Timor > Aileu > 1938 > " D. Aleixo Corte Real, de Ainaro (ao centro), com chefes locais e António Magno (à direita)"
Timor > Dili > Escola Municipal c. 1936-1940
Timor > Dili > Sede do BNU (Banco Nacional Ultramarino) > 1912 > O Banco "abriu Dependência de Dili em abril 1912 e colocou ali em circulação notas de patacas da filial de Macau com o carimbo 'Pagável em Timor' ”.
Timor > Dili > Sede do BNU (Banco Nacional Ultramarino) > 1950 > Em 1941, e segundo informação do dr. José dos Santos Carvallhos, o gerente do BNU era o sr. João Jorge Duarte e e na filial de Díli trabalhavam vários empregados não-timorenses.
Brasão de armas de Timor sob administração portuguesa
António Oliveira Liberato, capitão - "O caso de Timor : invasões estrangeiras : revoltas indígenas". Lisboa: Portugália, Lisboa : Portugália [195_?], 242 pp. (1)
1. Pode não ser a melhor leitura de verão... Mas o agosto (o nosso outrora querido mês de agosto...) apanhou-nos a meio desta tarefa... E temos a obrigação de a levar até ao fim... Por um dever de memória (e até de gratidão): afinal, ligam-nos, ao povo de Timor Leste, laços históricos, linguísticos e afetivos... Os portugueses e os timorenses têm todo o interesse (e a obrigação) de conhecer melhor a sua história comum, passada e presente, incluindo os trágicos acontecimentos que ocorreram na II Guerra Mundial: duas invasões estrangeiras (dos Aliados e depois dos japoneses), violando a neutralidade de Portugal... Mas também foi uma ocasião para ações de grande coragem e solidariedade entre um punhado de portugueses, de australianos e dos seus amigos timorenses. Estes homens e mulheres não podem ficar inumados na "vala comum do esquecimento".
Estamos a publicar notas de leitura e excertos do livro de memórias do médico de saúde pública José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (*), disponível em formato digital no Internet Archive. Atualizámos a ortografia e os topónimos.
Notas do autor:
(1) Vide Capitão António Oliveira Liberato, O Caso de Timor, Portugália, Lisboa.
Fonte: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pp. 44-53.
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Último poste da série > 26 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25778: Timor-Leste: passado e presente (14): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte VI: Díli, 20 de fevereiro de 1942: a invasão e a ocupação japonesas
Postes anteriores:
22 de julho de 2024 > Guine 61/74 - P25769: Timor Leste: passado e presente (13): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte V: a invasão de tropas australiano-holandesas, em 17 de dezembro de 1941
14 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25742: Timor Leste : passado e presente (12): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte IV: A vida de um médico de saúde pública, Baucau, 1941
10 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25731: Timor-Leste, passado e presente (11): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte III: A vida de um médico de saúde pública, Dili, 1941
2 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25708: Timor-Leste, passado e presente (10): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte II: Como era a pequena colónia do sudoeste asiático em 1940/41 ?
26 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25683: Timor-Leste, passado e presente (9): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte I
Mapa de Timor em 1940. In: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pág. 11. (Com a devida vénia).
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)
Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.)
Parte VI: e o terror continuou no 2º semestre de 1942
(i) Estamos em 12 de agosto de 1942. Timor está ocupado, pelos japoneses, desde 20 de fevereiro. O dr. José dos Santos Carvalho, chegado ao território em finais de 1941, está agora à frente do Hospital Dr. Carvalho, em Lahane, nos arredores de Díli. Ofereceu-se como voluntário por um mês. Estava colocado em Baucau, como médico de saúde pública. Acabou de chegar a Lahane.
À data é já administrador do concelho de Díli, o eng Canto Resende, chefe adjunto da Missão Geográfica de Timor, tornando-se o principal interlocutor dos ocupantes. Os escassos representantes das autoridades portuguesas (com exceção do governador que ficara "refém" em Díli) estavam acantonados em Lahane, no hospital, ou dispersos por outras partes do território.
Boa parte da informação que o médico José dos Santos Carvalho passa agora a usar e a citar é do livro de memórias do então tenente António Oliveira Liberato, "O caso de Timor"publicado em meados dos anos 50).
Recorde-se que Timor foi invadido e ocupado uma força de 1500
militares japoneses, insuficiente, no entanto, para ocupar
de maneira efetiva o território, para mais montanhoso (1 militar por cada 10 km quadrados, e por cada 300 habitantes). Daí o recurso a milícias, c. 20 mil (maioritariamente oriundas do lado holandês).
O isolamento dos portugueses era total. Em 31 de maio de 1942 foi ocupada a estação emissora radiotelegráfica de Taibessi. As ligações com o exterior só serão restabelecidas em 13 de setembro de 1945.
A força militar portuguesesa em Timor era meramente simbólica: 300 homens, na sua grande maioria "indígenas". Portugal, "país neutral", tinha concentrado os seus esforços na defesa das ilhas atlânticas, Madeira, Açores e Cabo Verde (40 mil, um terço do seu exército de 120 mil; no total terão cumprido o serviço militar, durante a II Guerra Mundial, 180 mil homens, o que representou um enorme esforço orçamental).
(...) Pelo engenheiro Canto foi posto ao corrente da situação existente. Os japoneses continuavam, permanentemente, a pretender a colaboração dos portugueses para lhes resolver os seus problemas de pessoal trabalhador, fornecimentos de géneros alimentícios, etc.
