quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26315: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XIX: Mansabá: "Aqui também é Portugal"



Foto nº 1A e 1 >  Alunos, na  Avenida


Foto nº 2 > A Avenida (1)


Foto nº 3 > A Avenida (2)



Foto nº 4 e 4A > A entrada principal em Mansabá;  à esquerda o "Castelo"




Foto nº  5A, 5B e 5 > "Castelo" e obelisco; "Aqui também é Portugal"

Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885  (Mansoa)  > Mansabá >  Fotos do álbum do Padre José Torres Neves.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1, Mensagem do Ernestino Caniço (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/fez 1971, hoje médico, a residir em Tomar; fez amizade com o Zé Neves, e este confiou-lhe o seu álbum fotográfico da Guiné, que temos vindo a publicar desde março de 2022; são cerca de duas centenas de imagens, provenientes dos seus diapositivos, digitalizados; uma coleção única, preciosa.

Data - sábado, 21/12/2024, 18:12
Assunto - Fotos do Padre Zé

Caros amigos

Cá vai a primeira série de um conjunto de cerca de 45 fotografias sobre Mansabá, onde eu e o amigo Carlos Vinhal estivemos sediados (não havia ar condicionado !!!).

Renovo os votos de Feliz Natal e Ótimo 2025.

Abraço,

Ernestino Caniço

2. Estas são as primeiras fotos, relativas a Mansabá, do álbum da Guiné do nosso camarada José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*).

Membro da nossa Tabanca Grande, nº 859, desde 2 de março de 2022, é missionário da Consolata, temdo sido um dos 113 padres católicos que prestaram serviço no TO da Guiné como capelães. No seu caso, desde o dia 7 de maio de 1969 a 3 de março de 1971.

Quanto ao BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (divisa: "Nós Somos Capazes"), Sector Oeste, SO4, recorde-se que tinha como subunidades de quadrícula:

CCAÇ 2587 (Mansoa, Uaque, Rossum e Bindoro, Jugudul, Porto Gole e Bissá);
CCAÇ 2588 (Mansoa, Jugudul, Uaque, Rossum e Bindoro);
CCAÇ 2589 (Mansoa, Infandre, Braia e Cutia).

 Mansoa (sector O4) e Mansabá (Setor O3) faziam parte de um quadrilátero que tinha ainda como vértices Olossato  e Bissorã,

Sobre Mansabá    temos  cerca de 340 referências no nosso blogue.

Não sabemos as datas destas fotos. 

Pela Directiva n° 36/69 de 11Abr69, foi criado o COP 6, com o comando em Mansabá, porque" [... ] o ln tem exercido intensa pressão no Sector 03, com vista a impedir os trabalhos em curso na estrada Mansabá - Farim. Este Sector revela-se particularmente sensível, dada a sua proximidade em relação às áreas fulcrais de Morés, Canjambari e Sara. [... ]":
 
Em 230ut69 foi extinto o Sector Oeste 3; os Subsectores Olossato e Mansabá foram integrados, respectivamente, nos Sectores Oeste 1 (BCaç 2861) e Oeste 4 (BCaç 2885).

Em 11NOV70 foi o COP 6 reactivado com vista à construção e asfaltagem da estrada Mansabá-Farim, interrompida no final da época seca anterior.

O nosso coeditor Carlos Vinhal (que esteve em Mansabá, como fur mil art, Minas e Armadilhas, CART 2732, Mansabá (1970/72) pode-nos ajudar a melhorar estas legendas.

Guiné 61/74 - P26314: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (8)

Foto 59 > Julho de 1970 > "Pesca" com granada ofensiva no rio Olossato, para comermos qualquer coisa "fresca".
Foto 60 > Julho de 1970 > Continuação da "Pesca" com granada ofensiva no rio Olossato, para comermos qualquer coisa "fresca".
Foto 61 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira e o Alferes Capelão Baptista, que pertencia ao Batalhão de Bissorã. Já conhecia o padre Batista, porque ele estava "colocado" na igreja de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia e eu vivia no Candal. Como havia intercâmbio de actividades das duas igrejas já nos conhecíamos.
Foto 62 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira
Foto 63 > Julho de 1970 > João Moreira e Suleimane, que era comandante de secção da milícia do Olossato.
Foto 64 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira > Entrada do bar de oficiais e sargentos. Admirem os "sofás" feitos em "sumá-pau", das aduelas dos pipos que levavam a "água de Lisboa".
Foto 65 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira num baga-baga
Foto 66 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 19 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26289: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (7)

Guiné 61/74 - P26313: In Memoriam (530): Florimundo Rocha (C. 1950 - 2024), ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 3546 / BCAÇ 3883 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972/74)

IN MEMORIAM
FLORIMUNDO ROCHA († Lagoa, 22 de Outubro de 2024)
Ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 3546 / BCAÇ 3883 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972/74)


A funesta notícia do falecimento do nosso camarada Florimundo (Flor) Rocha chegou até nós através do nosso amigo Arménio Estorninho, que mora em Lagoa, tal como o Flor até ao seu falecimento.

