segunda-feira, 24 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25678: (In)citações (267): Compensações às colónias (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 22 de Junho de 2024:

Meus caros camaradas e amigos,
Começo por agradecer os votos pelo meu aniversário, embora nós tenhamos muitos anos de prática, sabe sempre bem sentir o aconchego dos amigos.
Assim envio uma reflexão sobre estes tempos mais menos conturbados, que povoam os nossos dias.

Um abraço
Juvenal Amado



COMPENSACÕES ÀS COLÓNIAS

E de repente, o senhor Presidente da Republica sai-se desta forma ligeira sobre o assunto, tal como comentou o decote da senhora no Canadá numa das suas visitas de Estado.

Foi saudado com um enorme coro de críticas mais menos violentas, onde pontua muita gente de direita saudosista e, muitos veteranos ressentidos não sei bem do quê.

Portugal foi ao seu tempo “descobridor” que, não pediu licença para ocupar vastas regiões das quais não tirou mais proventos, porque não teve nunca força para ocupação total dos territórios reclamados para si no contexto das nações colonizadoras. Mesmo assim de Angola, Moçambique e Brasil, as riquezas o comércio de escravos os seus lucros escorreram para a capital do reino em quantidades consideráveis, não fosse a avareza da nobreza e clero, teriam feito de Portugal uma nação próspera, com resultados que teriam chegado aos dias de hoje.

Ao contrário sabemos das enormes dívidas que foram contraídas no sistema financeiro internacional por reis e por fim pela república até aos dias de hoje.

Perdido que foi o Brasil ficamos com duas colonias muito cobiçadas que pela sua riqueza serviriam de penhor no sistema financeiro internacional.

Mas lá diz o ditado que não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe e, 500 anos em que se mantiveram esses territórios num imobilismo confrangedor para onde era preciso carta de chamada, fomos acordados na nossa precoce juventude muitos de nós na escola primária, para uma realidade dura, que foi o eclodir de violência armada com intuito de nos expulsar de lá. Durante 13 anos de guerra fez-se pela modernização o que não se tinha feito até então. O rastilho estava aceso e já não havia forma de o apagar. O direito à autodeterminação consagrado na carta das Nações Unidas foi exigido, aliás sendo Portugal o ultimo a enfrentar o problema, que ao contrário de alguns ex-colonizadores, não manteve poder através do neocolonialismo onde as potências outrora dominantes exerceram a sua vontade sobre os novos países atrás de golpes de estado, ou guerras civis incessantes. Homens da sua confiança possibilitaram em troca de umas de migalhas a uma clique governativa que vendeu assim o futuro do seu povo.

Mas voltando ao tema levantado por Sua Ex.ª, o problema não é só português. A Bélgica, a França, a Inglaterra, a Holanda, a Espanha e até a Alemanha ocuparam, dominaram e extorquiram de riquezas vastos territórios do nosso globo.
Sufocaram com sangue revoltas, segregaram, escravizaram as populações indígenas fisicamente e nas suas crenças, impondo religião dominante no Ocidente.

A Bélgica é acusada de genocídio de mais 10.000 de congoleses, mas os outros, também impuseram a sua vontade com massacres mais ao menos documentados.

Durante as duas Grande Guerras os colonizadores utilizaram milhões de súbditos coloniais nas suas guerras na Europa e na Ásia. O resultado era de prever findo que foram os conflitos, logo estes se apressaram a pedir a independência, facto que acabou nas guerras de libertação. Os que lutaram contra a nova ordem Mundial da Alemanha e Japão imperiais transformaram-se em opressores dos povos sob a sua tutela. Voltaram as tropas expedicionárias o ódio das posições oficiais e da propaganda do regime, voltaram-se irmãos contra irmãos.

Esta nossa Europa dos “bons costumes” tem que reconhecer que é rica à custa de muita miséria do terceiro Mundo.

A aceitação desses novos países provocou rios de sangue refugiados e deslocados. Quando digo que não sei bem de quê de que os veteranos se ressentem é pelo simples facto, que nós fomos também fomos carne para canhão e deixamos a nossa juventude nas matas e bolanhas, quando não deixamos lá a pele.

Para além do direito a estarmos orgulhosos por termos vestido a farda, não somos heróis, somos vítimas e é preciso interiorizar esse sentimento.

E assim chegamos ao cerne da questão. Será que não se deve algo aos povos que estiveram sob nossa administração cinco séculos?

Está claro que não pode haver sentido literal na devolução de alguma coisa material, uma vez que nem juros podiam pagar, mas há formas de compensação que passa pela cooperação, por apoio na saúde, na educação, tecnologia, verdadeira amizade e tudo tratado sem sobranceria nem paternalismo que sobra por cá, quando se fala dos novos países de expressão portuguesa. Distanciarmo-nos de discursos de ódio e xenofónicos é pois um imperativo.

São países muitos jovens e necessitam quase tudo, pese as enormes riquezas de que são detentores, também precisam de tempo e respeito, para assim encontrarem um caminho melhor para os seus povos.

Um abraço
21/06/2024
Juvenal Sacadura Amado

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Nota do editor

Último post da série de 31 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25590: (In)citações (266): Vamos identificar as Unidades com as Divisas, lemas e designações mais curiosas e divertidas (Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil Inf)

7 comentários:

Valdemar Silva disse...