As exigências que antes apresentavam ao administrador Aguilar continuavam a ser feitas, de modo perentório. Porém, o engenheiro, com extrema paciência e grande habilidade diplomática, conseguia um mínimo de compreensão para a nossa posição de neutralidade que não poderíamos de qualquer forma abandonar.
A sua luta, nesse tempo, já era, como o foi sempre depois, constante e porfiada, com repetidas visitas ao consulado nipónico e pormenorizadas explicações aos agentes da Kempy [ a Gestapo nipónica], tais como o tenente Takeyóshi e os sargentos Sato e Abé, que frequentemente o «visitavam» no hospital, repetindo enfadonhamente as mesmas perguntas e demorando horas esquecidas em conversações que sempre orientavam para o mesmo assunto: a cooperação dos portugueses que pretendiam, e a sua desconfiança na nossa neutralidade pois havia portugueses ao lado dos australianos entre os quais o Júlio Madeira (2) [ natural de Ermera, antigo soldado nas NT, dirigia um grupo de guerrilha, resistindo aos japoneses ], que eles porfiadamente procuravam. (...)
Governador português de Timor (1940-1945),
(Porto, 1893-Lisboa, 1968). O " Relatório dos Acontecimentos de Timor
pelo Governador Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho" (publicado pela
Imprensa Nacional, Lisboa,1947), mandado elaborar por ordem do Ministro das Colónias,
Marcello Caetano, acabará por ficar na gaveta...
(ii) Aparecem os primeiros sinais da presença no território das sinistras "colunas negras", oriundas do Timor Holandês. Diversos postos administrativos na zona oeste do território são bombardeados pela aviação japonesa. Só havia comunicações telefónicas, com as circunscrições da zona leste. As autoridades portuguesas estavam isoladas e tiveram que aprender a lidar com a imprevisilidade, o despotismo e o cinismo dos japoneses.
Só no fim da guerra se sabe da tragédia que foram os três anos e meio da ocupação japonesa. Na metrópole a censura
faz total "blackout" noticioso dos acontecimentos. Era ministro das colónias Francisco José Vieira Machado (12 set 39 - 6 jun 42).
Pouco a pouco a resistência aliada (e nomeadamente australiana) vai enfraquecendo, face à contra-ofensiva dos japoneses e dos seus aliados indígenas do Timor Holandês (mas também de "centenas de índígenas do nosso domínio" que, "minadas pela propaganda nipónica (...) olhavam-nos com arrogância e propalavam o termo do domínio dos brancos", as palavras, insuspeitas, são do tenente Liberato).
(...) Porém, o mais grave é que dias antes, timorenses portugueses, haviam informado o engenheiro de que tinham desembarcado em Díli centenas de indígenas do Timor Holandês de aspecto sinistro e armados de azagaias e catanas e distribuídos em grupos enquadrados por soldados javaneses armados com armas holandesas.
Também, dias antes, os postos administrativos de Maubisse, Same, Beco e Mape, haviam sido bombardeados pela aviação japonesa, seguindo-se-lhe a sede da circunscrição da Fronteira (vila de Bobonaro), a sede da circunscrição do Suro (vila de Aileu) e outras localidades do oeste da Colónia entre as quais Lete-Fóho.
Destes acontecimentos e de tudo o que se passava em todo o território de Timor, com exceção da zona Leste com a qual existiam comunicações telefónicas, chegavam muito tardiamente ao conhecimento dos portugueses do hospital de Lahane notícias muito confusas e imprecisas, melhor dizendo boatos, pois nao havia qualquer fonte de informação oficial nem sequer o Governador alguma vez lhes referiu qualquer coisa dos recados que por portadores timorenses lhe eram comunicados de Aileu e que, também, não poderiam deixar de ser muito imprecisos e inseguros.
Assim, somente no fim da guerra se soube pormenores do assassinato do cabo Alfredo Baptista, chefe do posto administrativo de Fátu-Lúlic, no dia 11 de agosto.
Uma coluna de tropas japonesas vinda do território holandês entrou nessa povoação, indo os seus oficiais almoçar com o chefe do posto. A coluna saiu de Fátu-Lúlic após o repasto, porém, os indígenas de Atambua que a acompanhavam, a primeira «coluna negra» de cujas atividades houve notícia, ficaram para trás e mataram com as maiores atrocidades ao cabo Baptista, retalhando o seu cadáver em pedaços.
Em vários pontos da colónia se assinalavam então movimentos de tropas japonesas, reforçadas também por elementos indígenas que, partindo de vários locais, convergiam para a zona em que operavam as guerrilhas aliadas (1).
Na manhã do dia 13 estabeleceu-se em Aileu, que não tinha comunicação telefónica com Díli desde começos de agosto, um forte destacamento de forças nipónicas, acompanhado de numeroso núcleo de indígenas com armas gentílicas e algumas espingardas (1). A coluna que em Fátu-Lúlic assassinou o cabo Baptista era uma das três forças que avançaram sobre Bobonaro, duas partindo do território holandês e uma desembarcada em Suai e passando por Beco e Mape.
Em conjunto, fizeram uma diversão sobre a região de Atsabe, que bombardearam intensamente, ao mesmo tempo que as tropas estacionadas em Aileu levavam as suas investidas até Maubisse e ameaçavam Ainaro. Em toda a zona da fronteira lavravam incêndios, e as tropas aliadas, abandonando o material, erravam em pequenos grupos pelas montanhas, completamente desarticuladas, procurando refúgio na zona Leste do nosso território, onde depois as iriam perseguir os nipónicos, transformando assim toda a colónia em campo de batalha (1) .