O Flor inscreveu-se na tertúlia em 11 de Abril de 2011, por intermédio da sua filha Susana.
Era um dos sobreviventes da trágica emboscada a uma coluna auto, em 14 de Junho de 1973, no itinerário Ponte Caium-Piche.
Num contacto telefónico com o nosso editor Luís Graça, ele, que conduzia a primeira viatura, um Unimog 411 (burrito) que capotou ao entrar na zona de morte, contou os pormenores do acontecimento, tal como ainda se lembrava.
Consultar o poste de 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8061: (De)Caras (7): Reconstituição da emboscada do dia 14/6/73, a 3 Km de Piche, pelo sold cond auto Florimundo Rocha (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74).

Embora atrasadas, aqui deixamos as nossas mais sentidas condolências à familia do nosso camarada e amigo Flor, na pessoa da sua filha Susana que o trouxe o seu pai até nós no longínquo ano de 2011.

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Nota do editor

Último post da série de 19 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 – P26291: In Memoriam (529): Comandante Almada Contreiras (1941-2024), um antigo camarada que conheceu as terras da Guiné, e um dos militares do 25 de Abr (José Saúde)

Guiné 61/74 - P26312: Convívios (1011): 51º almoço-convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74), em Mora, no passado dia 25 de maio (António Duarte)



Mora > Fluviário> 25 de maio de 2024 > 51º Convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Bolo comemorativo dos 52 anos do regresso dos graduados de especialistas a segunda geração (1971/72)



Mora > Fluviário> 25 de maio de 2024 > 51º Convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Em primeiro plano, de perfil, o ex-alf mil  at inf, José Sobral (hoje médico, vivendo em Coimbra), a cantar com o resto do pessoal  o hino da CCAÇ 12,  atuação  que termina com um bom manguito à moda do Bordalo, o genial criador do Zé Povinho.


No vídeo abaixo pode ver-se um grupo de "coralistas", entoando uma paródia de uma canção tradicional, que a Amália Rodrigues imortalizou ("Tiro-Liro-Liro") ("Cá em cima está o tiro-liro-liro, / cá em baixo está o tiro-liro-ló / Juntaram-se os dois à esquina / A tocar a concertina, a dançar o solidó"), transformada em cantiga de escárnio e maldizer, em que o visado seria o 2º comandante do BART 2917 (o então major art Anjos de Carvalho, conhecido na "caserna" como o "alma negra"; militarista, parecia estar ali deslocado na "Spinolândia"; gostava de comandar operações "by air", ou seja, através do PCV - Posto de Comando Volante, em DO-27; por sorte, acabou a comissão antes do aparecimentos dos Strela nos céus da Guiné)




Mora > Fluviário > 25 de maio de 2024 > 51º almoço-convívio  da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > O hino da CCAÇ 12. (**)

Fotos e vídeo  (e legendas): © António Duarte (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de António Duarte, um histórico do nosso blogue para o qual entrou em 18/2/2006 (ex-fur mil, CART 3493 / BART 3873, Mansambo, 1971, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1971/74; formou-se em economia; ex-quadro bancário; vive em Paço d'Arcos, Oeiras):

Data - 24/12/2024, 13:23

Assunto - 51º almoço-convívio da CCAÇ 12 (*)

Boa tarde,  Luís

Segue esta gracinha do último convívio feito, da nossa CCAÇ 12,  com gentes da segunda geração e eu da terceira (Bambadinca e Xime, 1971/74).(**)

Foi no passado dia 25 de maio, em Mora, organizado pelo Vitor Marques, Juntaram-se ainda dois ex-furriéis mil do Pelotão de Artilharía, de 10,5 cm, que coexistiram com a CCAÇ 12 no Xime no ano de 1973.

Grande Abraço para ti e restantes camaradas,
António Duarte

Cart 3493 e Ccaç 12 (de dez 71 a jan 74)


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Notas do editor:

(**) Vd. postes de:


31 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24356: Convívios (963): Coimbra, 27mai2023, 50.º convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime 1971/74): "Balada de Despedida", voz: Firmino Ribeiro

30 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24353: Convívios (962): CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74): Coimbra, sede do núcleo local da Liga dos Combatentes, 27/5/2023: poucos mas bons, ao fim de 50 anos...

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26311: (In)citações (259): A melhor prenda de Natal que vou ter é saber que vocês fazem parte desse exército de sonhos onde a meta é atingir a dignidade e o respeito pelos uns outros (Eduardo Estrela, Cacela Velha,. V. R. Sto António)

1. Mensagem do Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592/CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, Vila Real de Santo António; membro da Tabanca Grande desde 29/2/2012 (foto à direita)


Data - terça, 24/12/2024, 22:57
Assunto - Espera contínua

São 22,28 e a emoção toma conta de mim. Não riam, eu sei que bem lá no fundo vocês aguardam tal como eu a chegada do momento da partilha .

Continuamos a ser as crianças agora mais adultos, que aguardam com algum alvoroço emocional a hora da troca.

