1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Maio de 2022:
Queridos amigos,
Prossegue a romagem em território onde se viveu alguns meses, vai para 55 anos, tudo começou em Mafra, da Ilha de São Miguel se saltou para a Amadora para formar batalhão, dado como ideologicamente inapto fui recambiado para a rendição individual. Por desígnios da roda da fortuna até nasceu na Guiné uma grata amizade com médico oftalmologista, era inevitável deambular por lugares e espaços associados a gratas recordações, no dia-a-dia, após trabalho no quartel, era por aqui que se andava pelo próprio passo, e jamais esqueceu o aprazimento de tais vivências. Agora vai-se até ao interior, até à Bretanha e aos Mosteiros, requintes do rochedo vulcânico em perpétua conversa com a espuma do oceano.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (58):
De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 3
Mário Beja Santos
É imperioso regressar aos meus lugares mágicos, àqueles a que me afeiçoei, vai para cinquenta a e cinco anos. Era aqui à esquina, vindo da Rua de Lisboa, e depois de tomar o pequeno-almoço no mesmo local, merecendo sempre a distinção de um pãozinho quente com queijo da Ilha e galão, que tomávamos a viatura militar que nos conduzia aos Arrifes, o meu camarada Vasconcelos Raposo limitava-se a sair do Palácio da Conceição, onde vivia o Governador, lá íamos na caixa todos a monte, eram cerca de 7 quilómetros até chegarmos ao Batalhão Independente de Infantaria N.º 18, era seu comandante um distinto oficial Clodomiro Sá Viana de Alvarenga, demitiu-me de gerente de messe, eu, para evitar ficar encalacrado com dívidas, pus os oficiais a chicharro, ovos preparados de toda a maneira, carne guisada, houve levantamento, era gente fina, de boca delicada, agradeci a demissão, deixei as contas em ordem, passei a dormir sossegado, quem me antecedeu passou de facto um mau bocado, teve que desembolsar cerca de 100 contos, eu vivia a contar os meus 1100 escudos, até deu para convidar a minha mãe a visitar esta terra dos meus sonhos.
Aqui vim pedir, antes de regressar ao Continente, que o meu amado Jesus me desse o bom comando, saber ajudar, ser destemido e dar o melhor aos subordinados. Por razões que a Deus pertence, fui ouvido, deram-me bravos soldados guineenses para comandar, é um outro território de saudades, complementar a este. A imagem deste Deus-Homem sempre me acompanhou, sempre nos demos muito bem, irrecusável era esta visita, na parede lateral a este computador em que escrevo tenho uma réplica no registo do Senhor Santo Cristo feito por uma artífice de gabarito, a Graça Páscoa.
A igreja tem muita harmonia e belíssimos azulejos. Como gosto de apreciar a devoção alheia, espequei-me a ver quem entra, e de facto o ponto magnético é aquela grade, no ponto oposto a esta imagem, onde se conserva a relíquia que qualquer açoriano invoca, não só os tementes, mas todos aqueles que nesta relíquia encontram um dado indispensável do seu bilhete de identidade, faz parte da sua pertença.
Imagine-se, no sétimo ano dos liceus dávamos literatura do século XIX, e falava-se nos sonetos de Antero, o meu professor, Padre António Dias de Magalhães, estudara-o afincadamente, criava aos alunos uma atmosfera tão forte que era impossível não deixar de ficar impressionado com aquele Santo Antero que num ato de desvairo, num banco que tinha por cima a palavra Esperança pôs termo à vida, ainda hoje me perturba o que leva o ser humano ao suicídio, aqui fiquei em contemplação, não há nada como amar a vida até ao último dia, na ciência de que devemos dar a nós e aos outros de acordo com os talentos recebidos.
Perco-me a ver estes motivos da calçada, todos tão engenhosos e felizmente tão bem cuidados, há seguramente um apreço cultural nesta minha ilha mágica pelo chão bem tratado, a presença constante da lava que o Homem domestica para sua comodidade.
Aqui me venho prostrar diante deste altar que me parece uma renda de bilros, nada sei sobre esta devoção a São Sebastião, é um templo grandioso marcado pelo gosto dos primitivos povoadores (há dias, a ver o livro da minha neta de História e Geografia encontrei a barbaridade de se falar em colonização dos Açores, como é que é possível não se saber a diferença entre colonização e povoamento?), temos aqui bastante requinte manuelino, muito barroco, o templo é gracioso, impossível não percorrer os altares, primeiro o altar-mor, e depois as devoções, como aqui se mostram.
Vinha com a fisgada de poder visitar o tesouro, conversei com o sacerdote, tinha trabalho litúrgico pela frente, vinha acompanhado de um inglês e queria mostrar-lhe duas dalmáticas e duas casulas do século XIV, do que me foi dado perceber alfaias religiosas adquiridas depois da Reforma, aqui vieram parar, mas há muitos mais outros tesouros para ver, seguramente fica para a próxima viagem.
Tive sorte com a hora do dia, uma luz crua que não permite contraste com os tons de alvenaria e o rendilhado manuelino, tanto da porta principal como da lateral, com estes belos medalhões, a Igreja de São Sebastião tem conhecido intervenções capazes, não vejo nada desfigurado, é sempre com satisfação que ando à volta deste belo património, outro traço da identidade nacional, é com orgulho que olho para estes primeiros traçados da aventura portuguesa fora do Continente Europeu.
Finalizo por ora esta deambulação, primeiro as Portas da Cidade, todos os dias aqui me vinha enamorar deste ornamento de pedra que possui o dom não de ser volátil, mas de abraçar quem chega. E ali perto vejo a fachada de um prédio onde, no primeiro andar ia visitar José Luís Bettencourt Botelho de Melo, tudo começou na Guiné, limpou-me os olhos depois de uma mina anticarro, nasceu uma linda amizade, veja-se esta foto ali na praia do Pópulo, fomos comer, como era da praxe, os filetes de abrótea, na companhia da filha. Melancolia, perdi o amigo que aqui me recebia sempre de braços abertos. Deixo aqui o meu preito de homenagem.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 2 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23404: Os nossos seres, saberes e lazeres (510): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (57): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 2 (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 9 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23417: Parabéns a você (2080): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 29 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23394: Parabéns a você (2079): Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort Ind 912 (Como, Cufar e Tite, 1964/66)
Nota do editor
Último poste da série de 29 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23394: Parabéns a você (2079): Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort Ind 912 (Como, Cufar e Tite, 1964/66)
sexta-feira, 8 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23416: Notas de leitura (1462): A lusitanização e o fervor católico na Guiné, um ideário do Estado Novo na publicação “Política de Informação”, por José Júlio Gonçalves, 1963 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Outubro de 2019:
Queridos amigos,
A grande mudança que constituiu a governação de Sarmento Rodrigues, uma verdadeira arrancada nas comunicações, transportes, infraestruturas, urbanização, saúde, educação, etc., também se fez acompanhar de uma preocupação confessional e cultural, os discursos de Sarmento Rodrigues eram perfeitamente claros quanto à necessidade de intensificar o uso da língua portuguesa num processo cultural mais amplo, prismado de "lusitanização". Numa atmosfera imperial, também se era sensível ao facto de a Guiné sofrer todos os impactos de séculos de crescente islamização e aonde o mundo missionário progredira de forma lenta e inconstante, havia que mudar as coisas. É à luz desse ideário que se deve ler, penso eu, o trabalho de compilação elaborado por José Júlio Gonçalves que, reconheça-se, leu cuidadosamente todos os artigos publicados sobre esta matéria religiosa no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. Tudo mudou com a independência, a língua portuguesa é a do Estado e as missões são um dos pilares fundamentais nas políticas de saúde e de educação na Guiné-Bissau. São assim as ironias da História...
Um abraço do
Mário
A lusitanização e o fervor católico na Guiné, um ideário do Estado Novo
Beja Santos
José Júlio Gonçalves foi professor extraordinário do então Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina. O seu livro de ensaios publicado em 1963, “Política de Informação”, inclui um trabalho que o autor publicara anteriormente no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa em 1958 e que aqui vem completar com largas referências a outras colaborações recolhidas no referido Boletim Cultural que permitem ao autor apresentar um quadro da vida confessional da Guiné para, sem ambiguidades, retomar uma política seguida pelo governador Sarmento Rodrigues para reforço da língua e da cultura portuguesa bem como de maior suporte à religião católica na colónia, de modo a travar fundamentalmente os riscos de um islamismo que pudesse vir a constituir um elemento dissolvente da presença portuguesa. Como é sabido, nem a religião islâmica se revelou hostil à presença portuguesa como se mostrou agradada pela aceitação das escolas corânicas, pela crescente construção de mesquitas e do apoio às peregrinações a Meca. Uma luta surda se travou entre vários governadores entre os apoios à escola laica ou à escola de missionários. A missionação na Guiné datava de fresca data, foram os franciscanos que se impuseram e daí a respeitabilidade com que ainda hoje são credenciados. O sistema educativo foi permanentemente frágil e difuso, conheceu crescimento durante o período da guerra colonial graças aos familiares dos militares e deles próprios, investiu-se tarde e más horas no sistema educativo. Este, deploravelmente, continua em bolandas desde a independência.
O trabalho de José Júlio Gonçalves mostra-nos as etnias animistas (Felupes, Baiotes, Banhuns, Papéis, Brames, Balantas e Bijagós), as etnias animistas pouco islamizadas (Manjacos e sub-ramos Balantas), as etnias gradualmente islamizadas (Cassangas, Nalus, Beafadas e Pajadincas), seguem-se as etnias quase completamente islamizadas (predominantemente Fulas e Mandingas) e as minorias constituídas por católicos e por um grupo ainda mais minoritário de protestantes.
