quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19215: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (61): os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações, brochura da Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica [ACAP], do QG / CCFAG - III (e última) Parte


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 ( Bambadinca) > Xime > Cais fluvial do Xime >1970 > 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) >  Ao centro, em segundo plano, de óculos escuros e boné azul (da FAP),  o fur mil op esp Humberto Reis, cujo grupo de combate estava encarregue de escoltar o transporte de milhares de rachas de cibe, desembarcadas no cais do Xime, e destinadas ao reordenamento de Nhabijões, um dos maiores da época (iniciado com o BCAÇ 2852, 1968/70, e continuado com o BART 2917, 1970/72)... 

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné]


Já não nos lembramos quantas rachas de cibe levava uma casa... Só a estrutura do telhado, com cobertura de folha de zinco, deveria levar pelo menos umas 20... Mais outro lado, para suportar o telhado ao longo do varandim a toda a volta.. O total de casas em construção era de 350, fora os equipamentos coletivos ou sociais...  Na altura falava-se que cada racha de cibe ficava ao exército em 7$50 (sete pesos e meio)... Um total de 15 mil rachas de cibe,  é nossa estimativa do material transportado do Xime para Nhabijões, com um custo direto de mais 100 contos.  (A preços de hoje, seria qualquer coisa como 30 mil euros)... Fora as chapas de zinco, as portas e janelas, as ferragens, o cimento... O resto, a mão de obra (civil e militar), os transportes, a segurança, etc.  era de borla. Tudo em nome de uma "Guiné Melhor"... Ao que consta, o sucessor de Spínola não terá tido a mesma abundância de dinheiro para continuar a fazer a "psico"... 

O PAIGC não gostou da brincadeira: em 13 de janeiro de 1971, as NT acciona duas potentes minas A/C à saída do reordenamento, de que resultaram 1 morto e bastantes feridos graves... Em outubro de 1973,  ela primeira vez na história da guerra, o grande reordenamento de Nhabijões, de maioria balanta, foi flagelado, ao mesmo tempo que o destacamento do Mato Cão;

Nhabijões, no subsetor de Bambadinca, era então um importante aglomerado habitado por gente com parentes no "mato", e que era tradicionalmente considerado, antes do reordenamento,. como um conjunto de núcleos habitacionais ribeirinhos "sob duplo controlo".  Só a CCAÇ12 (, baseada em soldados do recrutamento), deu 1 alferes, 1 furriel e 1 cabo (metropolitanos) e 1 soldado (guineense) para integrar a equipa técnica do reordenamento de Nhabijões... E destacava periodicamente militares para a sua defesa... E os Nhabijões foram "regados com o nosso sangue"...

Estima-se que, entre 1969 e 1974, as Forças Armadas no CTIG tenham construidos 8 mil casas, no total das tabancas reordenadas... Admitindo que cada casa, com chapa de zinco, levasse pelo menos 50 rachas de cibe, temos um total de 400 mil rachas de cibe, com um custo de 3 mil contos (a preços de 1972  representariam hoje mais de 700 mil euros...).  Os ministros da Defesa, do Ultramar e das Finanças tramaram a política spinolista "Por Uma Guiné Melhor"...

Quer se goste ou não, há uma Guiné antes e depois de Spínola... Quando ele chega em meados de 1968, o território tinha 60 quilómetros de estrada alcatroada... Cinco anos depois, são 550 km. No ano escolar de 1970/71, a tropa administra 127 das 298 escolas primárias do território, ou seja cerca de 43%., O resto eram as escolas oficiais , como a de Bambadinca (30%)  e as escolas das Missões Católicas (27%)... 

Spínola deixa o território com uma criança em cada três, em idade escolar, a frequentar a escola... O despotismo iluminado de Spínola foi uma ameaça série ao PAIGC... Mas homens como Spínola ou Sarmento Rodrigues foram exceções na história da administração do império colonial português...





Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de janeiro de 1971 a outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto ( reordenamento, com o quartel à direita, em primeiro plano) nos finais do ano de 1971. Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, e por ele gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz (*)

Foto: © Morais da Silva (2012) Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > O alf mil inf Luís Mourato Oliveira, da CCAÇ 4740 (Cufar, 1973) (à direita do condutor)  e o alf mil médico (, o condutor do jipe,  e cuja identidade desconhecemos) em visita ao reordenamento feito pelas NT e pela população.  Matofarroba ficava nas proximidades de Cufar, a cerca de 2/3 km.

Foto: © Luís Mourato Oliveira  (2016) Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Capa da brochura "Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações". Província da Guiné, Bissau: QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné]. Repartição AC/AP [, Assuntos Civis e Acção Psicológica]. s/d.

Foto: © A. Marques Lopes / António Pimentel (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Na sequência do poste P19196 (**), decidimos reproduzir o documento supracitado, que nos chegou, em tempos, pela mão dos nossos camaradas António Pimentel e A. Marques Lopes, e que já foi publicado, no nosso blogue em 2007 (***) , com revisão e fixação de texto do nosso coeditor Virgínio Briote.  

Esta é a III (e última) Parte (****). Esperamos que o A. Marques Lopes que nos confirme: 

(i) o número de páginas da brochura (em princípio, 9 páginas); 

e (ii) se o texto foi publicado na íntegra na altura. 

Uma ou outra palavra está ilegível. A resolução da imagem dos mapas (nºs 1 e 2) precisa de ser melhorada.

Por outro lado, estamos a  pedir aos nossos leitores, amigos e camaradas da Guiné, que nos disponibilizem textos, fotografias e outros documentos sobre os reordenamentos populacionais. Tanto quanto sabemos, não há trabalhos académicos publicados sobre este tópico. Muitos de nós estiveram envolvidos, direta ou indiretamente, nos reordenamentos populacionais no TO da Guiné, nomeadamente no tempo do Com-Chefe e Governador Geral António Spínola (1968-1973).

Gostávamos de poder fazer um levantamento de todos os reordenamentos populacionais realizados ma Guiné, durante toda a guerra. E idenficar os nossos camaradas que integraram as equipas técnicas dos reordenamentos (graduados e praças) (, caso. por exemplo, do Luís R. Moreira) e que no BENG 447 planearam, coordenaram, apoiaram e/ou supervisionaram a construação de reordenamentos (caso,. pro exemplo, do Fernando Valente Magro).


Reprodução do documento [Revisão e fixação de texto: VB / LG].
   
IMPORTÂNCIA SOCIAL E ECONÓMICA DOS REORDENAMENTOS

 (pag. 6/9) (Continuação)


5. Não devendo em princípio existir um carácter de obrigatoriedade quanto à deslocação das populações das suas tabancas para um aldeamento, a não ser que o interesse comunitário superiormente o determine, há que empregar meios persuasivos quando se encontre alguma resistência. Para se criar ...[ilegível]

Esquematicamente vemos, assim:

Antes da construção:

  • auscultação das populações (indirecta, directa); 
  • auscultação e elucidação do Chefe da Tabanca; 
  • auscultação e elucidação do Guarda de Irã;
  • auscultação e elucidação das autoridades religiosas islâmicas.

Durante a construção:

  • garantir a autoridade constituída; 
  • garantir, tanto quanto possível, os interesses da localização dos aglomerados correspondentes às antigas tabancas, dentro do plano urbanístico; 
  • respeitar os usos e costumes das populações;
  • colaborar no transporte de todos os haveres das populações deslocadas;
  • interessar as populações na construção das casas, escolas, postos sanitários, etc., permitindo e desenvolvendo o sentimento de posse. 

6. A forma mais prática de se assegurar o deslocamento das populações para os reordenamentos é criar nelas a necessidade desse reordenamento. Para isso é necessário elucidá-las dos benefícios que vão auferir e garantir os seus desejos quanto a aspectos respeitantes aos seus usos e costumes. Será de toda a conveniência o conhecimento das suas motivações religiosas e étnicas. 

