quinta-feira, 12 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10144: In Memoriam (121): António Machado, 1.º Cabo Especialista MARME, e António Rodrigues, Capitão Pilav, que pereceram num acidente de helicóptero no dia 12 de Julho de 1969, em Bafatá (Jorge Narciso)



1. Homenagem do nosso camarada Jorge Narciso (ex-1.º Cabo Especialista MMA, Bissalanca, BA 12, 1968/69) aos seus camaradas da FAP, António Machado, 1.º Cabo Especialista MARME e António Rodrigues, Capitão Pilav, que pereceram num acidente de helicóptero no dia 12 de Julho de 1969 em Bafatá:


In Memoriam 

Cap. Pilav António Rodrigues 
1.º Cabo Especialista MARME António Machado 

Mortos em acidente com um heli canhão em 12.Jul.69 em Bafatá 

Em Fevereiro de 2010 e a propósito dum Poste da Tabanca Grande acerca da captura do Cap Peralta no corredor do Guileje, fiz um comentário posteriormente transformado em Poste (P5756) e também publicado no Blogue dos Especialistas da BA12 (VOO 1462) onde em determinada altura e por analogia com um facto relacionado com o helicanhão ali referido, escrevi:

… este voo no canhão foi para mim perturbante, pois que uns meses antes (Julho/meu 3º mês de Guiné) estive também para voar (nesse caso por experiência passiva que, para sorte minha, não concretizei) no retorno duma outra Operação em Galomaro, voo esse com um fim trágico, traduzido no despenhamento do heli (a que assisti) ocorrido em Bafatá, com a morte do meu comandante: Major (a titulo póstumo) Rodrigues (Piloto) e dum camarada de todos os dias, o Machadinho - como lhe chamávamos - , Mecânico Armamento/Apontador.

Um dia destes tentarei fazer o relato que me for possível desta outra dramática ocorrência…


E no sentido de “pagar” esta divida, por diversas vezes o tentei, de facto, mas por este ou aquele motivo o resultado sempre se me pareceu insatisfatório. Com o passar do tempo e à guisa de autodefesa, foi-se-me adensando a dúvida se tal falha se resumia a uma evidente falta de engenho e arte, ou se o registo era de tal forma profundo, complexo e pessoal que seria mesmo compreensivelmente transmissível.

Assim arrumado, que não escondido, numa gaveta da memória, eis que um clique o fez emergir e duma forma instintivamente reactiva soltou o registo que se foi escorreitamente compondo.

Concretizando:

No final do passado mês de Maio, o Virgínio Briote (co-editor da Tabanca Grande ), sabedor através do Victor Barata (editor principal do BA12), que eu poderia dar algum testemunho sobre este assunto, contactou-me referindo que a filha do Cap Rodrigues, de quem é (ou foi) aluno, por sabedora da sua relação com os assuntos relativos à Guerra da Guiné, lhe referiu o acidente que vitimou o Pai, manifestando interesse em saber mais pormenores, nomeadamente da parte de pessoas que tenham lidado de perto com ele.

E como atrás refiro, duma maneira quase automática as memórias foram fluindo, os dedos foram-nas traduzindo para o teclado e a resposta, antes tantas vezes tentada, ali estava plasmada no monitor. E assim praticamente sem revisão a enviei ao Virgínio Briote para que da forma que melhor entendesse dele desse conta à Dra. Alexandra.

Recebido o texto instou-me o Virgínio a que o propusesse para publicação, tal como estava, ao Especialistas da BA12. Ponderado o assunto revisto o que escrevi, decidi seguir o conselho e com a dilação até esta data para que o mesmo se assumisse como homenagem aqueles companheiros, recebi o assentimento não só do Victor Barata como do Carlos Vinhal da Tabanca Grande a quem coloquei a mesma proposta.

Assim e apenas com correcções no que ao português (grafia pré acordo), diz respeito e com uma melhor precisão de alguns dos factos, aqui vai o citado texto (entenda-se como de resposta à citada solicitação)

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Em ambas as fotos o Cap Pilav Rodrigues é o primeiro à direita

Fotos: © Fernando Caroto e Jorge Félix


Resumindo o relato dos factos à expressão mais simples, poderia simplesmente dizer que:

1. No regresso de uma operação com tropas paraquedistas, com base em Galomaro, os 6 helis participantes (5 de transporte + 1 canhão) dirigiram-se a Bafatá para reabastecimento, antes do regresso a Bissau,

2. Neles viajavam, como habitualmente nestes casos, para além dos 6 Pilotos, uma equipa de manutenção composta por 4 mecânicos da linha, um apontador de canhão e uma enfermeira paraquedista

3. As condições atmosféricas, que já não eram boas à saída de Galomaro, agravaram-se entretanto significativamente, nomeadamente com forte chuva.

4. Chegados a Bafatá, aterraram normalmente cinco dos helis, enquanto o do canhão, na manobra de aproximação, embateu com o rotor numa das espias de aço da antena de comunicações implantada junto à pista, tendo-se despenhado e sequentemente incendiado no embate com o solo.

5. Nele assim pereceram os:
Cap PilAv Rodrigues, comandante da Esquadra 122 (Alouette III) e o
1º Cabo Especialista MARME António Machado, apontador do canhão.


Disparada assim factualmente a "chapa" instantânea do sucedido, importa aduzir agora algumas reflexões pessoais fundadas numa memória que neste caso se mantém impressivamente nítida.

* Eu era um dos membros da equipa de manutenção, sendo talvez esta, com os meus 2 meses e meio de Guiné, a primeira operação deste tipo em que participei.

* Havendo outras modalidades de realização, nesta operação de um só dia, os helis saíram de Bissau de manhã, dirigindo-se a Galomaro, local onde estavam já colocados os elementos do BCP que a iam realizar.

* Deixada a equipa de manutenção e a enfermeira, de imediato embarcaram os "Paras", não me recordo se numa ou duas levas, para serem largados na Zona previamente definida, acção sempre protegida pelo helicanhão.

* Regressados à base da operação, os helis mantinham-se em alerta, ou para evacuações, ou para eventuais recolocações das tropas noutros locais da zona.

* Terminada a operação e em acção inversa à inicial, foram recolhidas as tropas, salvo erro novamente para Galomaro para seguirem por via terrestre para Bafatá.

* Por não se ter registado a necessidade de evacuações os helis mantiveram-se aterrados por um período largo e o pessoal, apesar de em alerta, ia naturalmente convivendo para matar o tempo.

* Em conversa com o Machado (apontador) sugeri a hipótese de, no regresso, voar no canhão, apenas como mera experiência. E dando consistência a essa ideia, com o seu apoio, foi pedida autorização ao Cap Rodrigues, que chefiava naturalmente a missão e coincidentemente pilotava o canhão, que de imediato deu o seu consentimento.

* Terminada a operação, era necessário embarcar, para além das ferramentas e outros meios de manutenção, também uma caixa de munições do canhão, que servia de reforço em caso de necessidade.

* E assim aconteceu, tendo eu e o Machado transportado manualmente a citada caixa para o heli n.º 1 que se encontrava no extremo contrário do alinhamento relativamente ao canhão, logo a uma distância talvez superior a 50 metros.

