quinta-feira, 15 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Destacamento da Ponte dos Fulas > O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 passou por três unidades no TO da Guiné: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, com data de 14 do corrente, em resposta ao Beja Santos (1)

Meu caro Mário Beja Santos

Li atentamente o teu texto, que constituiu o post 2838 e não concordo com as conclusões que do mesmo retiras, ou seja, "que a guerra na Guiné estava militarmente perdida" (1).

Partes, julgo eu, de um pressuposto que os Mig iriam entrar na guerra da Guiné e então pode perguntar-se porque o não tinham feito até então.

Não tinham pilotos para eles, como dizes, mas repara que a entrada de pilotos russos na guerra poderia "internacionalizar" e abrir portas ao Estado Português, que até então estavam fechadas.

Uma coisa eram os cubanos, outra bem diferente eram pilotos russos a pilotarem aviões russos, por isso, e por muito mais razões, tenho sérias dúvidas que isso alguma vez fosse acontecer.

Mas se consideramos esse pressuposto como real, então temos de considerar também a possibilidade então muito falada e dada quase como certa de que o esforço de guerra em Angola, começaria a ser desviado para a Guiné, com a possível chegada também dos F 84, que são do mesmo tempo dos Mig.

Realmente, sei-o por experiência própria, a guerra em Angola praticamente já não existia, a não ser algumas acções esporádicas que se destinavam a tentar manter "vivos" os movimentos de libertação.

Sabemos bem que, à data do 25 de Abril, o MPLA era muito mais um partido político do que um movimento de guerrilheiros. Ao que se sabe, e agora se vai tornando cada vez mais claro, foram as Forças Armadas Portuguesas saídas do 25 de Abril que armaram este movimento na sua chegada a Luanda.

Falas em diversos documentos, reuniões, avisos, etc. mas nós sabemos por experiência própria que a informação que chegava a Lisboa, e até a Bissau, estava carregada de informações erradas, umas propositadas e outras não, apenas por incompetência.

Sabemos bem, e já foi dito no blogue, que havia informações "aumentadas" sobre o esforço de guerra tendo em vista a obtenção de mais meios militares para a Guiné.

Dizes também:

«Estuda os livros dos diplomatas que de 1972 a 1974 procuraram comprar armamento em Washington, Londres, Bona e Paris.»

Meu caro Mário, sabemos que a compra de armamento nestas condições não se faz "governo a governo", mas sim por intermediários que a tudo têm acesso, e não constam obviamente das actas de qualquer reunião.

Aliás é do conhecimento geral que, na "voz do povo", poderia estar iminente a compra de Mirages para a Guiné, claro está, não ao Governo Francês.

Mas mais do que tudo isto fala a guerra no terreno!

Já o disse e repito, que "tiro o chapéu" ao PAIGC que soube unir esforços à volta de, essencialmente três quartéis das nossas Forças [, Guileje, Guidaje, Gadamael], criando nesses três espaços situações de terrível pressão e com isso transmitir uma sensação de que era o que se passava no resto do território.

Nada mais falso!

Com efeito na zona Leste circulava-se com relativa facilidade entre Xime e Nova Lamego, Bambadinca, Xitole, Saltinho, Galomaro, abria-se a estrada Jugudul/Potogole/Bambadinca, fiz não sei quantas seguranças a colunas de Mansoa para Mansabá sem uma única intervenção de guerra e por aí fora, numa situação que poderíamos dizer de guerra mas sem constrangimentos sérios.

A guerra estava perdida sim, mas não militarmente, e com isto não quero dizer que gostava ou quereria que ela continuasse.

Quero apenas fazer jus ao esforço extraordinário dos portugueses anónimos, que mais de vontade própria, ou mais obrigados, se empenharam em defender uma Pátria, (discutível na sua extensão), e que hoje são tão mal tratados pelos poderes públicos.

Não lhes retiremos ao menos a dignidade de saberem que não foi por não terem lutado, que a guerra se perdeu, mas sim pela politica errada de a mesma ter sido travada.

E não me apetece escrever mais nada agora, porque isto ainda mexe muito comigo.

Tomo a liberdade, que sei não levas mal, de dar conhecimento deste mail aos editores da nossa Tertúlia.

Um abraço amigo até Monte Real

Joaquim Mexia Alves


PS. Não revejo o texto que escrevi, não estou para isso, por isso mesmo desculpa o "atabalhoamento" que o mesmo possa conter!


2. Resposta do Beja Santos, na mesma data:

Assunto - Perguntas a um amigo querido, que vou rever em breve

Joaquim, meu querido penúltimo Comandante [do Pel Caç Nat 52]:

Desculpa ser breve,os funcionários públicos trabalham, tenho que seguir para Sintra, quando voltar vou para o computador escrever sobre a Operação Macaréu à Vista, é a minha sina.

Primeiro, peço-te que refutes Caetano, Spínola, Costa Gomes. Abandonar quase dois terços da Guiné, segundo Caetano, para quê? Costa Gomes propôs a retirada dos aquartelamentos limítrofes, Spínola recusou,tinha assumido compromissos com as populações, passou a batata quente ao seu sucessor.

Segundo, desenhava-se uma guerra convencional «à carta», as tropas do PAIGC despejavam os «órgãos de Estaline" quando queriam, sem resposta das nossas tropas, era uma nova inferioridade.

Terceiro, Marcello Caetano queria agir com legitimidade, em cooperação com os Aliados. Os Aliados abandonaram-no, não há qualquer referência na literatura disponível à compra no mercado negro de armamento, aliás fomos pesadamente afectados pela inflação, a partir de Setembro de 1973. No 1º trimestre de 1974 a taxa de inflação já estava elevadíssima, o dinheiro tornou-se caro e escasso.

Quarto, não entendo como vens invocar o heroísmo das nossas tropas quando o problema era tecnológico, tinha a ver com equipamento para o qual não havia resposta. Sim, fazíamos as estradas que referes,mas havia bolanhas cultivadas a 4 km do Xime ou Missirá. O IN nunca desarmou, nunca perdeu posições. O IN era uma república reconhecida por mais de 80 países, em finais de 1973. A nossa diplomacia tinha perdido tudo, na Guiné.Vamos conversar mais, em Monte Real.

Um abraço do Mário

3. Contra-resposta, rapidinha, do JMA:

Mário, meu comandante:

Resposta rápida também.

Quanto a Caetano, Spinola e Costa Gomes, não faço ideia que informações deram a Caetano que o levassem a propor tal coisa.

«Segundo,desenhava-se uma guerra convencional «à carta», as tropas do PAIGC despejavam os«órgãos de Estaline quando queriam, sem resposta das nossas tropas,era uma nova inferioridade.»

Porque é que não havia de haver resposta das nossas tropas? E onde é que estavam os órgãos de estaline?

Com certeza que não há referência a compras de armamento o que não quer dizer que não existissem.

As bolanhas seria no teu tempo, porque no meu nem pensar.

O IN nunca perdeu posições?

Falaremos então em Monte Real.

Abraço amigo do
Joaquim
_________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Depois da caçada há que preparar o bicho, tal qual uma matança de porco numa das nossas aldeias".

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "É hora de levantar cada um a sua parte e comer em família, cada um em sua tabanca [morança]".


Fotos e legendas: © José Manuel (2008). Direitos reservados

1. Mais um poema do dia (e duas fotos) do nosso José Manuel (ou José Manuel Lopes), ex-Fur Mil Op Esp, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74 (1), que espero vir a conhecer pessoalmente no nosso III Encontro Nacional, no próximo sábado, dia 17...


Não consigo dormir
recordo
os companheiros de escola
que a guerra separou
o Tá está em Angola
o Miguel em Moçambique
o Guto esse não sei
nem do Pinto ou do Miranda
nem sequer do Manuel
relembro
as nossas venturas
tão diferentes destas aventuras
os jogos da bola
no largo da Igreja
no campo da Legião
das corridas por Medreiros
das surtidas pelas quintas
em operações
pela fruta madura
e o sono chega
nessa altura.