Nos quadros anteriores já foi feito um esquema suficientemente desenvolvido. Em novo quadro, indicar-se-ão as principais motivações a explorar para um útil e efectivo trabalho de consciencialização das populações.

1.BENEFíCIOS SOCIAIS

  • melhores casas;
  • escolas;
  • postos de socorros; 
  • assistência médica; 
  • água.

2. BENEFíCIOS ECONÓMICOS

  • melhores lavras;
  • celeiros colectivos;
  • mercado para escoamento da produção; 
  • lojas.

ISLAMIZADOS

Fulas

  • construção de mesquitas;
  • difundir a religião; 
  • os régulos governarão melhor com toda a população junta; 
  • os fulas têm de voltar a ser senhores dos seu "chão" que o IN quer roubar;
  • os antepassados foram valentes. 

Mandingas

  • construção de mesquitas;
  • difundir a religião; 
  • os chefes poderão dirigir melhor; 
  • as novas tabancas poderão ter lojas e fazerem comércio para terem riqueza; 
  • os antigos foram valentes e têm de os saber imitar.

ANIMISTAS

Balantas

  • terão maior protecção dos Irãs; 
  • o Balanta terá a liberdade na tabanca e no mato, que o IN impede; 
  • o Balanta vai deixar de ser escravo do IN; 
  • os Balantas juntos têm força para exterminar o IN;
  • haverá sempre muita fartura. 

Manjacos

  • terão maior protecção dos Irãs; 
  • juntos terão muita força;
  • impedirão o roubo de mulheres quando estiverem juntos; 
  • poderão fazer comércio;
  • cada família poderá ter os seu Irã. 

Brames
  • terão maior protecção dos Irãs; 
  • o régulo governará melhor; 
  • vão ter mais vacas para estrumar as terras e para o choro; 
  • os Brames não terão necessidade de emigrar porque nada lhes faltará; 
  • o IN quer escravizá-los e não o poderá fazer estando todos juntos.

[Fim do documento, de 9 páginas]
_________

Notas do editor:


(*) Vd. poste de 22 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9936: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (9): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VII Parte - Evolução da situação militar - Anexo IV

(**) Vd. poste de 5 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19196: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (58): os reordenamentos populacionais (Francesca Vita, doutoranda em arquitetura, Faculdade de Arquitetura, Universidade do Porto)

(***) Vd. postes de:
12 de setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2100: A Política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações (1) (A. Marques Lopes / António Pimentel)

16 de setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2108: A Política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações (2) (A. Marques Lopes / António Pimentel)

(****) Últimos dois postes da série:

20 de novembro de 2018 > Guiiné 61/74 - P19213: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (59): os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações, brochura da Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológioco [ACAP], do QG / CCFAG - Parte I

21 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19214: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (60): os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações, brochura da Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológioco [ACAP], do QG / CCFAG - Parte II

7 comentários:

Luís Graça disse...

É um notável documento que define, em poucas páginas, o essencial do pensamento estratégico e da metodologia que presidiu à construção de dezenas de reordenamentos populacionais na Guiné, e nomeadamente no âmbito da política spinolista "Por uma Guiné Melhor"...

Está por fazer o levantamento de todos os reordenamentos e "contabilizar" o esforço gigantesco , de população civil e militares, posto na concretização este projeto... tão mal amado, conhecido, estudado...

Gostava de saber a data precisa deste documento e o seu autor... Quem era o patrão da Rep ACAP do QGCCFAG nessa altura ?

É um documento inovador sobre o desenvolvimento socioeconómico da Guiné, sustenatdo e participado... O que não quer dizer que não está isento de "vieses" eurocêntricos e de estereótipos étnicos...