* Ali chegados e embarcada a caixa diz-me o Machado:
- Já podes ir. - Eis quando a chuva que tinha começado a sentir-se uns momentos antes se intensificou, tendo-lhe eu respondido com um sorriso amigável mas "meio sacaninha":
 - Com esta chuva fica para a próxima vai antes tu - e entrei nesse heli, enquanto ele correndo se dirigiu ao canhão.

* Em formação mais ou menos ordenada lá seguimos até Bafatá.

* Ali já aterrados e alinhados os 5 helis de transporte na placa fronteira à antena de rádio, eu e outros tripulantes assistimos a aproximação do canhão, que voava afastado da restante formação, fazer a aproximação rodeando a antena pelo lado contrário, ao que nos encontrávamos, e... embater com o rotor numa das suas espias de sustentação, já muito próximo do solo.

* As fortíssimas sensações originadas pela visão desse momento jamais as esquecerei:

- O rotor (corpo do conjunto das 3 pás) soltou-se da estrutura, transformando abruptamente o ruído característico do voo do heli num silêncio esmagador.

- O corpo do heli rodou no sentido longitudinal enquanto, como que em desesperante câmara lenta, se despenhava junto à base da antena.

- Instintivamente alguns de nós correram para o local do impacto, saltando mesmo eu e um outro companheiro o arame farpado que protegia a área da antena.

- Fomos travados pelo quase imediato incêndio do aparelho e consequente deflagração das munições (balas de 20 mm, explosivas incendiárias) num matraquear que se prolongou por um período que parecia não ter fim.

- Quando finalmente cessou, permitindo-nos levantar a cabeça, a desgraça estava completamente consumada numa amalgama de destroços que envolviam os corpos adivinhadamente calcinados.

- Última e não menos forte sensação, a da recordação da minha última conversa com o Machado e o imaginar-me agora no seu lugar.

Passada essa terrível noite em Bafatá, regressámos na manhã seguinte para Bissau, logo após o embarque dos corpos, entretanto resgatados, no Dakota que os transportou para a Base.

O velório realizou-se nessa mesma noite na capela da BA12, nele participando por turnos toda a Esquadra 122. Lembro-me perfeitamente de durante o meu turno ter ficado de frente para a viúva do Cap Rodrigues de quem julgo ainda guardar a expressão amargurada.

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À margem do relato algumas notas de rodapé que julgo necessárias:

- Todos os acidentes possuem sempre algo de incompreensível, nomeadamente quando de meios aéreos se trata, com o conjunto de variáveis envolvidas (mecânicas, humanas, metereológicas, etc.) e a que só uma investigação e apuramento rigoroso de dados pode dar respostas mais ou menos conclusivas.

- O acima relatado não é naturalmente excepção, o testemunho que transmito, apesar da fidelidade da observação directa, não pretende de nenhuma forma retirar conclusões quanto a eventuais causas, que seguramente o inquérito realizado pela FAP e respectivo relatório (que não conheço), sistematisadamente terão feito.

- O que indelével e tragicamente fica é a perda efectiva, tão mais sentida quanto mais dramática é a forma e mais próximas nos são as vítimas.


Para eles o meu singelo preito de homenagem:



Ao Cap. Rodrigues a quem, apesar do breve tempo de convivência e voo, deu para perceber ser não só um excelente Piloto como um homem que mantinha com os que comandava uma relação de enorme cordialidade e respeito que eram aliás generalizadamente recíprocos. E que aqui quero partilhar com a Dra. Alexandra e sua família.




Ao Machadinho pela sua alegre e descomprometida camaradagem dos nossos 20 anos, que, na perda, algum insondável desígnio impediu eu tivesse tomado o funesto lugar e naturalmente à sua família independentemente de desta não tomarem conhecimento.




E finalmente alguns agradecimentos:

- Ao Virgínio Briote e à Dra. Alexandra por terem estado na base desta minha, digamos, “catarse”.
- Ao Jorge Félix e Fernando Caroto, meus companheiros e contemporâneos na Guiné, que cederam as fotos.
- Ao Edgar, co-testemunha e que comigo saltou o arame farpado da antena, com quem em troca de impressões melhor precisei alguns dados aqui transmitidos.

Jorge Narciso
Especialista MMA – BA 12 / Guiné 69/70
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10093: In Memoriam (120): Cor inf ref e escritor Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (Funchal, 1938 - Lisboa, 2012), comandante das CCAÇ 727 (1964/66) e CCAÇ 2316 (1968/69) (António Costa / Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P10143: Parabéns a você (448): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista (BCP 12) na situação de Reforma

Para aceder aos postes do nosso camarada António Dâmaso, clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10132: Parabéns a você (444): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf.º da CART 2412; Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 e Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil da CCAÇ 3414

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10142: Notas de leitura (379): "A Viagem do Tangomau - Memórias da Guerra Colonial que não se apagam", de Mário Beja Santos (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402, , Mansabá e Olossato, 1968/70), ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999, com data de 10 de Julho de 2012:

Meus amigos,
Acabei de ler há já umas semanas, a "Viagem do "Tangomau" do Mário Beja Santos.
A meu ver, é um livro de arromba, com muita força, muito vigor e, sobretudo, muito sentimento, na medida em que, sendo como é, uma obra autobiográfica, percebe-se que está ali o grande acontecimento da sua vida, o que, aliás, também o foi para quase todos nós, saídos da pacatez do Portugal dos anos 60 e atirados, sem saber como nem porquê, para uma África desconhecida, que tínhamos dificuldade em localizar no mapa-mundi, mas que alegadamente era nossa. Por outro lado, para quem conheça minimamente o Tangomau, não é novidade para ninguém que os dois anos de comissão na Guiné-Bissau foram um dos eventos mais marcantes da sua vida. Com efeito, ele ali está, de corpo e alma, da primeira à última página. A sua perspectiva própria sobre a Guiné e os guineenses é uma visão muito humana, empenhada e, porque não dizê-lo, romântica, nalguns aspectos, até, de certo modo, mitificada.

O percurso do Tangomau é o do alferes-menino, trabalhador-estudante, urbano e culto que sai de Lisboa para, depois de várias etapas em Mafra, Ponta Delgada e Amadora, enfrentar em lugares ignotos da África Ocidental, uma realidade completamente desconhecida, em contacto com outras gentes, outros povos, outras culturas e, sobretudo, confrontar-se com a duríssima realidade da guerra, transformando-se num homem, na verdadeira acepção da palavra. É uma metamorfose que se processa ao longo de 3 anos de tropa dos quais dois de Guiné. Depois, já sexagenário, são as recordações do passado e a inevitável peregrinação aos locais de outrora e ao contacto com as gentes de então, que sobreviveram à passagem do tempo.

Porquê voltar? É o tal bichinho que de vez em quando nos morde e que não controlamos. A metamorfose completa-se: de menino a homem, de homem maduro a sénior e neste processo temos um mecanismo interveniente, despoletador e omnipresente - a Guiné e as suas gentes. Acresce que o livro está muito bem escrito. O discurso final de despedida é uma peça notável de oratória que merece ser lida e relida, uma pequena jóia, todavia não é crível que tenha sido proferido dessa forma, pois seria incompreensível para o auditório a que se destinava.