Pela vida fora trocamos uns com os outros muita coisa . Felizmente e a maior parte amizade e amor. Mas há quem tenha um prazer mórbido em alterar a força da racionalidade e pretenda transformar o bom no mau .

Desde tempos imemoriais assim tem sido .

Eu acredito que havemos de conseguir transformar este mundo onde estamos num mundo melhor. Um mundo de solidariedade e de concórdia e onde a riqueza seja mais equitativamente distribuída.

A melhor prenda de Natal que vou ter é saber que vocês fazem parte desse exército de sonhos onde a meta é atingir a dignidade e o respeito uns pelos outros.
 
A guerra transformou-nos em irracionais. A sua memória obriga-nos a ser tolerantes .

Abraço fraterno
Eduardo Estrela

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26221: (In)citações (258): Era ele... Todo inteiro (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P26310: Historiografia da presença portuguesa em África (458): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, finais de 1888, início de 1889 (15) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
A governação da província, nestes tempos, passa do contralmirante Teixeira da Silva para a governação interina de Joaquim da Graça Correia e Lança, o Boletim Official não deixa de ter um tom monótono de entradas e saídas, nomeações, assuntos da fazenda pública e alfândega e raramente dados que possam ser aproveitados para a investigação. O que aproveitei deste período foi a vinda em comissão extraordinária dos chefes do serviço de saúde a Bissau que existiu sobre a necessidade de derrubar o muro à volta da povoação, ele achava que a vila devia sair de Bissau e ir para Bandim, ali havia melhores ares e condições de salubridade, insiste na vasta superfície lodosa e imunda da praia, na baixa-mar e na má construção das casas existentes na vila, faz referência ao lazareto que estava no Ilhéu dos Pássaros, devia ser transferido para o Ilhéu do Rei e termino com a apresentação dos enviados do régulo Mamadi Paté, do Forreá, este fazia questão de reiterar os seus protestos de fidelidade ao rei, então D. Luís,. No próximo texto, far-se-á um cômputo dos acontecimentos de 1889, morre o monarca e o Infante D. Augusto.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, finais de 1888, início de 1889 (15)


Mário Beja Santos

Há muito pouco mais a dizer sobre o ano de 1888, encontrei o relatório do Chefe de Serviço de Saúde em Bissau, datado de 12 de março desse ano, é assinado por Aristides Bernardo de Sousa, contém informações que reforçam outras já conhecidas, mas também há aspetos inovadores, como o leitor apurará. Um tanto à semelhança do documento lavrado por Damasceno Isaac Costa, ele apresenta a ilha de Bissau e a respetiva fortaleza, destaca a situação da vila e dá uma sugestão:
“Como em diferentes capitais e filas das nossas províncias ultramarinas, na instalação da vila não presidiu infelizmente o elemento mais essencial da higiene, a escolha do terreno, porque era a todos os respeitos preferível para sede da capital da província a aldeia de Bandim, ponto relativamente elevado e com vertentes para a praia que é completamente arenosa. Ainda não era tarde para se mudar a capital para a aldeia de Bandim e não seriam grandes os sacrifícios encarregados com a transferências das repartições públicas, dos quartéis, do hospital e de outros edifícios.
Os negociantes que de futuro quisessem estabelecer-se na Guiné preferiam prontamente a nova capital e muitos dos atuais encontrariam grande compensação na maior garantia da sua saúde.”


E o problema da higiene atormenta-o:
“São várias as causas que tornam insalubre a praça de Bissau. As medidas higiénicas não podem decerto modificar as condições meteóricas, mas removendo tudo quanto possa concorrer para poluir o solo e inquinar a atmosfera, podem aniquilar ou ao menos atenuar as causas da insalubridade. Cercada por um muro, a vila acha-se soterrada num vale e é dominada por alturas e com uma área de circunscrição incomportável com a sua população; de onde resulta a aglomeração dos seus habitantes.
As ruas são estreitas e na construção das casas não se observaram s mais rudimentares preceitos da higiene. O muro que cinge a população obsta à disseminação da população, ao desaperto das casas e à circulação do ar e da luz difusa. A permanência do muro é incompatível com eficaz saneamento geral. O principal e imprescindível empreendimento, referente à saúde pública, deve ser a demolição do muro, porque só assim desaparecerá o perigo da acumulação alargando-se o terreno e desafogando-se as ruas e as casas.”


O chefe do serviço de saúde aborda seguidamente o Ilhéu dos Pássaros onde tinham sido construídos três barracões para o isolamento dos doentes, ilhéu com 219 metros de comprimento e 33 de largura, refere a superfície lodosa, a natureza do terreno, os ventos, a composição dos barracões, observando que estes barracões podem comportar 18 leitos, são construções temporárias que não poderão durar mais de 1 ano, a bagabaga já estava a destruir a madeira. “Tendo, porém, visitado ultimamente os dois ilhéus que defrontam com a praça de Bissau, parece-me que é o ilhéu do Rei que deve ser escolhido para futuro lazareto permanente da Guiné, e para enfermarias isoladas, porque além de estar mais próximo da praça, tem bastante água potável e condições meteóricas mais constantes.”