Mampatá 1973
Josema
________

Notas de L.G.

(1) Vd. postes anteriores:

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

Pior
que o inimigo
é a rotina
quando os olhos já não veem
quando o corpo já não sente (...)

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

Uma vida quanto vale?
na mira da minha arma
só há vultos
sem sentido
corpos sem alma
consciências amordaçadas
na outra mira
estou eu? (...)

O nascer de um bruto

Já não sei rezar
já não acredito
já não sei amar
só sei que grito (...)

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

Estradas amarelas
corpos cobertos de pó
pica na mão à procura delas
o polegar ferrado no pau
tac, tac, tac, tac, tac, tac (...)

Tenho saudades
do amor que não se compra
daquele que se sente
o tal
que vem de dentro (...)

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

A escuridão
pode não ser o fim
se após a noite
vier o dia (...)

Pensar que amar é dor
é não amaramar
é dominar
a violência
que há em nós (...)

-Sabes?
Sonhei
que as coisas boas
não acabaram (...)

Seria bom pronunciar
numa doce ilusão
um até sempre (...)

Quero sonhar
e não consigo
viver um mundo
que não tenho
nem encontro (...)

Gostava de vos falar
dos esquecidos
dos heróis que a história
não narra (...)

Olhos semi cerrados
querendo ver
para além das árvores (...)

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)

Calor, cansaço, suor
saudades de tudo
e de um rio... (...)

Ouve-se um violão
numa noite de luar
tocado pelo Gastão
p'ra algo comemorar
cantigas de Zeca Afonso

(...)

As brincadeiras loucas
acabam por ter sentido
se as alegrias são poucas
neste cantinho perdido (...)

Guernica!
pintura
visão, mensagem, recado?
para quem e porquê? (...)

Quantas batalhas e
pela ambição? (...)

O calor húmido nos envolve
abraça-nos a escuridão
e a noite se faz dia
c’o ribombar do trovão (...)

Neste imenso sofrer
pensar Nele ajuda
mas Ele parece não ouvir (...)

Um ruído vem do céu
e há cabeças no ar
hoje é dia de correio
há novas para chegar (...)

Quero ir
mas não sei onde
tudo me parece um delírio
sem sentido nem razão
neste mundo desumano (...)

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

(...)Recuso dizer uma oração
ao Deus que te abandonou
não sei se é do nó
que me aperta a garganta
ou da revolta que brota do meu peito
só sei que não consigo
desculpa... (...)

Escuta mãe
espero como nunca um conselho
mas não consigo ouvir a tua voz
aguardo um aviso
um sussurro de alguém
e só me responde o silêncio
como é duro estar só (...)

Este pó que nos seca a garganta
este calor húmido que sufoca
esta terra vermelha
que se cola ao corpo
estes estranhos odores (...)

Não quero os dias todos iguais
nem águas da mesma cor
pois a vida não é sóalegrias e beleza
e ainda muito menos
só a dor e a tristeza (...)

Como eram belas
as miúdas que conheci
as amigas as amantesas
de amores realizados (...)
´
27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Guiné 73/74 - P2843: Ainda os Comandos fuzilados após a independência (III): Alguns dados de 1965/66: Abdulai Queta Jamanca (Virgínio Briote)

Abdulai Queta Jamanca, Príncipe Fula



o 1º Cabo Abdulai Jamanca a ser condecorado com a Cruz de Guerra pelo Coronel Kruz Abecasis (Cmdt da BA 12) em 10 de Junho de 1967 (?).

Abdulai Queta Jamanca, Príncipe Fula, nasceu em Farim, em 5 de Janeiro de 1937.
Foi incorporado em 12 de Janeiro de 1956.

Foi um dos militares que em Outubro de 1963 se deslocaram a Angola para receber instrução "comando". Fez parte do grupo que actuou na Ilha do Como na op. Tridente.

Em Brá colaborou na instrução do 1º curso e, em data não determinada, foi evacuado, por acidente em serviço, para o HMP  Lisboa onde foi tratado durante alguns meses e regressou à Guiné já o curso tinha terminado, ficando a pertencer ao grupo "Panteras".

Em Setembro de 1965, ingressou nos Comandos do CTIG, tendo feito parte dos Grs Vampiros e Diabólicos.

Mais tarde, fez parte da 1ª CC/BCmds, tendo participado no ataque a Conakry, a operação Mar Verde, que levou à libertação dos nossos prisioneiros de Guerra.

Em Junho de 1973 foi nomeado para a CCaç 21, extinta em Agosto de 1974, e regressou à CC a que pertencia (documento em arquivo no ex-Regimento de Comandos) (1). Foi fuzilado em Bambadinca, em dia não apurado de Março de 1975.

Texto do louvor que lhe foi atribuído pelo Brigadeiro Reymão Nogueira, então Comandante Militar do CTIG, publicado na O.S. nº 27 de 07Jul66.

“O 1º Cabo nº 143/Rd, Abdulai Queta Jamanca, do Gr Cmds 'Vampiros' e posteriormente do Gr 'Diabólicos', pelo alto rendimento operacional dado em todas as operações em que tomou parte.

Tendo sido ferido em combate, depois de curado salientam-se as suas actuações nas operações Martingil, Narceja e Naja.

Na primeira abateu frente a frente um elemento IN armado de pistola-metralhadora, tendo pelo seu esforço permitido a captura desse material.

Na segunda, quando da batida feita pelo seu grupo na periferia da zona onde fora atingido um helicóptero e em que se encontrava instalado o IN, voltou a abater outro elemento IN.

Na terceira operação foi destacado com mais dois elementos do seu grupo para o interior da mata a fim de tentar localizar o acampamento IN. Missão de extrema dificuldade já que detectados perder-se-iam todas as hipóteses de êxito da operação. Mais uma vez se houve com êxito e tendo estado perto de um elemento IN, este não o conseguiu detectar.

(…).

Elemento muito disciplinado, com apurada técnica de progressão no mato, conhecedor de algumas línguas nativas, foi em grande parte das operações, o 1º homem do seu grupo, a ele se devendo, portanto, muitos êxitos conseguidos.


Militar muito dedicado ao Exército que serve há nove anos, já anteriormente condecorado com a Cruz de Guerra, com uma vida familiar irrepreensível, é em todos os aspectos do seu procedimento um exemplo de bem servir a Pátria pelo que merece o reconhecimento do Exército.”

_________

Notas de vb:


(1) Dados obtidos pelo Coronel Manuel Amaro Bernardo e publicados em Guerra, Paz e Fuzilamentos. Ed. Prefácio, 2007.

Artigos relacionados publicados em:




(...) "Eu (com os meus quase 11 anos) e muitos outros, em 1974, vimos os militares do PAIGC em dois camiões de fabrico russo, um deles completamente tapado de toldo. Passaram por Xime, de manhã, para Madina Cudjido (Colhido, como vocês dizem).

"Passados uns 30 minutos ouvimos muitos tiros. Só que por volta da hora do almoço ouvimos [dizer] que foram lá fuzilados 8 pessoas. E das pessoas que nós ouvimos que tinham sido fuzilados - não sei se corresponde a verdade ou não - um deles era o tal Abibo Jau (2) que esteve na CCAÇ 12 em Xime. A outra pessoa seria o Tenente Jamanca, da CCAÇ 21 que estava em Bambadinca.

"Mas tudo isso não me espanta porque os meus irmãos e primos que cumpriram o serviço militar no exército português, em Farim e depois em Bissau e Bambanbadinca, também foram presos, mas felizmente não lhes aconteceu o pior" (...).