Em suma, é uma leitura que seduz e prende continuamente a atenção do leitor - para mais para quem, como nós - a "geração sacrificada" e já esquecida da grande maioria dos lusitanos -, vivemos situações semelhantes. As descrições de N'banké/Tangomau da Bissau actual e do próprio país pecam, a meu ver, por defeito, porquanto a realidade ultrapassa em pinceladas mais negras qualquer descrição possível. O país na prática não existe. É virtual. E a verdade tem de ser dita doa a quem doer, mas tal tarefa pode talvez ser confiada a outros que se debrucem sobre a Guiné-Bissau actual e sobre o gigantesco embuste que representaram 38 anos de violência contínua e de consequente subdesenvolvimento.

Alguns pontos merecem ser analisados e criticados. Detecta-se uma certa "overdose" no que concerne as descrições exaustivas das armas e mecanismos das mesmas, quando da recruta e especialidade do Tangomau em Mafra. Eu sei, de conhecimento directo, que o Tangomau passou alguns fins de semana no Convento, por não conseguir dominar completamente essas matérias esotéricas, mas, com a devida vénia e sem qualquer demérito para o resultado final que é excelente, há talvez algum excesso descritivo. A profusão de nomes de pessoas e de lugares é de tal ordem que confunde um pouco o leitor (já o dr. Leopoldo Amado o tinha referenciado, de forma simpática, note-se bem, quando da apresentação da obra). O autor podia, por um lado, reduzir a identificação das pessoas e, por outro, apresentar um mapa - ou vários - para que possamos orientar-nos no meio daquele emaranhado de aldeias e povoações, rios e bolanhas, florestas e savanas do Leste da Guiné. Eu que conheci o país, antes e depois da guerra, andei um bocado à deriva com certos lugares que não conseguia de todo em todo identificar.

Como nota final, as fotografias, em extra-texto, mesmo a preto e branco, ajudariam a situar melhor os eventos e as pessoas descritas. Eu fui um dos que disse "não vás," conhecendo como conheço, a Guiné-Bissau actual e as feridas não cicatrizadas do passado, mas o Tangomau foi.

O meu juízo final é, pois, muito, mas muito, positivo. É um livro indispensável em qualquer biblioteca sobre a guerra do Ultramar, colonial ou de libertação nacional - as designações ficam ao critério das opções político-ideológicas de cada um - e eu iria, mesmo, mais longe: a obra é relevante para uma estante de destaque sobre o Portugal contemporâneo, que a memória, não pode por forma alguma, apagar.

Com os meus cumprimentos cordiais e amigos
Francisco Henriques da Silva
(ex-alf. mil., de infantaria CCAÇ 2402)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10125: Notas de leitura (377): Massacres em África, de Felícia Cabrita (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10141: Em busca de... (197): À procura de camaradas da CCS e da CCAÇ 3547 do BCAÇ 3884 (Fernando Pereira Garcia Lopes)




 1. O nosso Camarada Fernando Pereira Garcia Lopes, ex-Sold. da CCAÇ 3547 do BCAÇ 3884, Contuboel – 1971/73, enviou-nos o seguinte apelo. 



À procura de camaradas



Envio-vos duas fotos, uma com camaradas de transmissões da CCS do BCAÇ 3884, em Bafatá e outra com camaradas da CCAÇ 3547 do BCAÇ 3884 (Contuboel). 

O meu nome é Fernando Pereira Garcia Lopes, estive em CONTUBOEL entre Maio de 1971 e 1973. 

Fui em rendição individual e procuro contacto de ex-camaradas com os quais nunca tive contacto depois de regressar. 

Espero que este e-mail me ajude a encontrar algum deles. 

O meu e-mail é: fpglopes@gmail.com 

Em ambas as fotos estou à direita. 

Desde já o meu obrigado. 



Bafatá > Com camaradas de transmissões da CCS do BCAÇ 3884 

Com camaradas da CCAÇ 3547 do BCAÇ 3884 (Contuboel) 

Mini-guião da Colecção Carlos Coutinho (2012) © Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 



Vd. último poste desta série em:

10 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10140: Em busca de... (196): Fur Mil Rânger Peixeiro da CCS/BART 2920 (Bafatá, 1970/72)


Bom dia amigos e camaradas, 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10140: Em busca de... (196): Fur Mil Rânger Peixeiro da CCS/BART 2920 (Bafatá, 1970/72)

1. Mensagem de António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 5 de Julho de 2012:

Caro Vinhal,
A pedido de um camarada, ex-Furriel Mil. Rádio TRMS, no CTIGuiné, procura o contacto do ex-Fur. Mil. Ranger PEIXEIRO, homem das Operações e Informações da CCS/BArt.2920, de Bafatá, em 1970/72.

Desde já agradeço a colaboração no pedido através da Tabanca Grande.

António Tavares
Foz do Douro, 05.Julho.2012
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10122: Em busca de... (195): Informação sobre o Soldado Escriturário Carlos da CCAÇ 3476, Canjambari, Chugué, 1971/73 (Jaime Vieira)

Guiné 63/774 - P10139: Ser solidário (133): Conversas - Guiné-Bissau, dia 13 de Julho de 2012, das 21 às 23 horas, na Fundação Nortecoope em S. Mamede de Infesta - Matosinhos (José Teixeira / Tiago Teixeira)

1. Recebemos, em mensagem de hoje, do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), o seguinte convite, do qual damos conhecimento à tertúlia e leitores em geral:

C O N V I T E


As inscrições devem ser feitas neste endereço: https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dHFyTVZkbDJhRFRjYzQyS2x6aFM2ZkE6MQ#gid=0
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Julho de 2012 > Guiné 63/774 - P10112: Ser solidário (132): Fonte de água na Escola EVA de Djufunco (José Teixeira / AD)

Guiné-Bissau - P10138: Fauna & Flora (27): A cobra cuspideira (de seu nome científico Naja nigricollis Reinhardt)

 



A cobra cuspideira, aguarela do pintor português, naturalista, [António] Silva Lino (1911-1984), autor de "Serpentes do Ultramar Português". In: Garcia da Orta - Vol.III, nº 4 (1955), pp. 547-553.


1. Em complemento do poste P10135, da autoria do nosso camarada Augusto S. Santos, 9 de julho de 2012... E para exorcizar a nossa, dos primatas, em geral, e dos hominídeos, em particular, tradicional ofiofobia (medo patológico de serpentes)...

Aqui vão algumas características da cobra cuspideira (nome científico Naja nigricollis Reinhardt, 1843):

(i) Serpente muito robusta, alongada (comprimento: até 220 cm), de cauda comprida;  


(ii) podendo alargar o pescoço, em «capelo», sob a ação das costelas cervicais;

(iii) coloração geral variável: por cima negra, castanha ou olivácea e, por baixo, negra com ou sem faixas transversais amareladas ou róseas;

(iv) dentadura proteroglifodonte: dentes inoculadores sulcados, erécteis, mas não retroversáteis e situando-se na parte anterior do maxilar, sem outros dentes neste osso; 

(v) sinais da mordedura: dois pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, ladeando duas filas de picadas, mais finas, dos dentes normais palatino-pterigóides;

(vi) a configuração do sulco dentário e a sua abertura permitem o lançamento do veneno a distância considerável;

(vii) veneno mortal, altamente neurotóxico; quando projetado e atingindo os olhos, produz ulcerações graves;

(viii) habita as regiões de savana,  de preferência às de floresta, manifestando maior atividade noturna;

(ix) é muito perigosa pela sua agressividade, a qual se manifesta, primeiro, pelo erguer da cabeça e parte anterior do corpo, com expansão do «capelo», seguido ou não de lançamento do veneno à distância de alguns metros e, depois, pela perseguição e ataque violento;


(x) reprodução por oviparidade.

