sexta-feira, 24 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20895: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (8): Mais algumas dicas da "Chef" Alice Carneiro, do restaurante "Chez Nous"... Não comam muito, comam bem, façam exercício, e não se esqueçam também de alimentar os nossos bons irãs...





Lourinhã > Restaurante da Chef Alice Carneiro, o "Chez Nous" > 23 de abril de 2020 > Arroz de tomate com jaquinzinhos...



Lourinhã > Restaurante da Chef Alice Carneiro, o "Chez Nous" > 22 de abril de 2020 >  Pargo no forno, com espargos, cenoura, cebola, batatinhas..,





Lourinhã > Restaurante da Chef Alice Carneiro, o "Chez Nous" > 22 de abril de 2020 >  Bola de carnes afiambradas...




Lourinhã > Restaurante da Chef Alice Carneiro, o "Chez Nous" > 17 de abril de 2020 >   Bifinhos de porco, com cogumelos e arroz frito,,,


Lourinhã > Restaurante da Chef Alice Carneiro, o "Chez Nous" > 14 de abril de 2020 > Favas suadas,,,



Lourinhã > Restaurante da Chef Alice Carneiro, o "Chez Nous" > 12 de abril de 2020 > O folar da Páscoa... (comprado no mercado municipal)... O almoço da Páscoa, desta vez, não foi o anho assado com arroz de forno... Seria um crime "matar" um anho só para dois "cotas" ...E depois a Quinta de Candoz fica a 3 horas de distância, a norte...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Depois de mês e meio de confinamento,  por causa da maldita pandemia de COVID-19, a gente, aqui na Lourinhã, continua a comer,   moderadamente, todos os dias  mas também a fazer "Tai Chi Chuam" (45 minutos), dia sim, dia não... (Recomendei, no Facebook da Tabanca Grande, as aulas do prof Diogo Magalhães Sant' Ana, um pacote de 15 sessões, disponíveis no You Tube, pensadas para a "quarentena"): alguém, sinófobo, comentou: "Isso cheira a chinesice! e dos chineses nem quero ouvir falar!"... Enfim, sinal dos tempos... Já devias ter aprendido com a História: depois da pandemia, vêm a xenofobia, o racismo, a intolerância e outros cavaleiros do apocalipse!)

E vamos também deixando algumas iguarias, junto ao tronco do poilão da nossa Tabanca Branca, porque é preciso alimentar os nossos bons irãs...que nos protegem (a saúde mental). Ou seja: não comemos tudo o que cozinhamos, ou melhor, o que a Chef Alice Carneiro cozinha, cá no restaurante "Chez Nous" (*)...(Passe a piblicidade, muito melhor que o "Chez Toi", que conheci em Bissau.)

Portanto, fiquem descansados, caros leitiores, que esta comida toda (vd. fotos acima), não é só para dois gatos pingados, septuagenários, confinados, é também para os nossos bons irãs, que comem que se fartam... Além, disso temos um casal de rolas, no telhado, com uma ninhada... Em suma, estamos longe de estar sozinhos em casa...

Felizmente, têm-nos chegado outras  sugestões gastronómicas dos vagomestres da Tabanca Grande: por exemplo, da parte do régulo da Tabanca da Lapónia, o José Belo (**). Há, de resto, mais "dicas" do nosso camarada luso-lapão que aguardam publicação... Curiosamente, ninguém ainda teve a "lata" de apresentar iguarias com "enlatados" como os do nosso tempo de Guiné: arroz com cavalas, esparguete com atun... (Confesso que também tenho a minha reserva estratégica na arrecadação, refiro-me a latas de atum,  sardinhas e cavalas, mas ainda não lhes toquei, ficam para a próxima pandemia...).

O "bandalho" do Zé Ferreira também tem falado de alguns petiscos minhotos (lampreia, sarrabulho...), apreciados por ele e os restantes "bandalhos", em rota de colisão com o "corno do vírus", e tentando furar as "cercas sanitárias" do nosso descontentamento... Mas essas narrativas foram publicadas na nova série dele, "Boas Memórias da Minha Paz" que, em boa hora, sucedeu a outras séries de sucesso   como as "Memórias Boas da Minha Guerra"... Depois desta crise (que se vai arrastar),  ele não vai deixar de perder a oportunidade de publicar mais um livro, depois de criar outra série, aqui no nosso blogue, a que chamará as "Boas Memórias da Minha Pandemia & Pandemónio".

Outro aprendiz de Chef, a dar passos muito seguros para, num futuro não muito distante  mas glorioso, atingir o estrelato Michelin,é o nosso coeditor Jorge Araújo... Estava em Abu Dabhi, de  férias. quando foi apanhado pela pandemia de COVID-19,  que também atingiu os Emiratos Àrabes Unidos onde a sua "bajuda" trabalha, como professora universitária...Ou não fosse ele "ranger", tomou logo conta da... "casa das máquinas" ou "back office"(**), muito importante para sobreviver a  aesta crise com  "Mens sana in corpore sano" (,  latinório que quer dizer "mente sã em corpo são", como nos ensinaram na Mocidade Portuguesa e depois na tropa).

(...)  Assumi o controlo do território da "casa das máquinas" (fogão, frigorífico, louça, torradeira, micro-ondas, etc). Fazendo apelo à minha motricidade fina e usando também alguma criatividade, lá vou transformando os alimentos em algo agradável à vista e que satisfaça o estômago, e que nos dê alento para prosseguir neste tempo de muitos impedimentos e outras tantas dificuldades. A "coisa" está a correr bem... e os elogios estão em crescendo... A unidade entre teoria e prática nunca foi tão importante e necessária como agora. (.,,). 

E não se pense que ele (e ela)  só come(m) bacalhau à Brás: o nosso aprendiz de Chef das Arábias, todos os dias faz um prato novo!

Quanto ao nosso João Crisóstomo,. mordomo nova-iorquino de profissão, também não deixa os seus créditos por mãos alheias, a avaliar pelo seu poste de 28 de março último (****). Está trancado na sua casa em Queens,  com a sua loura Vilma, mas mal tem tempo para telefonar a todos os amigos à volta do mundo, para saber se algum já "lerpou" com o tal "cornovírus"...

De qualquer modo, faltam-nos os contributos  de muitos outros camaradas e amigos/as que, embora confinados/as, não deixam de comer (e de  precisar de comer)  todos os dias... Quarentena não é convento nem mosteiro.. Ou é ?... E para isso é preciso ter  um "vagomestre" que elabore as ementas e sobretudo que já abastecendo a copa ou a despensa, o que, nos tempos que correm, exige muita arte e ciência e alguns "pesos" no bolso...

