Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de janeiro de 1971 a outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto, em finas do ano de 1971: reordenamento, de dimensão média (c. 110 casas, cobertas a chapa de zinco, com o quartel à direita, em primeiro plano. Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, e por ele gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.
1. Não sabemos se há estudos sobre a historial (e também o custo) dos reordenamentos da Guiné. É possível que existam, no Arquivo Histórico-Militar, muita informação técnica e económico-financeira sobre os reordenamentos das populações. Deixemos isso para os investigadores. (*)
Temos, no nosso blogue, alguns dados, parciais e dispersos, sobre os reordenamentos populacionais, que foram um peça fundamental da política spinolista "Por uma Guiné Melhor".
É verdade que não foi o Spinola quem "inventou" a figura do "reordenamento" (já havia a experiência francesa das "agrovilles", na guerra da Indochina, nos anos 50, depois o "Strategic Hamlet Plan" dos americanos no Vietname, com as suas "aldeias estratégicas"; e de novo os "regouprements" franceses na guerra na Argélia, nos anos 60).
Mas também é verdade que a palavra "reordenamentos" praticamente não se ouvia antes do "consulado" de Spínola (1968-1973): nos livros da CECA sobre a actividade operacional no CTIG, a palava não aparece no livro 1 (até finais de 1966) (há duas referências com o descritor "reordenamentos", um deles no âmbito da criação, em 1973 (quando entrou em vigor o Estatuto Político-Administrativo da Província da Guiné), do Conselho Provincial de Educação Física e Desportos e Reordenamemtos, no âmbito dos nova orgânica dos Serviços da Administração Central...
Já no livro 2 (1967-1970) há cerca de 70 referências (Reordenamento / reordenamentos).
Logo em 3jun68, na sequência de uma reunião no QG/CTIG, é publicada a Directiva n° 2/68, que "ordena o estudo imediato da remodelação do dispositivo na área de Aldeia Formosa por forma a obter o rápido reordenamento e instalação das tabancas em autodefesa, respeitando o princípio da concentração de meios", a ser concretizada "antes da época das chuvas".
Em 30 de setembro, sai outra importante diretiva, Directiva nº 43/68, de 30Set ("Porque o reordenamento das populações e a sequente organização das tabancas em autodefesa é um problema complexo e que requer técnica especializada, é determinado o seu estudo num dos departamentos do Gabinete Militar do Comando-Chefe "(...).
No essencial, a doutrina do Com-chefe sobre sobre o assunto ("Reordenamento das populações e organização da autodefesa") é definida nesta época (1968/70).
Em 1969, na época seca, deu-se início â construção dos primeiros grandes reordenamentos. Noutra ocasião daremos notícia mais detalhada sobre estas atividades.
No último livro da CECA sobre a atividade operacional na Guiné (1971/74) são 63 as referências aos descritores reordenamento/reordenamentos. (*)
Em meados de 1972, e regundo informação do Avelino Rodrigues, em trabalho de reportagem sobre a Guiné de Spínola, haveria uma centena de "aldeias de zinco", coo Nhabijões.
2. Vejamos agora um memorandum elaborado pelo Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia 447 entregue, em julho de 1971, aquando da visita à Guiné de uma delegação da ONU (***).
(...) Tem o Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia habilitado inúmeros oficiais, sargentos e cabos com o estágio de reordenamentos. Esses elementos, formando equipas constituídas por um oficial (alferes), um encarregado de obras (furriel), um pedreiro (cabo) e um carpinteiro (cabo), executaram no interior da província com a colaboração das populações, cerca de 8.000 casas cobertas a colmo e 3.880 cobertas a zinco nos últimos anos.
A esse volume de trabalho correspondem as seguintes quantidades de materiais:
- Rachas de cibe - 542.000
- Chapas de zinco - 550.960
- Ripas - 756.600 metros
- Pregos - 120.280 kg
- Anilhas de chumbo - 27.160 kg
- Cimento - 19.400 sacos
- 11.700 ripas;
- 780 kg de pregos n.º 15;
- 600 kg de pregos n.º 7;
- 480 kg de pregos zincados;
- 420 anilhas de chumbo 6/8"
- e 8.520 chapas de zinco (em média, 142 chapas por casa T2)
Nhabijões, no subsetor de Bambadinca, era então, no final de 1969, um importante aglomerado habitado por gente com parentes no "mato", e que era tradicionalmente considerado, antes do reordenamento, como um conjunto de núcleos habitacionais ribeirinhos "sob duplo controlo".
De qualquer modo, Marcelo Caetano mais os seus ministros da Defesa, do Ultramar e das Finanças tramaram a política spinolista "Por Uma Guiné Melhor"... Ao que se sabe, o sucessor de Spínola já não terá tido a mesma abundância de dinheiro para continuar a fazer a "psico"...
Ora, quer se goste ou não, há uma Guiné antes e depois de Spínola:
- Quando ele chega em meados de 1968, o território tinha 60 quilómetros de estrada alcatroada;
- Cinco anos depois, são 550 km de estrada alcatroafa;
- No ano escolar de 1970/71, a tropa administra 127 das 298 escolas primárias do território, ou seja cerca de 43%.; o resto eram as escolas oficiais , como a de Bambadinca (30%) e as particulares,como escolas das Missões Católicas (27%);
- Spínola deixa o território com uma criança em cada três, em idade escolar, a frequentar a escola