(xi) alimentação: principalmente, batráquios.

(xii) distribuição geográfiva: África Intertropical, desde a Mauritânia ao Natal; encontra-se na Guiné-Bissau, em Angola e em Moçambique, donde foi descrita a var. mossambica.


Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Serpentes do ultramar português: reprodução de aguarelas do pintor Silva Lino; anotações de Fernando Frade e Sara Manaças. "Garcia da Orta", Lisboa, vol.III, nº 4 (1955), pp. 547-553.  

Triplov é também o sítio da revista (digital) TriploV de Artes, Religiões e Ciências, dirigida por Maria Estela Guedes (n. 1947, Britiande, Lamego), que viveu na Guiné entre 1955 e 1966, poeta, escritora e ensaísta, sendo investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa.









Capa da separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais [JIC], Vol 1, Lisboa, 1946, contendo o "Relatório da missão zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa", por Fernando Frade (professor extraordinário da Faculdade de Ciências de Lisboa), com a colaboração de Amélia Bacelar (naturalista do Museu Bocage) e Bernardo Gonçalves (assistente investigador da JIC). Cortesia de Tripov > Fernando Frade > Missão zoológica da Guiné.

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4786: Fauna & Flora (26): Make Love, Not War, ou as cobras que morreram na guerra a fazer amor (Rui Silva)

Guiné 63/74 - P10137: Blogoterapia (212): Veterano, nostálgico? Sim, ai quem me dera ter outra vez vinte anos... mas saber o que sei hoje (António J. Pereira da Costa, cor art ref)


[Imagem acima: dois coronéis reformados, o pilav Miguel Pessoa, e o artilheiro António Costa. Infografia de Miguel Pessoa, a quem desejamos um rápido restabelecimento da sua saúde, depois do acidente que o levou ao hospital e à "faca"...]


1. Mensagem do nosso camarada António J. Pereira Costa, com data de 30 de junho passado, e em resposta à nossa última sondagem ("Um blogue de veteranos nostálicos da sua juventude ?"):


Assunto - Os Nostálgicos

Conheço alguns trabalhos de René Pélissier. A Biblioteca do Exército tem diversas obras suas. Identifico-me, sem dificuldade, com as ideias que expressa, especialmente no que toca aos antecedentes das “guerras de libertação” em África. Por isso resolvi responder à “sondagem”.

Creio que a minha primeira intervenção no blog versou o tema: “Quem somos nós?”. Queria “atabancar-me” bem e, por isso, considerei interessante definir o perfil do ex-combatente. Num texto de quatro páginas, procurei fazê-lo e as consequências, para mim, foram devastadoras. Felizmente, eu usava capacete…

O perfil que tracei poderá, até certo ponto, servir de contraditório à afirmação de Pélissier.

Aceito agora o desafio do Luís Graça e regresso ao tema, expondo o meu ponto de vista, depois de ter lido as considerações do historiador francês. O tempo que nos é dado e curto. Contudo, tratando-se de uma sondagem, a resposta terá de ser dada com brevidade.

Comecemos com a formação ou mentalização inicial de que fomos alvo, desde bem cedo, nos bancos das Escolas. Convém não esquecer que somos apenas o produto do meio que fomos criados, como dizia António Aleixo. Vivíamos num país desfasado dos padrões de vida europeus do tempo e cujas autoridades dificultavam o contacto com o “estrangeiro”. As diferenças que encontrávamos quando, por sorte, saíamos do país deixavam-nos admirados e invejosos.

Alimento, cada vez mais a ideia de que se tratava de um fenómeno sociológico previsível e previsto por vários visitantes (Henrique Galvão, entre outros,) e residentes naquelas terras, a quem os responsáveis não deram ouvidos e depois… As tensões entre os diferentes grupos sociais, as diferenças rácicas e as tensões acumuladas, ao longo de séculos (Ver René Pélissier) criaram as condições propícias para o sucedido. Chamo aqui a atenção para os textos antigos, que têm vindo a ser divulgados, descrevendo o Ultramar e nos quais, directa ou indirectamente, é possível descobrir as deficiências do colonialismo.

Fomos.

E sobrevivemos a dois traumas seguidos, por vezes separados por poucos dias ou horas até: o choque da chegada a uma cidade militar (e a um teatro de operações num país que, começámos a logo a perguntar se seria efectivamente nosso), e a vida diária no quartel do mato, numa localidade pequena do interior, cujos habitantes nos eram estranhos, não falavam a nossa língua e tinham hábitos e religiões de que só vagamente tínhamos ouvido falar. De que lado estariam e porquê? Perguntávamo-nos porque seria que alguns recusavam a protecção e as condições de vida que lhes dávamos e preferiam uma ligação ao “inimigo”. Mas, se todos tinham nascido e sempre vivido ali, quais seriam as razões para tal?

Amadurecíamos. Ou melhor: envelhecíamos, sem darmos por isso. O esforço diário, o trabalho de equipa, a entreajuda e as horas de incerteza mostravam-nos o lado mais genuíno da vida.

Cada vez, me restam menos dúvidas de que participámos na História do nosso país de um modo com que todos tínhamos sonhado, ao aprendermos a nossa História, nos bancos da escola, mas também nunca tínhamos pensado que pudesse acontecer.

Já defendi, numa revista militar que desde a primeira hora, a guerra estava perdida. E não saiu ninguém a contradizer-me. Tivemos de descobrir à nossa custa que era essa a realidade. Tenham em conta a grande resistência ao “ocupante” que se traduziu em continuar, ao fim de cinco séculos, a usar as línguas tradicionais e a recusar a aprendizagem do português, numa espécie de resistência passiva, que se estende a outros sectores como hábitos e, principalmente, às religiões e hábitos similares (por mais primitivos que fossem).

Mas à chegada à “Metrópole”, vinha a grande desilusão. Julgávamos ser cidadãos-patriotas ou soldados-heróis, mas não éramos mais do que um corpo estranho que lembrava aos políticos a sua incapacidade, e à sociedade um problema que ela tinha, mas que não sabia como resolver e, por isso, varria para baixo do capacho. Sentimos a frustração de não sermos ouvidos, e o desinteresse de vizinhos e conterrâneos, perante a nossa mensagem e, por fim, num fenómeno que a psicologia clínica talvez explique, tentámos esquecer o sucedido. Isso levou-nos a cumprir um período de resguardo de alguns anos durante os quais evitávamos falar “naquilo”.

Havia outras tarefas. Era necessário organizar a vida e desfrutar da luta diária, no fundo a razão de ser dos homens.