Atenda-se a outros aspetos higiénicos da vila de Bissau e à enfâse que o relator põe:
“Tendo percorrido a vila mais de uma vez, observei que eram regulares as condições da limpeza pública nas ruas e nos domicílios. Não se pode conseguir muito mais da população indígena que geralmente não prima pelo asseio e está aferrada a conceitos velhos. Peço finalmente a atenção do ilustrado Governo da província para os melhoramentos que exige o Hospital de Bissau, cujo teto está bastante deteriorado e o sobrado também precisa de ser reparado. Além disso, o edifício em grande parte não está caiado por dentro, há muitos anos, apesar das repetidas instâncias do delegado de saúde. A farmácia precisa também de armação e de vidrame novos. Faltam também os mais indispensáveis artigos de mobília que convém prover-se tão importante edifício.
A existência das muralhas e dos fossos, circundando a praça; a vasta superfície lodosa e imunda da praia, na baixa-mar; a má construção das casas existentes na vila, são outros tantos fatores que se no estado ordinário prejudicam a salubridade da terra, muito mais agravantes são quando reina uma epidemia.
Muitas edificações precisam ser reparadas e convirá determinar que os pavimentos de todas as casas tenham certa e determinada altura do nível das ruas; que os pavimentos sejam argamassados ou assoalhados de madeira; que as portas e janelas sejam largas a fim de que o ar circule livremente. Depois de demolido o muro, será também conveniente ordenar-se que as futuras construções sejam feitas fora do recinto da atual praça.”


E terminam as referências a 1988 com uma notícia publicada em novembro e referente a Buba:
“No dia 19 de novembro estiveram nesta capital os grandes de Forreá, Bóbójintos e Saná, enviados por Mamadi Paté, régulo principal daquele território, os quais acompanhados de um intérprete vieram pedir uma audiência ao conselho governativo, que de bom grado lhe a concedeu. Na sessão do conselho desse dia disseram que: - Vinham encarregados pelo seu rei de significar ao governo provincial, como delegado de Sua Majestade El-Rei de Portugal a amizade que lhe dedicava e reiterar-lhe os seus protestos de fidelidade, por isso que só conhecia e respetiava a nossa bandeira à sombra da qual desejava viver e o nosso Governo de quem gostosamente recebia ordens e a quem somente queria estar sujeito, por cujos motivos solicitava do Governo lhe permitisse estreitar mais as suas relações de amizade com os portugueses, consentido a sua aproximação à praça de Buba pelo estabelecimento de três tabancas, sendo uma em cada um dos postos denominados Sambafim, Iaocunda e Cam-Ióbá, pelo que prometia prestar todo o auxílio que lhe for pedido pelo comando da praça, para onde fará convergir todos os seus produtos a fim de os permutar, demonstrando por esta forma o empenho que tem em estreitar as suas relações de amizade já referidas.”

Nada de relevante encontrei nos primeiros meses de 1889, aa partir de 4 de maio, e depois em 11 e 18, temos um relatório do serviço de saúde da vila de Bissau que merece referência, mais adiante se falará do estado de suspensão de garantias no presídio de Geba por insurreição do régulo de Ganadu, e teremos depois um documento do comando militar de Buba, bastante interessante.

Notícia do falecimento do Infante D. Augusto, Duque de Coimbra
Notícia do falecimento do rei D. Luís
Monumento a Nuno Tristão, Bissau, década de 1960
Uma imagem que vale por mil palavras
Ilhéu dos Pássaros, Guiné-Bissau

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26279: Historiografia da presença portuguesa em África (457): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1888, há bons relatórios e pouco mais (14) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26309: Os nossos regressos (42): Vim com o meu batalhão em 4/8/1969 no T/T Uíge (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


O T/T Império, da Companhia Colonial de Navegação, que a caminho de Moçambique com 1400 militares sofreu um grave acidente, um rombo, na casa das máquinas tendo ficado à deriva durante 3 dias. Ainda hoje não se sabe se foi um ato de sabotagem... Era então comandado pelo Óscar Fraústo de Oliveira Guimarães,  o oficial da marinha mercante que trouxe o T/T Uíge, de Bissau até Lisboa, em 4 de agosto de 1969 (nele tendo viajado o nosso camarada Virgílio Teixeira e o seu batalhão, o BCAÇ 1933).

(Fonte: Navios à Vista > 26 de junho de 2011 >  Paquete Português "Império" - 1948/74.)














T/T Uíge, viagem de regresso de Bissau a Lisboa > Festa de despedida a bordo, em 8 de agosto de 1969.


Fotos (e legenda): © Virgílio Teixeira (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Mensagem, enviada em 21 do corrente, às 15:46, 
do Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):

Olá,  Luis

Bom regresso às terras nortenhas.

(...) Junto envio a lista dos militares que viajaram comigo no T/T Uíge, no regresso a casa, bem como o programa da festa de despedida, a bordo, em 8 de agosto de 1969.