Não se pode comer muito, não se pode ir aos restaurantes, muito menos ao Avillez, e para quem está em teletrabalho e com putos em casa,  é um tremendo desafio... e uma provação. (Mal ou bem, não ´é o caso de maior parte dos nossos leitores, que já são avós, e que, em contrapartida, estão a sofrer por não poder estar com os netos, beijar e abraçar os netos e os filhos, como o pobre do Juvenal Amado, que está a definhar de saudade!)...

Amanhã é outro dia... E a crise, tal como a guerra, ou mata ou passa!... Cuidem-se, e entretanto não deixem de nos ler e escrever!... Mandem-nos, ao menos, um cartanito de parabéns; o blogue fez ontem 16 anos, o que na Net é quase uma eternidade... LG

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 10 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20840: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (7): Ervilhas de quebrar com chouriço de porco preto alentejano e arroz: receita da "Chef" Alice Carneiro... E recomendações (nutricionais) da Direção-Geral de Saúde, para grandes e pequenos, em tempo de confinamento por causa da pandemia de COVID-19

(**) Vd. poste de 28 de março de  2020 > Guiné 61/74 - P20785: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (4): "Snaps", salmão fresco curado, filetes de arenque do Báltico recheados com salmão fumado... (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia, o único luso-lapão que sobrevive nestas paragens. Se houver outro, dão-se alvíssaras!)

(***) Vd. poste de 8 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20832: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (5): Um "bacalhau à Brás", de sete estrelas, na Tabanca dos Emiratos... com o régulo, Jorge Araújo, e a sua "bajuda"

(****)  Vd. poste de 28 de março de  2020 > Guiné 61/74 - P20783: Tabanca da Diáspora Lusófona (8): Em quarentena em Nova Iorque, combatendo o coronavirus com "Coronita" mexicana e sardinhas de Peniche... enquanto a Vilma tomou a decisão (corajosa) de aprender português e eu a missão (heroica) de aprender esloveno... (João Crisóstomo)

Guiné 61/74 - P20894: Parabéns a você (1792): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20882: Parabéns a você (1791): António Branquinho, ex-Fur Mil Inf do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20893: 16 anos a blogar (3): o obus de Bambadinca (foto do Frederico Amorim, autor da página "Mundo do Fred", 26/4/1997)


Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > Abril de 1997 > O obus de Bambadinca... Vestígios da guerra colonial: uma peça de artilharia (obus de 140 mm) abandonada pelos tugas. (Foto reproduzida gentilmente autorizada pelo Frederico Amorim. vd. O Mundo de Fred).

Foto (e legenda); © Frederico Amorim (1997). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > Setor L1 >  CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Um obus 14 (ou peça 11.4 ?) em trânsito por Bambadinca: da esquerda para a direita, o alf mil  Ismael Augusto, um furriel não identificado e o furriel José Carlos Lopes...

No tempo dos BCAÇ 2852 e BART 2917, ou seja entre 1968 e 1972, Bambadinca não tinha artilharia... Mas muitos obuses 14 e peças 11.4 passaram por aqui, desembarcados no Xime, ou mesmo no porto fluvial de Bambadinca  a caminho de outras guarnições do leste, nomeadamente situadas nas zonas fronteiriças. No final da guerra, estes equipamentos regressaram pelo mesmo caminho. No setor L1, só havia artilharia (3 obuses 10.5) no Xime e em Mansambo.

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

O Fred, foto atual. Cortesia do
"Mundo do Fred"
1. É uma raridade, esta foto, com o obus de Bambadinca, Foi tirada pelo Fred, o Frederico Amorim, em 1997, e divulgada na Net, numa altura em que ainda havia muito poucos sítios, individuais, dedicados a viagens. "Mundo do Fred", na sua primeira versão, data de 1998. 

Como ele explica:

(...) Tendo desenvolvido uma enorme paixão pelas viagens, comecei a criar um site para divulgar as aventuras mas também que me permitisse alimentar essa paixão durante todo o ano e não apenas nas férias. O primeiro site Mundo do Fred foi para o ar em 1998, ainda a Internet, conhecida como World Wide Web, era utilizada por uma pequena minoria. (...)

Se não erro, o "Mundo do Fred" estava originalmente alojada  no portal português Sapo. O Fred transferiu o seu sítio, em 2006.  E criou uma 3ª versão mais recentemente;

.(...) "Por fim em 2018, 20 [anos] depois, coloquei no ar a versão 3 do Mundo do Fred, finalmente com o seu domínio próprio e com a ajuda de ferramentas que hoje estão disponíveis para ajudar neste desenvolvimento de conteúdos." (...). 

Perdi o link original  da foto do velho obus de Bamadinca, que reproduzi no poste nº 3, de 28/4/2004, no início da nossa aventura bloguística (*). Só hoje, 16 anos depois,  a recuperei, com muita alegria, ao redescobrir a última versão, a 3, do "Mundo do Fred".

Explica-nos ele como é que começou essa paixão pelas viagens.

(...) A minha primeira grande viagem foi aos 15 anos, com uma travessia de carro através de Espanha até chegar ao Sul de França, Itália até Milão, Suíça e regresso a Portugal. Hoje pode parecer banal, mas nos anos 80′ era um grande feito quando ainda se parava em cada fronteira da Europa para mostrar o passaporte. Dois anos depois fomos de carro a Paris e no ano seguinte a Londres. Dez anos depois chegava ao “fim do mundo” na Terra do Fogo.

Hoje, da mesma forma que os meus pais me levaram a viajar desde cedo, tento fazer o mesmo com os meus filhos. Mas hoje as condições de vida em Portugal e a massificação das viagens com a globalização, permitem que as viagens cheguem mais longe e com melhores condições, assim como o acesso a mais informação facilmente. Se os meus pais me levaram até à longínqua Hungria de carro, eu já levei os meus filhos ao México e ao Vietname. (...)

2. Sabemos que de 20 a 27 de abril de 1997, o Fred foi, com um grupo de amigos,  todos jovens, incluindo um amigo guineense, com família em Bissau e em Bambadinca, em viagem até à Guiné-Bissau.

Não sabemos quais eram então  as suas motivações, para além do prazer da descoberta e da aventura. Ele deveria ter já nessa altura vinte e poucos anos .E até é possível que o seu pai tenha estado na Guiné, no tempo da guerra colonial, como militar ou como civil...

De qualquer modo, em 1997, a Guiné-Bissau estava longe de ser um "destino apetecível"... E no ano seguinte, 1998, 'Nino' Vieira é derrubado por um golpe de estado e o país é mergulhado numa guerra civil-

O Fred conheceu, portanto, a Guiné Bissau, ainda sob o regime "nitista" e tirou fotos de alguns sítios por onde viajou, incluindo esta foto "patética", que ainda hoje nos causa calafrios, mas também repulsa e compaixão,  a de um velho obus, abandonado, esventrado, sem rodas, reduzido  ao miserável "esqueleto", esquecido,  sem honra nem glória, apontando, cego, surdo e mudo, o teu tubo inútil à grande bolanha de Bambadinca..