Guiné 73/74 - P2842: Ainda os Comandos fuzilados depois da independência (II): Alguns dados de 1965/66: Justo Nascimento (Virgínio Briote)


Justo Orlando Nascimento, nascido no Cacheu em 12 de Dezembro de 1942, foi incorporado em 5 de Janeiro de 1963.

Em Setembro de 1965 acabou o 2º Curso de Formação de Comandos no CTIG, passando a integrar como 1º Cabo o Gr Cmds Vampiros/CCmds CTIG que se manteve em actividade até 30 de Junho de 1966.

O 1º Cabo Justo Nascimento que eu conheci, muito estimado por todos os Camaradas da CCmds, era um elemento em quem o grupo depositava grande confiança. Foi, durante a maior parte das operações realizadas pelo grupo, o 1º homem da 1ª equipa.

Transcrevo a seguir aquele que deve ter sido o primeiro louvor que o Justo Nascimento recebeu e que lhe foi atribuído pelo Comandante Militar de então, o Brigadeiro Reymão Nogueira e publicado no artº 6º da O.S. /CTIG, nº 26 de 30Jun66.
vb.
__________





Justo (o primeiro da esquerda), Jamanca (o 4º) e o Sisseco (o 6º), junto de alguns elementos do Gr Cmds Vampiros, na BA 12, momentos antes de entrarem para os helis. Finais de 1965.
"Louvo o 1º cabo nº 112/65/A, Justo Orlando Lopes dos Reis Nascimento, da CCmds e do Grupo de Cmds Vampiros, pelo modo como sempre se houve nas operações em que tomou parte com realce para as operações "Narceja", Virgínia" e "Naja".
Na primeira acompanhando o seu Cmdt de Grupo e tendo sido permanentemente o primeiro homem nas progressões, quando no final da operação se seguia para uma tabanca-porto e o IN flagelou da orla da bolanha, correu sobre o mesmo rompendo caminho à custa de fogo, o que lhe foi impedido por não se integrar na missão, já depois de ter corrido cerca de duzentos metros.
Na segunda, durante uma prolongada emboscada e quando já tinham passado 32 horas, passou um reduzido grupo IN, do qual um elemento pretendeu fugir, o 1º Cabo Justo largou a arma e de sabre em punho correu cerca de 100 metros até que o capturou.
Na terceira, recebeu com outros camaradas, a missão difícil de tentar, já de dia e depois do grupo instalado nas proximidades do acampamento, localizar as sentinelas e capturá-las. Foi depois, durante o ataque ao objectivo, o primeiro homem a entrar na base IN.
(....)
Por todas estas qualidades amplamente demonstradas, em todas as situações rapidamente se elevou no conceito de todos os camaradas perfazendo um conjunto de serviços que é de toda a justiça realçar".
__________
(*) Para mais informações sobre o caso dos militares fuzilados após a Independência, consultar o livro (se ainda houver no mercado) Ordem para Matar, de Queba Sambú, Lisboa, Ed. Referendo, 1989.

Guiné 63/74 - P2841: Estórias cabralianas (35): A bajuda de Belel, os Soncó e o amigo dos turras (Jorge Cabral)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (197o/72) > Um despojo de guerra, uma fotografia de uma bajuda, certamente de etnia mandinga, oferecida a um tal Soncó, tendo no verso a data de 2 de Fevereiro de 1971. Foi apanhada, a foto, pelo Jorge Cabral no acampamento temporário de Belel, a norte do Enxalé, a sul do Oio, no limite do Cuor, e do Sector L1 (1).


Foto : © Jorge Cabral (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Jorge Cabral, ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71, hoje jurista e professor do ensino superior universitário.

Estórias cabralianas > A bajuda de Belel... e o amigos dos turras (2)
por Jorge Cabral


Também eu entrei em Belel (1) em Junho de 1971. De Missirá até lá e de lá ao Enxalé, percorri o trajecto na companhia dos Páras e do Comandante do Pelotão de Milícias de Finete (3).

Saímos ao fim da tarde de Missirá, e pela manhã deu-se o assalto à Base. A resistência não foi muito forte, pois muitos fugiram. Ainda assim, alguns ficaram prisioneiros. Recordo um que ostentava umas divisas vermelhas de Cabo. Não se destruíram as instalações, armadilharam-se, designadamente, um depósito de arroz.

Lembro-me do Soncó ter quase causado uma catástrofe, quando a certa altura, me apontou ao longe tropa africana, dizendo-me que eram turras. Tratava-se da CCAÇ 12, que tomou parte na operação, saindo do Enxalé, e que logo depois embrulhou forte e feio, ao atravessar uma extensa bolanha.

Recordo o pesado bombardeamento da Força Aérea e a eficaz intervenção do Helicanhão.

Tive pois oportunidade de, sem ser convidado, visitar com o vagar possível a casa dos meus vizinhos.

Como recordação apenas guardei a fotografia de uma bela bajuda, certamente perdida na confusão da fuga. Tem a data de 2 de Fevereiro de 1971 e fora oferecida a alguém de apelido Soncó.

O especialista em Soncós, Beja Santos, que explique… Terei ido com um Soncó ao encontro de outro Soncó?

Ainda hoje, não entendo porque me mandaram sem o meu Pelotão. De quem foi a ideia? Do Polidoro? Ou de mais alto?

Como tive mais uma vez ocasião de confirmar no almoço da CCS / BART 2917, os boatos sobre a minha pretensa amizade com os guerrilheiros corriam... Contou-me o motorista Rogério, adido em Missirá, que uma vez o fui acordar às três da manhã, para me levar a Bambadinca, pois esquecera o meu pingalim. E que ele foi, sem medo nenhum, pois "toda a gente sabia que os turras gostavam do Alferes Cabral" (sic)...

Terá sido obra dos boatos, feitos mito. Mistério que um dia gostaria de desvendar…

A fotografia é esta que junto. Mas será legítimo e ético publicá-la? A decisão é vossa!

Jorge Cabral


2. Comentário de L.G.:


É uma despojo de guerra, meu caro. É cruel, mas é assim. Antes uma foto do que uma orelha. Ou uma orelha com brincos. Ou uma perna. Ou uma cabeça. Percebo o teu pudor, que não era certamente o do teu amigo Polidoro, já falecido, tenente-coronel, spinolista, último comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) na altura em que nós, os quadros metropolitanos da CCAÇ 12, fomos rendidos individualmente (Fevereiro/Março de 1971). Não sei por que caíste no goto do homem com quem andei no mato, uma vez, mas com quem não privei, como tu. Era um durão, ele, e certamente que adorava o teu gosto pelo teatro do absurdo. Em Belel, quis-te pôr à prova. Ou lixar-te. A tua fama vinha de longe e ele, por certo, sabia que Cabral só havia um..., o de Missirá e mais nenhum! ... Tal como Tigre de Missirá só houvera um, o nosso Beja Santos, ao tempo do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)...

Escrúpulos já não tenho eu, ao transformar esta tua história em estória... cabraliana.Tu também nunca fizeste questão de separar a ficção e a realidade, o humor e o depoimento, a estória e a história. Ou melhor, contigo, connosco, lá no cú do mundo, nunca se sabia onde acabava uma e começava outra... Espero que não me leves a mal, mas os teus fãs (onde eu me incluo) têm feito insistentes pedidos para publicar mais uma estória cabraliana... Ando a ver se isto esticadinho, chega a livro. Esta é a estória cabraliana nº 35. Ainda falta 15 para a meia centena. Em boa verdade, andas pouco produtivo ou então muito ocupado com a tua criminologia e o teu instituto e o teu ganha-pão de advogado. A última estória aqui publicada data de 10 de Março (2)... Desculpa o castigo, mas foi por uma boa causa.