«A população europeia, exausta por um largo período de incertezas, depauperada pelo nervosismo, aterrorizada, aban- donou os seus lares e procurou refúgio nas aldeias indígenas cujos chefes ainda lhe mereciam confiança. O gentio movimen- tou-se e aqui e além notaram-se indícios de revolta» (1) .
«Com a sua ofensiva, os japoneses trouxeram para a luta um novo elemento: o elemento indígena. As colunas constituías por este novo elemento, já pela cor dos seus componentes ja pelos desmandos que praticavam, ficaram sendo conhecidas em Timor por colunas negras. Estes núcleos, acompanhando as forças nipónicas, asseguravam-lhes a protecção a distância quer durante as marchas quer durante os estacionamen tos» (1).
«Inicialmente recrutadas entre as populações nativas do território holandês e das pequenas ilhas vizinhas, em breve viram as suas hostes engrossadas por centenas de indígenas do nosso domínio, principalmente da Fronteira, Maubisse e Manufai e, mais tarde, das restantes zonas da colónia.
"Minadas pela propaganda nipónica estas massas olhavam-nos com arrogância e propalavam o termo do domínio dos brancos. O roubo a destruição e o massacre eram os seus objectivos» (1) .
«As colunas negras, que ultimamente dispunham já de metralhadoras ligeiras e granadas de mão, entraram na luta, nas operações de agosto, como elementos de segurança e proteção das forças regulares japonesas» (1) .
Depois, «manobrando já com relativa autonomia, dedicaram-se à perseguição dos grupos de guerrilheiros e dos portugueses que, sob a protecção daqueles, andavam a monte, aguardando a oportunidade de embarque para a Austrália.
"Dirigidas e orientadas pela organização japonesa denominada Autory encarregada de criar, após a conquista pelas armas, a nova Ordem na Grande Ásia Oriental, percorriam todo o nosso território semeando o terror, a ruína e a morte» (1) (...)
(iii) Organiza-se, a partir de Lahane, uma coluna de voluntários (a que se juntaram vários deportados), comandada pelo sargento António Joaquim Vicente, de socorro a Maucátar, na circunscrição de Fronteira, onde um grupo de portugueses estava cercado por timorenses rebeldes. Há rebeliões na parte oeste da colónia. Os portugueses (e seus aliados timorenses)
estão mal equipados e pior armados.
(....) Na tarde de 19 de agosto o engenheiro Canto, depois de ter falado com o Governador, informou os que se encontravam no edifício do hospital de Lahane que havia revolta na circunscrição da Fronteira, estando em Maucátar um grupo de portugueses, entre os quais toda a família do tenente Lopes, do Suai, cercado por timorenses rebeldes e em posição muito crítica.
Automaticamente surgiu entre todos a ideia de seguirem para o local, levando auxílio àqueles compatriotas em perigo. O Governdor permitiu e encorajou a imediata organização duma coluna de voluntários aqui constituída, mas não autorizou que o engenheiro Canto e o dr. Santos Carvalho dela fizessem parte, por a sua presença ser absolutamente necessária na região de Díli.
O comandante da coluna foi, naturalmente, o sargento António Joaquim Vicente e as armas e munições tiradas da sala do hospital onde estavam guardadas por terem pertencido à administração do concelho de Díli e sido salvas do saque japonês. Assim, a coluna estava pronta e partiu, a cavalo, na manhã do dia 21 levando de Lahane os seguintes elementos: sargento Vicente, chefe de posto Torresão e aspirantes administrativos José Santa e Domingos Ribeiro.
Em Liquiçá juntaram-se-lhe o sr. Jaime de Carvalho, director da Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho, o cabo Agapito dos Anjos, o professor primário Victor Duarte Santa e os deportados Jaurés Américo Viegas, Hermenegildo Granadeiro, António Santos Faísca e Raul Honório.
Em 20 de agosto, o comandante da Companhia de Caçadores recebeu em Aileu uma ordem do Governador para preparar uma força que, sob o comando de um subalterno, partisse para Bobonaro, em virtude dos factos graves que na região se estavam passando e de que lhe dava notícia (1).
Organizou-se, assim, um destacamento comandado pelo tenente Liberato, que para tal se ofereceu, e que seguiu para a Fronteira no dia 22 com a missão de dominar a rebelião (1) .
Em Léte-Fóho, no dia 23, foi informado por conversa telefónica com o comandante da Companhia que a situação em Maubisse também era de rebelião tendo o quartel da Companhia sido assaltado, mortos três dos quatro soldados seus guardas e roubado ou destruído o material e que o chefe do posto, sargento Martins Coelho havia desaparecido, ignorando-se o seu paradeiro (1).
Por estes factos, tinha o Comandante ordenado a saída para Maubisse, nesse mesmo dia, de um destacamento idêntico ao do tenente Liberato, comandado pelo tenente Ramalho dos Santos (1) e que levou como enfermeiro o praticante Alfredo Borges.
Em Maubisse soube o tenente Ramalho pormenores da rebelião que estalara logo após o regresso a Aileu das tropas japonesas que desta vila se haviam deslocado, dias antes, a Maubisse, onde passaram a noite. Ã aproximação dos amarelos, o chefe do posto Francisco Martins Coelho, e os europeus deportados José Faria Braga, Dionísio Teixeira e Paulo Ferreira, que viviam na localidade, abandonaram as suas residências e refugiaram-se em palhotas indígenas. Porém, o chefe do posto e o deportado Faria Braga foram apanhados pelos rebeldes que os sujeitaram a suplícios horríveis, acabando por lhes deceparem a cabeça (1) (...)
