domingo, 18 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25855: Facebook...ando (61): "Soldado Português", poema de Delfim Silvestre (1)

Desconhece-se o autor do painel de azulejos que representa a partida, no T/T Niassa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, de um contingente militar com destino a África.


Soldado Português

Lembras Maria,
Como tudo aconteceu?

O dia em que ele partiu
Naquele cais da saudade
Para uma nova realidade
Que mal podia acabar.
Tinhas lhe passado a roupa
Que ele trouxera da tropa
E estava agora a envergar.

Era um belo soldado
O que olhavas fardado
A entrar para o navio
Ele partia sorridente
Era um sorriso diferente
Que te causou calafrio.
Ficaste em terra a acenar
Já ia no alto mar
E tu de lenço na mão
Acenavas sem parar
Esse barco a navegar
Com os filhos da nação.

Deixavam a sua terra
Para uma outra, em guerra
Que eles não conheciam
Mas obrigados partiam…
Tanto tempo se passou
O soldado não voltou
E continuavas a esperar
O amor que então partira
E que jamais regressara
Morrendo no ultramar.

Hoje olhas com amargura
Para aquela sepultura
Uma, outra e tanta vez
Manténs no rosto marcado
Saudades do teu amado
O soldado português.
Lembras Maria?

Autor:
2024

_____________

Notas do editor:

- Delfim Silvestre é um velho colega de trabalho e amigo que conheço há muitos, muitos anos.
- Desde muito novo ligado a associações de juventude, cedo mostrou inclinação por tudo o que fosse cultura, desde música, desenho, escrita, entre outras manifestações.
- Tem já publicados alguns livros de poesia e quase diariamente escreve no seu facebook.
- Tendo sido militar, a sua idade permitiu-lhe no entanto escapar à guerra que nos afligia ainda nos anos 70. Não deixa mesmo assim de mostar alguma sensibilidade por quem, como ele diz e bem, foi para aquela guerra obrigado. Do nosso grupo de cinco colegas de secção, dois foram para a Guiné e um para Angola.
- Tendo lido este seu poema dedicado a uma "Maria" que viu o seu amado ir e não voltar da guerra, pedi-lhe para publicar no nosso blogue ao que ele amavelmente acedeu

Último post da série de 7 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25722: Facebook...ando (60): Fotos do A. Marques Lopes (1944-2024): viagem no T/T Niassa, e chegada a BIssau, em maio de 1968, para a segunda parte da comissão, (CCÇ 3, Barro, 1968/69)

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Carlos, obrigado, Delfim. Há milhares e milhares de Marias que ainda se reveem neste singelo poema. Mesmo que a chamada voz do povo insista em dizer que o tempo faz esquecer tudo... Sim, quem se lembra dos mortos de Alcácer Quibir ? Só dos desaparecidos, como o rei Dom Sebastião, que mesmo assim ainda há de chegar a terra portuguesa numa manhã fria de nevoeiro... (É, apesar de tudo, dos nossos mais belos mitos...).

Anónimo disse...

Pois eu parti triste e com um aperto na alma e no coração .
Presumo que isso me ajudou a safar. Isso e a vontade de contribuir para a mudança que acabou por ocorrer muito mais tarde do que devia.
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre o painel de azulejos, com o N/M Niassa ver aqui....

6 de março de 2018
Guiné 61/74 - P18386: Memória dos lugares (375): Lourinhã, Zambujeira e Serra do Calvo: monumento aos combatentes do Ultramar


Lourinhã > Zambujeira e Serra do Calvo > 25 de fevereiro de 2018 > "Homenagem da Zambujeira e Serra do Calvo aos seus combantentes"... Monumento inaugurado em 5 de outubro de 2013 (e não em 2015, segundo lapso do nosso colaborador permanente José Martins.). Foi uma patriótica iniciativa do Clube Desportivo, Cultural e Recreativo da Zambujeira de Serra Local.

Desconhece-se o autor do painel de azulejos que representa a partida, no T/T Niassa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, de um contingente militar que parte para África. Ao canto inferior esquerdo a quadra: "Adeus, terras da Metrópole / Que eu vou pró Ultramar /, Não me chorem, mas alegrem [-me], / Que eu hei-de regressar"... No chão, em calçada portuguesa, lê-se: "Em defesa da Pátria". Abaixo do panel, há um livro metálico com os nomes de todos os nossos camaradas, naturais das duas povoações, que combateram no Ultramar.