Levanta questões que também têm sido aqui pouco focadas e debatidas... Por exemplo, os balantas, no mato, a população civil foi obriagada a "trabalho forçado" pelo PAIGC... Eram eles quem, no essencial, fazia o abastecimento (armas, munições, mantimentos) da guerrilha e da população sob o seu controlo... A população civil nas "áreas libertadas" vivia miseravelmente e em constante sobressalto... Esta é a verdade, o resto é propaganda...

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

A leitura destes interessantes documentos de orientaçao psico-tecnica na abordagem do "indigena" no contexto dos reordenamentos, mostra uma viragem importante na politica e estratégia seguida até 1968/69. Nao sei se se pode falar de uma rupture, mas visivelmente, a Guiné conhecia entao uma politica nova do homem Branco que nem o mais optimista dos Guinéus nao poderia suspeitar.

Para todos os efeitos, continuava a ser a mesma potencia colonial, mas a natureza do colonialismo ja era diferente e, foi pena, nas condiçoes em que ocorreu a descolonizaçao, nao tivesse sido possivel permitir ao Gen. Spinola capitalizar os seus esforços de uma nova forma de fazer a politica colonial com as suas reformas internas, medindo forças com os seus adversarios, no campo meramente politico e diplomatico a que ele, suponho eu, aspirava realizar na fase final do conflito (a consulta popular em forma de referendum), especialmente no caso da Guiné, convencido da superioridade dos seus argumentos, pois no fundo, era exactamente isso que as populaçoes nativas esperavam dos brancos, que eles tinham recebido nos seus territorios e ao qual reconheciam uma certa superioridade tecnica e tecnologica, esperando também eles, beneficiar da sua protecçao e dos seus avanços nos diferentes dominios da vida.

Ao que parece, os ventos da historia eram muito fortes e, convenhamos, o patriotismo, por mais forte que seja, também, tem os seus limites.


Com um abraço amigo,


Antº Rosinha disse...

O que Spínola tentou e não conseguiu, sucesso militar, socesso social, sucesso económico, na Guiné, conseguiram outros militares pelo mesmo processo, em Angola, como governadores de distrito, nos seus distritos. (é repetição minha)

Malange e Lunda e Menongue, só falo destes porque trabalhei lá, além da guerra estar dominada, (nestas guerras nada é definitivo), económicamente havia produções agrícolas descomunais, a Guiné e a Metrópole muito arroz comeram de lá, pecuária nem se fala, e a guerra, por aquelas bandas era mais na ONU, Roma, Paris, etc.

Eram majores ou ten. coronéis, um deles foi Soares Carneiro, na Lunda, que foi candidato a PR, em 1980 (?).

Na Guiné, a guerra era outra.

Luís Graça disse...

A grande debilidade da Guiné era a economia... A monocultura das oleaginosas (amendoim e coconte) foi fatal, criando as condições para a luta pela independência...

Claro que a independência política não era, como não foi o "abre-te, Sésamo" do desenvolvimento... A economia estatal planificada foi um desastre, a abertura à economia de mercadp é outro desastre...A Guiné-Bissau tem o seu futuro adiado, como muitos outros países, adiados...

Luís Graça disse...

Nsste documento, que tem necessariamente que ter tido a "chancela" do Spínola, a administração civil, o funcionalismo colonial, o passado dos governos da província ficam mal na fotografia...

Aspopulações da Guiné "duvidam por sistema, devido à estagnação sócio-económica anterior à guerra, às promessas que nunca foram cumpridas antes nessa época" (sic) e, naturalmente "à propaganda inimiga orientada para esse passado"...

Amílcar Cabral e o seu partido exploraram habilmente os erros do passado...

A administração é "incapaz" porque "incompetente", luta com falta de recursos (humanos, técnicos, científicos, económicos, financeiros...) em termos quntitativos e qualitativosde para levar para a frente um projeto como este, os reordementos populacionais suscetíveis de potenciar o desenvolvimento social e económico... Por isso a tropa vai fazer... Como fez. A G3 numa mão, a pá e a pica na outra... Porque a tropa tinham múltiplas competências, da educação à saúde, da engenharia à comunicação...

