Queridos amigos,
Mandava a lógica das coisas que se começasse esta romagem por Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande. Se este primeiro dia foi um tanto borrascoso, o chão a parecer oleoso, lama aqui e acolá, a promessa de, no segundo dia, se encetar viagem à povoação vizinha de Pedrógão Pequeno, onde se teve uma bela casa sob a barragem do Cabril, houve a deceção da chuva persistente a convidar mais a visita a interiores e a dissuadir liminarmente a visita sacramental ao Vale do Cabril. Remodelados os planos, percorreu-se Pedrógão Pequeno, onde também se amesendou, e debaixo da tal chuva irritante se regressou a Pedrógão Grande para visitar um museu dedicado a um artista hoje praticamente esquecido que foi um grande companheiro de Amadeo de Souza-Cardoso em Paris, Pedro Cruz, mais adiante vamos falar dele e o que este museu nos oferece.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (164):
Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior – 3
Mário Beja Santos
O texto que se oferece ao visitante sobre a freguesia de Pedrógão Pequeno tem o seu encanto, diz que alguém apelidou a região como a Sintra da Beira Baixa, o romantismo do lugar foi exaltado por poetas, pintores e até fotógrafos como Camões, Malhoa ou Carlos Relvas. Este espetáculo cénico move-se à volta do telúrico Vale do Cabril, no assombroso Monte da Nossa Senhora da Confiança, é local de beleza, durante séculos, graças à ponte filipina que ligava Pedrógão Grande à Sertã. Pedrógão Pequeno, onde vivi numa moradia que teve que ser reconstruída, bordejada a granito, estava toda podre no seu interior por pura negligência do anterior proprietário, a EDP. Da varanda da casa desfruta-se o espetáculo cénico inigualável, ali perto está a ponte filipina, avista-se em toda a sua dimensão a aldeia de xisto, indo pelo chamado Moinho das Freiras pode percorre-se o Vale do Cabril, situado num enclave granítico, entre maciços xistosos. Aqui se fazem percursos pedestres entre estas paisagens deslumbrantes, há uma romaria de tradições seculares à Nossa Senhora da Confiança, vale a pena passear sob a Barragem do Cabril e a povoação orgulha-se de ver parte da rota da Estrada Nacional 2. Foi recentemente inaugurado no Penedo do Granada um passadiço, como o dia não prometia andar em pisos molhados ficou uma razão muito forte para aqui voltar.
Nas divagações do meu texto anterior, contei como, estando a remodelar uma casa de agricultores em Casal dos Matos, concelho de Pedrógão Grande, num passei pela Barragem do Cabril, deu-se uma súbita paixão por uma casa à venda, belas paredes orladas de granito, deixara-se apodrecer o telhado e o tempo fez o resto a destruir o interior. Estavam refeitas as duas casas, e já não me sentia propriamente bem em fechar uma e abrir outra, separadas a uma distância de 7/8 km. Eu tinha dois amores, não sei qual dos dois mais esfusiante, felizmente que as circunstâncias e a própria idade induziram à separação. Se no primeiro dia desta romagem de saudades era inevitável ir a Figueiró dos Vinhos e começar a percorrer Pedrógão Grande, o segundo dia teria de começar por Pedrógão Pequeno, como aconteceu. Foi pena o tempo não ter ajudado. Uma chuva miudinha e irritante e um Vale do Cabril um tanto enlameado limitaram um matar de saudades.
O Zêzere visto do alto da barragem do Cabril, ainda há neblina que se vai dissipando em dia frio e chuvisco
À entrada do tempo encontra-se informação sobre o histórico desta igreja matriz de Pedrógão Pequeno:“Tem como orago São João Baptista, foi edificada em inícios do século XVI. Segundo documentação do reinado D. João III, a igreja já existia em 1522. De planta longitudinal, composta por dois corpos retangulares justapostos, a igreja está dividida por três naves e capela-mor, com duas sacristias de planta quadrangular adossadas às naves laterais e torre sineira adossada à fachada. A fachada principal possui três registos, sendo delimitada lateralmente por pilastras toscanas rematadas por pinhas. O interior do templo é dividido em três naves separadas por quatro arcos torais de volta perfeita assentes em colunas toscanas, sendo a central a mais alta. Ao fundo, o coro-alto em madeira está assente em dois pilares em cantaria. Possui quatro altares laterais com retábulos em talha dourada. A cobertura do templo é em madeira com caixotões lisos; na nave central cinco caixotões estão pintados com cenas da vida de São João Baptista.”
Interior da igreja matriz de Pedrógão Pequeno
O teto em caixotão da igreja matriz de Pedrógão Pequeno com pinturas singelas
Impressiona pela sua beleza e austeridade este nicho com moldura em granito, pela é ter desaparecido a imagem votiva ou talvez um tema da paixão de cristo.Uma pia batismal também impressionante pelo desenho austero
Passadiço do Penedo do Granada, equipamento de lazer situado no sopé do Monte de Nossa Senhora dos Milagres, na zona de confluência da Ribeira de Pera com o rio Zêzere e que proporciona uma agradável vista da paisagem do Cabril.Penedo do Granada, fotografia de João Viola
O Cabril, visto por Luigi Manini, nas suas deambulações com Alfredo Keil no Zêzere
O ponto em que a ribeira de Alge se junta ao Zêzere no Cabril
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 27 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25782: Os nossos seres, saberes e lazeres (638): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (163): Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior - 2 (Mário Beja Santos)
1 comentário:
O topónimo Pedrógão é indicador de pedreiras, já a divisória dentro da pia baptismal não sei qual é a funcionalidade.
Valdemar Queiroz
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