(iv) É salvo, escondido, tratado e resgatado um piloto australiano
cuja avião fora abatido pelos japoneses. Um comando australiano consegue libertá-lo do hospital de Quelicai.
(...) Na tarde do dia 21 de agosto o Governador ehamou-me e ao engenheiro Canto à sua residência para nos comunicar que tinha havido sobre a região de Cribas um combate aéreo entre aviões japoneses e australianos pelo que um avião australiano tora abatido e se incendiara ficando o piloto muito ferido e queimado.
O alferes reformado Alípio Ferreira que vivia nas proximidades do local onde caiu o avião prestou os socorros de urgência ao ferido e avisou telefonicamente o administrador de Manatuto Dr. Mendes de Almeida. Este, acompanhado do enfermeiro Fernando Senanes fora buscar o oficial australiano no carro da circunscrição e trouxera-o para a residência de Saututo onde se encontrava.
Ponderadas por nós três as diferentes soluções para o difícil problema de evitar a entrega do piloto aos japoneses, o que eles certamente viriam a exigir, resolveu-se que ele seguisse na automaca dos Serviços de Saúde, que se mandou vir de Quelicai, para o hospital Dr. Carvalho, instalado nessa localidade, único estabelecimento onde se poderia prestar assistência eficaz a um grave traumatizado.
O transporte do sinistrado fez-se, assim, na manhã do dia 22, tendo sido internado sob os cuidados do Dr. Correia Teles, antes que os japoneses soubessem do acontecido. Foram repetidas as suas tentativas para que o Governador «mandasse vir o oficial australiano ferido para o hospital de Lahane, pois este é que era o hospital principal dos portugueses!»
Escusado será dizer que o engenheiro Canto, em nome do Governador, diplomaticamente, mas com toda a firmeza, se opôs, sempre a essa ideia. Sabendo da rebelião de Maubisse o administrador Mendes de Almeida organizou uma força de voluntários europeus, e das tradicionais companhias de "moradores" de Manatuto, com o fim de partir para foco da insurreição com a missão de cooperar com o destacamento militar na repressão da revolta (1) .
A coluna do tenente Liberato cumpriu integralmente a sua missão da maneira que ele descreve num dos seus livros (1) .
O que então somente constou na Colónia foi a morte em combate, no dia 5 de setembro, do cabo Paulo Moreira, do soldado Abel Soares dos Santos e do condenado António Fernão de Magalhães, natural de Macau, que seguira como enfermeiro do destacamento por ter prática de enfermagem no presídio de Aileu em que estava internado.
Soube depois, pelo tenente Liberato, que este acontecimento se havia dado perto do posto administrativo de Lébus. A coluna de voluntários civis cumpriu admiravelmente a sua generosa missão conseguindo a salvação dos portugueses europeus de Maucátar, as famílias do tenente reformado João Cândido Lopes e do encarregado do posto de Fohorém, soldado Saul Nunes Catarino, que puderam dirigir-se e alojar-se em Aileu, e o castigo dos rebeldes, assegurando o respeito pela soberania portuguesa.
No dia 1 de setembro, uma coluna japonesa desembarcou na foz da ribeira de Lacló e cercou a residência do administrador de Manatuto, Dr. Mendes de Almeida, então ausente a combater os rebeldes na área de Túriscai. Em Saututo estavam então hospedados o engenheiro José de Azevedo Noura, diretor das Obras Públicas, e as senhoras das famílias deste engenheiro, do Governador, do capitão Vieira, do tenente Alves, todos os quais foram encerrados numa das salas enquanto os nipónicos procuravam em todos os recantos vestígios de australianos!
Submeteram depois a dona da casa, D. Elzira Mendes de Almeida, a um enfadonho interrogatório sobre o oficial piloto-aviador australiano que aí tinha sido alojado e caridosamente tratado, tendo ela então demonstrado a mais serena firmeza e desprezo pelas suspeitas absolutamente infundadas de colaboração com as tropas aliadas. Retiraram-se, sem mais vexames.
A notícia deste acontecimento motivou a fuga, no mesmo dia 1, do piloto australiano do hospital de Quelicai transportado numa cadeirinha por seus compatriotas que ali o foram buscar.
(v) O terror dos bombardeamentos dos Aliados, em Lahane, onde se situava o hospital e a casa do governador. A que respondem as anti-aéreas dos japoneses. O médico José dos Santos Carvalho
renova, por mais um mês, a sua permanência, voluntária,
em Lahane.
(...) Entretanto tinham passado vinte dias da minha permanência no edifício do hospital onde ainda havia alguns doentes internados, entre os quais duas velhas chinesas, na casa que fora pavilhão de mulheres.
A comida era fornecida pelo mesmo fornecedor do hospital no tempo de paz, o cabo reformado Joaquim da Silva, cuja residência era próxima dos edifícios hospitalares e cujos géneros provinham de uma pequena quinta e plantação que ele possuía nas vizinhanças de Díli e onde os japoneses permitiam que os serviçais timorenses continuassem em trabalhos agrícolas.
Vários bombardeamentos pela aviação aliada se fizeram sentir durante esse curto período os quais estoicamente suportávamos, apertados e transidos de natural temor no abrigo escavado em forma de mina na encosta da montanha. Com efeito, são indescritíveis as sensações que de todos se apoderam, sobretudo durante os repetidos voos preliminares dos aviões até se contarem as explosões correspondentes à sua completa descarga de bombas. Mas tudo leva ao terror!