Ele escreveu no seu diário:

 "26/4 – Bafatá – Bambadinca – Bissau : Confrontos em Bafatá: tiros e carros incendiados. Houve uma greve dos funcionários públicos, sem salário há 5 meses, que culminou em violência. Visita à cidade. Bambadinca: conversa com um empresário local. Restos de canhão da guerra colonial. Visita à madrasta e irmãos do Serifo.  Bissau. Jantar em Quinhamel. Estadia no Hotel Hoti-Bissau. Discoteca Kapital."

Mas foi o "obus de Bambadinca" que me chamou a atenção,quando,  em 28 de abril de 2004, andava à procura de uma foto de Bambadinca  e então  dei com a sua página na Net, com fotos de Bafatá, Bambadinca, Saltinho, com paisagens que me eram familiares,,,

Havia ainda na época muita sucata da guerra (viaturas, peça de artilharia, etc., a par de instalações militares), espalhadas por toda a Guiné, e que eram testemunhas arqueológicas de um guerra já esquecida, a de 1961/74...

3. Volto a reproduzir essa foto (, com a devida vénia ao autor...) e as notas de viagens que a acompanham  (a esta e a outras, aqui disponíveis no respetivo sítio). 

 Guiné Bissau / Bafatá e Interior

Bafatá é a segunda maior cidade da Guiné-Bissau com 10.000 habitantes. Fica no interior do país na margem do Rio Geba, 150 kms a leste de Bissau.



Bafatá é uma cidade surpreendentemente tranquila, caracterizada por uma predominância de edifícios e casas coloniais, infelizmente num estado avançado de degradação. O herói nacional, Amílcar Cabral, nasceu em Bafatá e esse facto está assinalado num pequeno monumento com o seu busto e na casa onde nasceu, perto do Mercado Central. A cidade fica numa colina sobre o Rio Geba. 12 kms a oeste ficam as ruínas de Geba, um antigo entreposto português.

Cussilinta é um lugar mágico onde se pode contemplar uma magnífica paisagem natural num rio de leito rochoso com selva em redor. Nada com um belo banho na água quente…

Saltinho é outro lugar paradisíaco num enorme leito de rio rochoso com cascatas e selva em redor. Fica a 25 kms a sudeste de Xitole (por sua vez, 35 kms a sul de Bambadinca), junto à aldeia de Mampatá. As suas cascatas são muito bonitas e ainda mais na época das chuvas, tornando-se o rio num lago imenso. Saltinho tem ainda hoje uma importante ponte construída pelos portugueses nos anos 60.

Bambadinca é uma cidade a oeste de Bafatá. Foi um importante palco da guerra colonial, encontrando-se ainda vestígios desse conflito, como um velho obus.

Fonte : Mundo do Fred (com a devida vénia...)

Obrigado ao Fred por, mesmo sem a sua vontade expressa, nem sequer o seu conhecimento, ser associado à celebração dos 16 anos do nosso blogue... Mas é por uma boa causa... Sei que ele ficou a adorar, em abril de 1997, aquela terra e aquelas gentes. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de abril de 2004 > Guiné 63/74 - P3: Excertos do diário de um tuga (2) (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P20892: 16 anos a blogar (2): "Exma menina e saudosa madrinha: Em primeiro de tudo, a sua saúde que eu por cá de momento fico bem, graças a Deus"... Excerto de um aerograma... O nosso primeiro poste, publicado no já longínquo dia 23/4/2004.


Um "aero" (sic) enviado de Bissau, com data de 25/12/1969, por um dos correspondentes da nossa grã-tabanqueira Maria Alice Ferreira Carneiro. O SPM era o 0148. Este aerograma foi utilizado apenas como envelope ou sobrescrito. Lá dentro vinham duas folhas, em papel azul, bíblico, como se fosse uma carta por avião. O "aero" tinha a vantagem de não pagar porte nem sobretaxa aérea. Essa prática, embora corrente, era fraudulenta, era contra os regulamentos ("É proibido usar qualquer objecto ou documento"). Era vulgar também mandar-se, dentro de uma "aero", uma fotografia ou um "santo antoninho" (nota de 20 escudos, que na época, em 1969, era o equivalente, hoje, a 5 euros e 98 cêntimos)... Com 10 toneladas de correio por dia, durante a guerra colonial, o SPM não podia vigiar e punir estas pequenas fraudes...


Foto (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017). Todos os direitos reservados.



1. Foi assim, quase sem querer, que começou o nosso blogue: em 23 de abril de 2004, publiquei aquele que seria o primeiro poste (*) do blogue que viria a chamar-se Luís Graça & Camaradas da Guiné e dar origem à Tabanca Grande.

Eu tinha um blogue, que criei em 8 de outubro e 2003, e que se chamava "Blogue Fora Nada", ainda hoje disponível "on line" (**): seria, mais tarde, rebatizado como blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (I Série). Essa história, de resto, já aqui está contada e recontada (***).

Foi neste blogue que publiquei o primeiro texto alusivo à guerra colonial na Guiné. Na altura tinha-me chegado às mãos uma coleção de quase de duas centenas de cartas, recebidas por uma "madrinha de guerra". 

Dessas publiquei uma, nas vésperas do 25 de Abril de 2004, em jeito de homenagem às "nossas mulheres" e, em particular, às "nossas madrinhas de guerra". (Em boa verdade, já tinha feito, há anos atrás, em 1980, um primeiro tratamento temático dessas cartas; um artigo meu, sobre o tema, já fora publicado no extinto semanário "O Jornal", na secção criada pelo saudoso jornalista Afonso Praça, "Memórias da Guerra Colonial").

Dezasseis anos depois do primeiro poste do nosso blogue, voltamos aqui a reproduzir o aerograma de um camarada da Guiné, cujo nome na altura se omitiu (bem como o da sua companhia), e que era datado da véspera do Natal de 1969:


Guiné, 24 de Dezembro de 1969

Exma menina e saudosa madrinha:

Em primeiro de tudo, a sua saúde que eu por cá de momento fico bem, graças a Deus.

Estava um dia em que meditava e lamentava a triste sorte que Deus me deu até que toquei na necessidade de arranjar uma menina que fosse competente e digna de desempenhar tão honroso e delicado cargo de madrinha de guerra. Peço-lhe desculpa pelo atrevimento que tive em lhe dedicar estas simples letras. Mas valeu a pena e é com muita alegria que recebo o seu aero [aerograma].

