00 ao local, a fim de recuperar as referidas armas, o que foi conseguido. A força regerssou ao quartel em 8, às 20h00.
Destacamento B
A CART 2339 iniciou o seu movimento, em meios auto, no dia 5, às 15h00, de Fá para o Xime onde agregou o Pel Caç Nat 53. Iniciou a cambança do Rio Geba pelas 18h00, recebeu no Enxalé dois guias e iniciou a marcha pelo itinerário previsto, tendo atingido o local a norte de Madina onde se devia instalar, no dia 6, às 7h00, após alguma hesitações ("exitações", no originnal) dos guias,
Cerca das 9h00, o PCV informou que o Dest A tinha já destruído a tabanca de Belel e ordenou que se iniciasse o movimento pelo trilho Mandina-Belel, a fim de iniciar a batida à zona a sul do referido trilho.
Durante o deslocamento foi detectado o acampamento de Enxalé. que imediatamente foi atacado e destruído, sem resistência, verificando-se que tinha sido abandonado há pouco tempo. O objectivo tinha 8 palhotas, e forma capturadas 1 espingarda Mauser, 2 marmitas, 1 granada de RPG, e alguns documentos.
Aquando da destruição pelo fogo, foram ouvidos rebentamentos de munições de armas ligeiras e granadas de RPG.
Entretanto, os elementos do Dest instalados, quando se procedia ao assalto, foram atacados pela abelhas, o que provocou uma desorganiozaçáo grande, e pôs 2 homens em estado grave, que não permitiu que se deslocassem pelos seus meios.
Devido ainda a esse ataque de abelhas, no seu movimento desordenado o Dest encontrou-se com o Dest A instalado no local previsto.
Nessa altura e como havia uma linha de água perto, 3 elementoso do Pel Caç Nat 53, sem autorização, deslocaram-se para se reabastecerem de água. Foram atacados pelo IN tendo sido abatido o soldado milícia 60/64, Tura Jau, e tendo o IN capaturado a sua arma, espingarda G3 nº 035786.
Acorrendo imediatamente ao local, repeliu-se o IN e recuperou-se o corpo do referido mílicia.
Como o PCV informara que ía Bissau abastecer, foi pedido pela rede de operação a evacuação dos elementos feridos e do morto. Entretanto, ao chegar o PCV, foi pedida novamente a evacuação, tendo o mesmo determinado que não houvesse evacuações, após se ter inteirado que os feridos picados pelas anelhas estavam a recuperar, e ter decidido o regresso ao quartéis em face dos objectivos previstos terem sido destruídos, o terreno a sul da picada onde nos encontrávamos estar queimado e não havendo possibilidade de se esconderem instalações do IN e ainda pelo facto do Dest GAMA (BCAÇ 1912) não se ter instalado no local previsto para proteger a acção deste Dest.
Por lapso que se explica pelas circunstâncias de momento, o PCV não foi informado que já tinha sido pedida a evacuação pela rede de operações, o que provocou a vinda do héli a Bambadinca, não sendo contudo utilizado.
Depois de uma certa demora, com o Pel Caç Nat 52 e 53 à frente, iniciou-se o regresso, tendo as NT sofrido 3 flagelações sem consequèncias, e tendo o IN sofrido 5 mortos confirmados.
Já junto da estrada Finete-Enxalé as NT sofreram mais 2 ataques de abelhas, provocando o desmaio de alguns elementos que tiveram de ser transportados às costas.
Continuando a progressão atingiu-se São Belchior, onde se foi recolhido por viaturas para Enxalé, que foi atingo cerca das 18h00.
Verificou-se que o morto tinha ficado na zona d0 último ataque de abelhas pelo que foi decidido o Pel Caç Nat 53 ficar em Enxalé, a fim de ir de madrugada no dia seguinte recuperar o corpo, o que foi feito.
A CART 2339 inicou a travessia do Rio Geba, e deslocou-se em viaturas para Fá, que atingiu no dia 7 às 3h00.
Ao conferir o material foi constatada a falta de 2 espingardas G3 e alguns cantis e bornais ("burnais", no original), o que foi comunidacado ao Cmdt do BART que ordenou a ida no dia seguinte à zona do último ataque das abelhas juntamente com 1 Gr Comb da CART 2338, o que foi feito e conseguido recuperar parte do material perdido. As NT regressaram a Fá, que atingiram no dia 8, às 20h00.
Fonte: Excerto das páginas 43, 44 e 45 da História da Unidade: Batalhão de Artilharia nº 1904, 1966/68. Relatório da Op Gavião, iniciada em 4 de Abril de 1968: com a duração de três dias, e destinada a executar um golpe de mão contra o acampamento do Enxalé, do PAIGC, na mata de Belel, teve a participação da CART 2338, a 4 Gr Comb, mais o Pel Caç Nat 52 (Destacamento A), bem como da CART 2339, a 4 Gr Comb, mais o Pel Caç Nat 53 (Destacamento B). Foi comandada pelo 2º Comandante do BART 1904.