Julgo que a curiosidade de sabermos o que seria feito daqueles com quem partilhámos a nossa existência durante dois anos foi determinante. Primeiro a curiosidade, depois as saudades. Entretanto ficámos velhos. E os velhos têm mais necessidade de recordar para se sentirem gente ao contemplarem a vida. Daí aos convívios foi um passo.

Mas, afinal porque nos irmanamos à volta de uma mesa?

Porque todos temos em comum o facto de termos sido os homens que estavam na esquina errada da História. Fomos apanhados num turbilhão e não pudemos fazer nada para sair dele. Nadámos num troço de águas revoltas do rio do tempo.

Por mim não sinto nada “nostálgico” em relação à guerra ou à Guiné. Já disse num Post que, para mim a guerra, se a houve, terminou com a independência e não me sinto mais ligado àquele país do que a qualquer outro. O passado comum, que por vezes se evoca, envergonha uns e revolta os outros e não me sinto nada responsável pelo que de bom ou mau por lá se passa.

Considero, agora, que é essencial que lutemos contra o esquecimento. Não podemos deixar que nos suceda o que aconteceu a tantos outros que andaram pelas Àfricas, durante a I Guerra e especialmente nas chamadas Campanhas de Pacificação ou da Ocupação (fim do Séc. XIX – inícios do Séc. XX). A pouco e pouco vamos descobrindo “coisas”, como os sacrifícios dos nossos compatriotas e o grau de violência praticado de parte a parte. Temos de deixar a nossa assinatura na marcha do tempo.

Além disso, fizemos uma guerra pobre. Era pobre a nossa logística e os meios operacionais escassos. Os meios operacionais do inimigo evoluíam a olhos vistos e os nossos mantiveram-se perigosamente estacionários, como ultimamente temos vindo a ver. As guerras ou se perdem ou se ganham. E nós perdemos,  o que foi mais outra marca na nossa personalidade.

Como diz o Idálio [Reis]: “para quê e porquê?” Enfim, tudo terminou bem, ou menos mal, e isso foi o mais importante.

Nostalgia? Dos vinte e poucos anos? Sim! “Ai quem me dera ter outra vez vinte anos” diz o fado (*), mas saber o que sei hoje, acrescento eu. Mas da guerra e dos dois anos de sacrifícios impostos a troco de nada, não.

E o António Levezinho pergunta: “se não se deve voltar a um sítio onde se foi muito feliz, porquê voltar a um onde se foi particularmente infeliz”?

Não sou nostálgico e creio que o esquecimento é o pior que nos pode suceder, num mundo onde a ignorância é cada vez maior, embora a disponibilidade do conhecimento seja anormalmente enorme. Quero dar testemunho e evitar que aqueles 13 anos possam ser reduzidos a meia página de um compêndio de História.

Um Ab e desculpa o desenvolvimento e o atraso na resposta

António J. P. Costa (**)
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Notas do editor:

(*) O meu primeiro amor [, fado interpretado por grandes fadistas como Amália Rodrigues iou Cidália Moreira]

Letra de Nelson Barros; música de Frederico Valério (c. 1955)

Ai, quem me dera
Ter outra vez vinte anos,
Ai! como eu era,
Como te amei, Santo Deus,
Meus olhos
Pareciam dois franciscanos
A espera
Do céu que vinha dos meus.

Beijos que eu dava,
Ai! como quem morde rosas,
Ai como te esperava
Na vida que então vivi,
Podiam acabar os horizontes,
Podiam secar as fontes
Mas não vivia sem ti.

Ai! como é triste,
Eu dizer não me envergonho,
Saber que existe
Um ser tão mau e ruim
Que eras um ombro para o meu sonho,
Traíste o melhor que havia em mim.

Ai! como o tempo
Pôs neve nos teus cabelos,
Ai como o tempo
As nossas vidas desfez,
Quem me dera
Ter outra vez desenganos,
Ter outra vez vinte anos.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10136: Cartas do meu avô (12): Décima carta: a casa das Quintãs, Aveiro (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)



Região de Tombali > Catió > 2009 > Meninos de Catió... Muitos anos depois de lá estado o J. LMendes Gomes,  há uma jovem portugesa, cooperante e membro da nossa Tabanca Grande,  Marta Ceitil, que escreve o seguinte sobre a sua estadia  a Catió, em mail de 3 de setembro de 2009:


(...) "Segunda-feira viemos para Catió. A viagem foi tranquila, tinham-nos dito que ia ser horrível que as estradas estavam más... nada disso foi mesmo 'Shanti Shanti'. Catió fica no Sul da Guiné e é lindo, lindo. Aqui sim, sinto e vejo a Guiné que idealizei: paisagem verde, que contraste com o castanho das tabankas. Aqui as pessoas são bem mais calmas, parecem alentejanos. Estamos muito bem instaladas, na Missão Católica. O Padre Maurício (italiano) é uma personagem, muito bem disposto, tem 60 anos, e tirando o meu pai, é dos homens mais charmosos que alguma vez vi na vida (...). , Para além do seu aspecto físico faz umas massas óptimas. Está na Guine desde 1973 e é um espectáculo ouvir as suas histórias. A missa também é qualquer coisa…, primeiro é dada em crioulo e depois a música é tocada com djambés. Segunda-feira começamos a dar a formação aos professores. Este vai ser o nosso maior desafio, mas acredito que vamos dar conta do recado" (...)


Foto: Marta Ceitil (2009)




A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria de J.L. Mendes Gomes,  membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CART 728, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66. [, Foto à direita, com os netos].

As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, onde vivem os netos, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)



B. DÉCIMA CARTA > A casa das Quintãs


>O apartamento de Azurva, embora razoável, era reduzido para a família. Tínhamos três filhos e queríamos ter outro. Sem perder tempo.


Naquele tempo, o custo das casas subia a olhos vistos. Se pensávamos em mudar de casa deveria ser depressa.Punha-se então, um problema. A casa de Azurva continuava sujeita às condições fixadas pela CGA, no primeiro empréstimo. Por mais dois anos, não poderíamos aliená-la livremente.


Comecei a lutar com a tentação de descobrir a forma como poderia dar-lhe a volta, sem ter problemas. Não tinha muitas pessoas com quem me pudesse abrir. Até que ponto a letra daquele contrato,  forjado nos míopes e opressivos tempos salazarentos, sem qualquer justificação actual, consistente e razoável, ainda era tida em conta pela CGA?


À letra, estaria a violar o contrato, se vendesse secretamente e ficasse com o lucro. Obrigar-me a aplicar o lucro na compra de outra habitação, necessária, ainda se justificaria. Perdê-lo em favor da CGA, isso não. Ora eu, como jurista responsável, não podia recalcitrar. Poderia pôr em jogo o meu posto de trabalho, se o fizesse.


Um dia, enchi-me de coragem e liguei para a única pessoa que conheci na CGA, com olhos arejados e que me pareceu homem de confiança. Era um segundo director, que tinha vindo do Banco de Angola,  como retornado.Estava na direcção já havia uns anos. Sabia bem como as coisas funcionavam.




Expus-lhe a questão claramente. Eu não pretendia fazer negócio com o caso. Queria apenas mudar depressa para uma moradia, a nosso gosto. Que desse para a família toda, actual e vindoura. Ele foi claro.
- Ó Mendes Gomes, esteja à vontade. Ninguém vai sobre si. Garanto. Não será o primeiro.