Porém, tarde de demais... A culpa não foi do Spínola, ou do Sarmento Rodrigues... mas de Lisboa (o mesmo é dizer, da República e do Estado Novo)...Aqui não vale a pena arranjar bodes expiatórios... Não há "colonizadores bons", nem "maus aprendizes colonizados"...

Infelizmente, a Guiné colonial nunca teve quadros com boa preparação científica e técnica... Teve um único liceu, tardio, não tinha sequer uma escola superior... Por isso o PAIGC também não teve os quadros que o povo da Guiné precisava e exigia... Teve bons líderes militares e bravos guerreiros, mas os dirigentes políticos do pós-independência foram um desastre... Acho que a Guiné-Bissau ainda hoje vive na orfandade, depois de ter perdido um líder como Cabral, que tinha a envergadura intelectual de um Mandela, se bem que este fosse mais sábio, mais africano... Recorde-se o que disse: "“A educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo”...

Luís Graça disse...

"Cinco lições de Nelson Mandela que podem mudar a sua vida", publicou o Expresso, em 10/12/2015,por ocasião da sua morte... Vale a pena reproduzir aqui:


WWW.EXPRESSO.PT

https://expresso.sapo.pt/queroestudarmelhor/cinco-licoes-de-nelson-mandela-que-podem-mudar-a-sua-vida=f845375#gs.OlZiOEM

(...) Nelson Mandela não permitiu que 27 anos de prisão o desviassem do seu objetivo ou que o tornassem um homem amargo e vingativo. Pelo contrário, ele nunca se desviou do seu caminho pela luta contra o apartheid - nem mesmo quando lhe ofereceram a liberdade em troca dessa desistência -, tornando-se uma poderosa inspiração para todos os que lutam pela igualdade em qualquer canto do mundo, mas acima de tudo um exemplo de persistência e sabedoria.

Inspire-se em cinco das suas frases mais emblemáticas que podem ajudá-lo a refletir sobre o que quer da vida e a dar-lhe um sopro de motivação para lutar pelos seus objetivos.

"TUDO PARECE IMPOSSÍVEL ATÉ QUE SEJA FEITO"
Não se deixe intimidar pela cadeira mais difícil, pelo trabalho mais desafiante, pela entrevista que lhe pode abrir as portas ao emprego que deseja. Encare-os apenas como desafios que precisarão de mais empenho da sua parte, mas que conseguirá superar com sucesso.

"AÇÃO SEM VISÃO É TEMPO PERDIDO, VISÃO SEM AÇÃO É APENAS UM SONHO, MAS VISÃO COM AÇÃO PODE MUDAR O MUNDO"
Não vale a pena falar em mudar o mundo ou alguma coisa na sua vida, se a única ação que toma é expressar as suas intenções nas redes sociais. Se quer realmente mudar o mundo comece já hoje a fazer alguma coisa. Estude mais, envolva-se em causas sociais, cuide do ambiente. Pare de falar e faça.

"O CORAJOSO NÃO É AQUELE QUE NÃO SENTE MEDO, MAS QUEM É CAPAZ DE VENCÊ-LO"
É normal ter medo em certas situações, o que não deve é deixar-se paralisar pelo medo. Não permita que a crise o desmotive de lutar por boas notas, que a taxa de desemprego apague o seu sonho de conseguir um bom emprego. Encare os seus medos como obstáculos que ultrapassará.

"A MAIOR GLÓRIA NÃO É NUNCA CAIR, MAS SER CAPAZ DE LEVANTAR-SE CADA VEZ QUE CAI"
Ter notas abaixo das suas expetativas nestes primeiros testes não é o fim do mundo. Não baixe os braços, nem fique a espera das férias do Natal para rever a matéria. Comece já hoje a fazê-lo e quando chegar ao início de janeiro estará pronto para brilhar nas próximas provas.