Em primeiro lugar a permanente incerteza quanto à possibilidade de em qualquer momento das vinte e quatro horas do dia se ser atingido. O som lúgubre da sereia japonesa avisava-nos — e quantas vezes fomos nós os primeiros a sentir o ronronar dos aviões — de que eles se aproximavam. Logo se fazia sentir um ensurdecedor barulho das violentas explosões dos canhões anti-aéreos e do matraquear das metralhadoras!
E, tudo isto, sabendo nós que as forças aliadas não poderiam estar informadas da nossa posição de neutralidade e dos locais em que não havia japoneses!
Dava-nos alguma confiança o facto da bandeira nacional estar hasteada permanentemente no pavilhão principal do hospital e pintada, em grande tamanho, no seu telhado coberto de folha de ferro zincado. Mas, de noite, como se poderia ver este sinal de gente portuguesa? Confortava-nos o facto de as tropas japonesas estarem alojadas em Díli não se aproximando dos edifícios hospitalares de Lahane e da residência do Governador.
Porém, na manhã do dia 5 de setembro, chegou ao hospital uma grossa coluna de forças nipónicas comandada por um capitão que, portando-se com toda a correcção, mas com característica frieza, falando inglês razoável, disse que vinham instalar-se na parte dos edifícios do hospital, que não era necessária para nós e, por isso, pedia para eu mandar imediatamente desocupá-la.
Tentei convencê-lo, então, de que não ocupassem, ao menos, os edifícios mais próximos do pavilhão principal onde estavam alojados os portugueses, mas tudo foi em vão. Instalaram-se, assim, no pavilhão de timorenses, no pavilhão de mulheres, no pavilhão de doenças infecciosas, que se encontrava quase concluído, e na casa da residência do médico-chefe da Repartição de Saúde.
Ficámos, assim, somente com o pavilhão principal do hospital, as suas dependências e o edifício da casa mortuária. Uma limitadíssima área de terreno circunjacente ficava à nossa disposição, incluindo o pequeno jardim. Mas nem essa escapou.
Passados dias vieram dizer-nos que iam construir abarracamentos para as tropas, encostados ao pavilhão principal do nosso hospital. Depois de muito trabalho, o engenheiro Canto convenceu-os a construirem-nos no jardim, o que foi feito, ficando, situados a menos de dez metros de nós e cobertos a zinco que seria perfeitamente visível dos aviões aliados.
Estando a chegar o termo do período de trinta dias para o qual eu me tinha oferecido a trabalhar em Díli, oferecime, novamente, para aí permanecer mais um mês, o que fiz no dia 8 de setembro.
Por Balibó havia então rebelião de parte dos seus sucos. O chefe de posto, cabo Simão Esteves Coronho foi obrigado a retirar-se para Atabai onde se manteve sempre em contacto com os chefes timorenses de Balibó que se mantiveram fiéis e já firmemente apoiado pelos arraiais (3) de Maubara, do que mostrou ser grande Português, o liurai, coronel José Nunes (1).
Requisitara o cabo Coronho, um pelotão da força de polícia timorense da Fronteira que estava aquartelada em Bobonaro, com o fim de vir para Balibó proteger a evacuação do posto de quem o quisesse fazer (1) . O pelotão chegou àquela localidade onde encontrou o praticante de enfermeiro Emílio de Oliveira que ali se encontrava por acaso e que, pela força das circunstâncias, teve de tomar o comando do destacamento e manter-se na tranqueira do posto, informando o chefe de posto de tudo, actuando como melhor entendia e assumindo as responsabilidades que pudesse haver (1).
No dia 10 de setembro o enfermeiro Oliveira comunicou ao cabo Cironho que com os soldados timorenses, alguns chineses e um arraial de 200 homens havia feito batidas na região de Bui-Lácu e que dentro da tranqueira de Balibó estavam perto de quatrocentas pessoas, entre chineses, soldados, moradores e arraiais (1) (3). Mais informou o enfermeiro Emílio haverem chegado à tranqueira duas camionetas com forças japonesas que pediram géneros, que pagaram a pronto, respeitaram as mulheres que se encontravam na tranqueira e trataram muito bem os soldados timorenses (1).
Porém, nesse mesmo dia, se deram gravíssimos acontecientos em Balibó, pois os japoneses, metralharam o enfermeiro Oliveira e os dez soldados que o acompanhavam, sendo mortos alguns deles e escapando o enfermeiro, um cabo e quatro soldados (1).
As actividades das tropas japonesas eram agora distribuídas por todo o território timorense e os indígenas, desorientados com o seu estranho procedimento, mostravam-se receosos, apoderando-se de todos o terror (1) .
O tenente Liberato encontrava-se, então, encerrado, com a sua força em Bòbonaro, insistindo com o seu comandante pelo envio de reforços (1). Para satisfazer os seus pedidos, o capitão Freire da Costa ordenara a organização de arraiais nas regiões de Ainaro, Manatuto e Baucau. Os japoneses, porém, estendendo as suas operações àquelas zonas, impossibilitaram o recrutamento dos homens. Velhacos, percorriam com insistência aquelas zonas, tornando infrutíferos todos os esforços para a organização dos arraiais (1).