Vê-se que o autor leu atentamente a bibliografia da época e que lhe permite dissecar todas as etnias animistas à luz das investigações do tempo. É nas entrelinhas e nas observações que se perceciona qual a mensagem que o autor pretende fazer passar. Predominam as escolas muçulmanas sobre as escolas missionárias. Lembra-se que em meio século de atividade, entre 1900 e 1950, o islamismo obteve na Guiné mais adesões que os cristãos em cinco séculos de evangelização. Apela-se a uma maior eficiência da atuação dos missionários católicos, mas não se hesita em escrever: “Indígena islamizado está perdido para o cristianismo. Os maometanos guineenses têm grande respeito pelos missionários cristãos; não têm mesmo hesitação em mandar os filhos às escolas onde eles lecionam. Mas ao menor intento de catequese, ao mais pequeno sinal de que o espírito da criança se está interessando pela religião dos brancos – logo se ergue uma barreira a isolá-lo e a afastá-lo de tal influência. O missionário bem sabe isso e evita distribuir assim a sua atividade pelas áreas francamente islamizadas”.
E surpreende-nos com a afirmação que é possível catequizar as populações islamizadas, “não se esqueça que o sul de Portugal já foi habitado por muçulmanos que, em boa parte, se fizeram cristãos”. Mas as surpresas não ficam por aqui, o autor alerta para a possibilidade de os brancos se socorrerem de práticas de feitiçaria ou passem a usar amuletos iguais aos dos negros. E não sendo muito claro a quem está a culpabilizar, observa que o islamismo avançava em direção à faixa litoral e que não havia firmeza no binómio Administração – Missões. Sugere uma ocupação missionária que deve não só visar as regiões ainda pagãs como também as dominadas pelas etnias islamizadas.
Falando do protestantismo na Guiné, diz existir uma missão evangélica anglo-americana que tem sede em Bissau e várias filiais e que mantém um dispensário de combate à lepra em Bissorã. É um protestantismo que sabe atuar no campo assistencial e que dispõe de fundos. E deixa um alerta: “Os missionários protestantes não favorecem a nossa política de integração porque não lusitanizam, mas são cuidadosos no trato com as nossas autoridades administrativas”.
Discreteia seguidamente sobre alguns aspetos mais representativos da influência árabe-islâmica na Guiné, especificando a ação dos marabus, mouros, judeus e sírios. Contextualiza a atividade das confrarias muçulmanas (a Qadiria e a Tidjania), citando Teixeira da Mota:
“A confraria dos Qadiria foi fundada no século XII na Mesopotâmia. Na África Ocidental, o movimento está desligado da confraria-mãe e subdividido em confrarias independentes, embora todas subordinadas aos ideias e práticas da ordem Qadiria. Os fiéis aspiram ao aniquilamento do ser perante Deus, para o que se recomendam práticas comparáveis às dos dervixes orientais (…). Na nossa Guiné os principais centros Qadiria são Jabicunda e Bigene, na circunscrição de Bafatá. Parece que a maioria dos Mandingas do nosso território segue a ordem Qadiria. Quanto à confraria Tidjania, diz igualmente Teixeira da Mota que “é de origem relativamente recente (fins do século XVIII) e especificadamente africana, constituindo, além do lado religioso, uma ordem política e em certas épocas também guerreira, nomeadamente sob o afamado Al Hadj Omar, que se serviu dela para combater os Qadiria, cuja influência suplantou no Futa Djalon e Futa Toro. Na Guiné Portuguesa um dos principais centros Tidjania é Ingoré, onde um xerifo prepara numerosos talibés vindos de áreas distantes, inclusive Beafadas. Ao que parece, a maioria dos Fulas segue esta ordem”.
As etnias islamizadas iam exercendo a ação catequística junto dos animo-feiticistas, daí resultando fenómenos como a mandinguização e a fulanização. E o documento de divulgação salta agora para as Artes Plásticas, concluindo que as proibições religiosas na escultura, vedando, por exemplo, a reprodução de figuras animadas, tornavam as Artes Plásticas muito pobres, as grandes exceções era a escultura bijagó e o que restava da escultura nalu.
Em jeito de conclusão, o autor enfatizava a urgência de: dar maior incremento à ação missionária e católica, sugerindo que a catolicização devia ser predominantemente dirigida para as famílias monogâmicas; estudar atentamente os nexos políticos resultantes da peregrinação a Meca, sobretudo naqueles aspetos que mais de perto se prendem (ou possam vir a prender-se) com a nossa soberania nas terras guineenses; combater a difusão do árabe como língua franca e litúrgica da Guiné, incrementando o crioulo e criando mais escolas para difusão do português; vigiar sempre a administração da Justiça – pedra de toque da nossa civilização e que mais vivamente apaixona a mentalidade dos primitivos atuais. Todo o ato injusto conduz à rebelião latente. Daí a necessidade de a justiça europeia nunca dever aparecer inferiorizada em relação aos preceitos corânicos.
Todo este quadro ideológico enunciado por José Júlio Gonçalves se esfumou com as realidades da independência da Guiné-Bissau. A esfera confessional está alterada: o islamismo pouco cresceu, quem cresceu significativamente foi o catolicismo, e ambos os credos, a que se pode adicionar o protestantismo, se relacionam bem, sem querelas. A língua portuguesa, como Amílcar Cabral sempre advogou, foi “roubada” aos portugueses, é língua do Estado, Cabral era firme nesta decisão, o enclave tinha que se distinguir da língua francesa, para não ser engolido. Tal como Teixeira da Mota sugeria, o crioulo é a língua franca dos guineenses e a língua portuguesa lá prossegue aos tombos… sem preocupações de lusitanização. Quanto às missões, florescem, são respeitadas nos domínios da Saúde e da Educação, sobretudo. Em muitos casos, estes missionários são apoiados por organizações não-governamentais de gabarito, que contam com voluntários de excecional qualidade, preparando formadores e pessoal técnico e auxiliar em vários ramos da Saúde.
Imagem referente à Fundação Instituto Social Cristão Pina Ferraz, Missão Católica de Cumura.
Imagem referente à Fundação Instituto Social Cristão Pina Ferraz, Missão Católica de Cumura.
____________Nota do editor
Último poste da série de 4 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23410: Notas de leitura (1461): "Crónicas Soviéticas", por Osvaldo Lopes da Silva; Rosa de Porcelana Editora, 2021 (Mário Beja Santos)
quinta-feira, 7 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23415: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (8): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte VII: "Gadamael tremeu mas não caiu" (Manuel Reis, "pirata de Guileje", dixit), e isso deveu-se aos seus bravos defensores, com destaque para a atuação pronta, inteligente, corajosa e eficaz do BCP 12, e da FAP
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > Obus 14... Foto do álbum do J. Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Inf Op Esp, da CCAV 8350 (Piratas de Guileje) e da CCAÇ 11 (Lacraus de Paunca), que passou por Guileje, Gadamael, Nhacra, Paúnca, entre 1972 e 1974... e que é um dos heróis (esquecidos) de Gadamael.
Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação desta nova série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (**).
Trata-se de excertos da CECA (2015) sobre estes acontecimentos de maio/junho de 1973. Recordamos Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, "a batalha (ou as batalhas) dos 3 G", na véspera da efeméride dos seus 50 anos (que será em 2023).
Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.
Sobre Gadamael, podemos fazer nossa a opinião do Manuel Augusto Reis, ex-alf mil at cav, um dos "piratas de Guileje (CCAV 8350, 1970/72):
"Gadamael tremeu mas não caiu e tal se deve à actuação do Batalhão de Paraquedistas [, BCP 12,] e à actuação EFICAZ da Força Aérea. Como homem no terreno, é minha convicção que se as Forças Paraquedistas demorassem mais 2 ou 3 dias, não era preciso mais, Gadamael teria caído com estrondo, aprisionando ou matando tudo o que lá se encontrava." (**).
E aqui convém repetir o que escreveu o gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (e na altura, tenente, que pilotava um dos nossos Fiat G-91, BA 12, Bissalanca, 1972/74, que foram neutralizar Kandiafara, a base do PAIGC; já no território da Guiné-Conacri):
"O que travou o avanço do PAIGC e estancou o tão apregoado 'efeito dominó', propagandeado vezes sem conta por 'Nino' Vieira? A explicação é simples e tem duas vertentes, por um lado a presença do Batalhão de Paraquedistas na área condicionou de imediato os movimentos dos guerrilheiros na zona, por outro lado a Força Aérea Portuguesa (FAP) bombardeou as matas à volta de Gadamael, silenciando várias bases de fogo, e em seguida entrou pelo território da República da Guiné-Conacri, destruindo a maior base de apoio do PAIGC, situada perto da localidade de Kandiafara." (***)
CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas
2. 1. Ataque lN no Sul a Guileje e a Gadamael Porto
2.1.2. Ataque lN a Gadamael Porto (continuação)
Operação "Dinossauro Preto" - 2jun a 17lul73
[Nota: É feito um resumo do Relatório de Operações, n.º 16/73 do Cmdt do BCP 12 de jul73.]
A "Missão" consistia em "destacar as três CCPs para Gadamael Porto, onde ficam sob Comando Operacional do COP 5 com missão e actividade a indicar por aquele comando". Nota: CCP 121, 122 e 123 articuladas em 4 GComb a 25, 29 ou 30 homens, conforme as disponibilidades em pessoal.