Juvenal, isso de ter sido 1º. Cabo, dá azo a penetras com a mania que ainda estão na tropa e puxar dos galões para mandar calar. Coitado, não ligues a palermices.

O importante é o que escreves em relação a compensações não se tratar de reparação por um prejuízo ou uma perda/indemnização, mas como dizes "Está claro que não pode haver sentido literal na devolução de alguma coisa material.... mas há formas de compensação que passa pela cooperação...".
Gostei de ler este teu postal.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Carlos Vinhal disse...

Caro Juvenal
O caso das compensações, sejam elas quais forem, às antigas colónias, é um não assunto.
Em primeiro lugar porque nenhuma das ex-colónias algum dia levantou tal assunto e em segundo lugar porque, excepção da Guiné, Portugal deixou muito património material e imaterial, obras públicas de grande envergadura, como é exemplo de Barragem da Cabora Bassa, a quarta maior de África, e a língua portuguesa.
Mercê de muitos factores, todos intrínsecos, após as independências, estes novos países se envolveram em guerras fraticidas, bem mais violentas e de piores consequências do que a guerra que travaram em 13 anos com o país colonizador.
Nem todos estes países estarão melhor hoje do que no tempo da colonização, mas isso é problema deles. Já se passou meio século, já tiveram tempo de sobra para provarem o que valem e do que são capazes.
Quanto ao Brasil, dizes tu que “perdido que foi o Brasil…”
O Brasil não foi perdido, pelo contrário, Portugal é que esteve prestes a ser perdido a favor do Brasil. Eu explico.
Face à ameaça iminente das invasões francesas e o consequente aprisionamento da Corte, o Reino de Portugal foi instalado em 1808 no Rio de Janeiro, capital do então Estado do Brasil. Portugal foi deixado ao abandono pelo seu rei, enquanto era criado o Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves.
Chegado o ano de 1820, como em Portugal continuasse tudo na mesma, dá-se a Revolução de 24 de Agosto no Porto, onde as forças vivas exigiam o regresso da corte a Lisboa, o que se veio a concretizar.
Entretanto Reino do Brasil torna-se independente para que se possa ali implantar uma República Liberal. Como sabes, foi o português Pedro I do Brasil, filho do rei D. João VI de Portugal, que exigiu a seu pai a independência e se tornou no primeiro Imperador, tendo vindo a abdicar para se tornar Pedro IV de Portugal e salvar o seu país do poder absoluto de seu irmão D. Miguel.
Carlos Vinhal

Valdemar Silva disse...

Caro Carlos Vinhal
Com o caso da Brasil até aconteceu o contrário, quem foi indemnizado foi Portugal e como não poderia deixar de ser os ingleses também entraram no negócio.
E consta assim:

"Depois de quatro anos de conflito, Portugal finalmente reconheceu a independência do Brasil, e em 29 de agosto de 1825 foi assinado o Tratado de Amizade e Aliança firmado entre Brasil e Portugal. Em troca do reconhecimento como estado soberano, o Brasil se comprometeu a pagar ao Reino de Portugal uma indenização substancial e assinar um tratado de comércio com o Reino Unido como indenização por sua mediação."

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Juvenal Amado disse...

Valdemar Queiroz
Ninguém se perde e olha lá os ingleses!

LOL

Anónimo disse...

Caros Combatentes.
Já houve tempo de mandar calar. Agora a hora é da livre expressão. E os galões de outro tempo são o que menos interessa. De resto os galões nunca asseguraram sapiência, apenas autoridade.
Eu nem sempre concordo com as opiniões dos meus camaradas mas sempre as respeito sobretudo quando proferidas por pessoas de comprovada honestidade, como é o caso do Juvenal Amado. Sobre a matéria, sempre direi que não me pareceram as palavras do nosso Presidente da República as mais apropriadas ou mais felizes, mas admito que ele quis dizer o seguinte: sendo impossível fazer as contas das dívidas, Portugal pode e deve ajudar no desenvolvimento das antigas colónias, coisa que está já a fazer e poderá eventualmente fazer melhor. Sobre o Brasil a questão é distinta e as contas mais complicadas. Na verdade não se pode comparar o processo histórico da sua independência, assumida num acto de rebeldia do filho do Rei contra o pai, dando o poder a uma elite de pele clara e escravocrata, com as independências do último quarto do século XX conseguida ou conquistada no contexto da revolução de Abril.
Um grande abraço
Carvalho de Mampatá

Tabanca Grande Luís Graça disse...

bagabaga
bagabaga
(ba·ga·ba·ga)

nome masculino
1. [Cabo Verde, Guiné-Bissau] Designação comum a vários insectos termitídeos que são capazes de provocar grandes prejuízos na madeira. = FORMIGA-BRANCA, TÉRMITE

2. [Cabo Verde, Guiné-Bissau] Construção semelhante a uma pirâmide, feita de terra, em que habitam térmites. = TERMITEIRA

etimologia Origem etimológica:origem africana.

"bagabaga", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/bagabaga.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

10 DE SETEMBRO DE 2011
Guine 63/74 - P8761: Fotos a procura de... uma legenda (15): Bambadinca e o seu famoso bagabaga catedral... Álbum do Benjamim Durães

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/09/guine-6374-p8761-fotos-procura-de-uma.html