A partir do dia 13 de setembro acentuou-se a atividade dos rebeldes em toda a frente de Memo a Mape. Os arraiais fiéis, desanimados pela falta de reforços, fraquejaram. Em Léber abandonaram as posições, mas a rápida intervenção duma equena força militar, comandada pelo soldado Saul, restabeleceu a situação (1).
Nas regiões de Balibó e Cova continuava a confusão. O tenente de segunda linha, reformado, Paulo Ferreira, preso e conduzido pelos nipónicos para Atambua, recuperara a liberdade sob o compromisso de colaborar com eles. Tomou então a direção das investidas que os povos de Balibó, Cova, Batugadé, etc, iniciaram contra a região de Maubara, cuja defesa estava confiada a um reduzido núcleo de rapazes — Manuel da Costa, Eduardo Massa, Abel Brites, José dos Santos, Manuel dos Santos, Flávio Carion, Acácio Sanches e Gaspar Nunes — coadjuvado pelos arraiais do velho Nunes, figura prestigiosa de chefe timorense, sempre dedicado, de quem os portugueses, mais tarde, nos tempos dolorosos e amargos do campo de concentração, jamais deixaram de receber constantes provas de lealdade. Arriscando a vida, às escondidas, pela caída da noite, lá iam, ele ou o filho, o simpático Gaspar, junto do chefe de posto levar informações, a assegurarem o seu apoio, a denun- ciar as intenções dos nossos algozes, a incutir confiança no futuro. Unicamente português, só a favor de Portugal trabalhou (1).
No dia 16 de setembro chegou a Baucau uma coluna motorizada de tropas japonesas, não acompanhada de indígenas timorenses, seguindo forças a ela pertencentes para Venilale e Ossú e outras até Quelicai. A força que se dirigia a Ossú foi surpreendida no caminho por uma patrulha holandesa que lhe cortou o caminho, inutilizando uma ponte e, aproveitando a sua paragem forçada, a atacou à metralhadora, ferindo vários homens e entre eles o oficial que comandava a patrulha, após do que se pôs a salvo.
Os japoneses repararam a ponte e seguiram para Ossú onde, na Missão, estiveram a interrogar o chefe de posto, aspirante Eugénio de Oliveira e o superior padre Jaime Goulart que, durante a estada dos japoneses em Ossú esteve detido, com outros padres da missão, num quarto e que foi maltratado e agredido pelas tropas. O interrogatório incidiu sobre as tropas australianas a respeito das quais procuraram, evidentemente sem qualquer resultado, obter informações.
A força que se dirigiu a Quelicai, interrogou aí, demoradamente, o director do hospital Dr. Correia Teles, a respeito da fuga do piloto australiano ferido, que ele explicou com todos os pormenores, ameaçando-o por várias vezes de o tornarem responsável por essa fuga e acabando por lhe dizer que iam averiguar se era verdade o que ele dizia, e que, se reconhecessem que o não era, voltariam lá e lhe fariam pagar caro a sua mentira.
De facto, não houvera a mínima culpa do Dr. Correia Teles naquela fuga, pois foi alta noite e inesperadamente, que os soldados australianos penetraram no hospital e levaram o seu camarada ferido (5).
No dia 20 de Setembro chegou a Aileu uma coluna japonesa, comandada pelo capitão Moryama, que ia acompanhada por um grande numero de indígenas, armados, disfarçados em carregadores, e que aí se estabeleceu. A pedido do comandante nipónico e para evitar incidentes, no quartel da companhia de caçadores foi suprimido todo o serviço exterior da unidade por patrulhas, mantendo-se somente sentinelas necessárias à sua segurança (6).
Entretanto, em Bobonaro a situação piorava dia a dia. Os chefes indígenas fiéis queixavam-se, estando abalado o moral dos seus homens. A rebelião ganhava terreno e o cerco apertava-se, ameaçando isolar as forças do tenente Liberato dentro da vila. Sabia ele que nada havia já a esperar. Manatuto, Ainaro e Baucau e a própria tropa, ilaqueda nos locais onde a surpreendera o intencional recrudescimento da actividade dos japoneses, nenhum auxílio lhes poderiam prestar (1).
Também, o velho colono Sebastião da Costa que vivia numa propriedade pertencente a seu genro Joaquim Pereira Vigário e estava situada no limite de Laulara com Aileu foi, aí assassinado com quase toda a família (7). No livro do Dr. Cal Brandão (8) se encontram pormenores acerca desse massacre.
Numa plantação pertencente ao sr. Sebastião da Costa os criados timorenses mataram à azagaiada dois soldados japoneses que cometiam abusos, facto que se passou em abril de 1942 mas de que os japoneses nunca tiveram a certeza, embora por isso ficassem a olhar com desconfiança e ódio a família Costa. O sr. Sebastião da Costa e seu filho Manuel Albano foram, então, residir para a propriedade do seu genro e cunhado Joaquim Pereira Vigário que, agora, estava ausente por se ter oferecido como voluntário para a expedição contra a revolta de Maubisse, comandada pelo tenente Ramalho.
Foi então que «as colunas negras assaltaram a propriedade e, numa carnificina bárbara, retalharam mais de quinze pessoas. O Manuel, exaustas as munições, teve que ver dum alto próximo a imolação de todos os entes queridos, pai, mãe, irmãos, sobrinhos e o filhito com três meses.