Em 2jun73, a CCP 122 foi deslocada de Bissau para Cacine e no dia seguinte para Gadamael Porto, sempre em meios navais.
Em 2jun, a CCP 123 foi destacada de Cadique para Cacine e em 5jun deslocada para Talaia, em meios navais, e daí em progressão apeada para Gadamael Porto.
Em 11jun a CCP 121 foi deslocada de Bissau para Cacine e em 13Jun para Talaia também em meios navais e nesse dia em progressão apeada para Gadamael Porto.
"Diversos"
"a. O Comandante do BCP 12, ten Cor Para Sílvio Rendeiro de Araújo e Sá, que se encontrava em Cufar no comando do COP 4 recebeu em 5jun73 ordem para se deslocar para Gadamael Porto e assumir o comando do COP 5, substituindo o Major Pára-quedista António Valério de Mascarenhas Pessoa, que em 2jun73, estando em Cufar como adjunto do COP 4, seguira para Cacine em 2jun73, e em 3jun desembarcara em Gadamael Porto com a CCP 122.
O Comandante do BCP 12 nesse mesmo dia seguiu em helicóptero para Cacine, e na manhã seguinte (6jun73), logo que as condições de maré o permitiram seguiu via marítima para Gadamael Porto.
b. Feito o necessário estudo, e verificando-se que o Inimigo exercia forte pressão sobre Gadamael Porto:
- Flagelando com armas pesadas com bases de fogos na República da Guiné e em território Nacional junto da fronteira;
- Mantendo observadores avançados para regulação de tiro;
- Mantendo na área de Gadamael Porto volumosos efectivos de infantaria.
A Manobra a seguir pelas nossas forças assentou nos seguintes pontos:
- Fazer estacionar dentro de perímetro defensivo o mínimo de forças, e disperso por todo o perímetro, ocupando assim também a periferia dos reordenamentos;
- Manter em permanência em actividade operacional o máximo de forças, tomando em atenção os efectivos e o período de actuação que se previa longo;
- Ir aumentando gradualmente a amplitude das acções e operações, por forma a aliviar a pressão sobre Gadamael Porto, e permitir o lançamento de acções e operações sobre os objectivos mais importantes (Sangonhá, Tambambofa, Gadamael Fronteira, Lamoi e Sori Ucreá);
- Manter liberdade de navegação no braço do rio de acesso a Gadamael Porto mediante ocupação quase em permanência de Talaia e da ponta da península;
- Impedir a livre actuação de observadores mediante patrulhamentos frequente dos possíveis pontos a ocupar pelos mesmos;
- Colocar o Pelotão de Artilharia em condições de actuação com rendimento, melhorando os espaldões, acionando o emprego do plano de fogos previsto, garantindo as ligações obuses - PC, e prevendo o apoio directo às forças em operações, face à ausência do helicanhão;
- Garantir a utilização com rendimento das armas pesadas disponíveis (canhões s/recuo, morteiros médios e metralhadoras pesadas), melhorando os espaldões, preparando os planos de fogos ainda não executados, e garantindo as ligações armas-PC. No caso de morteiros e canhões s/recuo prever o apoio directo às forças em operações, para as distâncias mais curtas, para as quais a Artilharia não podia actuar;
- Utilizar códigos para conversação em claro, prevendo de preferência a utilização do HF, e distribuir mosaicos gráficos com referências numeradas, para não permitir ao Inimigo tirar partido da escuta que se previa estar a fazer às transmissões das NT;
- Garantir a evacuação em "sintex" para Cacine de feridos ou doentes, face à ausência de helicóptero para evacuações;
- Prever, a todo o momento, ajustamentos no plano de actividade operacional, face à actividade desenvolvida pelo Inimigo.
c. Dado que as Companhias do Exército estacionadas em Gadamael Porto se encontravam em condições deficientes, no que respeitava a efectivos, moralização e armamento, o esforço sobre as zonas de contacto provável e de maior amplitude foi exercido pelas CCP reservando-se para aquelas companhias a missão de garantir a liberdade de navegação no braço do rio de acesso a Gadamael Porto."
"Desenrolar da Acção":
De 6jun a 13jul foram efectuadas 31 acções e 8 operações.
A CCP 121 e a CCP 123, em 9 acções, fizeram o treino operacional das 3ª C/BCaç 4612/72, CArt 6252/72 e CCav 8452/72 respectivamente 3, 1 e 5, incluídas nas 31 referidas.
Destacam-se algumas em que houve contacto com o lN.
- Acção COP 5 - 6jun
A CCP 123 saiu da Gadamael Porto em patrulhamento, rumo Norte. Pelas 17h30 o agrupamento foi flagelado em Cacoca 6D8.80 com armas automáticas e LGFog RPG por um grupo ln estimado em 30 elementos.
Na reacção o ln sofreu vários feridos confirmados por abundantes rastos de sangue.
- Acção Bojarda - 10 e 11jun
A CCP 122 saiu de Gadamel Porto em patrulhamento. Em Cacoca 6F6.88, foram detectadas muitas pegadas lN, sendo montada uma emboscada, sem contacto. Pelas 14h00 as NT foram emboscadas em Cacoca 6F2. 78 por um grupo ln estimado em 40 elementos.
A CCP 122 sofreu 17 feridos ligeiros. Feita a batida, verificou-se que o lN sofreu vários feridos, confirmados por abundantes rastos de sangue. 2 GComb regressaram ao aquartelamento para evacuar os feridos e os outros dois fizeram uma emboscada nocturna sem contacto com o lN.
- Operação Bisturi Negro - 14 e 15jun
A CCP 121 saiu em patrulhamento apeado, rumo Leste, flectindo para NWe depois para Norte. Em Cacoca 6E4.94 foi flagelada durante 45 minutos com armas autom, LGFog RPG-2 e RPG-7, canh s/r por um grupo lN estimado em 80 elementos que se deslocavam na direcção Leste/Oeste.
As NT sofreram 1 morto (guia) e 2 feridos ligeiros. Da batida efectuada verificou-se que o lN sofreu 4 mortos confirmados e elevadas baixas prováveis dada a forma como procurou reter as NT com uma segunda linha de fogo com nítida intenção de retirar mortos e feridos, o que foi confirmado por sinais de arrastamento de corpos e abundantes rastos de sangue.
Foram referenciados elementos de tez clara e o lN utilizou esp autom G-3, metr lig HK-21 e dilagramas.
A CCP 121 regressou a Gadamael Porto para evacuar os feridos. Dois GComb voltaram a sair, rumo Leste flectindo depois para Norte. Montaram uma emboscada nocturna. Não houve contacto com o lN.
- Operação Diamante Preto - 17 e 18jun
A CCP 122 a 3 GComb saiu em patrulhamento. Em Cacoca 6F8.65 foi detectado um grupo lN estimado em 20 elementos ao qual foi montada uma emboscada imediata. O lN sofreu 1 morto confirmado e feridos prováveis; foi recolhida uma pá articulada, uma pica e uma granada de
LGFog RPG-2 com carga.
Reiniciada a progressão o agrupamento foiflagelado do lado da fronteira com 3 granadas de canh sr/, sem consequências.
Foi montada uma emboscada nocturna. Não houve contacto com o lN.
- Operação Gamo Selvagem - 20 e 21jun
Em 20 foi feito um patrulhamento e montada uma emboscada, sem contacto lN.
Em 21 6h30 em Cacoca 6h5.94, a CCP 123 teve um forte contacto frontal com um grupo lN estimado em 80 elementos que na sequência do contacto se instalou em 2 posições sendo uma mais recuada. No contacto inicial as NT sofreram 2 feridos graves e 4 ligeiros, o que não impediu que se lançassem ao assalto, tendo a linha recuada do lN batido as NT com mort 60 mm com o propósito de retirar elementos mortos, feridos e respectivo material.
O lN sofreu 5 mortos confirmados e muitos mortos e feridos prováveis e foram recolhidas 3 granadas tipo chinês. Foram referenciados elementos lN de tez clara e utilização de esp aut G-3.
O lN retirou para Leste. A CCP 123 reiniciou a progressão em direcção ao aquartelamento para evacuar os feridos.
- Operação Cobra Ondulante - 23 e 24 jun
A CCP 121 a 3 GComb saiu de Gadamael Porto para efectuar um patrulhamento apeado. Depois de ter seguido vários rumos, em Cacoca 500.18, detectou rastos de viaturas.
Pelas 12h00foi montada uma emboscada em Cacoca 6D1.13. Foi levantada e passada uma hora de marcha, foram ouvidas vozes de elementos IN, tendo sido iniciada a imediata perseguição. Apercebeu-se da existência de um acampamento.
Pelas 13h30, em Cacoca 6D0.19 foi efectuado um golpe de mão imediato a um grupo lN estimado em 40 elementos. Conjugando fogo e movimento as NT transpuseram o que era então um quartel e montaram segurança nos próprios abrigos do lN.
As NT não sofreram baixas e o lN teve 6 mortos confirmados e muitos mortos e feridos prováveis pelos abundantes rastos de sangue encontrados durante a batida.