Fica por responder a tua pergunta sobre legitimidade e ética. Estou a ver que vou ter que arranjar um comité de deontogia e ética (bloguísticas) para apoiar os nossos editores. Além de um conselho editorial... Pensa nisso, já que és jurista. Vemo-nos em Monte Real. Faz boa viagem. E, por favor, não alimentes mais boatos... sob pena de, in extremis, ainda ires parar a tribunal militar, acusado do crime (que nunca prescreve) de traição à Pátria que te pariu. Humor, puro humor negro, com a cumplicidade do editor... L.G.
___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

11 de Maio de 2008 > Guiné 63/74: P2833: Op Gavião (Belel, 4-6 de Abril de 1968) (Armando Fernandes, Pel Rec CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68)

7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2817: Blogoterapia (51): O Alentejo do Casadinho e do Cascalheira, o Tura Baldé, a Op Gavião... (Torcato Mendonça / Beja Santos)

10 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2831: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (31): Tigre Vadio: Um banho de sangue no corredor do Oio


(2) Vd. último poste desta série > 10 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2623: Estórias cabralianas (34): O Alferes, o piano e a Professora (Jorge Cabral)

(3) Vd. poste de 19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2778: Álbum das Glórias (45): Bacari Soncó, ex-comandante do Pel Mil Finete e actual régulo do Cuor, Janeiro de 2008 (Beja Santos)


Guiné-Bissau > Janeiro de 2008 > Fotografia de estúdio de Bacari Soncó, antigo comandante de milícias de Finete, na altura em que o Beja Santos era o comandante do Pel Caç Nat 52, e estava em Missirá (Agosto de 1968/Outubro de 1969), e actual régulo do Cuor.


Foto: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.

Originalmente, em finais de 1968, o Pelotão de Milícias de Finete era o nº 102, e pertencia à Companhia de Milícias nº 1 . Em Missirá estava o Pel Mil 101, o Pel Mil 103 em Moricanhe, o Pel Mil 104 em Taibatá e Amedalai, e o Pel Mil 105 em Demba Taco. No final da comissão do BCAÇ 2852, em Maio de 1970, o Pel 201, o Pel 202 e o Pel 203, da Comp Mil nº 1 estão em Missirá, Finete e Madina Bonco/Bissaque, respectivamente. Por sua vez, Amedalai (Pel Mil 241), Taibatá (Pel Mil 242) e Demba Taco (Pel Mil 243) pertenciam então à Comp Mil nº 14. Moricanhe tinha sido abandonada em Junho de 1969. O respectivo Pel Mil (o 145) foi para Amedalai. Teria havido, portanto, uma reorganização das milícas do sector L1, da Zona Leste. Tudo isto girava (ou parecia girar) sob a batuta do poderoso régulo de Badora, fiel aliados dos tugas, e de quem se dizia que tinha 50 mulheres, uma cada tabanca do seu chão... e vários filhos na CCAÇ 12. Terá sido executado, publicamente, em Bambadinca depois da Independência. Curiosamente, temos falado muito pouco deste cabo de guerra e chefe tribal, precioso aliado das NT e da administração portuguesa. Na história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), faz-se-lhe justiça, ao escrever-se a seu respeito o seguinte:

"(...) "A população Fula de um modo geral é-nos favorável, sendo de destacar o regulado de Badora que tem como chefe/régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus. Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido no meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população fortes dúvidas se tem, especialmente Nhabijões, Xime e Mero" (...).

Ainda de acordo com a mesma fonte, em 2 de Junho de 1969, "três grupos não estimados flageram durante a noite, simultaneamente, os Destacamementos de Amdedalai, Demba Taco e Moricanhe, utilizando 7 canhões s/r, 8 Mort 82, 13 LGFog, MP 12,7, várias ML e armas automáticas, causando 1 morto e 3 feridos, milícias, 1 morto e 4 feridos, civis, e danos materiais nas tabancas"...

Uns dias antes, a 28 de Maio de 1968, "um Gr IN de mais de 100 elementos flagelou com 3 canhões s/r, Mort 82, LGFog, ML, MP e PM, durante 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros"...

terça-feira, 13 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2840: Efemérides (7): Morrer em Guidaje...Mama Sumé, camarada Comando José Raimundo (Amílcar Mendes, 38ª CCmds)



Guiné > Região do Cacheu > Gr Comb da 38ª Companhia de Comandos > Dia de Natal: 25 de Dezembro de 1972. Subindo o Rio Caboiana, afluente do Cacheu, em LDM... O soldado comando Raimundo está assinalado com um círculo, a verde. Foto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do Amílcar Mendes, recebida hoje:

Assunto - Um trágico aniversário

Amigo Luís Graça, se me for possível gostaria aqui de recordar que passam hoje, dia 13 de Maio (que coincidência!) 35 anos sobre os trágicos acontecimentos de Guidaje e prestar aqui uma sentida homenagem a todos quanto combateram e cairam em Guidaje, mas em especial relembrar o meu camarada Coamndo José Luís Inácio Raimundo que morreu neste dia num ataque, nas valas de Guidaje (1).

Amigo Zé, apenas para te dizer: Até quando Deus queira! Mama Sumé!

Amílcar Mendes, 38ª CCmds

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Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 30 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1223: Soldado Comando Raimundo, natural da Chamusca, morto em Guidaje: Presente! (A. Mendes, 38ª CCmds)

Vd. ainda:

22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1199: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (1): Sete anos de serviço

22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1200: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (2): Um dia de Natal na mata de Caboiana-Churo )

22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje

24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

Guiné 73/74 - P2839: Ainda os Comandos fuzilados a seguir à independência (I): O Justo Nascimento e os outros (Carlos B. Silva / Virgínio Briote)



Foto das ossadas de militares fuzilados na Guiné. Com a devida vénia ao autor, não identificado.

1. Mensagem de Carlos Silva, de 10 de Maio

Questão de justiça

Sobre o ex-Tenente Comando: JUSTO ORLANDO LOPES DOS REIS NASCIMENTO:

Venho por este meio lembrar (que) muito lamentavelmente o seu nome não consta na lista dos ex-Comandos Africanos, oficiais, que deram a sua vida pela pátria portuguesa desde a juventude. Igual a tantos outros, foi ferido em Tite, ao lado do então falecido, João Bacar Djaló e foi ao funeral do mesmo, engessado.

Foi Comandante da CCS do Batalhão dos Comandos Africanos, depois de suspender as actividades operacionais. Era muito conhecido para que o seu nome não conste na lista dos oficiais Comandos Africanos, no site, juntamente com os seus camaradas de Armas e que juntos combateram do mesmo lado.

Daí que, julgo, só fica bem e a bem da verdade fazer esta justiça e correcção em acrescentar o seu nome, como aos de Adriano Sisseco, Jamanca, António J.Gomes, Vieira e tantos outros.

Mais informo que ele também participou na célebre Operação Mar Verde, isto diz tudo.

Pela verdade e justiça e por sua alma e pelos filhos.

Obrigado pela atenção

Carlos B. da Silva
ex-Fur Mil CCAÇ 18,
Quebo 73
__________

2. Caro camarada Carlos B. da Silva,

Sobre os Comandos fuzilados na Guiné podes consultar os artigos relacionados, no nosso blogue (*).

Aproveitamos para juntar a relação dos nomes que constam da lista elaborada pelo Cor Manuel Amaro Bernardo (em Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros), a quem agradecemos todo o trabalho de recolha de informação sobre este caso que ainda nos dói.

vb
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Relação dos Comandos do BCA, fuzilados na Guiné (Provisória)

Nome, Posto, Companhia, Local, Data




Luís Assaul, Sold 2ª CC, (?), 1986



Fodé Baio, 1º Srg 1ª CC, Mansoa, (?)



Braima Baldé, Alf 1ª CC, Bambadinca, 1975



Dabo Baldé, Fur 2ª CC, Portogole (regressado de Dakar), (?)



Malan Baldé, Alf 3ª CC, Cumeré, (?)