Vejo que também está triste por mor  da mobilização do seu mano mais novo para o Ultramar. Não sei como consolá-la, mas olhe: não desanime, tenha coragem e fé em Deus. Eu sei que custa muito, mas é o destino e, se é que ele existe, a ele ninguém foge. Nós, homens, temos esta difícil e nobre missão a cumprir.

Nós, militares, que suportamos o flagelo desta estadia aqui no Ultramar, não temos outro auxílio, quer material quer espiritual, que não seja o que nos dão os nossos amigos e entes queridos. E sobretudo as nossas saudosas madrinhas de guerra.

Sendo assim para nós o correio é a coisa mais sagrada que há no mundo. Porque nos traz notícias da nossa querida terra e nos faz esquecer, ainda que por pouco tempo, a situação de guerra em que vivemos e os dias que custam tanto a passar.

As notícias aqui são sempre tristes, nestas terras de Cristo, habitadas por povos conhecidos e desconhecidos. Não lhe posso adiantar pormenores, mas como deve imaginar uma pessoa anda triste e desanimanada sempre que há uma baixa de um camarada.

Lá na metrópole há gente que pensa que isto é bonito. Que a África é bonita. Eu digo-lhe que isto é bonito mas é para os bichos. São matas e bolanhas que metem medo, cobertas de capim alto, e onde se escondem esses turras que nos querem acabar com a vida. 


E mais triste ainda quando se aproxima o dia e a hora em que era pressuposto estarmos todos em família, juntos à mesa na noite da Consoada. Vai ser a primeira noite de Natal que aqui passo. Com a canhota [espingarda automática G3]  numa mão e uma garrafa de Vat 69 {, marca de uísque] na outra.

São duas horas da noite e vou botar este aero na caixa do correio. Daqui a um pouco saio em missão mais os meus camaradas. Reze por nós todos. Espero voltar são e salvo para poder ler, com alegria, as próximas notícias suas. Queira receber, Exma. Menina e saudosa madrinha, os meus mais respeitosos cumprimentos. Desejo-lhe um Santo e Feliz Natal.

O soldado-atirador da Companhia de Caçadores (...)


2. A carta era antecida de um preâmbulo do nosso editor Luís Graça. A nossa amiga e camarada enfermeira-paraquedista Maria Arminda Santos é a única que tem um comentário a este poste (*), do seguinte teor: 

(...) Belíssimo texto, com a exaltação da mulher portuguesa e o papel importantíssimo, que outrora e hoje,a mesma desempenhou e desempenha, na nossa sociedade. Lembrar também as "madrinhas de guerra,de numa época embora longínqua mas que para muitos ainda está presente e o papel fundamental que tiveram na vida dos combatentes, seus afilhados, é uma merecida e justa homenagem, que o Blogue de Luis Graça e Camaradas da Guiné, o tivesse postado no início da Tabanca Grande e nos voltasse e nesta data, a recordar. um abraço. Mª Arminda. (...)

Nesse ano de 2004, só se publicaram 4 postes com temas alusivos à guerra colonial na Guiné. Mas foi o ponto de partida da nossa Tabanca. Temos o descritor Blogue-Fora-Nada com cerca de meia centena de referências. Por ocasião do nosso aniversário, temos vindo todos os anos "repescar" alguns dos melhores postes já publicados... E já lá vamos a caminhos dos 21 mil... Que os bons irãs nos protejam na caminhada pela picada da vida, sempre cheia de minas e armadilhas, antes, durante e depois da nossa participação na guerra da Guiné (1961/74)... Hoje as minhas 6 armadilhas estão relacionadas com a pandemia de COVID-19 e o confinamento a estamos obrigados... Mas continuar a blogar é preciso! (****)
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Notas do editor:

(*)23 de abril de 2004 > Guiné 63/74 – P1: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)

(****) 21 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20886: 16 anos a blogar (1): O helicóptero, poema de Jorge Cabral, comentário de Torcato Mendonça

Guiné 61/74 - P20891: (D)o outro lado do combate (59): A morte dos três majores no chão manjaco, em 20/4/1970, e a intervenção de Amíclar Cabral, três semanas depois, na reunião do Conselho de Guerra (Jorge Araújo)


 PAIGC > Conselho de Guerra > Reunãio de 11/5/1970 a 13/5/1970. Acta das reuniões. Detalha da Capa. 

[Amílcar Cabral: (...) Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos nossos camaradas do Norte. É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim três majores, três oficiais superiores que, nas condições da nossa luta, equivale à morte de generais. (...)]




Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974);  professor de eduxção física, docente do ensino superiro; nosso coeditor, autor da série "(D)o outro kado do combate"; régulo da Tabanca dos Emiratos,


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE:
A MORTE DOS TRÊS MAJORES NO CHÃO MANJACO
EM 20 DE ABRIL DE 1970 E A INTERVENÇÃO DE AMÍLCAR CABRAL NA REUNIÃO DO CONSELHO DE GUERRA TRÊS SEMANAS DEPOIS
1.   - INTRODUÇÃO
Saúdo a oportuna e sentida homenagem pública aos "sete militares chacinados pelo PAIGC no Chão Manjaco", feita ontem pelo camarada Manuel Luís Lomba - P20879.

A narrativa lembra a todos os que nele estiveram envolvidos ou dele foram tendo conhecimento ao longo dos últimos cinquenta anos (1970.04.20-2020.04.20), alguns antecedentes históricos e respectivas consequências.

Como fazemos parte do último grupo, os que foram coleccionando informações avulsas, umas vezes da autoria dos que viveram muito de perto este horripilante acontecimento, enquanto informantes e/ou observadores privilegiados, outras, corolário de diferentes análises documentais que, por serem feitas em síntese, ficam amputadas de detalhes que podem influenciar a compreensão da sua totalidade.

Partindo dos diferentes comentários dos camaradas: Luís Lomba, Manuel Carvalho e, particularmente, do Valdemar Queirós, quando coloca no seu texto "também não me lembro da informação do PAIGC sobre o assunto" (e eu também não!), levou-me a indagar junto do Arquivo  Amílcar Cabral, existentes na CasaComum, Fundação Mário Soares, algo relacionado com o tema.

Encontrei a "Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra", realizada em Conacri, de 11 a 13 de Maio de 1970, três semanas após a consumação do Massacre, sendo este o primeiro (e único) documento «(D)o Outro Lado do Combate» que, no meu entender, faz fé quantos às motivações dos seus "actores" e "autores".

Sugiro, também, a leitura da entrevista dada ao "cmjornal", por Francisco Rodrigues, publicada em 30Mar2008, um dos militares que esteve na recuperação dos corpos dos sete mártires. [in: https://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/vi-os-corpos-mutilados-dos-tres-majores, com devida vénia.