Entre os passageiros da 1ª classe estava o capitão Robles, figura afamada na Guiné, no meu tem
po (...) [ adjunto do comandante da 15.ª Companhia de Comandos, 1968/69],

Nunca o conheci pessoalmente. (...) Também não me lembro dele a bordo. Sei que depois foi para Tavira. (..:.)

O tempo está frio mas não consta a chuva.

Abraço, Virgilio

 

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Virgílio. Confirma-se, sem qualquer margem para dúvida,  que o teu regresso foi a 4 de agosto de 1969 e não a 10 (*). 

O Fernando Robles (bem como o Trotil) foi um dos instrutores militares conhecidos dos instruendos que passaram pelo CISMI de Tavira. Eu estive no último turno de 1968, já não apanhei o cap Robles, hoje cor inf, com 84 anos. (E o Trotil não sei quem era; do Robles contavam-se histórias do início da guerra de Angola; o que eu não sabia é que ele tinha começado a sua carreira militar como alferes miliciano.)

Viajou também contigo o médico do teu batalhão, Carlos Parreira Pinto Cortez, mais tarde psiquiatra, bem como a esposa, um casal com quem conviveste em Nova Lamego. Mas será que era capitão nessa altura ? Pareve haver um erro na lista dos passageiros de 1ª  classe: há 3 capitães milicianos médicos: além do teu, o João Martins Barata Crespo (mais tarde, médico de família, no centro de saúde de  Rio de Moura, e que já terá falecido) e  o Horácio David Garcia (mais tarde, ginecologista,com consultório privado em Lisboa).

Viajou ainda contigo um capitão, que eu iria conhecer, passados uns meses, em Fá Mandinga, como instrutor da Companhia de Comandos Africanos,  o cap art cmd Octávio Emanuel Barbosa Henriques, e grander amigo do nosso saudoso "Alfero Cabral". (Infelizmente, ambos já morreram; o Barbosa Henriques, que era de origem cabo-verdiana, tem nove referências no nosso blogue.)

Virgílio, lá foram todos a caminho de Lisboa (passando por Cabo Verde, ilha de Santiago e ilha do Sal) em ambiente festivo, ao som da famosa  Kamarinskaya, do  composityor russo Mikhail Ivanovich Glinka  (1804 – 1857)...

Não sei se havia mais gente conhecida. O comandante  de bandeira,  o capitão-de-mar e guerra Antóniio Malheiro  Júlio do Vale,já morreu há muito com o posto de  almirante reformado (1911-1997).

Uma curiosidade: o comandante do navio que te trouxe, Óscar Fraústo de Oliveira Guimarães, comandaria,  cinco meses depois, o T/T  Império, da Companhia Colonial Navegação, quando em 9 de janeiro de 1970, aconteceu um acidente grave :

 (...) Sofreu "um rombo na casa das máquinas, que originou enorme entrada de água, que acabou por inundar e paralisar as máquinas, e como tal a vida quotidiana a bordo ficou insuportável, quando aquele paquete se encontrava a quatro dias de viagem e a 400 mn de Cabo Verde, mais propriamente a 150 mn a sul de Dakar."

Transportava 1400 militares. Ainda hoje se discute se foi sabotagem ou acidente. Andou à deriva mais de 3 dias:

 (...) 
Chegado um rebocador de nacionalidade Grega, da Tsavliris, foi por este rebocado para o porto do Mindelo, no arquipélago de Cabo Verde, onde arribou passados cerca de seis dias, com o pessoal a bordo em desespero, particularmente a tropa, que dias depois seguiu para Moçambique no paquete Niassa. 

O paquete acidentado regressou a Lisboa rebocado pelo salvadego Holandês Jacob  Van Heemskerck, da NV. Bureau Wijsmuller, de Ijmuiden, e daí dias mais tarde seguiu para os estaleiros de Glasgow para reparações finais; pelos seus próprios meios" (...) (Fonte: Navios à Vista > 26 de junho de 2011 >  Paquete Português "Império" - 1948/74.)

Obrigado, Virgílio, pelos documentos que nos mandaste. São interessantes para a série "Os Nossos Regressos" (**)

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26308: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (12): Mensagens natalícias do José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 e Eduardo Estrela, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2592/CCAÇ 14

1. Mensagem natalícia do nosso camarada José da Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Mata dos Madeiros, Bassarel e Tite, 1971/73):

Amigos e familiares,
Que o Menibo Jesus vos traga muitas prendas e deixe no vosso sapatinho um saco enorme com saúde e conforto.
Bom Natal e Bons Anos.

Abraços e beijinhos
José da Câmara
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2. Mensagem natalícia do nosso camarada Eduardo Estrela (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2592/CCAÇ 14 (Cuntima e Farim, 1969/71):

Para o Estado Maior da tabanca grande e para toda a população da mesma e seus familiares e amigos, votos de boas festas com muita saúde e coisas boas.
O Atlântico derramado nas areias da Praia Verde.
Aquilo que vos parece uma explosão é realmente, mas de vida e de confraternização.