Foram apreendidas:
- 1 metr lig Degtyarev,
- 1 LGFog RPG-2,
- 2 esp aut Kalashnikov,
- 3 pist metr PPSH,
- 2 esp Mosin Nagant,
- 10 gran de LGFog RPG-2,
- 1 gran de LGFog RPG-7,
- 13 tambores pist metr PPSH,
- 15 carregadores de esp aut Kalashnikov,
- 3 gran mão ofensivas tipo chinês,
- 4 gran mão ofensivas M/62,
- 1000 munições 9 mm,
- 350 munições 7,62 mm "Soviet",
- 50 munições 7,62 mm "Soviet" m/908 e diverso equipamento e fardamento.
Foram montadas uma emboscada nocturna e em 24, uma diurna ambas sem contacto lN.
- Acção Bera - 11jul
Um agrupamento constituído por 2 GComb/CCP 123 e 2 GComb/CArt 6252/72 saiu de Gadamael Porto em patrulhamento apeado em direcção ao cruzamento de Ganturé com a finalidade de fazer o treino operacional da CArt 6252/72.
Em Cacoca 6E2.73 foi encontrado um acampamento ln com cerca de 70 abrigos e restos de ração de combate. Próximo e ao longo da estrada encontravam-se mais de 30 abrigos individuais com disposição que levava a concluir ser uma posição para emboscar a estrada.
Pelas 09H30 ao ser efectuado um reconhecimento das minas implantadas pelas NT em Cacoca 6E9.74 verificou-se que uma armadilha tinha sido accionada pelo l. No mesmo local foram detectadas e levantadas 3 minas A/P lN e foi accionada pelas NT uma mina A/P que provocou 1 morto (furriel) e 2 feridos ligeiros. Foram prestados os primeiros socorros e em seguida reiniciou-se a progressão rumo ao aquartelamento.
Pelas 10h15 quando atravessava a estrada Oeste/Leste foram detectadas 2 minas A/C que foram torneadas em virtude da urgência da evacuação dos feridos e foi encontrado um cadáver em decomposição. Depois da chegada ao aquartelamento, foi feita nova saída para uma batida à zona Cacoca 6F9.75 até ao pontão do rio Sarampita e uma emboscada em Cacoca 6F1.86, ambas sem contacto.
"Ensinamentos Colhidos"
"Os bombardeamentos inimigos a Gadamael Porto em 1jun73 causaram às NT pesadas baixas no aquartelamento, face ao tiro ajustado e, julga-se, ao facto de estarem concentradas na zona do quartel duas companhias, um pelotão de artilharia e um pelotão de reconhecimento, não dispondo essa zona de valas ou abrigos para tal efectivo.
Com base no conhecimento do sucedido, uma das preocupações do novo comando COP 5, foi dispersar ao máximo as forças pelo perímetro defensivo, ocupando também toda a periferia dos reordenamentos, e estacionar dentro desse perímetro o mínimo indispensável do pessoal, mantendo em permanência em actividade operacional elevado conjunto de forças.
Assim, as flagelações a Gadamael Porto a partir de 6jun73 não causaram baixas às NT, sendo digno de referir a fortíssima flagelação de todo o dia 2Jul73 em nada inferior à do dia lJun73, que apenas causou dois feridos muito ligeiros.
Julga-se ser este o procedimento a seguir em situações futuras similares."
Levantamento de minas
O lN procurou dificultar os deslocamentos de Gadamael Porto, sobretudo para nordeste, implantando minas antipessoal e anticarro nas vias de comunicação.
Depois da operação "Dinossauro Preto" já era praticável efectuar a desminagem. Executou-se a acção Barulho, em 19ago73 na zona de Ganturé, por forças do COP 5 e de uma equipa de Sapadores do BCaç 4510/72, na qual detectaram e levantaram várias minas antipessoal e destruíram 2 minas anticarro. [Nota: Atenta-se à actividade operacional - 2° Semestre, deste Capítulo.]
Por se presumir a existência de mais minas, em 10Set, foi feita, na região de Ganturé, mais uma acção pelo COP 5 (Nota: Relatório da acção "Bandido" de 10Set73 do COP 5.). Foram constituídos 2 agrupamentos por forças de 1 GComb/CArt 6252/72, 1 GComb/CCav 8452/72 e por 1 Sec/Pel Mil 235. Transcreve-se:
"Desenrolar da Acção"
"Pelas 14h00 os agrupamentos saíram do aquartelamento de Gadamael Porto seguindo pela estrada para Guileje. Ao cruzamento de Ganturé (Cacoca 6 FO 75) foi montada a segurança. Procedeu-se depois à picagem da estrada e bermas tendo sido detectadas e neutralizadas 14 minas antipessoal de plástico tipo PMN e detectadas e levantadas 3 minas anticarro TM-46.
Após o levantamento o Agrupamento B regressou ao Quartel e o Agrupamento A patrulhou a zona Cacoca 6 FI 85 onde montou uma emboscada. Pelas 23h00 regressou ao aquartelamento."
Flagelações a Gadamael Porto
O lN continuou a flagelar o aquartelamento mas com menores consequências para as NT. Entre outros ataques (Nota: Consulte-se as flagelações no 2.° Semestre a Gadamael Porto no "Inimigo - actividade militar" deste Capítulo.)
- em 8nov;
- em 11nov, pelas 18h40, com 8 foguetões 122 mm;
- e em 15nov.
Desta última relata-se o "Desenrolar da acção" [Nota: Relatório da flagelação a Gadamael Porto em 15Nov73 do COP 5 datado de l6Nov73]
"Cerca das 17h00 o lN começou a flagelar o aquartelamento de Gadamael Porto com dois foguetões de cada vez, indiciando utilizar duas rampas. A flagelação durou cerca de 20 minutos e o lN disparou 15 foguetões da direcção de 80 graus cartográficos medidos a partir de aquartelamento. Os rebentamentos danificaram 3 casas ocupadas pelo pessoal da CCaç 20, as instalações do Comando da CCav 8452/72, uma caserna da CArt 6252/72 e uma antena do STM e causaram 7 feridos às NT, sendo 2 graves, 3 de menor gravidade e 2 ligeiros. Os feridos foram evacuados de "sintex" para Cacine.
Mais uma vez a população invadiu o edifício das transmissões e da enfermaria, abrigo onde aliás muitas mulheres e crianças se mantêm desde o dia 8nov73."
[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos, pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
___________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 2 de julho de 2022 Guiné 61/74 - P23403: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (7): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte VI: o ataque a Gadamael Porto: de 31 de maio a 11 de junho, o IN disparou cerca de 1500 granadas de canhão s/r e morteiro 120
(**) Vd. poste de 2 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16158: Dossiê Guileje / Gadamael (26): É minha convicção que, se as Forças Paraquedistas demorassem mais 2 ou 3 dias, não era preciso mais, Gadamael teria caído (António Reis, ex-alf mil cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74)
(***) Vd. poste de 1 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16152: FAP (95): de Gadamael a Kandiafara… sem passaporte nem guia de marcha (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)
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Guiné 61/74 - P23414: Blogpoesia (773): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (2)
1. Lembremos a mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 5 de Julho de 2022:
Bom Dia Carlos Vinhal, Bom Dia Tabanca Grande
Desta vez é, "ERA AQUELA COMPANHIA", parte 1, e depois será a segunda parte.
E muito mais haverá para enviar à Tabanca. É que agora pensei em não te dar sossego , é muito o trabalho aqui acumulado.
Para todos os que habitam na Tabanca Grande vai um bom abraço em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva
ERA AQUELA COMPANHIA
Parte I - (2/2)
Santos era o Sargento
Era um pouco desordeiro
Mas era excelente pessoa
E muito bom corneteiro.
Fernando Guerreiro Nunes
Outro Sargento então
Na CCS como nós
A cumprir sua Missão.
Sargento Alfredo António
Na Oficina a trabalhar
Como era bom mecânico
Punha os motores a roncar.
O Furriel Moreira
Era Rádiomontador
Fazia o que sabia
Mudava bem o transístor.
O Nunes era mecânico
E Furriel também
Com rajadas na bolanha
Vendo se tudo estava bem.
Como era mecânico de armas
Para ver se estavam zeladas
Mandava fazer ensaios
Tiro a tiro e rajadas.
O Furriel Garrido
Um militar verdadeiro
Não ligava puto à tropa
E era ele Enfermeiro.
Como era responsável
Lá naquela Enfermaria
O trabalho que era dele
Era eu que o fazia.
Furriel Guimarães
Aquele bom bracarense
Em Teixeira Pinto então
Na CCS Amanuense.
Era bom camarada
Todo o soldado dizia
Estivesse ou não de serviço
Ou mesmo de sargento dia.
O Aires bom Furriel
Brincalhão bem humorado
Cumpria bem seu dever
Andava por todo lado.
O Furriel Carvalho
Miliciano e bom
Era ele o responsável
Pela nossa alimentação.
No seu Depósito de Géneros
Onde ele tudo guardava
Quando mais nada havia
Na bolanha ele pescava.
Ele era bom brincalhão
Se podia desenrascava
Quantas vezes em canecas
O vinho que ele me dava.
O Furriel Ribeiro
Sapador a comandar
Nos mais variados serviços
Cumpriu bem a trabalhar.
Com serviços no Quartel
Sua equipa comandar
Com ele estive na Ponte
Quando a fomos guardar.
Coimbra N. Furriel
De Amanuense fazia
Era bom miliciano
Lá na nossa Companhia.
Até o Furriel Freitas
No Pelotão de Reconhecimento
Mais tarefas praticava
Sempre que tinha um momento.
Nosso Furriel Rodrigues
Comandava as Transmissões
Recebia e transmitia
Em várias ocasiões.
