sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25874: Notas de leitura (1720): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, de 1872 a 1873) (17) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
Escusado é dizer que o Governador do Distrito de Bissau indica para a cidade da Praia que o estado sanitário da Guiné Portuguesa é satisfatório, um tanto contraditado pelo que, sucessivamente, informam os serviços de saúde; agora já há uma chalupa que leva regularmente o correio nas duas direções entre a Praia e Bissau; há guerras tribais em Bolama, obras no Pidjiquiti, a chuva é abundante, a tranquilidade pública não tem sofrido alterações, a administração judicial não pode funcionar corretamente, não dispõe de recursos humanos e os serviços de saúde mencionam uma catadupa de maleitas, começa na letra A com aneurisma, amigdalite e alienação mental, findará com tuberculose pulmonar e úlceras. Já não se estranha o silêncio absoluto com o que se está a passar no Casamansa. Estamos em 1873, estes Boletins prolongar-se-ão até que a Guiné se torna numa província e disporá do seu próprio Boletim Official.

Um abraço do
Mário



Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX
(e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, de 1872 a 1873) (17)


Mário Beja Santos

É importante referir que o tema dominante se mantém, a saúde pública, as referências à cólera, à varíola, ao sarampo, o Governador Geral pretende que os serviços de saúde pública mandem regularmente notícias sobre a evolução do quadro sanitário. Mas, aqui e acolá, sentimos que algo vai mudando nas comunicações, no estabelecimento de infraestruturas, na adaptação da legislação, desde a fiscal à judicial.

No Boletim n.º 19, de 11 de maio, de 1872, publica-se a portaria n.º 136 referente ao contrato celebrado em 6 de maio com o proprietário António de Sousa Machado, dono da chalupa Cabo Verde para que esta embarcação seja empregue pelo serviço de correio entre Cabo Verde e o Distrito da Guiné pelo tempo de 1 ano. “Outrossim há por conveniente determinar que o Governador do Distrito da Guiné Portuguesa, servindo-se para isso da escuna Bissau, ou de qualquer navio ou navios fretados para tal fim, tome as medidas necessárias para que, na ocasião da partida mensal da chalupa Cabo Verde do porto de S. José de Bissau para este arquipélago, esteja habilitado com notícias recentes dos concelhos de Cacheu e Bolama e possa informar o Governo Geral do estado de todo o distrito confiado à sua administração.”

E na sequência desta notícia publica-se o contrato referente à chalupa Cabo Verde: o proprietário da chalupa obriga-se a prestar o serviço do correio uma só vez por mês, partindo da ilha de Santiago entre os dias 25 e 28 de cada mês, dirigindo-se direta e unicamente ao porto da vila de S. José de Bissau; o navio deverá demorar-se 48 horas em Bissau, exceto quando no Distrito da Guiné se tenham dado ocorrências imprevistas e importantes; o navio, nas viagens de serviço do correio, será obrigado a conduzir gratuitamente todos os passageiros de ré e até 15 de proa (mas sem abono de mantimentos) que forem mandados de um para outro ponto pelo Governo; o Governador Geral abonará ao proponente um subsídio de 200 mil réis por cada viagem redonda que a chalupa fizer nos termos contratuais.

No Boletim n.º 28, de 22 de julho, publica-se o extrato das notícias da Guiné Portuguesa:
“Era satisfatório o estado sanitário do distrito; bom o alimentício e pouco animado o comercial. A tranquilidade pública não havia sofrido alteração. Na ilha de Bolama continuavam as desinteligências entre as tribos gentílicas de Inté e Antula, tendo havido ataques em diversos dias, sempre com perda dos gentios de Antula. A guerra promete sustentar-se por terem ambas as tribos por auxiliar diversas outras de Balantas, e por se negar a entrar em negociações de paz o régulo de Antula, não obstante os esforços para isso empregados pelo governador do distrito.
Em Cacheu havia sido ratificada a paz feita em 27 de janeiro último entre a Praça e os gentios do Churo, assistindo à ratificação o governador do distrito, os grandes daquela tribo e os de Bassarel, por ser esta a que serviu de intermediário para a paz. Ficou, portanto, aquela praça em perfeita harmonia com todas as tribos limítrofes. Acham-se bastante adiantadas as obras da tabanca de Bissau, estando concluída a do Pidjiquiti em toda a sua extensão, na altura 2 metros. Também já se havia dado princípio à tabanca que fecha a vila do lado da Puana. O rendimento das alfândegas do distrito no mês de abril foi o seguinte: 2:087$708 réis em Bissau; 3:163$363 réis em Bolama; 192$000 réis em Cacheu.”


O Boletim n.º 86, de 29 de junho, traz o extrato das notícias da Guiné Portuguesa:
“Anunciou-se a estação chuvosa por fortes trovoadas e abundante chuva. Que à saída da chalupa Cabo Verde para a Praia era bom o estado sanitário em todo o distrito, continuando pouco animado o comercial. O estado alimentício, conquanto não abundante por ter sido escassa a colheita do arroz, não oferecia, todavia, receio. A tranquilidade pública não havia sofrido alteração.”

O Boletim n.º 27, de 6 de julho, insere o boletim sanitário de fevereiro de 1872, é extenso, alude às condições meteorológicas, ao vento predominante, ao estado do céu, nevoeiros nas manhãs, quais as doenças observadas na clínica hospitalar e na civil, há o movimento da população na freguesia de Nossa Senhora da Candelária, enuncia os batismos, os falecimentos e o estado de vacinação; dá-nos o quadro do mapa das doenças que foram tratadas no Hospital de Bissau e o resumo dos rendimentos das alfândegas de Bissau, Cacheu e Bolama.

Não se obtém mais informações sobre o ano de 1872, a não ser no Boletim seguinte, de 6 de julho, temos novamente o boletim sanitário, trata-se de fevereiro, muito afim ao anterior, irão aparecer mais, consideramos desnecessário a sua sucessiva citação. Na verdade, o que se diz no Boletim referente a fevereiro é que a febre lavra entre a população flutuante, caracterizada por dores articulares, semelhantes às do reumatismo, por dores nos ossos particularmente nas falanges, nos metacarpos e metatarsos, quanto ao mais temos o diagnóstico médico de mulheres indigentes, se houve ou não chuva, quais as doenças observadas e as doenças que foram tratadas no hospital militar de Bissau.

No Boletim Official n.º 4, de 25 de janeiro de 1873, diz-se que não há no território de Bolama o pessoal e mais condições necessárias para que ali funcione na plenitude a administração judicial na região. Neste mesmo Boletim, o Governador Geral manda executar uma igreja na vila de S. José de Bissau na importância de 9:000$00 réis.
Acontecimento histórico que se relata neste Boletim Official n.º 43, de 22 de outubro de 1870, a posse de Bolama por Portugal, estão presentes o Governador Geral, Caetano de Almeida e Albuquerque, representante britânico, J. Craig Loggie, secretariou o auto da posse o Segundo-Tenente da Armada Guilherme Augusto de Brito Capelo
Planta da Praça de Bissau, por Bernardino António d’Andrade, 1796
Máscara representando um búfalo, ilha de Uno, Bijagós, Museu Nacional de Etnologia, Lisboa

(continua)
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Notas do editor

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