 PAIGC > Conselho de Guerra > Reunião de 11/5/1970 a 13/5/1970. Acta das reuniões. Capa


[Página 1]




2.   - A ACTA DA REUNIÃO DO CONSELHO DE GUERRA (ALARGADO)

Transcrição da intervenção de Amílcar Cabral (1924-1973), manuscrita por Vasco Cabral (1926-2005), secretário da reunião do Conselho de Guerra realizada em Conacri de 11 a 13 de Maio de 1970

► S.G. [Secretário-geral, Amílcar Cabral] – Saúdo os camaradas. É com o máximo prazer que fiz esta reunião que, desta vez, é em Conacri, para variar.

Desde a última reunião do B.P. [Bureau Político] até esta, a luta já mudou bastante. A Leste é uma mudança constante. Por ex.: fomos capazes de atacar Mansoa e Bissorã, com novas armas. Nesta altura, a posição do inimigo é diferente. O inimigo deve estar a pensar o que deve fazer para evitar os nossos ataques aos centros urbanos. Conseguimos fazer causar ao inimigo, em todas as frentes, um choque psicológico bastante grande. Conseguimos anular a tentativa do inimigo de desorientar as nossas populações.

A situação mudou também por causa da acção levada a cabo no Norte contra alguns oficiais superiores, em consequência da acção combinada das nossas forçadas armadas, da segurança e da Direcção do Partido.

A liquidação dos 3 majores, 1 alferes e alguns outros elementos (segundo alguns camaradas, um capitão e um chefe da Pide), mostrou que era falsa a propaganda dos tugas de que estavam à vontade na nossa terra. Por outro lado, os tugas estavam convencidos de que conseguiam comprar as nossas gentes.

Toda a política do Spínola [1910-1996], em consequência destas nossas acções está posta em causa para toda a gente, tanto dentro como fora da nossa terra, o nosso prestígio aumentou bastante e até mesmo para o nosso inimigo. Sobretudo esta liquidação dos oficiais superiores contribuiu para isso. O tuga pensava antes que nós todos éramos cachorros. O tuga agora já se convenceu do contrário. Isso aumentou a nossa dignidade, a nossa importância aos olhos do próprio inimigo.

A situação hoje é diferente da altura em que fizemos a reunião em Boké. Os nossos camaradas deram provas de capacidade. Nesta luta, como costumamos dizer, tudo é possível. Conseguimos levar armas pesadas do Sul para o Norte, quase sem perdas: perdemos dois camaradas e três armas. Os nossos camaradas foram capazes de enganar, discutir com eles, convencê-los, apesar da sua imensa experiência e capacidade e liquidá-los.

No intervalo da reunião de Boké para este, um ponto importante do nosso tema que é, o Kebo foi atraído diversas vezes. Isto é também importante. Sobre a passagem de armas do Sul para o Norte.


 [Página 2]

Através de certos camaradas que estão em Canchungo [mais conhecido por chão de manjacos], os tugas tentaram combinações com eles com vistas a desmoralizar a nossa gente. Tentaram, servindo-se de elementos da FLING [Frente de Libertação para a Independência da Guiné], portanto a um nível mais baixo, desmobilizar a nossa gente, sem resultados. Por consequência foram à prisão de quatro dirigentes da FLING. Tentaram contactar Albino, Braima Dakar e outros. E na região do Quinara. E também com gente na periferia da nossa luta: Luís Pinto e João Cabral.

Tentaram a ligação com André Gomes e com Quintino [Gomes; 1946-1972]. Eles avisaram a Direcção do Partido, para o interrogar. André Gomes deu mais uma prova de confiança no Partido. Ele mesmo supunha que os tugas queriam desertar. Só depois é que se viu o que queriam era desmobilizar a nossa gente.

O Secretário-geral deu o seu acordo à proposta mas pediu que agíssemos depressa. Luís Correia pôs-se, por sua própria iniciativa, em contacto com os camaradas da Zona, Lúcio Touchô também foi envolvido na combinação. Ele pôs-se em contacto com os tugas, mas quem devia falar era Braima Dakar que jogou um papel de defesa do Partido.

Os tugas escreveram cartas amáveis e respeitosas aos camaradas, um grande namoro. Deram-lhes muitos presentes. Propunham que os guineenses deviam substituir os cabo-verdianos, de quem já tinham feito uma lista negra de trinta e que deviam ceder os seus lugares a guineenses. Deram presentes vários: conhaque, whisky, vários panos para as mulheres, relógios, cigarros bons, etc..

Encontraram-se cinco vezes. Na quarta vez, esteve presente o governador [Spínola] que apertou a mão, tirando a luva, do nosso camarada André Gomes (Amílcar lê uma das cartas de um major, Pereira da Silva, a André Gomes).  No dia do encontro, deviam vir os nossos camaradas chefes e estava prevista a vinda do próprio governador [Spínola].

Os camaradas vieram de facto acompanhados das suas armas. Apareceu mesmo o Luís Correia e eles já sabiam da sua presença. Para não desconfiarem disseram-lhe que o Luís Correia estava presente e que era um alto responsável do Partido.

Durante as conversações com os tugas, foi decidido pararem os bombardeamentos aéreos e os combates. Isso aconteceu de facto: os nossos camaradas pararam também certas acções (Amílcar lê uma outra carta do Major [Alferes] Mosca). Braima Dakar aproveitou para fazer certas exigências. Pediu a libertação do seu país, a libertação de dois camaradas (Claude e José Sanhá) e foram mesmo soltos (já cá estão).

Durante a trégua, os camaradas levantaram minas na estrada de Bula-Binar.

Mesmo assim houve uma emboscada, aos tugas, na qual, segundo uma carta apanhada de um dos majores, afirmam que morreram quatro tugas.

[Será que se referem a: António da Silva Capela e Henrique Ferreira da Anunciação Costa, da CCAV 2487, em 18OUT69; e Joaquim José Ramalho Rei e Manuel Domingos Martins, da CCAV 2525, em 07Dez69]?

Também dão notícia dos ferimentos graves que sofreu um capitão que estivera com eles nessa reunião, ao tentar detectar minas: perdeu um braço e uma das vistas.
[Segundo José Paulo [Abreu Nogueira] Pestana (então capitão da CCAÇ 2466/BCAÇ 2861), "foi ele que mais tarde foi substituir o capitão [José Júlio da Silva de] Santana Pereira [CCAÇ 2367/BCAÇ 2845], ferido com uma mina antipessoal na zona de Có-Pelundo, onde se construía uma estrada entre Bula e Teixeira Pinto. Nunca podíamos descurar as minas colocadas nos trilhos, que já haviam vitimado um alferes (José Manuel Brandão, da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892, em 02Mar70) e ferido o capitão". - in https://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/conheci-os-tres-majores-assassinados (04Jan2009)], com a devida vénia.