"A EDUCAÇÃO É A ARMA MAIS PODEROSA QUE PODE USAR PARA MUDAR O MUNDO"
Nelson Mandela sempre reconheceu a importância dos estudos e continuou a estudar enquanto lutava pelo fim do apartheid. Mesmo que por vezes não perceba a importância de certas matérias, acredite que é muito importante entender os problemas que o mundo enfrenta e ter as competências e as ferramentas necessárias para os combater e lutar por um futuro melhor. (...)

Fernando de Sousa Ribeiro disse...

Li o documento com muito interesse e muito poderia eu comentar. Vou ter que deixar muita coisa para outra oportunidade.

Um aspeto que salta logo à primeira vista do documento é a incrível diversidade étnica da Guiné. Tantas e tão diversas etnias vivendo num espaço geográfico tão reduzido, devem fazer da Guiné-Bissau um caso único em África, quiçá no mundo. É claro que quase todos os outros países africanos são multiétnicos, mas estes países têm uma extensão territorial que não se pode comparar com a da Guiné-Bissau.

O nosso companheiro Antº Rosinha de vez em quando compara uma tão grande diversidade étnica, na Guiné, com a relativamente reduzida diversidade étnica em Angola. E está coberto de razão, pois ela é ainda maior do que parece à primeira vista. Ao contrário do que sucede na Guiné, a esmagadora maioria das etnias que vivem em Angola pertencem a UM SÓ ramo cultural e linguístico, que é o ramo bantu. Quase todos os angolanos são bantus, qualquer que seja a sua tribo. De modo idêntico se poderá dizer que quase todos os moçambicanos, gaboneses, congoleses, tanzanianos, ruandeses, zambianos, zimbabueanos, etc., são bantus, qualquer que seja a sua tribo! Com efeito, quase todos os habitantes da África a sul do equador são bantus, desde a República Centro-Africana até à África do Sul, salvo a notável excepção dos Zulus e tribos afins, mais algumas etnias pouco numerosas, como as dos chamados "pigmeus" ou os bosquímanos ou Khoisan. Há mais afinidades culturais e linguísticas entre os Massai do Quénia e da Tanzânia, por um lado, e os Cuanhamas de Angola e da Namíbia, por outro, por exemplo, do que entre os Balantas e os Fulas. Por aqui se vê a incrível riqueza cultural que tem a Guiné.

Ao contrário do Antº Rosinha, eu acho que não se pode comparar o sucesso militar, social e económico de Angola, que tinha diamantes, petróleo, ferro, cobre, café, algodão, etc., com o da Guiné, que pouco mais seria do que um feudo da CUF. A pujança económica de Angola era bem evidente a quem a visitasse, embora ainda houvesse muitíssimo por fazer, mas convém perguntarmo-nos quem é que, em primeiro lugar, beneficiava com essa pujança económica. De quem eram as produções agrícolas descomunais, a pecuária e muitas outras atividades económicas de que o Antº Rosinha fala?

No tempo da Monarquia, havia em Angola uma pujante burguesia "crioula", isto é, negra e mestiça. A atual ministra da Justiça de Portugal, Francisca van Dunem, pertence à mais conhecida família "crioula" de Luanda. Esta burguesia local foi sendo desapossada pouco a pouco desde que a República foi implantada, até que o Estado Novo de Salazar e Caetano acabou por reduzir os seus descendentes à condição de pobres, vivendo em casas de adobe com telhados de zinco. Mesmo assim, à data do início da guerra em 1961, ainda havia alguns negros que eram ricos proprietários rurais. A guerra foi o pretexto para que estes últimos também desaparecessem. Foi o caso, por exemplo, do pai de um popularíssimo cantor angolano, já falecido, chamado Alberto Teta Lando (https://www.youtube.com/watch?v=B9q1ZsGJ62Q). O pai deste cantor era um rico produtor de café do distrito do Uíje e foi assassinado em 1961, tendo a sua fazenda passado para as mãos de um colono branco. A colonização de Angola não foi uma lua-de-mel.

Fernando de Sousa Ribeiro