Abraço fraterno
Eduardo Estrela

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Nota do editor

Último post da série de 24 de Dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26306: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (11): Conto de Natal - "Reencontro", por Joaquim Mexial Alves, ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873 e Pel Caç Nat 52

Guiné 61/74 - P26307: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (36): uma guerra que também era... ototóxica!

Uma preciosidade, uma relíquia farmacêutica: o célebre medicamento contra o paludismo, Pirimetamina, 25 mg,, LM (iniciais de Laboratório Militar)... 

Havia duas tomas semanais (a pastilha à base de quinino era dissolvida em meio copo de  água),  às quintas e domingo, segundo o nosso camarada médico, Rui Vieira Coelho... A imagem é do António Tavares (ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72).

 Havia diversos "mitos" à volta deste "profilático", e que levavam à recusa em tomá-lo: um deles é que “fazia mal...à tusa”!...

Segundo o nosso camarada Rui Vieira Coelho (ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74, hoje médico, reformado, natural do Porto ou a residir no Porto), "nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate" (...) (*)

Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



Uma guerra que também era... ototóxica

por Luís Graça


Um dia sonhaste que tinhas uns 'ouvidos novos' . Ou melhor, sonhaste que tinhas encontrado no lixo uns 'ouvidos novos'... e que os mandaste recuperar. De outra vez, o sonho era que tinhas recebido em "herança", de um amigo querido que acabara de morrer, um par de próteses auditivas novinhas em folha, além de uns  "mocassins" (que ele nunca chegou a usar)...

Surdo que nem uma porta, o teu amigo nunca se habituara aos malditos aparelhos. Deixou de conviver, de aparecer na tertúlia dele, isolou-se e morreu sem um ai nem um ui, vítima do Covid-19...

Afinal, tens má consciência por toda uma vida em que foste predador do planeta. Agora, tarde e a mais horas, 'andas numa de reciclagem', gozam contigo os teus filhos e os teus amigos. Reciclas tudo o que podes, até querias pôr "ouvidos novos", reciclados, imagina!... (Pois é, não sabes que raio de planeta vais deixar para os teus netos e bisnetos, se os tiveres.)

− Rins, fígados, corações, e outros órgãos, dá para transplantar... Mas ouvidos, ó senhor professor ?!... Implantes cocleares, queria o senhor dizer − gozou contigo o otorrino.

− Có... quê ?! ... Ouço mal, desculpa.

Foste fazer um audiograma, mas primeiro passaste pelo otorrino, teu velho amigo e conhecido, para limpar a merda dos ouvidos. Um deles tinha "favos e favos de mel e cera". 

−  Mais cera do que mel. Ou era só cera ?... 

− Um "pedregulho"! − disse ele, para teu espanto, apresentando-o na cabeça do dedo mindinho.

Ficaste assustado. Costumavas usar cotonetes...

− Qual quê ?!... Os ouvidos limpam-se com os cotovelos... E também podes usar um óleo, até o creme Nívea, para lubrificar o ouvido... Todos os dias, um bocadinho.

Há já uns anos que ouvias mal, já não ouvias os alunos da terceira fila na sala de aulas. Muito menos o safado e emproado locutor de serviço ao telejornal. Deixaste de ouvir e ver televisão, que, além disso,  só te trazia más notícias.

Nem podias ir ao teatro, que os atores só falavam para eles e entre eles e o ponto. E a primeira fila era só para os convidados, os críticos e os amigos bons de ouvido. E mesmo para ouvir a tua querida 9.ª sinfonia tinhas que levar um "funil" (punhas a mão atrás da orelha, a fazer de funil), o que irritava o espetador da fila de trás. E logo tu que eras um melómano... Então, música de câmara, só sentado na primeira fila. o o pescoço esticado e a mão em funil.

Desististe.

− É mau sinal um gajo começar a desistir. De fila em fila acabas na última. E depois é o corredor do hospital, o terminal da morte.

Mas não eras tão melómano como aquele professor do conservatório nacional de música que te garantia que de vez em quanto tinha que ir a Berlim "limpar o ouvido"...

− "Limpar o ouvido" ?...

− Sim, ouvir a orquestra filarmónica de Berlim.

O sacana do otorrino, teu amigo, há uns anos atrás, lá no consultório dele, encolheu os ombros, e interpelou-te:

− Mas o que é o senhor professor quer que eu lhe diga ?!... A idade não perdoa, meu caro, a perda auditiva é irreversível"...

− Merda para a idade, senhor doutor!... E então os milagres das novas ciências médicas para cujo peditório também dei durante anos e anos ? Eu quero uns ouvidos novos, quero uma anca nova, quero uma recauchutagem do esqueleto, como deve ser, da cabeça aos pés... Tudo a que tenho direito...

O otorrino riu-se à gargalhada.

− A saúde custa cada vez mais caro. É já um bem de luxo. Nunca será para todos.

