quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25801: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (54): Acção Bacará (Golpe de mão a Amina Dala), 13 de Julho de 1970



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


ACÇÃO BACARÁ (GOLPE DE MÃO A AMINA DALA)

13 DE JULHO DE 1970

Saímos no dia 12 para fazer o "golpe de mão", mas como o percurso demorou mais tempo do que o previsto tivemos que regressar ao quartel.

Voltamos no dia seguinte, dia 13.
Já repararam nas datas?
Voltou a coincidir com as datas das vésperas e das aparições em Fátima?

Perto do objectivo o 1.º grupo de combate ficou emboscado para proteger a retirada do 4.º grupo de combate, que foi fazer o golpe de mão.

Chegados ao objetivo, os militares do 4.º grupo de combate entraram nas moranças e capturaram os elementos da população.
Além da população também apanhamos tudo o que pudesse ter interesse ou fosse suspeito.

Eu não entrei nas moranças. Fiquei com um pequeno grupo de soldados para guardar os elementos capturados nas moranças. Contei 39 elementos, entre homens, mulheres, jovens e crianças mas admito que tenha ficado algum por contar.

Saímos rapidamente, porque tínhamos a informação de haver um bigrupo naquela zona.

Era uma zona de bolanhas que evitamos fazendo o regresso pela orla da mata para não sermos facilmente detetados e estarmos mais protegidos.
O furriel Justino comandava a última secção composta por uma esquadra nossa e alguns soldados milícias.

Algumas vezes o furriel Justino pediu para pararmos, porque ouvia barulhos suspeitos e queria certificar-se do que se tratava.

Neste trajeto, ouvimos o ruído de um helicóptero que, pela direcção seguida, devia dirigir-se para o Olossato.
Como esta acção previa a presença de 1 heli-canhão em alerta no Olossato, o pessoal ficou mais tranquilo, pois podia socorrer-nos em caso de sermos atacados.

Após 3 ou 4 paragens por causa do barulho que se ouvia atrás de nós, fomos surpreendidos por um grupo de guerrilheiros que corriam pela berma da bolanha, ao nosso lado, provavelmente para nos alcançar e atacar.
Como seguíamos por dentro da mata, não fomos detetados. O IN estava ao nosso lado, a cerca de 20/30 metros de nós.
Avisei o capitão que deu ordem de fazer fogo e os "turras" de prováveis atacantes passaram a ser atacados.

Os guerrilheiros responderam com RPG's e armas ligeiras.

O capitão enquanto dava ordens, ia lançando granadas de mão e o IN atirava as roquetadas para as palmeiras atrás do capitão.
Disse-lhe para sair dali e se proteger, mas ele calmamente disse para não me preocupar com ele e para nós nos protegermos.

Como é "habitual" nestas situações o rádio RACAL não funcionou - quando havia contactos com o PAIGC os rádios raramente funcionavam. Penso que o problema não era dos rádios, mas sim dos nervos/medo dos operadores de rádio.
Valeu-nos o "banana"=AVP1 que contactou o Olossato.

O alferes Pimentel ao ouvir as armas e pela direção donde vinham deduziu que era a nossa Companhia a "embrulhar".
Pegou na carta/mapa da zona onde tínhamos ido e correu para a pista, onde o heli-canhão tinha acabado de pousar.
Deu a carta/mapa e as coordenadas ao piloto e lá foi o heli ao nosso encontro.

O heli voando baixo, aproximou-se do local e pediu a nossa posição e a posição do IN.
Após a nossa resposta, disse que já nos tinha visto e ia atacar o grupo inimigo.

As munições do heli-canhão que eram explosivas e incendiárias provocaram a fuga do IN.

Depois de fazer o reconhecimento da zona, disse que podíamos regressar pelas bolanhas, porque ia acompanhar-nos, voando por cima do nosso grupo, e evitando a volta muito maior e mais cansativa, se fosse feita pela mata.

Durante o contacto fugiram alguns populares, pelo que só chegaram 37 ao Olossato - Mesmo assim, Missão com muito bons resultados.

Quando o grupo de combate que fez a proteção chegou ao quartel, alguns desses elementos disseram aos soldados do meu grupo de combate que, quando estavam emboscados, viram passar o grupo IN mas não o intercetaram.

Como o alferes, comandante do meu grupo, não tomou posição, falei no caso ao capitão, que após "averiguações" disse-me que tinha havido "desinformação", porque o comandante do outro grupo negou terem visto o IN.

Enfim, já sabemos que "quem tem cu tem medo".

Até aceito que o outro grupo de combate tenha evitado o contacto - Só tínhamos 3 meses de comissão - mas não aceito que pelo "rádio" não nos tenha informado que "passou" ou "+areceu que passou" um grupo IN.
Com este aviso já não seríamos surpreendidos.

Felizmente não fomos surpreendidos, porque detetamos a aproximação do grupo IN.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 25 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25776: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (53): Operação Jaguar Vermelho - III: dia 1 de Junho de 1970

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