Mesmo assim, tive dúvidas. Era muito arriscado. Pensei noutra saída. Um novo filho vinha já a caminho. Um rapaz. Nasceria em Dezembro de 1980.

Entretanto, calhou que o irmão da nossa mulher a dias , acabava de regressar, de vez, do Brasil, devido à grande insegurança que lá se sentia. Estava farto de ser assaltado, de dia e às claras. Precisava de arranjar uma casa. A irmã, porque sabia, falou-lhe que talvez nós a vendêssemos. Que havia uns problemas mas tudo se poderia resolver.

Ele veio falar-me. Estava disposto a comprá-la , pagando tudo a pronto, se eu quisesse.
- Mas, podemos escrever um papel, o sr. É advogado- sabe bem como. O que eu quero é seriedade. Que não me falhe…Também lhe digo já: seria capaz de lhe dar um tiro na cabeça se faltasse à sua palavra…disse-mo ele naquele jeito próprio dum brasileiro que vinha lá do Rio de Janeiro, onde era pior que viver na selva.

Fiquei a pensar. Com um contrato promessa de compra e venda, poderia satisfazer as condições básicas, sem ofender o contrato. A venda real só se efectuaria daí a dois anos. Até lá, pagar-me-ia por mês uma importância igual à que eu tinha de pagar à CGA e esta importância abateria ao preço fixado.

Todo eu tremia de pavor quando, um dia, assinamos o contrato. Terei envelhecido uns bons anos naqueles dois que se seguiram, apareceram-me os primeiros e imensos cabelos brancos nas barbas e na cabeça, passei muitas horas da noite, em claro, sempre à espera de ser chamado à responsabilidade. Sempre à espera do pior. Que houvesse uma denúncia. Principalmente, quando a Filial era visitada pela inspecção.

Ainda hoje estou para saber se a CGA na sede, teve conhecimento. Penso que sim. Haveria gente na filial bem capaz de me denunciar…e se ufanar com a minha demissão.

Fosse pelo que fosse, nunca ninguém pediu contas. A situação objectiva justificava-a bem. E, não havia ninguém que fosse capaz de me acusar de corrupção, por um único centavo ou minúsculo favor remunerado. Enquanto toda a gente sabia de muitos que o faziam… às claras.

Dum momento para o outro, apareceram carros de luxo, pagos a pronto, não se como…em quem, notoriamente, não ganhava para tanto.
A casa das Quintãs era uma moradia nova, geminada, com quatro quartos, garagem e um bom quintal.  Ficava no meio rural. Rua do Sol  [,Vd. Google > Maps]  era o nome da rua onde ficava.

Certo, na escolha. Ali, os miúdos puderam conviver com outro mundo. Seguiram, sem dar conta às sucessivas tarefas de quem tem de tirar da terra o pão para comer. Desde o lavrar dos campos com tractor, ao pestilento adubar da terra à moda antiga, ao esverdear das searas de milho e ao seu amadurecimento. As carradas de bois, a esbordar de erva ou feno para o gado, o gado a pastar, o leite quentinho a sair das tetas das vacas da vizinha, ao pequeno almoço e a manteiga que dele se tirava... O corropio nas bicicletas à solta pelas veredas, os papagaios multicores, em plástico a voar ao vento...

Enfim um sem número de novas vivências que nunca mais esqueceram. Nela podia receber a visita dos avós, sempre que o quisessem, com muita felicidade para todos nós e p’ra eles.

Ali abri o meu escritório de advogado. Fui procurado por muitas pessoas.Alarguei assim e pus em prática outras vertentes do meu curso. Com proveito material e
imaterial. Os filhos cresceram. Entraram nas universidades e foram à sua vida. J.L.

J. L. Mendes Gomes
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Ponte de Lima > 8º Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima > Jardins de Comer 7 de junho de 2012 > Algumas fotos... para se repensar os conceitos de cidade, campo, jardim... e um convite para visitar. Até outubro de 2012. "Há quem veja a árvore / e nunca descortine a floresta; há quem veja a flor / e nunca descubra o jardim" (LG)...

Fotos: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.

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Guiné 63/74 - P10135: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (3): A cobra cuspideira

1. Terceira e última história enviada pelo nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), em mensagem no dia 30 de Junho de 2012.


ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (3)

A COBRA CUSPIDEIRA

Embora o maioria do pessoal da minha Companhia fosse constituída por Soldados do norte do país, nomeadamente de Trás-os-Montes, portanto por pessoas habituadas a trabalhar no campo e a lidar com os mais variados animais, ou seja, sem qualquer medo de bichos, sempre havia um outro que, pelos mais diversos motivos, não podia ouvir falar em cobras.

Foi uma dessas situações que levou a que se inventasse que já se havia visto perto do quartel cobras cuspideiras, bicho terrível que poderia cegar uma pessoa, ao cuspir o seu veneno para os olhos. Era uma realidade, no entanto ainda hoje desconheço se existem ou não cobras cuspideiras na Guiné, não tendo isto na altura passado de uma mera invenção para assustar um dos Soldados, que tinha um terrível pavor que tal lhe viesse a acontecer.

Mal ouvia o rastejar de um rato ou de um lagarto em cima da chapa que cobria o abrigo, aí estava ele em alerta total. Lembro-me que a esses lagartos chamávamos de “paga dez”, por estarem sempre a fazer o que pareciam flexões. Para em definitivo (ou não) se tentar acabar com aquela fobia, alguém um dia se colocou no lado de fora numa das vigias do abrigo imitando o rastejar e o silvo de uma cobra, para atrair o coitado do Soldado, que estava na sua hora de descanso.
Para completar a situação, outro entrou no abrigo a gritar que lá fora estava uma enorme cobra. Tendo aquele espreitado pela vigia para ver se via algo, é-lhe despejado um valente bocheco de água nos olhos.

Escusado será dizer que o infeliz deitou a correr para o meio da parada, com alguns trambolhões pelo meio, pois tentava tapar os olhos com as mãos, gritando:
- Estou cego, estou cego, estou cego.

Destas coisas sim, tenho saudades.

Augusto Silva Santos

Jolmete, Agosto de 1972 > Estrada velha de Bula

Jolmete, Agosto de 1972 > Regresso da segurança à água

Jolmete, Outubro de 1972 > Convívio

Jolmete, Novembro de 1972 > Bolanha de Ponta de S. Vicente
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10127: Estórias dos Fidalgos de Jol (2) (Augusto S. Santos): A noite da hiena

Guiné 63/74 - P10134: Notas de leitura (378): O Meu Diário, Guiné - 1964/1966, CCAÇ 674, de Inácio Maria Góis (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 21 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
Foi graças ao confrade Carlos Pedreño Ferreira que tive acesso a este documento singularíssimo a vários títulos.
O soldado Inácio Maria Góis, da CCAÇ 674 ultrapassa, de longe, tudo quanto até agora conhecemos como diários: desvela a intimidade, temos acesso aos seus pensamentos, há momentos em que parece que ele está a escrever para a História, reiteradamente comunica ao leitor que tudo quanto escreve é com base em factos reais e verídicos, regista os seus amigos, fala permanentemente da péssima comida e ficamos com uma ideia de como evoluía a guerra naquela região onde ele passou grande parte da comissão, Fajonquito. É impressionante como desvela a alma e como se determinou a publicar na íntegra tudo o que escreveu.