Samba Baldé, Fur 1ª CC, Cumeré, (?)



Silvério Samba Baldé, Fur 2ª CC, Bambadinca, (?)



Armando Carolino Barbosa, Ten 2ª CC, Bambadinca, 25 Mar 1975



Braima Bari, Fur 2ª CC, Cumeré, (?)



Mamadú Saliú Bari, Alf 2ª CC, Cumeré, 1977



Américo Lamine Camará, Fur 2ª CC, Cumeré, 1975



Braima Camará, Fur, Gr Vingadores, Bissau, 1975



Bubacar Camará, Fur 3ª CC, Cumeré, (?)



Granque Camará, Sold 3ª CC, Bissau, 1979



Mussa Camará, Fur 1ª CC, (?), 1975



Quecumba Camará, 1º Srg 2ª CC, Mansoa (fuzilamento público), (?)






Tomás Camará (foto de Julho ? de 1966, op Atraca, corredor de Canja, Ingoré), Ten 1ª CC, Cumeré, 1975

Alfa Candé, Fur 2ª CC, Mansoa, 1975



Aruna Candé, 1º Srg 2ª CC, Cuntima, (?)



Aliu Sada Candé, Alf 2ª CC, Bambadinca, (?)



António Samba Juma Djaló, Alf 1ª CC, Bambadinca, 1975


Bacar Djassi (foto de Set? 1965, Gr Diabólicos), Ten 3ª CC, Cumeré, (?)



Bailo Djau, Alf 2ª CC, Cumeré, 1986



Alfa Embaló, Fur 2ª CC/Gr Vingadores, Cumeré, 1975



Fodé Embaló, 1º Srg 1ª CC, Bambadinca, (?)



Sijali Embaló, Fur 1ª CC, Cumeré, (?)



Anastácio Moreira Ferreira, Fur BCmds, Canchungo, Set 1974



Augusto Filipe, 2º Srg 1ª CC, Cumeré, (?)



Francisco Alenquer Imbadé, Fur 3ª CC, (?), (?)



Cube Jaló, Sold 3ª CC, Bissau, 1979








Mamadú Jaló (foto de Set? 1965, Gr Diabólicos), 1º Srg 2ª CC/ Gr Vingadores, Bafatá , (?)



Mário Bubacar Jaló, Fur 3ª CC, Portogole/Farim ? (regressado de Dakar), (?)


Abdulai Queta Jamanca (na foto, em Brá, Set 1965, Gr Diabólicos), Ten 1ª CC, Bambadinca, 1975


Carlos Bubacar Jau, Alf 2ª CC, Cumeré





Justo Orlando Nascimento Lopes (na foto de Set 1965, Gr Vampiros)Ten 1ª CC, Canjambari, Set 1974)


Manga Mané, Fur 1ª CC, Zinguinchor, Dez 1975


António Mendonça, Fur 2ª CC, Portogole (regressado de Dakar) (?)


Belente Mepe, Fur (preso em 19 Nov 1974), (?), (?)


Marcelino Moreira, Alf 2ª CC, Mansoa, 1975


Marcelino Pereira, Alf 2ª CC, Cumeré, (?)


Col Quessange, 1º Srg 3ª CC, Mansoa (fuzilamento público) (?)


José Aliú Queta, 1º Srg 2ª CC, Mansoa, (?)


Tumane Queta, Sold BCmds, Cumeré, 1975 (?)


Amarante Saja, Fur 3ª CC, Cumeré, (?)


Zacarias Saiegh, Cap 1ª CC, Portogole, 18 Dez 1978


Carlos D. Facene Samá, 2º Srg 2ª CC, Portogole, (?)


Demba Cham Seca, Alf 1ª CC, Bambadinca, 25 Mar 1975


Adriano Sisseco (na foto, em Bissalanca, Dez ? 1965, Gr Vampiros), Cap 2ª CC, Portogole, 18 Dez 1978

Braima Turé, Fur Gr Vingadores, Cumeré?, 1975?


João Uloma, Alf 1ª CC, Canjambari, (?)


António Vasconcelos, Alf 3ª CC, Bafatá, Dez 1975


Cicri Marques Vieira, Ten 2ª CC, Portogole, 18 Dez 1978

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Notas de vb:

1. Texto e imagens da responsabilidade de vb.

2. Informações recolhidas do livro Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo, Ed. Prefácio, 2007.

3. Há informações (ainda não totalmente confirmadas) de mais nomes de militares Cmds fuzilados.

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(*) Artigos relacionados em

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)

2 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (7): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)

2 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (6): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)

31 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)

30 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)

28 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)

19 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)

31 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)

27 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)

23 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

6 de Março de 2006 >
Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

Um exemplar do caça MiG 15, de origem soviética. Em 22 de Novembro de 1970, um dos objectivos da Op Mar Verde, era a destrição dos MiG 15 e MiG 17 estacionados no aeroporto de Conacri. Era uma ameaça real para a nossa Força Aérea e para os nossos aquartelamentos no sul da Guiné ? A siga MiG quer dizer, em russo, Gabinete de projectos aeronáuticos da URSS, que se especializou no desenho e construção de aviões de caça e de intercepção. Mikoyan e Gurevich são os apelidos dos seus dois primeiros engenheiros-chefes. O MiG 15, monolugar, com uma máxima de 1076 km/hora, tornou-se célebre durante a guerra da Coreia. O MiG 17 combateu na guerra do Vietname... O MiG 19 já era supersónico... Fonte: Wikipedia (Foto: copyleft).


1. Mensagem de Beja Santos, dirigida ao Antóno Graça de Abreu, com conhecimento aos nossos editores:

Meu prezado António Graça Abreu e prezados tertulianos:

Enviaste ao Luís Graça, enquanto eu estava de férias, uma apreciação a uma recensão que fiz a um dos livros mais tragicómicos que me foi dado a ler nos últimos anos, acerca dos fuzilamentos dos Comandos guineenses. Aí teceste considerações de elevado teor crítico ao conteúdo da minha recensão, chegando a referir que eu tinha feito declarações infelizes.

Por razões da vida profissional e que também se prendem com a conclusão do segundo volume [do meu Diário da Guiné, 1969/70], não pude responder ao azedume do teu mail. Serei breve. Por favor, estuda. Estuda o que escreveram Marcello Caetano, Spínola e Costa Gomes. Estuda os livros dos diplomatas que de 1972 a 1974 procuraram comprar armamento em Washington, Londres, Bona e Paris.

Quando um Presidente do Conselho propõe em plena sessão do Conselho Superior de Defesa Nacional, em 1973, que a maior parte do território da Guiné não é defensável, na actual conjuntura, a retirada estratégica para os territórios da península de Bissau, que guerra não está perdida?

Quando, nesse mesmo ano de 1973, o general Spínola depois dos acontecimentos relacionados com a chegada dos mísseis terra-ar e com a tentativa bem sucedida do PAIGC em atacar quartéis na Zona Norte com foguetões refere ao ministro do Ultramar que é indispensável armamento compatível sob pena de se entrar em colapso militar, qual a situação risonha de que dispunham as Forças Armadas, quando foi respondido que não havia armamento compatível?

Quando o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Costa Gomes, que se opôs à tese drástica do abandono da maior parte dos aquartelamentos, sugere superiormente a retirada de um conjunto de quartéis das Zonas Leste e Norte, que atmosfera de vitória, com que entusiasmo era possível combater?

Tudo isto está documentado, é público, é acessível a quem quiser ir às livrarias. O que ainda falta saber são duas coisas: a primeira, tem a ver com a documentação de chancelaria entre o Governo, as embaixadas e os representantes pessoais que dirigiram missões para adquirir armamento, essa documentação só estará disponível dentro de décadas; a missão secreta, em Londres, em Janeiro de 1974, entre representantes de Marcello Caetano e uma delegação do PAIGC continua por desvendar, por ambas as partes.