Documento digitalizado: © Armando Fernandes (2008). Direitos reservadas.
3. O Armando Fernandes, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Info, CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68), mandou-nos em 8 de maio de 2008 fotocópias das páginas 43, 44 e 45 da história da unidade, com base nas quais transcrevemos o texto acima (com algumas adaptações, devido ao facto de estar mal redigido e ter alguns erros de ortografia).
Na altura, o nosso camarada escreveu o seguinte:
Professor Luís Graça:
Chamo-me Armando Fernandes, fui alf mil cav, comandei o Pel Rec do BART 1904 que esteve sedeado em Bambadinca, de Janeiro a Setembro de 1968. Durante todo o ano de 1967 o Batalhão esteve sedeado em Santa Luzia, Bissau, onde rendeu, em Janeiro de 67, o BCAÇ 1876.
Entrei ontem, pela 1ª vez, no seu blogue e chamou-me a atenção o nome de uma operação referido em P2817 (***), Operação Gavião.
Sobre essa operação consta da história do BART 1904, pags. 43/45 (edição não canónica em meu poder) que o fur mil Zacarias Saiegh nela participou, o que está em desacordo com uma resposta do doutor Beja Santos registada em P2817. Parece, também, que relativamente à entrada em Belel há discrepância entre o registado na história do BART e o afirmado no mesmo poste. Onde estará a verdade?
Em anexo envio cópia das páginas que referi.
Apresento os meus cumprimentos, Armando Fernandes
4. Comentário do editor L.G.:
Na altura agradeci ao camarada Armando Fernandes, dizendo-lhe que ia divulgar a sua versão (que era a versão do BART 1904) (****) e dar conhecimentos aos camaradas que tinham escrito sobre a Op Gavião (Mário Beja Santos, do Pel Caç Nat 52, e Torcato Mendonça e Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, estes dois últimos participantes da Op Gavião) (*****).
Escrevi então:
"A nós interessa-nos a verdade e só a verdade... Em muitos casos, há discrepâncias factuais entre os nossos relatórios de operações e os depoimentos pessoais. É normal. O Mário Beja Santos, que comandou o Pel Caç Nat 52 (a partir de agosto de 1968), não poderia obviamente ter participado nesta Operação Gavião (abril de 1968). Socorre-se da memória dos seus antigos soldados, alguns dos quais felizmente ainda estão vivos e vivem em Portugal."
O ex-alf mil Torcato Mendonça e o ex-fur mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), esses, infelizmente, já náo estão entre nós...
Na altura também convidei o Armando Ferreira a ingressar na nossa Tabanca Grande. Infelizmente nunca mais nos contactou, pelo que nem ele nem mais ninguém representa o BART 1904 no nosso blogue.
De qualquer modo, ficou claro na altura que o fur mil Zacarias Saiegh, a comandar interinamente o Pel Caç Nat 52, tinha particiapdo na Op Gavião, e que recebera do comandante da operação, rasgados elogios, como se depreende deste excerto do relatório:
(...) "Com o Pel Caç Nat 52 à frente, impulsionado pelo seu comandante, o fur mil Zacarias Saiegh, que demonstrou um sangue frio, decisão e temeridade dignos de serem apontados, reagiu à emboscada, perseguindo o IN durante cerca de 1,5 km. " (...)
__________
Notas de L. G.:
(*) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desaosa operação a Madina/Belel
(**) Último poste da série > 21 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24330: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (1): Op Tigre Vadio, 30 de março a 1 de abril de 1970, sector L1, Península de Madina / Belel, zona leste, sector L1 (Bambadinca)
(***) Vd. poste de 7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2817: Blogoterapia (51): O Alentejo do Casadinho e do Cascalheira, o Tura Baldé, a Op Gavião... (Torcato Mendonça / Beja Santos)
(****) Vd. poste de 11 de maio de 2008 > Guiné 63/74: P2833: Op Gavião (Belel, 4-6 de Abril de 1968) (Armando Fernandes, Pel Rec CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68)
(*****) Vd. ppostes de:
9 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2823: Dando a mão à palmatória (11): Operação Gavião, 5 de Abril de 1968, com as CART 2338 e 2339 (Torcato Mendonça / Beja Santos)
2 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9303: Memórias do Carlos Marques dos Santos (Mansambo, CART 2339, 1968/69) (1): Op Gavião: Abril de 1968, antes o fogo do IN que o ataque das abelhas
6 comentários:
Conheci o Torcato Mendonça, um grande senhor (ex-alf mil, CART 2339, Fá e Mansambo, 1968/69) na terra onde nasceram os seus filhos, Fundão, e que ele adotou como sua, onde casou, foi autarca, trabalhou, ampou, viveu, adoeceu...