[Página  3]

► Nino – Salienta a importância dos nossos camaradas terem levado à certa grandes homens dos tugas. Isso foi porque os tugas nos consideram como cachorros. Os tugas sentem hoje qual é a nossa força tanto moral como política.

► Amílcar – Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos nossos camaradas do Norte. É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim três majores, três oficiais superiores que, nas condições da nossa luta, equivale à morte de generais.

Refere o artigo de [Cor Hélio] Felgas [1920-2008] na Revista Militar [n.º 4 – Abril de 1970] que, no fundo, é um grande elogio ao PAIGC. Diz algumas das suas observações a nosso respeito. Talvez que os tugas vão desenvolver uma acção de grande envergadura e de repressão.

Depois do acontecimento [dos majores], publicaram um pacto, ao qual propunham mais contactos com os nossos militares, mas não onde se realizaram [os anteriores] mais um em Canchungo e um em Pelundo.

Dizem que os nossos militares não cumpriram os preceitos de honra militar. Mas que eles cumprirão no futuro os deveres de honra militar. Eles afirmam que querem o fim da guerra. Também as populações de certas zonas (Mansoa, por exemplo) estão bastante influenciadas pela realidade, pela utilização de novas armas. Dizem por exemplo: "agora, mama acabou" (querendo significar que já não há protecção junto dos tugas nas cidades). Apelo aos camaradas para terem iniciativas, pensarem profundamente nos problemas, criarem, conhecerem bem cada um dos seus homens.
Anuncio os problemas que vão a seguir ser discutidos (ordem de trabalhos).
[…]
Fonte:

Citação:
(1970-1970), "Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry". CasaComum.org, Disponível http:htrp://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34125.

Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 07073.129.004
Título: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry
Assunto: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, em 11 e 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral.
Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai [Indjai], Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai.
Secretário: Vasco Cabral.
Data: Segunda, 11 de Maio de 1970 – Quarta, 13 de Maio de 1970.
Observações: Doc incluído no dossier intitulado Relatórios: 1960-1970.
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: ACTAS


Obrigado pela atenção.
Um forte abraço de amizade (virtual)… e votos de muita saúde em tempo de "clausura"
Jorge Araújo.
21ABR2020.
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quarta-feira, 22 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20890: (Ex)citações (366): Assim como que ... uma resposta ao Mário Gaspar, que diz que nunca viu no mato, em 23 meses, nenhum fuzileiro, comando ou ranger (Ramiro Jesus, ex-fur mil cmd, 35ª CCmds,Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)


Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto >  35ª CCmds e Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73) > Março de 1972, durante a protecção aos trabalhos de desmatagem das margens, ou da pavimentação, da estrada entre Teixeira Pinto e o Cacheu. Eu, nas costas de uma Daimler, tendo do meu lado esquerdo o então Furriel Comando Paquete e à minha direita o então Alferes Comando Alfredo Campos, comandante do Pelotão da 35ª  CCmds a que ambos pertenciam. (...) "O Furriel Mil Comando Paquete, da 35ª CCCmds, infelizmente já não está entre nós. Segundo informação do Ramiro de Jesus, também ele ex-fur mil comando da 35ª CCmds, natural de Aveiro (e, portanto, meu conterrâneo), o Paquete, depois do regresso à metrópole, morreu atropelado por um comboio em Vila Franca de Xira.

Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73) , mora em Aveiro e é membro da nossa Tabanca Grande desde 9/12/2012][, foto à esquerda]:

Date: segunda, 20/04/2020 à(s) 12:21

Subject: Assim como que ... uma resposta.

Bom-dia, amigos.

Antes de mais, os votos de que se mantenham "operacionais" e, portanto, isolados do famoso SARS-CoV-2.

Numa das minhas consultas de ontem ao blogue - a do fim da tarde - reparei no relato exaustivo da vida militar (e não só) do camarada Mário Gaspar  (*), em que lamenta as suas passagens por vários "cárceres", embora reconheça, implicitamente, que nalguns casos nem eram muitos rigorosos, já que lhe permitiram (como confessa), algumas liberdades e vários "desenfianços". Este último é que está a custar, quanto mais não seja, porque os outros já passaram há muito.

Mas, como salienta, somos COMBATENTES. Portanto ... venceremos!

Entretanto, porque não compreendi muito bem o que escreveu, copiei e reproduzo a seguir os últimos parágrafos do texto, para ver se é possível ele próprio, e por intermédio do Blogue, esclarecer o que pretendeu dizer.

(...) Curioso que nunca vi no mato – foram praticamente 23 meses – nenhum Fuzileiro, Comando ou Ranger. Aliás, minto. Existia na minha Companhia um Ranger, o Furriel Miliciano José Nicolau Silveira dos Santos – o grande Amigo Açoriano que vive no Canadá.

Somos Combatentes e PRESOS, de Serviço durante 24 horas; não autorizados a licenças de recolher; sem fins-de-semana. Os chamados Tropas Especiais – tenho muitos Amigos Combatentes nessa Tropa – mas viviam em Bissau e eram chamados para Operações. Podiam ir "às meninas", petiscar no Zé da Amura ou andarem aos tiros uns contra os outros após de jogos de futebol entre eles.

Mas este flagelo, ou surto que ataca o Mundo não é – como ouvi e li – uma guerra – nem o exagerado termo, 3.ª Guerra Mundial, embora tenha muitas semelhanças, esta é a minha opinião.

O que será então? É o desafio que deixo ao Blogue. (...)



Porque, afirmar que «é curioso mas nunca vi no mato um fuzileiro, comando ou ranger» pode ter várias interpretações.

Senão vejamos:

- Em primeiro lugar é necessário esclarecer o que entende por mato.

- Depois o que quer dizer este encontrar,

Ora, se, como a generalidade de toda a tropa, considerarmos o tal mato tudo o que não era Bissau, então digo, desde já, ao amigo Mário que não sabe do que fala. Porque nem todos «viviam em Bissau e eram chamados para operações».

No meu caso - 35ª CCmds - cheguei a Bissau no dia 29/11/71, embarquei numa LDG no dia seguinte, para Teixeira Pinto (hoje Canchungo), vim a Bissau (Brá) passado um mês receber o crachá (depois do treino de adaptação e confirmação de habilitação na especialidade) e só voltei à capital em Setembro do ano seguinte, para vir de férias. Regressei em Outubro e só retornei a Bissau em Março/73, para voltar de férias, tendo até nisto tido azar, já que no dia que embarcava (25/03/73), derrubaram o bom "militante" do Blogue, tenente [pilav Miguel] Pessoa, e já não houve avião da TAP.