As guerras não se ganham nem se perdem quando as forças em contenda têm equilíbrio no que pensam e na força de que dispõem. Qualquer história da civilização explica como um avanço tecnológico pode levar à derrota de uma das forças em presença. A armada turca era muitíssimo mais forte que a frota de Afonso de Albuquerque. Só que este tinha as bombardas e a frota inexpugnável dos turcos foi desbaratada à entrada do Mar Vermelho. O mesmo se sabia em Lisboa do que representaria a entrada em cena dos MiG, era uma questão de meses (2).

Se subsistirem dúvidas sobre os livros que aqui refiro, posso levá-los para Monte Real. Aceita os melhores cumprimentos do

Mário Beja Santos.
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Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 30 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

(2) Já em 22 de Novembro de 1970, aquando da temerária invasão de Conacri, um dos grandes objectivos era a destruição da frota de MiG 15 e MiG 17, de origem soviética, que constituíam uma potencial ameaça às NT no CTIG. O PAIGC nunca teve aeronaves, ao que parece. Mas o regime de Sékou Touré, um dos aliado da União Soviética em África, poderia decidir em quakquer altura pô-los ao serviço do PAIGC... Felizmente, para nós, que nunca o fez. Também, ao que parece, nunca teve pilotos devidamente treinados. É possível que os MiG de Conacri não passassem, na época, de um tigre de papel... No entanto, a não-destruição dos MiG terá levado o comandante Alpoím Galvão a alterar os planos e a regressar à base, de imediato, depois de conseguida a libertação dos prisioneiros portugueses, a destruição das lanchas do PAIGC e de outros objectivos menores.

Vd. Fórum Armada: Fórum Não-Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa > Operação Mar Verd- 2ª Parte- A decisão e a preparação
(...) "Mas em Lisboa surgiram dúvidas quanto à validade da operação, nomeadamente da parte do Ministro do Ultramar, Joaquim da Silva Cunha. Ao mesmo tempo, em Bissau, Spínola e Calvão mudavam de planos quanto à operação. Alpoim Calvão propôs que já que se fazia um incursão a Conakry, se devia aproveitar a ocasião para libertar os militares portugueses feitos prisioneiros pelo PAIGC (cerca de vinte) e que eram mantidos na cidade. Spínola concordou e os planos para a operação foram sendo feitos.

"No entanto, começaram a ser equacionados outros objectivos. Se para a Marinha existiam as lanchas Komar e P6, para a Força Aérea existiam os caças MiG-15 e MiG-17 da Guiné-Conakry que, se pilotados por soviéticos devidamente treinados (como acontecia frequentemente em países aliados da URSS) poderiam tirar partido das limitações da Força Aérea Portuguesa, cujos Fiat G-91 não estavam vocacionados para o combate aéreo. Destruir os MiG da mesma forma como se destruiriam as lanchas eliminaria esta ameaça à supremacia aérea portuguesa" (...).

Vd. Fórum Armada: Fórum Não-Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa > Operação Mar Verde > 3ª Parte - A operação
(...) "A esta mesma hora é comunicado desde as equipas em terra que, segundo os soldados feitos prisioneiros, os Mig foram enviados para o aeródromo de Labé no dia 20, devido a uma remodelação ministerial. Uma falha da intelligence.

"Este é um grave revés para a operação já que a segurança das forças será seriamente comprometida pela possível entrada em acção dos MiG. As únicas armas anti-aéreas disponíveis são os canhões Bofors de 40mm que equipam as lanchas. Num espaço aéreo limitado como é o caso, com 10 canhões até há razoáveis hipóteses de atingir os aviões, mas os navios são alvos fáceis para um ataque aéreo. Alpoim Calvão dá ainda ordem à equipa SIERRA para destruir a pista antes de retirar, mas já não têm o morteiro e as minas de fragmentação para o poder fazer. A equipa reembarca na Hidra pelas 04h15.

"Falhada a destruição dos MiG, subsistia ainda a esperança de se encontrar Sékou Touré" (...).

Guiné 63/74 - P2837: Aqueles que nem no caixão regressaram (6): O infeliz António da Purificação Marques, morto no Cantanhez (Mário Fitas)


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério Municipal > Talhão Militar Central > Abril de 2006 > Monumento que celebra os soldados portugueses, mortos nas diversas campanhas de pacificação da Guiné, desde a Campa do Geba (1890) à Campanha do Cuor (1907/08), passando pelas Campamhas do Oio e Bissorã (1913), onde se destacou o Capitão Diabo, Teixeira Pinto. Neste cemitério (que tem três talhões, reservados aos combatentes portugueses mortos em campanha), repousam os restos mortais do Sold António da Purificação Marques, morto no início do ano de 1966, em combate, em Darsalame, no Cantanhez. Campa nº 33.


Fotos: © Hugo Costa (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do Mário Fitas, com data de 6 de Maio de 2008, comentando o poste P2811 (1):

Transcrição de o meu livro Putos, Gandulos e Guerra, publicado em 2000 (2):


"XIIO - Mamadu de Férias no Hospital Militar

"Natal de 1965, Natal de guerra em descanso. Hoje é dia de tréguas. Passagem de Ano de 1965/1966. Novas tréguas, mas os nossos obuses flagelam Cabolol, Cobumba e Caboxanque, para desejo de Bom Ano. Será mais manobra de diversão do que outra coisa. Pressente-se que algo está para acontecer.


"Há uma semana que o P2V5 sobrevoa o Cantanhez e descarrega toneladas de bombas. É um festival pirotécnico extraordinário. O nosso avião lança balões iluminantes, e as antiaéreas do PAIGC, com balas tracejantes, ajudam a abrilhantar a festa. Em Cufar o pessoal assiste aos rebentamentos que, apesar da distância, estremecem os abrigos. Deve ser cada ameixa! Vamos ver os efeitos? E fomos mesmo!...Mal pensávamos nós que aquilo sobrava para a Companhia e muitos outros.

"A três de Janeiro do ano da graça de Deus de 1966, é lançada uma ofensiva sobre o Cantanhez. Dois destacamentos de Fuzileiros, uma companhia de Pára-quedistas e quatro companhias do Exército. A Companhia [, a CCAÇ 763,] como não podia deixar de ser lá estava no rol da SAFARI. Objectivo: dar combate ao inimigo na região de Darsalame e Cafal onde se encontra a base principal IN da zona Sul."

Se a memória não me falha, a CCAÇ 1423 aparece na retaguarda do grupo do PAIGC, que retinha a CCAÇ 763 a Norte da bolanha de Darsalame. Vendo-se entre dois fogos , o grupo do PAIGC fugiu ao combate. O infeliz António da Purificação Marques é atingido por uma bala perdida em pleno coração. Ao anoitecer, o Fur Mamadu é evacuado de lancha para Catió e na manhã seguinte para o HM onde é operado de urgência a duas hérnias inguinais em estrangulamento.

Era assim a guerra!... E foi assim junto à margem do Cumbijã, o fim da vida do jovem de Povolide, Viseu, onde deveria repousar eternamente. Bissau não é terra dele! Nem há rosas como as que crescem em Viseu. Que Pátria ingrata, Rapaz!

Para toda a Tabanca, o abraço de sempre do tamanho do Cumbijã,


Mário Fitas

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Notas dos editores:

(1) Vd. 5 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)

(2) Vd. poste de 5 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)

Nome: António da Purificação Marques,
Posto: 1.º Cabo
Unidade: CCaç 1423
Data da morte: 03.01.66
Local da morte: Darsalame
Causa da morte: Ferimentos em combate
Naturalidade: Povolide, Viseu
Local de sepultura: Cemitério de Bissau, Campa 33, Guiné.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2836: Aqueles que nem no caixão regressaram (5): Alguns casos da minha unidade, a CART 1690 (Geba, 1967/68) (A. Marques Lopes)

Guiné > Zona Leste > Agrupamento de Bafatá > Subsector de Geba > CART 1690 (1967/68) > Destacamento de Cantacunda > O jovem Alf Mil A. Marques Lopes... Este destacamento da CART1690 ficava a cerca de 40 kms da sede da companhia, perto da base que o PAIGC tinha em Samba Culo (na margem sul do rio Camjambari).