Um abraço do
Mário


O diário do soldado Inácio Maria Góis (1)

Beja Santos

É um documento impressionante, pela indiscutível sinceridade e singeleza. Arranca assim: “Eu, Inácio Maria Góis, filho de Luís Justo Pereira de Góis e de Bárbara Antónia, natural dos Gasparões, concelho de Ferreira do Alentejo. No dia 2 de Agosto de 1962, fui alistado com toda a prontidão para cumprir o serviço militar obrigatório. Em pleno mês de Setembro de 1963, encontrava-me eu trabalhar na vila da Batalha, onde exercia a profissão de operador de máquinas de terraplanagens”. Tinha que se apresentar no RI 3, em Beja, em 20 de Outubro. Despediu-se dos colegas de trabalho e embarcou para Porto Covo para se despedir do pai e da namorada. Vão seguir-se 400 páginas do relato mais minucioso que até hoje me foi dado ler quer como diário ou relato memorialístico. “O Meu Diário, Guiné – 1964/1966 - CCAÇ 674”, por Inácio Maria Góis (edição de autor, 2006) foi-me amavelmente emprestado pelo nosso confrade Carlos Pedreño Ferreira. O autor agradece o apoio da Junta de Freguesia de Porto Covo, onde três funcionários dedicadamente transcreveram na íntegra os textos escritos.

Inácio Góis entra no quartel de Beja, descreve os pormenores da instrução e da preparação e depois regressa a Porto Covo para visitar quem ama. Revela-se em toda a sua intimidade: “Desci do autocarro, peguei na minha mala e caminhei em direção à casa do meu pai, bati à porta, veio a minha madrasta, que me lançou um olhar de arrepiar, ela não gosta de mim, nunca gostou. Eu nunca lhe faltei ao respeito, apenas lhe disse que venho visitar os meus irmãos e o meu pai, é ela que manda, põe e dispõe à sua maneira, é mais nova que o meu pai 10 anos. Tudo quanto ganhei até entrar para o serviço militar o meu pai se aproveitou da minha inocência e eu acreditei na boa-fé do meu pai, que afinal traiu o próprio filho e praticamente o abandonou, dizem que há Deus e eu tenho que acreditar. Vim também para ver a minha namorada, de quem gosto muito e me dá carinho e algum alento”.

Descreve a faxina à cozinha e deixa-nos o estômago revoltado: “O feijão é retirado de dentro dos sacos, não é lavado nem limpo, leva alguns quilos de sódio para ser cozido mais rápido. As couves são cortadas ao meio e não são lavadas, atiram-nas assim para dentro das panelas, apenas as batatas são lavadas. É por isso que aparecem nos nossos pratos lesmas e lagartas”. Olhando para os seus próximos, comenta em Novembro: “Aqui nos encontramos aproximadamente mil jovens a tirar a recruta. As suas idades variam entre os 21 e os 22 anos. Na sua maioria são do Alentejo e Algarve e os restantes vêm do Ribatejo, Norte e Lisboa”. Conta detalhadamente toda a instrução, incluindo as idas ao campo. Em meados de Dezembro vai visitar em Gasparães a mãe e as irmãs. Segue-se o juramento de bandeira e o fim da recruta. Passa o Natal em Porto Covo. Nesse dia escreve: “Eu e a as minhas duas irmãs e a minha mãe não convivemos junto há já alguns anos, o destino assim o quis. Durante o meu percurso de criança não soube o que foi o verdadeiro carinho e amor de mãe. O Natal para os mais pobres é apenas um dia ao qual se chama Natal”.

E de Beja segue para Évora. É aqui que se está a formar a CCAÇ 674. Conhece o comandante da companhia, “tem 27 anos de idade, é baixo, usa óculos graduados e escuros, é natural da Mexilhoeira Grande”, apresenta todos os aspirantes e cabos milicianos. Segue-se a instrução militar e em 27 de Fevereiro de 1964 veio-lhe à memória um encontro com uma madre superior. Trabalhava ali na companhia do pai, em terraplanagem para o novo colégio das irmãs Doroteias. A madre superior fez questão de colocar uma imagem de Nossa Senhora de Fátima na capota da máquina e veio dizer a pai e filho que deviam ir à missa, Inácio Góis nunca esqueceu este episódio. A CCAÇ 674 segue para Faro, seguem-se exercícios militares de diferente índole, recebem fardamentos novos e no dia 1 de Maio ficam a saber que estão mobilizados para a Guiné. Volta a Porto Covo para se despedir de quem mais gosta, com detalhes inenarráveis, por vezes especiosos e miudinhos, ficamos a saber como vai e volta, com quem conversa, onde toma refeições, etc. E de Faro viajam para o embarque no Uíge, há muita tristeza e lágrimas nas estações por onde passa o comboio, Inácio Góis regista que nem o pai se veio despedir: “O navio apitou por três vezes e eu estremeci e não consegui deter as lágrimas. Os gritos, os lenços que nos acenavam eram aos milhares”. Tiradas as amarras, dois rebocadores levam o Uíge para a foz do Tejo. Viaja intranquilo, interroga-se sobre o que está a fazer ali, ninguém lhe explicou até agora em que guerra é que vai participar. Desembarcam em 13 de Maio.

Não esquece as indelicadezas, estavam a montar um aquartelamento improvisado num armazém junto ao Geba, encontrava-se ali a CCAÇ 675, ele dirigiu-se à cozinha desta companhia e o cozinheiro Vilhena recusou a dar-lhe comida e ele disse: “Eu sou da tua terra, negas-me uma marmita de comida, obrigado". Registou o número mecanográfico e o seu nome completo. Procura amigos em Bissau, visita o destacamento de fuzileiros e depois parte em rumo a Bambadinca e daqui para Fá. Há momentos em que o leitor tem a nítida sensação de que este relato é sonido como uma crónica: “A CCAÇ 674, à qual eu pertenço, tem no ativo 195 militares, o que inclui 2 sargentos, 17 furriéis, 4 alferes milicianos, um alferes miliciano que é médico, um furriel enfermeiro e um capitão que é do quadro”. Passam a noite de 30 de Junho em Bambadinca e no dia seguinte vão para Fá: “Verifiquei que havia apenas 3 casas e um pequeno fontanário com água potável e um gerador elétrico. Junto às habitações há um pequeno vale onde corre alguma água, e se encontra cultivado desde bananeiras, ananases, tomates, pimentos, feijão-verde e outros. Notei que este lugar é silencioso, apenas se ouvem as aves cantar”.