Nunca foste egoísta, agora estás a sê-lo... Andaste cinquenta anos a descontar para a ADSE (e continuas a descontar), nunca tomaste um medicamento, nunca foste à faca, nunca gastaste um chavo ao SNS, nem ao provedor da santa casa da misericórdia lá dá tua terra de que eras irmão... Foste amigo de ministros da saúde. Tinhas saúde para dar e vender. Nunca meteste uma cunha a Deus nem ao Hospital de Todos os Santos, também nunca te calhou o euromilhões ou a sorte grande, mas a verdade é que também não jogavas, e quem não arriscava não petiscava, lá dizia o saloio do Zé Povinho, que aprendeu a acender uma vela a Deus e ao Diabo....

Não jogaste, não ganhaste, não arrombaste os cofres da santa casa da misericórdia quando foste mesário. Agora andas a fazer as contas à vida: tanto para os ouvidos, tanto para a anca, tanto para os joelhos, tanto para a farmácia...

− E que Deus nos livre do raio do Alzhemeir! − pediste tu, à tua médica de família como "prenda de Natal"....

E no outro dia foste à audiologista:

− Otites líquidas, teve em pequeno? −perguntou-te ela, inquisitorial.

− Minha querida, quem as não teve, em pequenino, ou no Portugal pequenino em que nasci, vivi e cresci ?

E depois acrescentaste:

− E o meu médico era a ti'Gertrrudes, minha vizinha, da minha rua, guardadora de segredos terapêuticos milenares... Do sarampo à varíola, da pleurisia aos furúnculos, do quebranto à espinhela caída, tinha soluções milagrosas para tudo...

Algumas "repugnantes", como a merda de galinha em compressas no peito...

− Médicos ?... Só havia um lá na terra, e a gente só o chamava no estertor da morte ou nalgum parto de má hora.

E por descargo de consciência, ainda a esclareceste, a tua audiologista, sobre o teu passado:

− Depois disso, estive no século passado na Guiné, na guerra, ouviu falar ?... A menina é jovem, já nasceu depois do 25... E mesmo que fosse antes, nunca iria para a tropa. Só se fosse enfermeira paraquedista, conheci algumas na Guiné... Mas contavam-se pelos dedos as mulheres que foram à guerra...

− Já nasci nos anos 90, mas ouvi falar! − ripostou ela.

−  De quê, da guerra ?...

E enumeraste um rol de situações que só se viam nos filmes:

− Tiros, explosões, emboscadas, minas anticarro, acidentes com viaturas, quedas mais ou menos aparatosas, picadas, solavancos, cabeçadas, cones de fogo nas trombas, trambolhões, bezanas, esquentamentos, febres palúdicas... sabe como são estúpidas as brincadeiras da guerra, quando se tem vinte anos, sangue na guelra e as hormonas a rebentar a pele...

− Ah!, já sei!... Quinino, ototoxicidade!

− O quê... ?

− Há certos medicamentos que são otóxicos... Já passaram por aqui alguns antigos combatentes da guerra do Ultramar que se queixavam do mesmo mal... Surdos que nem uma porta!

− Ah!, o quinino, a pastilha LM, do Laboratório Militar, que a gente tomava regularmente, às refeições... Por causa das sezões,  malária ou paludismo... Lembro-me !

E, retomando o fôlego:

− Eureka!... Se me lembro !... Um pacotinho de sal e outro de quinino, ao almoço!... O quinino, pelo menos duas vezes por semana.

−Parece haver evidência científica de que o quinino pode provocar danos ao sistemas coclear e/ou vestibular"...

− Desculpe, não percebo nada da anatomia e da fisiologia do ouvido... Mas com essa do quinino, é que a menina me estar a lixar!... Não sabia, mas devia saber, porra, afinal andei anos e anos a falar de saúde e segurança do trabalho, de surdez profissional, de efeitos extra-auditivos do ruído como o stress..

− Não sou farmacêutica, mas há para aí mais do que uma centena de medicamentos ototóxicos. Acrescente-lhe o antibiótico, a penicilina, medicamentos oncológicos...

− Porra, tomávamos aos milhões, a penicilina...

− Agora, não há remédio, e não precisa de dizer palavrões... Sou sensível de ouvidos... Ou melhor: felizmente há remédio. Deixe isso comigo.

− Remédio ?!...

− Vamos lá ver o audiograma e, depois, pôr estes "brinquinhos" no ouvido, devidamente regulados...

− Com essa é que me tira o sono, que a guerra era tóxica, eu já o sabia, mas que também podia ser ototóxica, não me passava pela cabeça (nem pelo ouvido)!... Devia pedir uma indemnização ao Estado!...

− É mau para o Estado... mas é bom, para nós, multinacionais que vendemos aparelhos auditivos, um negócio de milhões (aqui para nós que ninguém nos ouve)... − e olhou para a porta do gabinete para confirmar que estava fechada.

Não podias estar mais grato à tua  jovem audiologista:

− Já percebi, é bom que os antigos combatentes não saibam certas coisas que faziam mal à saúde... Afinal, só os juízes é que são cegos, surdos e mudos como o macaco...

− E têm que ser bem pagos por isso... − arrematou a audiologista.  
− Administrar a justiça sem olhar a quem.