Furriel Miliciano Sena
Reconhecimento e Informação
E quando jogava à bola
O Sena era mesmo bom.
O Furriel Fernandes
Comandava secção
Como era Sapador
Na CCS era bom.
Também o Silva Rodrigues
Sapador a comandar
Em tantos e mais serviços
Cumpriu sempre a trabalhar.
Na CCS o Lima Pereira
Era outro Furriel
Lá em sua secção
Fazia bem seu papel.
Havia outro Amanuense
O Furriel Amaral
Pertencia à CCS
E como nós era igual.
O Furriel Almeida
No Reconhecimento lá estava
Procurando tudo aquilo
Que no Quartel faltava.
O Furriel Ferreira
Na CCS do Batalhão
Dizia o que mais sabia
Pois era da informação.
Depois de Oficiais e Sargentos
Muitos Cabos lá haviam
Uns que faziam tudo
Outros que nada faziam
Com Alferes e Tenentes
Furriéis muitos havia
Sargentos e muitos Cabos
E Soldados da Companhia
Gostando de falar da Tropa
Porque dela não esqueci
Numa espécie de brincadeira
Assim isto escrevi.
Foi escrito sem maldade
Com todos brinquei assim
Lembrei Oficiais e Sargentos
Tudo escrito por mim.
Tenho mais para escrever
Continuar na brincadeira
Pois lembrar bons Camaradas
Acho ser boa maneira.
É dos Cabos que vou começar
Depois passarei ao Soldado
Depois de fazer isto tudo
Dou meu trabalho acabado.
Parte um e parte dois
E como na Guiné dizia
Com o mesmo nome que dei
Era aquela companhia.
FIM DA 1ª PARTE
Segue com Cabos e Soldados
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23411: Blogpoesia (772): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (1)
Bom Dia Carlos Vinhal, Bom Dia Tabanca Grande
Desta vez é, "ERA AQUELA COMPANHIA", parte 1, e depois será a segunda parte.
E muito mais haverá para enviar à Tabanca. É que agora pensei em não te dar sossego , é muito o trabalho aqui acumulado.
Para todos os que habitam na Tabanca Grande vai um bom abraço em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva
ERA AQUELA COMPANHIA
Parte I - (2/2)
Santos era o Sargento
Era um pouco desordeiro
Mas era excelente pessoa
E muito bom corneteiro.
Fernando Guerreiro Nunes
Outro Sargento então
Na CCS como nós
A cumprir sua Missão.
Sargento Alfredo António
Na Oficina a trabalhar
Como era bom mecânico
Punha os motores a roncar.
O Furriel Moreira
Era Rádiomontador
Fazia o que sabia
Mudava bem o transístor.
O Nunes era mecânico
E Furriel também
Com rajadas na bolanha
Vendo se tudo estava bem.
Como era mecânico de armas
Para ver se estavam zeladas
Mandava fazer ensaios
Tiro a tiro e rajadas.
O Furriel Garrido
Um militar verdadeiro
Não ligava puto à tropa
E era ele Enfermeiro.
Como era responsável
Lá naquela Enfermaria
O trabalho que era dele
Era eu que o fazia.
Furriel Guimarães
Aquele bom bracarense
Em Teixeira Pinto então
Na CCS Amanuense.
Era bom camarada
Todo o soldado dizia
Estivesse ou não de serviço
Ou mesmo de sargento dia.
O Aires bom Furriel
Brincalhão bem humorado
Cumpria bem seu dever
Andava por todo lado.
O Furriel Carvalho
Miliciano e bom
Era ele o responsável
Pela nossa alimentação.
No seu Depósito de Géneros
Onde ele tudo guardava
Quando mais nada havia
Na bolanha ele pescava.
Ele era bom brincalhão
Se podia desenrascava
Quantas vezes em canecas
O vinho que ele me dava.
O Furriel Ribeiro
Sapador a comandar
Nos mais variados serviços
Cumpriu bem a trabalhar.
Com serviços no Quartel
Sua equipa comandar
Com ele estive na Ponte
Quando a fomos guardar.
Coimbra N. Furriel
De Amanuense fazia
Era bom miliciano
Lá na nossa Companhia.
Até o Furriel Freitas
No Pelotão de Reconhecimento
Mais tarefas praticava
Sempre que tinha um momento.
Nosso Furriel Rodrigues
Comandava as Transmissões
Recebia e transmitia
Em várias ocasiões.
Furriel Miliciano Sena
Reconhecimento e Informação
E quando jogava à bola
O Sena era mesmo bom.
O Furriel Fernandes
Comandava secção
Como era Sapador
Na CCS era bom.
Também o Silva Rodrigues
Sapador a comandar
Em tantos e mais serviços
Cumpriu sempre a trabalhar.
Na CCS o Lima Pereira
Era outro Furriel
Lá em sua secção
Fazia bem seu papel.
Havia outro Amanuense
O Furriel Amaral
Pertencia à CCS
E como nós era igual.
O Furriel Almeida
No Reconhecimento lá estava
Procurando tudo aquilo
Que no Quartel faltava.
O Furriel Ferreira
Na CCS do Batalhão
Dizia o que mais sabia
Pois era da informação.
Depois de Oficiais e Sargentos
Muitos Cabos lá haviam
Uns que faziam tudo
Outros que nada faziam
Com Alferes e Tenentes
Furriéis muitos havia
Sargentos e muitos Cabos
E Soldados da Companhia
Gostando de falar da Tropa
Porque dela não esqueci
Numa espécie de brincadeira
Assim isto escrevi.
Foi escrito sem maldade
Com todos brinquei assim
Lembrei Oficiais e Sargentos
Tudo escrito por mim.
Tenho mais para escrever
Continuar na brincadeira
Pois lembrar bons Camaradas
Acho ser boa maneira.
É dos Cabos que vou começar
Depois passarei ao Soldado
Depois de fazer isto tudo
Dou meu trabalho acabado.
Parte um e parte dois
E como na Guiné dizia
Com o mesmo nome que dei
Era aquela companhia.
FIM DA 1ª PARTE
Segue com Cabos e Soldados
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23411: Blogpoesia (772): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (1)
quarta-feira, 6 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23413: Historiografia da presença portuguesa em África (324): A circunscrição de Geba, em 1914, relatório de Vasco Calvet de Magalhães (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2021:
Queridos amigos,
Estamos sempre a aprender, veja-se este relatório de 1914 do Administrador da Circunscrição de Geba, um território com as dimensões aproximadas de um terço da Guiné atual. Fazia parte das obrigações dos administradores enviarem relatórios ao Governador em Bolama, este por sua vez coligia todas as informações recebidas e enviava um relatório ao Ministro da Marinha e do Ultramar. Vê-se com alguma perplexidade como é que o administrador dá ampla publicidade através de uma edição da sua iniciativa, ou recebera autorização superior ou reformara-se. É patente o orgulho pela obra feita, tece críticas demolidoras não só para a administração como para os administrados, não deixa de falar na indolência do indígena e em simultâneo faz propostas concretas para o desenvolvimento agrícola, para a criação de ensino técnico-profissional, para grandes mudanças de tributação e sobretudo faz um apelo a uma organização efetiva da administração colonial. Leitura indispensável para entender a presença portuguesa numa região onde não havia tradição da nossa colonização, e onde o poder colonial contava inegavelmente com o suporte das etnias islamizadas.
Um abraço do
Mário
A circunscrição de Geba, em 1914, relatório de Vasco Calvet de Magalhães (1)
Mário Beja Santos
Com impressão na tipografia Progresso, Porto, 1916, o Administrador da Circunscrição de Geba fazia o seu relatório, seguramente encaminhado para Bolama, terá recebido autorização para edição própria. É um documento de grande importância, como o leitor ajuizará. Permite, em primeiro lugar, apercebermo-nos como mudam os critérios de organização do território, e neste caso é surpreendente a circunscrição civil de Geba, tinha uma área aproximada de 13 mil quilómetros quadrados, cerca de um terço do território da colónia, limitada a Norte e a Oeste pela linha de fronteira do marco 58º ao 95º, pelos limites Sul e Leste das regiões de Pateá, Colá e Oio, e limite a Oeste a região do Cuor; ao Sul e Leste o rio Corubal desde a sua confluência com o Geba até ao território do Corubal e a linha de separação deste território do de Badora e Cossé e linha de fronteira do marco 24º ao 58º, e o rio que a separa da região Norte do Forreá. Cerca de 19 regulados, desde Cabu até Mansomine. Impossível não ficarmos impressionados com a extensão desta circunscrição. Queixa-se de muita coisa, logo dos vencimentos e dos efetivos, dizendo que o corpo de guardas é insuficiente, nem chega para policiar a povoação de Bafatá, vê-se constrangido a encarregar indígenas para desempenhar serviços inerentes aos guardas, sem remuneração. E dá conta do crescimento de Bafatá, a vila tem conhecido um grande e rápido desenvolvimento, teria uma população superior à de Bissau, não contando com a população flutuante, daí ser imperativo ter um maior número de agentes de segurança.