A 4 de Julho põem-se ao caminho, vão para Fajonquito. Descreve a povoação e dá as suas impressões: “As casas que existem nesta povoação são muito poucas, apenas seis e uma escola que se encontra fechada. As casas que se encontram vazias foram ocupadas pelos militares, os seus proprietários saíram devido à guerra”. Começam os patrulhamentos e as idas a Bafatá, ele descreve ao mínimo detalhe o funcionamento do aquartelamento, o seu primeiro ataque de paludismo, a primeira emboscada ocorre em 21 de Julho, tinham ido num patrulhamento até uma serração abandonada. Num queixume que jamais abrandará queixa-se da qualidade da comida e observa que os sargentos e os oficiais têm uma alimentação muito superior, começam as queixas do comandante de companhia pela sua brutalidade, ele escreve que o capitão esbofeteia e humilha sem dó nem piedade. E o diário começa a registar uma expressão que nunca mais se apagará: “Vivo numa terra de ninguém”. Ele faz parte do primeiro pelotão, os patrulhamentos dilatam-se, em Agosto vão até Cambáju, estão nas proximidades de Sitató, emboscam com resultados: “Por volta das 11.30 da manhã, passou pela minha frente um homem numa bicicleta, foi feito prisioneiro e depois mandando embora”. Mais à frente emboscam, também sem resultado. Fala do capelão, das milícias, das abatises que é preciso remover das estradas e depois descreve o primeiro ataque a Fajonquito.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10125: Notas de leitura (377): Massacres em África, de Felícia Cabrita (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10133: (De) caras (12): Foi com um arrepio que voltei ao Xime e a Mansambo, ao ver o vídeo sobre o quotidiano da Cart 2339 (António Vaz, ex-cap mil, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Vaz, ex- cap mil da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69), com data de ontem, com um comentário sobre o vídeo, excecional, de 50 minutos (, editado em duas partes), que publicámos sobre a vida e a obra dos Viriatos, o pessoal da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo), vídeo esse  que terá passado despercebido a muitos dos nossos camaradas que conheceram a região, e/ou que foram contemporâneos dos acontecimentos:


Data: 8 de Julho de 2012 17:59

Assunto: Imagens da Cart 2339

Camaradas da Cart 2339:

Foi com um arrepio que vi as imagens do vosso e nosso quotidiano no sector L1 da Guiné onde andei com a CArt 1746 do Xime. Operações de desmatação fizemos duas ou três,  sendo uma delas a Cabeça Rapada; fui a Mansambo mais que uma vez, comandei a 2339,  se não me engano 2 vezes,  por impedimento do vosso Capitão (Soares ?) e recordo que vocês eram Malta Porreira.

Revi e revivi as picadas, a intensa chuva, os tornadinhos, as bajudas, tudo.

Um grande agradecimento e um enorme elogio pelo que me foi dado ver e pelo cuidado posto na edição das imagens que não foi de certeza tarefa fácil.

Não há nada como a TROPA MACACA que nós fomos.

Abração do António Vaz
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Guiné 63/74 - P10132: Parabéns a você (447): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf.º da CART 2412; Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 e Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil da CCAÇ 3414

Para aceder aos postes dos nossos camaradas Adriano Moreira, Arménio Estorninho e Joaquim Peixoto, clicar nos seus nomes.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P10129: Parabéns a você (443): José Zeferino, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

domingo, 8 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10131: O Nosso Livro de Visitas (142): Rodrigo Moura, de Leça do Balio, Matosinhos, ex-sold radiotelegrafista, CART 2440 / BART 2857, Piche, 1968/70... Já voltou a Bissau, desde 2000, cerca de 20 vezes...

1. Telefonou-me há dias o Rodrigo Moura. Telefonou-me do Porto. Mas mora em Leça do Balio, Matosinhos. Está, profissionalmente, ligado ao comércio automóvel. Pelo que eu percebi, a empresa representa entre outras a marca BMW. Por esse motivo tem alguns clientes em Bissau, onde vai com frequência. Desde 2000,  já lá terá ido umas 20 vezes. Costuma ficar na Residencial Coimbra. Ou no hotel onde dantes era o nosso QG, Quartel General. Conhece o Xico Allen e o António Camilo. Mas não conhece o Patrício Ribeiro nem o Pepito. 


Foi nosso camarada de armas. Era soldado radiotelegarfista da CART 2440 / BART 2857 (Piche, 1968/70). Já visitou Piche, mais do que uma vez.

Falei-lhe na Tabanca de Matosinhos e no almoço-convívio das 4ªs feiras. Ficou com curiosidade em passar por lá um dia destes. Já alguém lhe tinha falado. Também o convidei a integrar a nossa Tabanca Grande, sugestão bem acolhida.

2. Nota do nosso camarada e colaborador permanente José Martins sobre a CART 2440

(...) "Seguiu em 22 de Novembro de 1968 para Piche, a fim de render a Companhia de Caçadores nº 2403, assumindo, em 1 de Dezembro de 1968, a responsabilidade do respectivo subsector, ficando integrada no dispositivo de manobra do seu batalhão [, o BART 2857]

"A partir de 6 de Julho de 1969, destacou um pelotão para a ponte do rio Caium e desde finais de Janeiro de 1970, outro pelotão para segurança e protecção dos trabalhos de construção e reordenamento de Cambor. 


"Em 12 de Agosto de 1970, foi rendida no subsector pela Companhia de Cavalaria nº 2749 e enquanto dois pelotões seguiram desde logo para Bissau e Bolama, deslocou-se para Nova Lamego a fim de reforçar temporariamente o Batalhão de Caçadores 2893, até 20 de Setembro de 1970, e após o que recolheu igualmente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

"Observações – Tem história da unidade, que pode ser consultada, no Arquivo Histórico Militar (caixa nº 119- 2ª Divisão – 4ª Secção).

"Texto retirado do 7º Volume – Fichas das Unidades – Tomo II - GUINÉ - da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exército." (...).



Sobre o BART 2857, vd. também o respetivo blogue


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Guiné 63/74 – P10130: Convívios (458): VIII Encontro da CART 1742, realizado no dia 26 de Maio de 2012 em Fafe (Abel Santos)




1. O nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) fez chegar ao nosso blogue a reportagem do VIII Encontro da sua Unidade, ocorrido no passado dia 26 de Maio na bonita cidade minhota de Fafe.


 VIII ENCONTRO DO PESSOAL DA CART 1742

FAFE - DIA 26 DE MAIO DE 2012

Conforme o estabelecido no programa, os camaradas concentraram-se às 10 horas da manhã na Praça 25 de Abril, junto ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra
 
Os primeiros reencontros

As nossas mulheres sempre presentes

Miranda - o Polícia, Abel e Soares

Abel, Mendes e Alves

Lopes - o Pastilhas, Abel e "Pintinho"

Pelas 11 horas foi celebrada Missa na Igreja Matriz de Fafe em sufrágio de todos os camaradas falecidos

Pelas 12 horas procedeu-se à deposição de uma coroa de flores no Monumento aos Mortos do Ultramar

Pelas 13 horas segui-se o Almoço/Convívio na Quinta do Penedo em Arões - S. Romão

Bolo comemorativo do VII Encontro

A difícil tarefa de partir o bolo para ser distribuído pelos presentes

A foto de família para memória futura

No final do Encontro foram distribuídos aos ex-combatentes os certificados de presença no VIII Encontro da CART 1742. 
A cada uma das senhoras foi oferecida uma rosa.
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 – P10081: Convívios (457): 5º Encontro da 1ª CART da BART 6520, Penafiel, 21 de Abril de 2012 (Manuel Sousa)

Guiné 63/74 - P10129: Parabéns a você (446): José Zeferino, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10106: Parabéns a você (442): António Nobre, ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Guiné, 1969/70)