Na noite de 10 e 11 de Abril de 1968, o destacamento de Catacunda foi atacado e assaltado por tropas do PAIGC, com a cumplicidade de elementos da milícia e da população locais. Desta acção - uma das mais espectaculares do PAIGC no CTIG, no decursso da guerra colonial - resultaram 11 prisioneiros e 1 morto. Os prisioneiros foram levados para Conacri. Um, pelo menos, ficou por lá, morto devido a doença, em 20.12.68: Luís dos Santos Marques, Soldado. Era natural da Serra Verde, Aguiar da Beira. Os restantes foram depois liberdados em 22 de Novembro de 1970, na sequência da Op Mar Verde.

Fotos: © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf(Hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro) . Vive em Matosinhos.

A Mensagem, de 9 de Maio último, é dirigida ao Benito Neves, com conhecimento aos editores:

Caro amigo: Pode haver razões para o José Henriques Mateus (1) não aparecer:

1 - Ponho a hipótese de uma falha minha na elaboração da lista de Os que nem no caixão regressaram (2). É um livro grosso [, o da CECA, com os mortos em campanha na Guiné,] e eu andei à pesca dos que estavam nessa situação, foi um trabalho moroso e de muita atenção, algum ou alguns podem ter sido passados.

2 - No caso concreto desse camarada, pode ter sucedido que, na altura da elaboração do livro da CECA sobre os mortos na Guiné, a situação dele não estivesse ainda oficialmente determinada.

Muitos casos, aliás, estarão dependentes desta última condição. Alguns mal. E dou-te o exemplo de alguns casos da primeira companhia onde estive, a CART 1690:

- o soldado Armindo Correia Paulino foi dado como "retido pelo IN" em 19DEZ68, mas há quem diga que ele foi morto em combate, e também não apareceu entre os libertados aquando do ataque a Conakry;

- o soldado António Domingos Gomes foi dado como desaparecido em campanha em 21AGO67, mas eu vi-o morto nesse dia;

- o alferes Fernando da Costa Fernandes foi dado como desaparecido em campanha em 19DEZ67, mas há quem o tenha visto morto nesse dia;

- o soldado Agostinho Francisco Câmara também foi dado como desaparecido em campanha em 16OUT67, mas também há quem o tenha visto ser abatido.


O António Batista da Silva, o nosso camarada da Maia, a quem chamamos o morto-vivo do Quirafo (dado como morto pelas NT, em Abril de 1972, feito prisioneiro pelo PAIGC e por fim libertado já em Agosto ou Setembro de 1974)...

O Batista foi vítima, entretanto, da máquina burocrática do Exército Português, num processo digno do génio do Kafka, ao tentar recuperar a dua identidade e a sua dignidade, por que o obrigam a fazer o ónus da prova de estar vivo, de ter estado estado na Guiné do serviço da Pátria, de ter sido feito prisioneiro, de ter sido libertado e recambiado para a terra... Um pesadelo!

E há o caso do nosso conhecido "morto-vivo", o Batista, que ainda agora anda a tentar demonstrar que, afinal, está vivo...

Abraço
A. Marques Lopes
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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 9 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2821: Aqueles que nem no caixão regressaram (2): O caso do José Henriques Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves)

(2) Vs. poste de 5 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)

(3) Vd. o último poste sobre o nosso camarada a quem, na brincadeira, chamamaos o morto-vivo do Quirafo

domingo, 11 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2835: Ser solidário (10): A AOFA (Associação dos Oficiais das Forças Armadas) apoia a ADFA (A. Marques Lopes)


Primeira página do Jornal ELO - Maio de 2008 (, disponível em formato pdf)
Cortesia da ADFA (2008)

A Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), fruto da tomada de consciência, por parte dos deficientes militares, do seu direito à dignidade, à reabilitação e à participação activa na comunidade, foi criada em 14 de Maio de 1974.
Os mais de 15 mil associados efectivos são cidadãos que se deficientaram durante a prestação do serviço militar, nomeadamente na guerra colonial que se desenrolou no período de 1961 a 1974 nas três frentes, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, assim como aqueles que, à data da morte do militar ou do deficiente, dele dependiam directa e economicamente. (...)




do site da
ADFA
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Associação dos Deficientes das FA


Mensagem do A. Marques Lopes, de 11 de Maio:

Para os que são DFA, dou-vos conhecimento de um comunicado da AOFA (Associação dos Oficiais das Forças Armadas).

A. Marques Lopes
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Caros camaradas,

Na sequência do desconhecimento de qualquer resposta concreta por parte do M. Defesa Nacional relativamente às questões que a AOFA colocou com carácter de urgência a S. Ex.ª. o MDN em 27FEV08, analisadas em Reunião ocorrida em 24 de Março de 2008 com o Gabinete e diversos departamentos do MDN e decorridos mais de dois meses, tendo-se verificado a continuada degradação das condições de Assistência na Doença dos Militares e das suas famílias, apesar da informação recebida do Gabinete do MDN de que os assuntos colocados estão a receber a atenção e o tratamento adequado, pretendendo o MDN fornecer, em tempo, uma resposta global melhorando o funcionamento da ADM;

Comungando das preocupações, em muitos casos coincidentes, dos Deficientes das Forças Armadas, designadamente no que se refere à degradação das condições da ADM, com especial relevo no que respeita a um universo (parcialmente comum) que importa considerar em absoluto e ao qual todos os militares em geral estão potencialmente sujeitos no futuro;

Constituindo um dever cívico fazer respeitar os compromissos políticos assumidos, o Estatuto da Condição Militar e os serviços prestado à Pátria;

A direcção da AOFA decidiu prestar solidariedade activa à ADFA e participar na Manifestação promovida pela ADFA, através de uma delegação dos corpos sociais e difundir a participação junto dos seus sócios.

Concentração em 14MAIO08 pelas 14h30 junto ao HMP na Estrela, seguindo-se o deslocamento para a Assembleia da República.

Com cordiais cumprimentos,

Alpedrinha Pires, Presidente da AOFA

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adaptação do texto da responsabilidade de vb.

Guiné 63/74 - P2834: Ser solidário (9): Sementes para a população de Cabedu, Cantanhez, Região de Tombali (Zé Carioca)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Sector de Bedanda > Cabedu > Simpósio Internacional de Guileje > 1 de Março de 2008 > O Zé Carioca, um dos Gringos de Guileje, também esteve aqui, emocionado e solidário, na inauguração da rede de distribuição de água potável à população.

Fotos: © José António Carioca (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do José António Carioca José Carioca, ex-Fur Mil Trms e Cripto, CCAÇ 3477, Gringos de Guileje, Guileje (1971/72) (1), com data de 8 de Maio:

Caro Luís

Li aqui no blogue o que o José Teixeira escreveu sobre a inauguração daquele chafariz que foi inaugurado num povoado perto de Cabedu (2). Também eu estive nessa inauguração, como podes ver na foto que anexo e em que estou a festejar com essa gente.

Quando a Mulher Grande da população, depois dos discursos, fez o pedido das sementes, que era de alfaces e tomates, eu fiquei extremamente sensibilizado, vieram-me as lágrimas aos olhos e disse ao Pepito:

- Eu ofereço as sementes para esta gente.

O Pepito logo na altura fez questão de me apresentar à população presente e os informar de que eu ia fazer essa oferta. Presentemente já tenho sementes para enviar e o Pepito disse-me para não enviar, porque a altura de semear é depois das chuvas. Então quando ele cá vier, vou-lhas entregar em mão.