Voltei em Abril/73 e só saímos dali em Junho, mas para Bula, que estava a ser massacrada. Tivemos de "limpar a zona".

Tenho, como testemunhas, mais dois bons "militantes" do Blogue, os ex-alf [Francisco] Gamelas (que nos levava ao Bachile ou mais à frente) e [António Graça de].Abreu (o "navegador" que ainda hoje deu notícias), ambos adstritos ao CAOP1

E a companhia que rendemos - a 26ª CCmds. - terminou a comissão onde a encontrámos, lá em Teixeira Pinto. Praticamente todos os dias tínhamos gente no mato, mas este o mato mesmo, para além «da paliçada e do arame farpado» - Caboiana, Churo, Balenguerês, Punta Costa, etc - Em Bissau estavam só os Comandos Africanos, no Batalhão.

Depois, como queria o amigo Gaspar encontrar as «tropas especiais»? Só carregando o Obus (suponho que fosse a sua arma) naquelas longas caminhadas, que muitas vezes começaram à meia noite, o que não seria muito prático.

Mas podia ter encontrado mais que um ranger, pois, como devia saber, não havia companhias de rangers, uma vez que só tinham esta especialidade oficiais e sargentos, que enquadravam a tropa normal e, portanto, estavam espalhados por todo o território.

Bom, mas, para terminar tão longa dissertação resta-me recomendar ao camarada M. Gaspar que tenha mais um pouco de paciência para vencer mais esta "guerra" que, como ele, também acho que não é guerra e que não enverede por caminhos tão trilhados por tão boa gente, que, para enaltecer o que é ou o que fez, tende a desmerecer o que outros são ou fizeram.

Um abraço para todos, em especial para aqueles que citei no texto.
Ramiro Jesus
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Nota do editor:

(*) Vd. último poste da série >  19 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20875: (Ex)citações (365): Os ex-combatentes, agora confinados por causa da pandemia de COVID-19... Hoje, como ontem, "presos"! (Mário Gaspar, ex-fur mil at inf, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

Guiné 61/74 - P20889: Em busca de... (306): Armando, o pequeno Armandinho, que em 1973/74, quando internado no HM 241 de Bissau, frequentava a casa do CEM do CTIG, Coronel Henrique Gonçalves Vaz (Luís Beleza Gonçalves Vaz)

1. Mensagem datada de 19 de Abril de 2020 do nosso Grã-Tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz, professor do ensino básico em Vila Verde e filho do falecido Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74). Tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974.

Quer encontrar um velho amigo, o então jovem Armando, que esteve internado no HM 241 de Bissau, vítima de guerra de que lhe resultou a perda de uma das pernas. Frequentava, como convidado, a casa do então CEM, senhor Coronel de Cavalaria Henrique Gonçalves Vaz.


EM BUSCA DO ARMANDINHO

É com muita satisfação que volto aqui a escrever sobre o “Armando do Hospital de Bissau”, uma criança que conheci no ano de 1973 a cuidado dos militares médicos e enfermeiros que trabalhavam no Hospital Militar de Bissau nessa mesma altura.

Conheci-o muito bem, pois durante um ano, entre 1973 e 1974, ia várias vezes durante a semana vê-lo ao Hospital e muitas vezes regressava connosco (comigo e com os meus dois irmãos) para nossa casa em Sª Luzia, onde brincava muito, comia e dormia.

Na semana passada falei dele ao meu mano mais novo (Paulo Vaz) e os dois revivemos as nossas memórias daqueles tempos conturbados, tempos de guerra mas que para nós jovens na altura, nos marcou para toda a vida. Conhecer esta criança na altura, o Armando, foi uma experiência humana e de afetos inolvidável, já que ele tinha perdido a sua família numa explosão de uma mina e tinha sido evacuado para o hospital Militar de Bissau, penso que em finais de 1972 ou inícios do ano de 1973.

No início teria sido o meu próprio pai, o Coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG, que o convidou para ir passar uns dias lá em nossa casa (na Base Militar de Santa Luzia), para poder brincar com miúdos como ele, eu tinha 13 anos e o meu irmão mais novo, o Paulo tinha apenas dez anos, o Armando talvez oito anos, depois tornou-se rotina e uma visita desejada por nós. Lembro-me dele como um miúdo muito alegre, inteligente e bem-disposto. Ainda me lembro, quando no meu quarto, o Armando tirava a prótese (da perna) e continuava a saltar, brincar e falar, sem constrangimentos nenhuns, sim falava muito, demonstrando sempre vontade de saber, de apreender, pois lembro-me muito bem que o Armando (para nós ficou sempre apelidado de Armandinho) demonstrava uma grande curiosidade e uma grande alegria de viver, apesar de ter perdido parte de uma perna e os pais numa explosão de uma mina, facto responsável pela sua evacuação para o Hospital Militar.

Sempre me disse que era MUITO BEM TRATADO PELOS MILITARES DO HOSPITAL MILITAR DE BISSAU. Volto a registar aqui neste nosso Blog, de que gostaria muito de saber onde se encontra e contactar com ele. O meu regresso à Metrópole naquela altura foi um "pouco abrupto", devido ao 25 de Abril, fiquei sempre com saudades dele, e disseram-me que o Armando teria vindo em 1974 com um médico militar para a Metrópole, para frequentar uma instituição em Portugal! Será verdade, se alguém souber notícias dele, gostaria que me contactasse.




Base Militar de Santa Luzia, Bissau, 1974 - O pequeno Armando

No passado mês de março voltei a pedir à minha irmã, que na altura estudava arquitetura no Continente e nos visitava de vez em quando em Bissau, que tentasse descobrir as fotografias do “Armando na Guiné” da sua autoria, e ela procurou e procurou até que encontrou estas fotografias do Armando e que me fizeram viajar no Tempo, recordando os “momentos muito intensos” que vivi na Ex Província Portuguesa da Guiné.