É verdadeiramente demolidor quando fala da instrução: “Consiste apenas em ensinar os indígenas a ler e escrever, como se estes predicados bastem para fazer deles indivíduos úteis à terra de onde são nativos! Estes indivíduos recebem apenas uma instrução superficial e quando já sabem soletrar e fazer duas letras dão por finda a sua instrução. As escolas primárias do interior são úteis, mas quando nelas se criem conjuntamente escolas de ensino de trabalho manual, como oficinas de carpinteiro, marceneiro, serralheiro, alfaiate, sapateiro, etc.”. Dá-nos conta que há 62 estabelecimentos comerciais, é um número excessivo, apareceram muitos comerciantes sírio-libaneses a partir de 1911, faz deles uma apreciação pejorativa: “Vivem, em geral, miseravelmente, restringindo as suas necessidades ao número possível e juntando umas centenas de escudos lá vão para Beirute! O indígena, que parece destinado a ser explorado, é uma vítima nas mãos destes indivíduos, que sem consciência nem escrúpulos os exploram. Põe acima de tudo as suas ambições, e por isso enganam no peso, na medida, nos preços gerais do mercado, o indígena, e não levam mais longe a ganância dos seus lucros porque se começou a exercer fiscalização rigorosa”.
Muda de tema, direciona-se para a agricultura, dizendo que em geral são os cabo-verdianos os únicos indivíduos que exploram a agricultura na região, o indígena tem repugnância ao trabalho assalariado, e vaticina mesmo: “Poderão vir as maiores e mais poderosas companhias que encontrarão nesta região sempre este grande obstáculo”. Novamente desassombrado a falar das questões da Fazenda: “Por decreto de agosto de 1912 foi criada uma repartição da Fazenda nesta localidade, mas até hoje ainda nenhum empregado da Fazenda para aqui veio destacado”. E mais desassombrado se revela a apreciar o serviço de fiscalização aduaneira: “Em 1909, quando aqui tomei posse, havia apenas em toda a circunscrição um posto fiscal, chamado do Boé, mas verdadeiramente o que havia estava em Pai-Ai, muito aquém do Boé. O aspirante ali destinado fazia o que queria. Apreendia borracha, mercadorias e dinheiro aos indígenas do nosso território, um verdadeiro salteador de estrada”. Deplora os fiscais, verdadeiros ladrões e o corpo de guarda-fiscais, gente viciosa e indisciplinada. Tal como hoje, critica o funcionamento da justiça, houvera um aspirante que praticara mão-baixa, fora o cabo dos trabalhos demiti-lo, o processo arrastava-se há anos, o ladrão bandeara-se com uma bela soma.
Agora o assunto é o imposto de palhota, e ficamos a saber que os indígenas pagavam imposto com muita facilidade e na época em que se lhes determinava. Há razões que parecem bastante plausíveis para que o imposto deva ser individual e não por palhota, descobrira, sobretudo em gente da etnia Mandinga, que para pagar menos imposto chegava a haver palhotas com 23 pessoas, inconcebível. E dá sugestões: “Deveria ser estabelecido uma percentagem X sobre o imposto total recebido pela administração, para ser aplicado o seu produto em melhoramento de obras locais, a exemplo do que se faz em Moçambique e nas vizinhas colónias francesas. Era a forma de poder fomentar mais rapidamente esta região tão rica, valorizando-a ainda mais, construindo estradas que tão necessárias são, pontes, viadutos”.
A edição do relatório faz-se acompanhar de imagens que são uma verdadeira preciosidade, estão focadas no crescimento e desenvolvimento de Bafatá, mas mostram também os empreendimentos em que Vasco Calvet de Magalhães se envolveu, de fontanários a estradas. Não é despiciendo referir que se deve a este administrador de circunscrição a primeira estrada guineense de algum porte, entre Bafatá e Bambadinca, aliás, ele teve a preocupação de mostrar Bambadinca pela importância que tinha na região. Para além de imagens, dá números, sempre com prudência, irá falar do arrolamento com devidas cautelas, desconfia dos números. É um documento de inegável valor histórico, percebe-se que a povoação de Geba já tinha uma importância mitigada, a expansão era de Bafatá para os pontos remotos do Leste.
Há outras duas apreciações sobre este administrador: como as suas responsabilidades vão até ao Oio, colaborará com Teixeira Pinto; e terá um papel determinante na montagem de uma política colonial de fracionamento de poderes, será ele a dividir o imenso regulado onde pontificava o régulo Monjur, um importante colaborador dos portugueses nas guerras de pacificação, um régulo Fula altamente prestigiado que depois de destituído do seu poder viveu os últimos anos em obscuridade e foi alvo de pompas fúnebres emocionantes.
(continua)
Fotografias assinadas por Domingos Alvão, um grande fotógrafo que esteve presente na I Exposição Colonial, que se realizou no Porto em 1934, retirámos estas duas imagens no site Memória de África e do Oriente, seguramente que fizeram parte do repositório da investigadora Jill Rosemary Dias
Quatro imagens extraídas do site Memória de África e do Oriente, muito provavelmente também da coleção de Jill Rosemary Dias
____________
Nota do editor
Último poste da série de 29 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23396: Historiografia da presença portuguesa em África (323): Dados sobre a Guiné no início da década de 1920, trabalho de um aluno da Escola Colonial (1850-1925) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Estamos sempre a aprender, veja-se este relatório de 1914 do Administrador da Circunscrição de Geba, um território com as dimensões aproximadas de um terço da Guiné atual. Fazia parte das obrigações dos administradores enviarem relatórios ao Governador em Bolama, este por sua vez coligia todas as informações recebidas e enviava um relatório ao Ministro da Marinha e do Ultramar. Vê-se com alguma perplexidade como é que o administrador dá ampla publicidade através de uma edição da sua iniciativa, ou recebera autorização superior ou reformara-se. É patente o orgulho pela obra feita, tece críticas demolidoras não só para a administração como para os administrados, não deixa de falar na indolência do indígena e em simultâneo faz propostas concretas para o desenvolvimento agrícola, para a criação de ensino técnico-profissional, para grandes mudanças de tributação e sobretudo faz um apelo a uma organização efetiva da administração colonial. Leitura indispensável para entender a presença portuguesa numa região onde não havia tradição da nossa colonização, e onde o poder colonial contava inegavelmente com o suporte das etnias islamizadas.
Um abraço do
Mário
A circunscrição de Geba, em 1914, relatório de Vasco Calvet de Magalhães (1)
Mário Beja Santos
Com impressão na tipografia Progresso, Porto, 1916, o Administrador da Circunscrição de Geba fazia o seu relatório, seguramente encaminhado para Bolama, terá recebido autorização para edição própria. É um documento de grande importância, como o leitor ajuizará. Permite, em primeiro lugar, apercebermo-nos como mudam os critérios de organização do território, e neste caso é surpreendente a circunscrição civil de Geba, tinha uma área aproximada de 13 mil quilómetros quadrados, cerca de um terço do território da colónia, limitada a Norte e a Oeste pela linha de fronteira do marco 58º ao 95º, pelos limites Sul e Leste das regiões de Pateá, Colá e Oio, e limite a Oeste a região do Cuor; ao Sul e Leste o rio Corubal desde a sua confluência com o Geba até ao território do Corubal e a linha de separação deste território do de Badora e Cossé e linha de fronteira do marco 24º ao 58º, e o rio que a separa da região Norte do Forreá. Cerca de 19 regulados, desde Cabu até Mansomine. Impossível não ficarmos impressionados com a extensão desta circunscrição. Queixa-se de muita coisa, logo dos vencimentos e dos efetivos, dizendo que o corpo de guardas é insuficiente, nem chega para policiar a povoação de Bafatá, vê-se constrangido a encarregar indígenas para desempenhar serviços inerentes aos guardas, sem remuneração. E dá conta do crescimento de Bafatá, a vila tem conhecido um grande e rápido desenvolvimento, teria uma população superior à de Bissau, não contando com a população flutuante, daí ser imperativo ter um maior número de agentes de segurança.
É verdadeiramente demolidor quando fala da instrução: “Consiste apenas em ensinar os indígenas a ler e escrever, como se estes predicados bastem para fazer deles indivíduos úteis à terra de onde são nativos! Estes indivíduos recebem apenas uma instrução superficial e quando já sabem soletrar e fazer duas letras dão por finda a sua instrução. As escolas primárias do interior são úteis, mas quando nelas se criem conjuntamente escolas de ensino de trabalho manual, como oficinas de carpinteiro, marceneiro, serralheiro, alfaiate, sapateiro, etc.”. Dá-nos conta que há 62 estabelecimentos comerciais, é um número excessivo, apareceram muitos comerciantes sírio-libaneses a partir de 1911, faz deles uma apreciação pejorativa: “Vivem, em geral, miseravelmente, restringindo as suas necessidades ao número possível e juntando umas centenas de escudos lá vão para Beirute! O indígena, que parece destinado a ser explorado, é uma vítima nas mãos destes indivíduos, que sem consciência nem escrúpulos os exploram. Põe acima de tudo as suas ambições, e por isso enganam no peso, na medida, nos preços gerais do mercado, o indígena, e não levam mais longe a ganância dos seus lucros porque se começou a exercer fiscalização rigorosa”.