Entretanto também tenho andado a fazer um pedido para a ajuda de comprar sementes mas só quando o Pepito cá estiver é que saberei que tipo de sementes se adaptam ao solo e clima da Guiné.

No projecto de intercâmbio cultural de que te falei, também faz parte um dia em que o meu grupo [de teatro], junto com o de Bissau [, os Fidalgos,] vamos plantar árvores. Já tenho quem me as forneça mas isto de enviar [para a Guiné] não é facil. Mais uma vez vai ser o Pepito quando cá estiver que nos vai dar essa informação sobre o tipo de árvores [de fruto] que lá se dão melhor.

Já agora dirijo-me ao José Teixeira para que nos juntemos para organizar este e outros tipos de ajudas. Se houver uma mobilização e organização concentradas e coordenadas dos nossos esforlos, a coisa tem mais possibilidades de ter êxito e de se fazer outros projectos.

Segue também uma foto que mostra a alegria daquela gente que tão bem nos recebeu.

Um abraço

José Carioca

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Notas de L.G:

(1) Vd. poste de 6 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2815: Tabanca Grande (67): Os Gringos de Guileje: Abílio Delgado, Zé Carioca e Sérgio Sousa (CCAÇ 3477, Nov 1971/ Dez 1972)

(2) Vd. poste de 7 de Maio de 2008 de Guiné 63/74 - P2816: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (5): Água, fonte de vida para as gentes de Cabedu

Guiné 63/74: P2833: Op Gavião (Belel, 4-6 de Abril de 1968) (Armando Fernandes, Pel Rec CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68)
















Cópias das páginas 43, 44 e 45 da História da Unidade: Batalhão de Artilharia nº 1904, 1966/68. Relatório da Op Gavião, iniciada em 4 de Abril de 1968: com a duração de três dias, e destinada a executar um golpe de mão contra o acampamento do Enxalé, do PAIGC, na mata de Belel, teve a participação da CART 2338, a 4 Gr Comb, mais o Pel Caç Nat 52 (Destacamento A), bem como da CART 2339, a 4 Gr Comb, mais o Pel Caç Nat 53 (Destacamento B). Foi comandada pelo 2º Comandante do BART 1904.


Documento digitalizado: © Armando Fernandes (2008). Direitos reservadas

1. Mensagem de Armando Fernandes, com data de 8 de Maio:

Professor Luís Graça:

Chamo-me Armando Fernandes, fui Alf Mil Cav, comandei o Pel Rec do BART 1904 que esteve sedeado em Bambadinca, de Janeiro a Setembro de 1968. Durante todo o ano de 1967 o Batalhão esteve sedeado em Santa Luzia, Bissau, onde rendeu, em Janeiro de 67, o BCAÇ 1876.

Entrei ontem, pela 1ª vez, no seu blogue e chamou-me a atenção o nome de uma operação referido em P2817 (1), Operação Gavião.

Sobre essa operação consta da história do BART 1904, pags.43/45 (edição não canónica em meu poder) que o Fur Mil Zacarias Saiegh nela participou,o que está em desacordo com uma resposta do Doutor Beja Santos registada em P2817. Parece, também, que relativamente à entrada em Belel há discrepância ente o registado na história do BART e o afirmado no mesmo post. Onde estará a verdade?

Em anexo envio cópia das páginas que referi.

Apresento os meus cumprimentos

Armando Fernandes

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, camarada Armando. É-nos muito útil essa informação. Vou dar conhecimento aos camaradas que têm escrito sobre a Op Gavião. A nós interessa-nos a verdade e só a verdade... Em muitos casos, há discrepâncias factuais entre os nossos relatórios de operações e os depoimentos pessoais. É normal.

O Mário Beja Santos , que comandou o Pel Caç Nat 52 (a partir de Agosto de 1968), não poderia obviamente ter participado nesta Operação Gavião (Abril de 1968). Socorre-se da memória dos seus antigos soldados, alguns dos quais felizmente ainda estão vivos e vivem em Portugal.

O ex-Alf Mil Torcato Mendonça e o ex-Fur Mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), esses, sim, participaram nessa Op, e estão aqui entre nós... Também vou ler, com atenção, os documentos que tiveste a gentileza de nos mandar.

Ficas, desde já, convidado a ingressar na nossa tertúlia ou Tabanca Grande. No caso de aceitares, julgo que serias o primeiro do teu batalhão (que eu já não conheci: cheguei a Bambadinca no dia 2 de Junho de 1969...). Um Alfa Bravo. Luís Graça

PS - Já agora, uma curiosidadade: foi no teu tempo que houve grave acidente em Bambadinca, originando o incêndio do paiol ? Alguém me contou essa história, julgo até que foi um camarada teu, alferes, que encontrei há uns três anos ou mais anos, na casa de uma amiga, numa festa... Infelizmente, não fiquei com o contacto dele... Mas falámos muito de Bambadinca.

Há aqui um hiato nas nossas memórias sobre Bambadinca: falta-nos saber coisas do teu batalhão e dos anteriores (por ex., BCAÇ 1888, que estava em Bambadinca em 1966)... Seguramente nos pode ajudar a colmatar essa lacuna... 

A malta de Bambadinca de 1968/71 (BCAÇ 2852 e unidades adidas) tem por hábito encontrar-se todos os anos. Deves conhecer malta da CCS do BCAÇ 2852. O Comandante do Pel Rec Info era o Alf Mil João Alfredo T. Rocha... Deste batalhão faziam parte as CCAÇ 2404, 2405 e 2406... Eu pertenci à CCAÇ 12, africana, no período que vai de junho de 1969 a marçod e 1971.

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Nota de L. G.:

(1) Vd. poste de 7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2817: Blogoterapia (51): O Alentejo do Casadinho e do Cascalheira, o Tura Baldé, a Op Gavião... (Torcato Mendonça / Beja Santos)

(...) "(iii) Tempos depois a Operação Gavião, em Abril de 1968. Participaram a companhia do Enxalé (capitão Pires, Zagalo Matos e outros), a tua companhia [, a CART 2339,] e os Pel Caç Nat 52 e 53. Inicialmente, estava destinado a ser uma operação de 5 dias, ficou-se em menos de três. Vocês saíram do Enxalé, numa lala perto de Madina, Tura Baldé, um milícia de Demba Taco, ao beber água numa fonte encontrou-se com um soldado do PAIGC que lhe deu um tiro, desacasos da fortuna. Na operação Gavião, o guia era Quebá Soncó, o filho primogénito do régulo Malã, que foi atingido por um tiro numa rótula, foi-lhe amputada a perna.

"Não ia o Saiegh mas os furriéis Vaz, Altino e Monteiro (o Saiegh chegou em finais de Maio de 1968, o alferes Azevedo já estava em Bissau, eu só cheguei em 4 de Agosto). Falas em que "partiram" Madina, Belel e Sinchã Camisa, para Queta Baldé e Cherno Suane, não foi bem assim. Com o tiroteio para tentar liquidar o executor de Tura Baldé, Madina esvaziou-se, o que vocês encontraram foi milho, roupas, esteiras, pilões e coisas parecidas. Para os meus informadores, não havia rasto de gente ferida ou morta.

"Quanto a Belel, a única vez que se lá entrou pelas picadas e com tropa do Exército foi no Tigre Vadio, em finais de Março de 1970 (3). Podes perguntar ao Luís Graça como tivemos sorte e como foi muito doloroso. Despeço-me com a esperança de te ver em Monte Real, tenho um projecto para debater contigo, para aproveitarmos as tuas belíssimas fotografias. E vê lá se acabas com essa conversa mórbida em que andas a dizer que não se recomenda que não estejas vivo, precisamos do teu azedume, da tua indignação, da tua heterodoxia.

"Um abração de estima, Mário" (...).