Foi em 27 de janeiro de 2007 que nos encontrámos pela primeira vez... (mesmo tendo feito várias operações em conjunto, a CART 2339 e a CCAÇ 12, e com diversas idas nossas a Mansambo, em colunas logísticas, no 2º semestre de 1969, só 40 anos depois é que nos conheceríamos, pessoalmente, tendo ficado amigos desde então).
E na altura, no Fundão, fez-me "confidências" sobre esta operação Gavião...onde um dos guias-prisioneiros acabou por ser vítima de uma execução... acidental mas cruel. Exasperado com as tentativas do guia para ludibriar as NT, alguém (ele disse-me o nome, que eu não vou obviamente aqui repetir) passou-lhe com uma faca balanta, bem afiada, pela cervical...
Em mensagem enviada ao Beja Santos, com conhecimento aos editores do blogue, datada de 7 de maio de 2008 (ainda lá está, na caixa de correio), o Torcato Mandonça volta ao assunto, procurando esclarecer (?), de forma algo enigmática, alguns pontos (obscuros...) da actuação das NT no decurso da Op Gavião (era ele periquito com très meses de Guiné)...
(...) "Estimadíssimo Tigre: Falamos em Monte Real (...). O Guia não foi no joelho [que foi ferido, foi morto] … Estás a imaginar a cervical... Pensa numa faca balanta… O Saiegh seguia, no regresso, à frente com o grupo dele e eu, com o meu, à esquerda… A tua segunda memória não diz tudo. Não se escreve, fala-se… Falaremos. O Tura [milícia] morreu nos meus braços... Foi o primeiro e páro porque é o cheiro da morte, com sangyue, doce ou adocicado ? Entranha-se e nunca sai" (...).
Não sei se alguma vezo Torcato chegou a falar, ao vivo, com o Beja Santos sobre este ponto. Às vezes mandava-me mensagens com bolinha ao "canto direito"... Morreu, em 2021, levando para a cova alguns segredos da guerra na Guiné, que nunca quis partilhar por escrito com os amigos e camaradas da Guiné, por pudor, por sigilo, por respeito aos seus camaradas... Mas foi de uma enorme generosidade. partilhando connosco os seus riquíssimso álbuns fotográficos e inúmeros textos... Tem cerca de 260 referências no blogue. Tenho muitas saudades dele, com quem chegava a falar, ao telefone, horas a fio...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Torcato%20Mendon%C3%A7a
Cada vez que leio histórias de operações realizadas na Guiné com intervenção do famigerado PCV, percorre-me um frio pelas costas e relembro esses amaldiçoados voos que mais não serviam senão para indicar ao inimigo a nossa posição no terreno. Os brilhantes comandantes, em vez de darem exemplos de temeridade e solidariedade para com os seus subordinados, passeavam-se numa aeronave e quando fosse necessário repor combustível iam a Bissau e aproveitavam para beber algo fresco enquanto a carne para canhão arriscava a pele e se dessedentava com água da bolanha, quando havia. Eu sei que houve bons exemplos do contrário do que acima menciono e esses eram para nós os verdadeiros condutores e chefes de quem como nós, calcorreava as matas e as bolanhas, fazendo uma guerra que nunca devia ter começado.
Os mísseis Strella acabaram com as passeatas e os " cús tremidos " do assento do avião.
Abraço fraterno
Eduardo Estrela
Eduardo, também partilho do teu sentimento anti-PCV. As passeatas dos segundos comandantes de batalhão devem ter acabado com a entrada em cena dos Strela,em março de 73. Eu já não estava lá mas não é difícil de concluir que nessa altura acabou...o recreio dos nossos majores.
Já aqui referi, mais do que uma vez, que o único oficial superior que eu vi a alinhar no mato comigo, a penantes, e os nossos soldados guinenses da CCAÇ 12, num patrulhamento ofensivo no subsector do Xime, foi o ten cor inf Polidoro Monteiro, mandado pelo Spínola para Bambadinca para acabar com a falta de liderança no BART 2917. Ele veio de Bissorã.
no BART 2917...
É importante que estes relatórios de operações, mesmo com todas as suas limitações, sejam aqui publicados em forma de texto para mais fácil acesso e pesquisa... Dá para perceber, por exemplo, as penosas caminhadas que tínhamos de fazer, dentro do nosso setor, para atingir objectivos que muitas vezes distavam "poucos quilómetros" em linha reta nas cartas militares... Mas que podiam levar dois a três dias a completar o trajecto de ida e volta... Para mais também às vezes com feridos e mortos às costas...
Cito aqui parte de um poema escrito por um camarada meu 1º cabo condutor rádio telefrafista da c.caç.557
De avião fazem a guerra
Mas quem anda por terra
O perigo nos espreita
Com o tempo terminado
É triste ser mandado
Por semelhante "Seita".
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