Muda de tema, direciona-se para a agricultura, dizendo que em geral são os cabo-verdianos os únicos indivíduos que exploram a agricultura na região, o indígena tem repugnância ao trabalho assalariado, e vaticina mesmo: “Poderão vir as maiores e mais poderosas companhias que encontrarão nesta região sempre este grande obstáculo”. Novamente desassombrado a falar das questões da Fazenda: “Por decreto de agosto de 1912 foi criada uma repartição da Fazenda nesta localidade, mas até hoje ainda nenhum empregado da Fazenda para aqui veio destacado”. E mais desassombrado se revela a apreciar o serviço de fiscalização aduaneira: “Em 1909, quando aqui tomei posse, havia apenas em toda a circunscrição um posto fiscal, chamado do Boé, mas verdadeiramente o que havia estava em Pai-Ai, muito aquém do Boé. O aspirante ali destinado fazia o que queria. Apreendia borracha, mercadorias e dinheiro aos indígenas do nosso território, um verdadeiro salteador de estrada”. Deplora os fiscais, verdadeiros ladrões e o corpo de guarda-fiscais, gente viciosa e indisciplinada. Tal como hoje, critica o funcionamento da justiça, houvera um aspirante que praticara mão-baixa, fora o cabo dos trabalhos demiti-lo, o processo arrastava-se há anos, o ladrão bandeara-se com uma bela soma.
Agora o assunto é o imposto de palhota, e ficamos a saber que os indígenas pagavam imposto com muita facilidade e na época em que se lhes determinava. Há razões que parecem bastante plausíveis para que o imposto deva ser individual e não por palhota, descobrira, sobretudo em gente da etnia Mandinga, que para pagar menos imposto chegava a haver palhotas com 23 pessoas, inconcebível. E dá sugestões: “Deveria ser estabelecido uma percentagem X sobre o imposto total recebido pela administração, para ser aplicado o seu produto em melhoramento de obras locais, a exemplo do que se faz em Moçambique e nas vizinhas colónias francesas. Era a forma de poder fomentar mais rapidamente esta região tão rica, valorizando-a ainda mais, construindo estradas que tão necessárias são, pontes, viadutos”.
A edição do relatório faz-se acompanhar de imagens que são uma verdadeira preciosidade, estão focadas no crescimento e desenvolvimento de Bafatá, mas mostram também os empreendimentos em que Vasco Calvet de Magalhães se envolveu, de fontanários a estradas. Não é despiciendo referir que se deve a este administrador de circunscrição a primeira estrada guineense de algum porte, entre Bafatá e Bambadinca, aliás, ele teve a preocupação de mostrar Bambadinca pela importância que tinha na região. Para além de imagens, dá números, sempre com prudência, irá falar do arrolamento com devidas cautelas, desconfia dos números. É um documento de inegável valor histórico, percebe-se que a povoação de Geba já tinha uma importância mitigada, a expansão era de Bafatá para os pontos remotos do Leste.
Há outras duas apreciações sobre este administrador: como as suas responsabilidades vão até ao Oio, colaborará com Teixeira Pinto; e terá um papel determinante na montagem de uma política colonial de fracionamento de poderes, será ele a dividir o imenso regulado onde pontificava o régulo Monjur, um importante colaborador dos portugueses nas guerras de pacificação, um régulo Fula altamente prestigiado que depois de destituído do seu poder viveu os últimos anos em obscuridade e foi alvo de pompas fúnebres emocionantes.
(continua)
Fotografias assinadas por Domingos Alvão, um grande fotógrafo que esteve presente na I Exposição Colonial, que se realizou no Porto em 1934, retirámos estas duas imagens no site Memória de África e do Oriente, seguramente que fizeram parte do repositório da investigadora Jill Rosemary Dias
Quatro imagens extraídas do site Memória de África e do Oriente, muito provavelmente também da coleção de Jill Rosemary Dias
____________
Nota do editor
Último poste da série de 29 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23396: Historiografia da presença portuguesa em África (323): Dados sobre a Guiné no início da década de 1920, trabalho de um aluno da Escola Colonial (1850-1925) (Mário Beja Santos)
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terça-feira, 5 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23412: A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (5): Então o comandante do navio não assinou o recibo de entrega do preso?... (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 2732, Mansabá, 1970/72)
1. Os pobres dos editores deste blogue mal têm tempo para se coçarem, quanto mais escrever as suas próprias histórias e editar os seus próprios postes... Há material (sobretudo os textos com montes de fotografais...) que pode levar algumas horas a editar...
Recorde-se que o nosso camarada, amigo e coeditor Carlos Vinhal (um histórico da Tabanca Grande, à qual pertence desde 25 de março de 2006) foi furriel miliciano atirador de artilharia com a especialidade de minas e armadilhas. Incorporado como instruendo do CSM em Abril de 1969 nas Caldas da Rainha (RI5), tirou a a especialidade de atirador de artilharia em Vendas Novas (EPA), tendo passado ainda, em novembro, por Tancos (EPE) onde tirou o XXXIII Curso de Minas e Armadilhas...
(*) Vd. poste de 28 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23391: A galeria dos meus heróis: uma história pícara de três “a(r)didos” - II (e última) Parte (Luís Graça)
(**) Vd. poste de 25 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P632: Tabanca Grande: Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA da madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72)
(***) Último poste da série > 4 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23409: A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (4): peripécias de um aspirante miliciano, no Depósito de Adidos de Luanda, um mês e tal à espera de transporte para o CTIG (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt, PTE / BENG 447, Brá, 1967/71)
Mas a verdada é que eles, editores, também sabem escrever e até têm, além de memória, sentido de humor... Hoje fomos recuperar um comentário do nosso querido Carlos Vinhal, esquecido ou escondido na "montra traseira" (a caixa de comentários) do nosso blogue, no poste P23391 (*).
Afinal, é uma história (aliás, são duas) com "princípio, meio e fim", e que encaixa na perfeição na nossa nova série "A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra" (**)
Recorde-se que o nosso camarada, amigo e coeditor Carlos Vinhal (um histórico da Tabanca Grande, à qual pertence desde 25 de março de 2006) foi furriel miliciano atirador de artilharia com a especialidade de minas e armadilhas. Incorporado como instruendo do CSM em Abril de 1969 nas Caldas da Rainha (RI5), tirou a a especialidade de atirador de artilharia em Vendas Novas (EPA), tendo passado ainda, em novembro, por Tancos (EPE) onde tirou o XXXIII Curso de Minas e Armadilhas...
Em dezembro de 1969 rumou ao Funchal onde ajudou a dar a especialidade de atirador a um grupo de militares madeirenses com os quais se formaram as duas primeiras Companhias da Bateria de Artilharia de Guarnição n.º 2 (BAG2, a partir de 1970, GAG2) a irem para o Ultramar: a CART 2731 foi para Angola, e a sua, a CART 2732, embarcou no cais do Funchal para a Guiné no dia 13 de abril de 1970, onde chegou a 17.
Como quase quase toda a malta, esteve "hospedado" uns dias,
no Depósito de Adidos, em Brá, e no dia 21 do mesmo mês seguiu, com os seus madeirenses da CART 2732, para Mansabá (que ficava na região do Oio, entre Mansoa e Farim). Aqui permanceu em quadrícula até finais de fevereiro de 1972.
Mas estas duas histórias, que metem 1.ºs cabos milicianos e presos (e que, por isso, têm o seu quê de pícaro), não se passam exatamente nos Adidos, nem em Lisboa, nem em Brá, mas uns tempos antes, no GAG2 (Grupo de Artilharia de Guarnição nº 2), no Funchal... (O BAG2 /GAG2 teve origem nas unidades de artilharia estacionadas na Madeira pelo menos desde 1661; hoje está integrado no Regimento de Guarnição nº 3.)
O soldado do GAG2, Funchal, que foi 'repescado' nas águas do Tejo pela Polícia Militar...
No BAG2 / GAG2 (Funchal) havia uma cela com alguns presos. Ao domingo abria-se a porta e os presos iam com as famílias, esposas, filhos, pais, etc, dar umas voltas pelas redondezas. Ao fim da tarde regressavam à situação de presos.
Quando mais tarde voltei, estava tudo em alvoroço porque o tal recruta tinha abandonado o quartel e apanhado clandestinamente um navio para o continente.
Carlos Vinhal
Uma situação complicada foi quando num dia em que o aspirante não foi à instrução que constava de uma progressão ao longo das levadas, um dos recrutas veio ter comigo e pediu para ir falar com o aspirante ao quartel. Anui.
Quando mais tarde voltei, estava tudo em alvoroço porque o tal recruta tinha abandonado o quartel e apanhado clandestinamente um navio para o continente.
Fiquei mesmo atrapalhado, mas antes de manifestar a minha preocupação, perguntei naturalmente ao aspirante se o militar tinha estado com ele durante a manhã. Que tinha estado e que lhe tinha pedido para o deixar ir a casa porque morava ali perto. Só que não voltou à hora de almoço.
Contactada Lisboa, no dia seguinte a PM estava à sua espera no cais. O recruta tendo-se apercebido da recepção que lhe estava destinada, atirou-se à água, sendo preciso algum trabalho para o capturar. A esta distância não me lembro quem era e se foi connosco.
Atão, e o recibo de entrega do preso, assinado pelo comandante do navio ?
Ainda outra história com prisioneiros. Um dos meus camaradas foi incumbido de levar um preso ao cais do Funchal para ser encaminhado sob prisão para Lisboa. Chegados a bordo, o cabo miliciano entregou o preso e os respectivos papéis.
De volta ao quartel, o oficial de dia perguntou-lhe se o Comandante do navio tinha assinado o recibo de entrega do preso.
- Era preciso?
Havia que voltar rapidamente ao cais antes que o navio zarpasse.
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 28 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23391: A galeria dos meus heróis: uma história pícara de três “a(r)didos” - II (e última) Parte (Luís Graça)
Guiné 61/74 - P23411: Blogpoesia (772): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (1)
1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 5 de Julho de 2022:
Bom Dia Carlos Vinhal, Bom Dia Tabanca Grande
Desta vez é, "ERA AQUELA COMPANHIA", parte 1, e depois será a segunda parte.