Quando tudo acabou, a alma dobrada pela dor e o espírito ardendo em desejo de desforra, foi apresentar-se às guerrilhas australianas, ansioso por acalmar no ardor da guerra o fogo que o consumia. O Vigário quando teve conhecimento do crime que lhe aniquilara a família e casa, reuniu alguns criados e dirigiu-se à propriedade, já então abandonada pelos selvagens, para dar sepultura condigna aos seus mortos. Surpreendido pela entrada de alguns japoneses com uma coluna negra, o Vigário repeliu-os mas, teve que ceder terreno e de se entrincheirar num reduto de pearas, e matando se deixou morrer (9).
No dia 26 de setembro, soube-se em Bobonaro que uma coluna japonesa avançava de Ainaro em direcção a Ataabe O sargento Alexandrino, chefe do posto de Atsabe, abandonou a localidade e fugiu à aproximação da coluna. Outro tanto íiaviam feito os chefes de posto de Same, Ainaro e Uátu-Údu por onde a coluna passara anteriormente.
No dia seguinte soube-se que os nipónicos marchavam para Bobonaro, onde chegariam a noite, o que de facto sucedeu. No dia 28 abandonaram a vila. Esta coluna tinha aprisionado o régulo Evaristo, mas dera-lhe a liberdade em Atsabe, donde regressara à sua casa de Maubisse. Porém, pouco mais tempo viveu. Foi trucidado por uma coluna negra, assim como toda a sua numerosa família, algumas semanas depois (1).
Em Maubisse, procedia-se então a averiguações para o apuramento das responsabilidades e a punição dos supostos cabecilhas da revolta (1). Os japoneses, prontos a aproveitar o descontentamento dos nativos, em seu benefício, imediata-mente acorreram ao apelo dos insurretos prestando-lhes auxílio contra as prepotências de que se diziam vítimas (1). Inesperadamente, apareceram na região forças nipónicas acompanhadas de numerosos indígenas, estabelecendo-se em Maubisse e lançando as suas avançadas até Ainaro, cujos arraiais haviam tomado parte activa na jugulação da revolta (1).
No dia 27 de setembro, elementos da «coluna negra», assaltaram o acampamento do destacamento do tenente Ramalho, roubando espingardas e outro material e foram eles que então prenderam o chefe Evaristo tendo-o levado com eles (1). Simultaneamente, esboçou-se uma tentativa de roubo, por parte dos mesmos elementos, à residência do administrador de Aileu, tendo os criados, que quiseram opor-se à pilhagem, sido barbaramente espancados (1).
Criava-se assim a atmosfera de terror destinada a favorecer o planeado assalto ao comando da Companhia de Caçadores, em Aileu, que se verificou na madrugada do dia 1 de Outubro (1).
Altas horas da noite desse dia chegou ao hospital de Lahane um timorense, emissário de um liurai dos arredores de Aileu, com um bilhete redigido, mais ou menos, nos seguintes termos: "Senhor Engenheiro. Eles foram a Aileu e estragaram tudo". O portador da mensagem nada mais pôde adiantar para satisfazer as perguntas que com natural ansiedade lhe fizemos, pois não vivia em Aileu.
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Notas do autor:
(1) Vide Capitão António Oliveira Liberato, O Caso de Timor, Portugália, Lisboa.
(2) O senhor Júlio Madeira, natural da Ermera, tinha sido soldado da Companhia
de Caçadores e havia constituído com timo- renses uma guerrilha que fez grandes estragos entre os japoneses devido ao conhecimento perfeito que o seu chefe tinha da região onde nascera e à sua perfeita mobilidade e períica no manejo das armas.
(3) Em Timor dá-se o nome de arraial ao conjunto de timorenses civis que voluntariamente se ofereceram para servirem em operações de guerra.
(4) Sucos, são em Timor, grupos de povoações dos regulados,
assim todos os regulados, os reinos de Timor, se dividem num certo
número de sucos. O régulo denomina-se «liurai» e o suco tem um
«chefe de suco».
(5) Os pormenores da primeira entrada dos japoneses em Baucau e das suas façanhas em Ossú e Quelicai foram-me referidos pelo tenente Pires quando voltei a Baucau após a minha estadia em
Lahane.
(6) Estes pormenores da entrada da coluna japonesa acompanhada de indígenas em Aileu foram-me referidos pelo administrador, Virgílio Castilho Duarte.
(7) As notícias do assassinato do colono Sebastião da Costa e da
sua família foi-me dada pelo chefe de posto de Laulara, Francisco
Torrezão.
(8) Vide Carlos Cal Brandão, Funo. Porto, 1946.
(9) A morte do colono Joaquim Pereira Vigário deu-se a 3 de novembro de 1942.
Fonte: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pp. 44-53.
(Seleção, revisão / fixação de texto, título, notas introdutórias, parênteses retos, reorganização das notas, itálicos e negritos: LG)
Nota do editor
Último poste da série > 26 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25778: Timor-Leste: passado e presente (14): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte VI: Díli, 20 de fevereiro de 1942: a invasão e a ocupação japonesas
Postes anteriores:
22 de julho de 2024 > Guine 61/74 - P25769: Timor Leste: passado e presente (13): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte V: a invasão de tropas australiano-holandesas, em 17 de dezembro de 1941
14 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25742: Timor Leste : passado e presente (12): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte IV: A vida de um médico de saúde pública, Baucau, 1941
10 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25731: Timor-Leste, passado e presente (11): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte III: A vida de um médico de saúde pública, Dili, 1941
2 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25708: Timor-Leste, passado e presente (10): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte II: Como era a pequena colónia do sudoeste asiático em 1940/41 ?