Base Militar de Santa Luzia, Bissau, 1974 - O pequeno Luís

Se tu, Armando, por acaso leres esta notícia sobre ti, liga-me para o meu telemóvel + 351 936 262 912 ou manda-me notícias para o meu email: luisbelvaz@gmail.com

Grande Abraço
Luís Beleza Gonçalves Vaz
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20825: Em busca de... (305): Fur Mil Fotocine Júlio César Fragoso Pereira (Guiné, 1966/67) (Armando Pires, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2861)

Guiné 61/74 - P20888: Historiografia da presença portuguesa em África (206): Algumas curiosidades respigadas do Boletim Geral das Colónias (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Junho de 2019:

Queridos amigos,
Que grande surpresa, uma imagem do porto de Bambadinca, com mais de um século, o território desencravava-se, Calvet de Magalhães, Administrador de Bafatá, inaugurara a estrada de Bafatá até Bambadinca. É o limite da navegabilidade para barcos de transporte de mercadorias com algum calado, para cima do Geba estreito circulavam uns barquinhos à vela, de dimensão reduzida. É o porto da minha vida, quando diariamente patrulhava Mato de Cão sabia que era essencial manter aquela via aberta para o Leste, até Bambadinca chegavam as embarcações com os contingentes militares, mantimentos, armamento, munições, tudo o que era indispensável para dar continuação à guerra, transportavam-se civis e também o coconote e a mancarra. Quando visitei em 2010 a Guiné, o porto desapareceu completamente, restavam umas chapas de ferro.
Pareceu-me bem interessante este artigo sobre as madeiras da Guiné, os conhecimentos evoluíram muito depois, o engenheiro Xavier da Fonseca olhava para o cajueiro não pela riqueza que hoje dá mas pela madeira e pela resina, não deixa de ser curioso.
A seguir iremos ver o que ele nos diz, noutro número do Boletim Geral das Colónias sobre a que se deve o êxito da cultura do amendoim na Guiné.

Um abraço do
Mário

O Porto de Bambadinca em 1917


Algumas curiosidades respigadas do Boletim Geral das Colónias (1)

Beja Santos

O Boletim Geral das Colónias surgiu na década de 1920, teve longa vida, veio a ser substituído pelo Boletim Geral do Ultramar. Era inequivocamente uma publicação oficial, de exaltação, formação e informação. Foi a percorrer um número de 1947, mês de janeiro, que encontrei um curiosíssimo artigo sobre as madeiras da Guiné assinado pelo Engenheiro Agrónomo Armando Xavier da Fonseca. Permitam-me que saliente alguns aspetos que reputo do maior interesse. Começa por dizer que “A Guiné foi a primeira colónia que forneceu madeiras para a construção das naus, e para a do velho Arsenal da Marinha”. Confessa ter tido dificuldades na classificação das madeiras, e discreteia sobre as que conhece. “Uma das árvores mais vulgares na Guiné é a alfarroba de lala, que dá uma madeira amarela lindíssima, e muito apreciada pela marcenaria. Há, que eu saiba seguramente, duas qualidades, uma de cor amarela mais clara e outra de cor amarela mais escura. Os Fulas chamam-lhe marroné. Outra árvore que é muito comum na Guiné é a que, em crioulo, é cognominada por pau conta. É uma árvore de grande porte. O pau veludo é uma linda árvore, no Congo belga é muito empregada na construção marítima. O bissilom, como é conhecido na Guiné, é o célebre mogno africano, que é procuradíssimo, e é a árvore mais vulgar na Guiné. Há diversas qualidades, que se distinguem pela cor da madeira. O pau sangue é madeira que pesa 700 quilos por metro cúbico. O célebre pau-ferro é uma árvore que dá uma madeira preciosa para minas e travessas de caminho-de-ferro, mas da Guiné ainda se não fez qualquer exportação, que seria de desejar que se fizesse para ser experimentada como travessas para os nossos caminhos-de-ferro”.

Uma das riquezas da Guiné é o pau-sangue, tem grande acolhimento nos mercados mundiais, é madeira exótica muito apetecida.

O autor dá prioridade ao estudo da classificação, era imperioso tornar uniformes em todas as colónias as condições da exportação, tendo em conta que as madeiras brasileiras tinham uma maior preferência nos nossos mercados, e dá as suas sugestões de que em todas as colónias devia haver taxas absolutamente uniformes quanto aos direitos de exportação. Passando para os preços, observa: “Na Guiné, não há quem não repare em que os preços das madeiras de produção local são iguais aos das madeiras importadas da metrópole. Quem se der ao trabalho de somar todos os encargos que oneram o corte de madeiras, desde a concepção até à exportação, acaba por se convencer que são muito pesados”. Remete a questão para a Junta de Investigações Coloniais, onde havia especialistas, quanto à classificação de todas as essências e do seu valor comercial.

Avança com um episódio que viveu na Guiné:  
“Passei uns dias na sede da administração civil de Bubaque, capital do arquipélago dos Bijagós, e estando com o administrador, na excelente varanda do palácio, admirando a mansidão das águas do mar, no canal de Canhambaque, chamaram a minha atenção as belas cadeiras de espaldar, que julguei serem de verga da ilha da Madeira.
O administrador informou-me que as cadeiras eram feitas ali em Bubaque, com uma madeira branca, muito bonita, conhecida pelo nome de cavoupa, madeira que depois é recoberta, como se fosse com verga, mas é afinal uma trepadeira que acompanha as palmeiras de azeite, e se presta muito a ser cortada em lâminas muito finas que se sujeitam a revestir a madeira em obra, sem estalarem.
Fui depois ver à floresta alguns pés de cavoupa, dos raros que existem à volta da sede da administração. As árvores que vi inteiras não têm ramos laterais, e as folhas são terminais, muito grandes, como as folhas mais pequenas das bananeiras. As árvores que vi cortadas, por meio dos palmares que tinham sido limpos para a melhor produção das palmeiras do azeite, tinham três ou quatro rebentos em haste com mais de meio metro de diâmetro, resvés da terra.

Uma vez que me encontrei de novo no continente da Guiné, procurei reencontrar a cavoupa, mas na maior parte das regiões não a conheciam por esse nome, até que, tendo ido a S. Domingos e visitado o posto de Sedengal, na sua área, vi várias cavoupas, e pedi a um cipaio que me indicasse o nome da árvore, o que fez prontamente: nós chamamos-lhe pau bóia, e outros, poucos, cavoupa; estas cavoupas que estão aqui nas lalas, são os machos, e as que estão nas bolanhas são fêmeas.
Relacionei o que podia relacionar, mas o que não consegui saber foi a identificação científica, e a classificação da árvore, mesmo sem saber se o nome crioulo de pau bóia lhe dá a qualidade de boiar, porque então mais valiosa se torna.
E o que se dá com esta árvore, uma das menos abundantes da flora da Guiné, dá-se com outras tantas incompletamente conhecidas, quer pelas suas madeiras, quer por outros produtos valiosos.

Certo dia, tendo percorrido uma das mais densas matas da margem direita do rio de Farim, onde já estavam marcadas para corte umas centenas de árvores de bissilom, reparei que todas as feridas estavam abundantemente providas de uma goma linda, não inferior à da goma-arábica, e não pude saber que outras qualidades possam ter, inclusivamente para o fabrico de alimentos.
E, quanto ao cajueiro, não só quanto à sua madeira, como à sua resina, são incompletíssimos os nossos conhecimentos”.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20859: Historiografia da presença portuguesa em África (205): Monografia-Catálogo da Exposição da Colónia da Guiné - Semana das Colónias de 1939 (2) (Mário Beja Santos)