E muito mais haverá para enviar à Tabanca. É que agora pensei em não te dar sossego , é muito o trabalho aqui acumulado.
Para todos os que habitam na Tabanca Grande vai um bom abraço em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva
ERA AQUELA COMPANHIA
Parte I - (1/2)
Desembarcados no Cais
Quando ao Canchungo chegámos
E a terra da Guiné
a primeira vez nós pisámos.
Foi-nos dado uma Caserna
Para toda a comissão
Junto ao arame farpado
Bem pertinho da Prisão.
Eram tantas as mulheres
Pois havia a Tabanca à beira
Cada uma delas só queria
Ser a nossa lavadeira.
Havia muitas Bajudas
Lavadeiras para a farda
Todos escolhemos uma
Só para lavar e mais nada.
O Quartel conhecemos
Tudo quanto lá havia
Cantina, Casernas, Cozinhas
As camas onde se dormia.
Estava junta a CCS
a Companhia formada
dando início à missão
naquela terra azarada.
Comandava o Batalhão
Um Coronel porreiro
O Martiniano Gonçalves
Depois Aristides Pinheiro.
Guilhermino Militar
Um Major mal humorado
Só dizia não há figos
Era mau para o soldado.
Era Segundo Comandante
E por Vacas conhecido
Rabugento muito mau
Ele era destemido.
Tinha outro Major
Se chamava Milheiriço
Ameaçava tudo à chapada
Era Oficial castiço.
Deu uma chapada a um militar
E dessa cena quem viu
O soldado ficou de pé
E foi o Major que caiu.
O Nelson Santos
Como oficial era bom
Com nós em Teixeira Pinto
Onde era Capitão.
O Tenente Paulo Dias
Fazendo o que mais sabia
Por gostar de escrever
Era chefe de Secretaria.
Era Alferes de Transmissões
E disso bem ele sabia
O António S. Ferreira
Lá na nossa Companhia.
O Alferes Leite Faria
Oficial bem aplicado
A comandar a "ferrugem"
Andava sempre borrado
Foi sempre bem estimado
Era um Alferes verdadeiro
Trabalhava na oficina auto
Mas por fora era um lateiro.
Havia em Teixeira Pinto
Uma Igreja para a oração
Francisco da Costa e Silva
Era o Alferes Capelão
Era bom Capelão
E até a bajuda rezava
Passava o tempo connosco
E na Tabanca pregava.
Como era militar
Era nosso Capelão
Com eles todos rezavam
E a cantar era bom.
Maximino Vaz da Cunha
Alferes Médico Miliciano
E o Sargento Ajudante
Era o António Maria Mano.
Era o Alferes Lamares
Quase com a nossa idade
Ele também Miliciano
Chefe da Contabilidade.
Outro Alferes era o Corais
Com um pouco de mania
Era ele o Tesoureiro
Lá na nossa Companhia.
Bessa de Melo outro Alferes
Era Médico que mal o vi
Ele tinha a nossa idade
Por isso não o esqueci.
Alferes Miliciano Médico
O Maymone Martins então
Excelente militar aplicado
Tudo o que fazia era bom.
Como nós era Periquito
Mas com ele se aprendia
Grande Médico corajoso
Em tudo quanto fazia.
Era amigo e ensinava
E muito a gente aprendeu
Bom camarada e gentil
A malta não o esqueceu.
Com prazer tudo fazia
Fosse no Quartel ou não
As consultas que ele dava
Para todo o Batalhão.
Via e ouvia o doente
Quando estava a consultar
Depois fazia a receita
Para o doente tomar.
Companhia de Comando e Serviço
Lá na Guiné era assim
Era aquela companhia
Do principio até ao fim.
O Comandante da CCS
Aquele que mais dava a voz
Era o nosso Capitão
António Rodrigo Queiroz.
Era um Homem cumpridor
Como Oficial era bom
Zeloso com a Companhia
Um excelente Capitão.
Comandava muito bem
Pois exigia respeito
Gostava que todos cumprissem
Fazendo tudo bem feito.
O Alferes Vidal era forte
Dos Sapadores comandante
Punha-os a abrir trincheiras
Que faziam num instante.
No Reconhecimento o Sanches
Era Alferes entendido
Até de Oficial Dia
Ele era bem recebido.
Era a nossa CCS
Eram nossos oficiais
Em quem tanto confiámos
Pois eram todos iguais.
O Nosso Primeiro Mestre
A quem via dia a dia
Até altas horas da noite
Em sua Secretaria.
O Nosso Primeiro Mestre
Um homem bem educado
A todos tratava bem
Fosse Oficial ou soldado.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 3 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23406: Blogpoesia (771): "Amor e Vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887)
Bom Dia Carlos Vinhal, Bom Dia Tabanca Grande
Desta vez é, "ERA AQUELA COMPANHIA", parte 1, e depois será a segunda parte.
E muito mais haverá para enviar à Tabanca. É que agora pensei em não te dar sossego , é muito o trabalho aqui acumulado.
Para todos os que habitam na Tabanca Grande vai um bom abraço em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva
ERA AQUELA COMPANHIA
Parte I - (1/2)
Desembarcados no Cais
Quando ao Canchungo chegámos
E a terra da Guiné
a primeira vez nós pisámos.
Foi-nos dado uma Caserna
Para toda a comissão
Junto ao arame farpado
Bem pertinho da Prisão.
Eram tantas as mulheres
Pois havia a Tabanca à beira
Cada uma delas só queria
Ser a nossa lavadeira.
Havia muitas Bajudas
Lavadeiras para a farda
Todos escolhemos uma
Só para lavar e mais nada.
O Quartel conhecemos
Tudo quanto lá havia
Cantina, Casernas, Cozinhas
As camas onde se dormia.
Estava junta a CCS
a Companhia formada
dando início à missão
naquela terra azarada.
Comandava o Batalhão
Um Coronel porreiro
O Martiniano Gonçalves
Depois Aristides Pinheiro.
Guilhermino Militar
Um Major mal humorado
Só dizia não há figos
Era mau para o soldado.
Era Segundo Comandante
E por Vacas conhecido
Rabugento muito mau
Ele era destemido.
Tinha outro Major
Se chamava Milheiriço
Ameaçava tudo à chapada
Era Oficial castiço.
Deu uma chapada a um militar
E dessa cena quem viu
O soldado ficou de pé
E foi o Major que caiu.
O Nelson Santos
Como oficial era bom
Com nós em Teixeira Pinto
Onde era Capitão.
O Tenente Paulo Dias
Fazendo o que mais sabia
Por gostar de escrever
Era chefe de Secretaria.
Era Alferes de Transmissões
E disso bem ele sabia
O António S. Ferreira
Lá na nossa Companhia.
O Alferes Leite Faria
Oficial bem aplicado
A comandar a "ferrugem"
Andava sempre borrado
Foi sempre bem estimado
Era um Alferes verdadeiro
Trabalhava na oficina auto
Mas por fora era um lateiro.
Havia em Teixeira Pinto
Uma Igreja para a oração
Francisco da Costa e Silva
Era o Alferes Capelão
Era bom Capelão
E até a bajuda rezava
Passava o tempo connosco
E na Tabanca pregava.
Como era militar
Era nosso Capelão
Com eles todos rezavam
E a cantar era bom.
Maximino Vaz da Cunha
Alferes Médico Miliciano
E o Sargento Ajudante
Era o António Maria Mano.
Era o Alferes Lamares
Quase com a nossa idade
Ele também Miliciano
Chefe da Contabilidade.
Outro Alferes era o Corais
Com um pouco de mania
Era ele o Tesoureiro
Lá na nossa Companhia.
Bessa de Melo outro Alferes
Era Médico que mal o vi
Ele tinha a nossa idade
Por isso não o esqueci.
Alferes Miliciano Médico
O Maymone Martins então
Excelente militar aplicado
Tudo o que fazia era bom.
Como nós era Periquito
Mas com ele se aprendia
Grande Médico corajoso
Em tudo quanto fazia.
Era amigo e ensinava
E muito a gente aprendeu
Bom camarada e gentil
A malta não o esqueceu.
Com prazer tudo fazia
Fosse no Quartel ou não
As consultas que ele dava
Para todo o Batalhão.
Via e ouvia o doente
Quando estava a consultar
Depois fazia a receita
Para o doente tomar.
Companhia de Comando e Serviço
Lá na Guiné era assim
Era aquela companhia
Do principio até ao fim.
O Comandante da CCS
Aquele que mais dava a voz
Era o nosso Capitão
António Rodrigo Queiroz.
Era um Homem cumpridor
Como Oficial era bom
Zeloso com a Companhia
Um excelente Capitão.
Comandava muito bem
Pois exigia respeito
Gostava que todos cumprissem
Fazendo tudo bem feito.
O Alferes Vidal era forte
Dos Sapadores comandante
Punha-os a abrir trincheiras
Que faziam num instante.
No Reconhecimento o Sanches
Era Alferes entendido
Até de Oficial Dia
Ele era bem recebido.
Era a nossa CCS
Eram nossos oficiais
Em quem tanto confiámos
Pois eram todos iguais.
O Nosso Primeiro Mestre
A quem via dia a dia
Até altas horas da noite
Em sua Secretaria.
O Nosso Primeiro Mestre
Um homem bem educado
A todos tratava bem
Fosse Oficial ou soldado.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 3 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23406: Blogpoesia (771): "Amor e Vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887)
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