26 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25683: Timor-Leste, passado e presente (9): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte I
3 comentários:
Olá Camaradas
O que se passou em Timor entre a invasão levada a efeito pelas colónias holandesas sem o menor "respeito" por uma colónia portuguesa que não estava envolvida na guerra só pode ser consequência da falta de meios bélicos que lhe foram atribuídas. Podemos aceitar a justificação de que os japoneses combatiam contra adversários do "Eixo". Mas o modo miserável como se tudo tem vindo a ser descrito revela-nos que as autoridades não tomaram qualquer medida defensiva. O sofrimento da população revela-nos essencialmente uma abandono inaceitável. É que nem sequer foi feito qualquer esforço defensivo no campo diplomático. Enfim, Portugal fascista no seu melhor...
Um Ab.
António J. P. Costa
Organização reivindica direitos de escravas sexuais timorenses durante invasão japonesa
Diligente25 de Fevereiro, 2023 | Rilijanto Viana (Excertos, com a devida vénia)
(...) Passados 81 anos da invasão japonesa do Timor Português, as mulheres timorenses vítimas de escravatura sexual às mãos dos militares japoneses nunca ouviram um pedido oficial de desculpas nem receberam qualquer indemnização por parte do Japão, ao contrário do que aconteceu em outros países. A Associação da Lei, Direitos Humanos e Justiça (HAK, em indonésio), que assinalou a data esta quinta-feira, dia 20 de fevereiro, em Díli, mantém a exigência de que as autoridades japonesas reconheçam os direitos das vítimas.
“Um crime contra a humanidade”. Foram estas as palavras escolhidas pelo diretor-executivo da HAK, Sisto Freitas, para descrever a violência levada a cabo pelo exército japonês durante a invasão a Timor-Leste na Segunda Guerra Mundial. A escravatura sexual é um “crime cruel, muito grave, um dos piores crimes do mundo e ninguém pode esquecer estas mulheres”, sublinhou.
O diretor da organização lembrou que “ainda não foi feita justiça e que a falta de reconhecimento dos direitos das vítimas de violação sexual pelas autoridades japonesas deixa feridas abertas nestas mulheres”.
“Queremos relembrar ao Governo nipónico que as vítimas ainda sentem as feridas da tortura, castigos, terror e violação cruel por parte dos agressores japoneses do passado. Esse sofrimento ainda assombra estas mulheres. No entanto, vocês [japoneses] não curam essas dores”.
“A missão dos militares era fazer guerra e não violar as mulheres, ainda menores na altura”, defendeu Sisto Freitas”, no evento de homenagem às vítimas, que teve lugar no Jardim de Lecidere.
A associação aproveitou a ocasião para recordar os dados do estudo que realizou em 2005, onde apresenta o testemunho de 20 mulheres timorenses levadas pelos militares japoneses e enclausuradas num espaço conhecido como “ianjo”, (“estações de conforto”, em japonês). Aqui, eram transformadas em escravas sexuais, a maioria na altura ainda sem atingir a puberdade.
(Continua)
Organização reivindica direitos de escravas sexuais timorenses durante invasão japonesa
Diligente25 de Fevereiro, 2023 | Rilijanto Viana (Excertos, com a devida vénia)
(Continuação)
(...) Um desses testemunhos é o de Marta Abu Bere, falecida em 2005, uma das “mulheres de conforto”, como eram chamadas as jovens forçadas à prostituição e escravatura sexual, violada por soldados do exército japonês, que relata no estudo a dor psicológica, mas também física, que chegou mesmo a impedi-la de andar após as agressões.
“Os soldados obrigaram-me a trabalhar no “ianjo” durante três meses. No quarto, havia mais três mulheres e éramos obrigadas a servir sexualmente os militares, todos os dias. Tentei resistir, mas quando o fazia estrangulavam-me e ameaçavam-me de morte”, contou Marta no seu testemunho.
Além de escravas sexuais, jovens mulheres como Marta foram forçadas a trabalhos pesados, como construir estradas, trabalhar na terra e recolher lenha e bambu.
Inês de Jesus, natural de Ermera, hoje com 88 anos, é a única participante do estudo ainda viva. Também feita escrava sexual ainda criança, era violada por oito homens, que se revezavam. “Não me conseguia pôr a pé. Só dormia como uma morta. Algumas das minhas companheiras fugiram, mas eu não, porque os soldados sabiam o meu nome e conheciam a minha família”.
Aliança Soares de Deus, neta de Inês, marcou presença no evento organizado pela HAK para reivindicar também que não se esqueça o sofrimento da avó: “Exigimos às autoridades japonesas que reconheçam as vítimas. A minha avó ainda sofre”.
Depois da entrada de forças australianas no território, a 20 de fevereiro de 1942, na Segunda Guerra Mundial, o Japão invadia o Timor Português e violava a neutralidade de Portugal. A invasão terminou a 5 de setembro de 1945, com o lançamento das bombas atómicas em Hiroshima e Nagazaki e a rendição do Japão.
Em Timor-Leste, além de dezenas de milhares de mortos, a invasão deixou marcas profundas de violência sexual. A vergonha silenciou muitas mulheres. Não se sabe ao certo quantas foram vítimas, mas estima-se que existissem no território cerca de 20 “estações de conforto”.
O exército nipónico pediu, durante a guerra, ao Governo uma escrava sexual para cada 70 militares. Cerca de 200 mil jovens, muitas ainda nem sequer adolescentes, foram feitas escravas sexuais na Coreia, China, Taiwan, Filipinas, Indonésia ou Timor-Leste, entre outros países asiáticos. (...)
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