− Minha querida, estou encantado por ouvi-lo... Sabe, estou até a simpatizar consigo!.

... Saíste da loja com uns 'ouvidos novos'. Feliz como o gaiato, que acaba de receber um brinquedo novo. Podias agora ouvir todas as conversas, mesmo baixinhas... Até as bisbilhotices e as conversas dos espiões!... Mais importante: podias ouvir o mar no mês de agosto, e o vento a dar nos búzios dos moinhos da tua infância...

Algumas conversas bem tu as dispensavas, é certo... Mas não há mundos perfeitos... Não se pode ter tudo. Mais vale, afinal, andar neste mudo de muletas do que no outro em carretas...

Em boa verdade, compraste uns aparelhos novos. Os do teu amigo, esses, é que foram para a  "pubela",  para a reciclagem... Que desperdício!.,. Também não quiseste  os sapatos do defunto, uns belíssimos e confortáveis "mocassins" que ele comprara em Paris... Por superstição, por preconceito, por respeito .... Ias lá usar sapatos e próteses auditivas de um morto!

Mas queixaste-te, à menina audiologista, que era era indecente pedirem-te 8 mil euros por um aparelho auditivo XPTO... Mesmo com desconto de 50% por seres conhecido da casa... e a tua patroa já ser cliente da marca.

Preferias uns, em segunda mão, reciclados. Do teu amigo defunto, que nunca os usou, se vencesses a repugnância da morte e dos mortos. Sentiste  -te ofendido com o preço altamente inflacionado do raio dos aparelhos, tu que lutaste na guerra pela tua Pátria e que, se calhar, foras vítima da ototoxicidade provocada pelas drogas antimaláricas do Laboratório Militar... Agora, sim, confirmavas as tuas suspeitas: médicos e enfermeiros davam "pastilhas LM", "mezinho", a toda a gente, brancos e pretos. Algumas eram talvez placebos, outras podiam ser "ototóxicas"...

Em vez de uma cruz de guerra, o Estado devia dar-te uns 'ouvidos novos', como tu chamavas às próteses auditivas... Humor negro à parte, pagaste e não bufaste!... Quatro mil euros, já com desconto e com IVA. A ADSE deu-te mil e tal e já está. Ainda estás, afinal,  a pagar a p...da fatura da guerra. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...

(**) Último poste da série > 6 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26119: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (35): Nunca digas "coragem!", ao ouvido de quem está a morrer e sabe que vai morrer

Guiné 61/74 - P26306: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (11): Conto de Natal - "Reencontro", por Joaquim Mexial Alves, ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873 e Pel Caç Nat 52

REENCONTRO

Tantas vezes já tinha tentado falar com os seus pais para lhes pedir perdão por tantas coisas erradas que tinha feito e que o tinham levado a sair de casa. Tantos problemas que tinha causado e tinham entristecido os seus pais que, no entanto, sempre lhe respondiam com todo o amor que tinham por ele.

Lembrava-se de ter saído intempestivamente de casa, dizendo que se ia embora para sempre, deixando-os mergulhados numa profunda tristeza e desalento.

Agora via tudo isso, mas naquele tempo, um qualquer mal que ele não entendia, tinha-o levado a quase odiá-los por não quererem entender, julgava ele, as suas “verdades”.

O que seria feito deles?

Sabia que viviam na mesma casa de sempre, que os anos tinham passado por eles, e alguém lhe tinha dito que viviam sem alegria.

Também ele agora, passados aqueles anos loucos em que se tinha deixado consumir pelos maus caminhos, pela droga, pela sua mania de tudo pensar saber, sentia uma enorme tristeza dentro de si que, quando reflectia conscientemente, percebia que não era só pela vida que tinha levado, mas sobretudo por aquilo que tinha feito a seus pais e por este afastamento deles que agora vivia.

De repente percebeu algo tão nítido que ficou surpreso com ele mesmo.

“Aquilo que tinha feito a seus pais”! “Tinha feito”!

Então se “tinha feito”, pensou ele, era passado e estava muito a tempo de ir ter com eles, pedir perdão e deixar que o amor que ele sabia eles lhe tinham, fazer o resto.

Mas dentro dele ainda vivia um orgulho quase incontrolado.

Ir ter com eles e pedir perdão era reconhecer que tinha errado e, se ele queria sentir a paz do perdão dentro de si, a realidade é que teria de reconhecer que afinal não era dono da verdade e tinha errado, e isso parecia-lhe uma barreira quase intransponível.

Mas ele agora estava tão bem!

Tinha vencido o vício, tinha um bom emprego, um bom apartamento, enfim, uma boa vida e, no entanto, percebia, mais uma vez, que aquela situação não o deixava ser feliz e viver em paz.

Era véspera de Natal, e ele lembrou-se de que nesse mês e nesse dia, algo de bom, de sensível, se vivia sempre em casa dos seus pais, com os preparativos e a chegada do Natal, com uma alegria calma e aconchegante.

Já não rezava há tanto tempo, pensou ele.

Tudo isso tinha afastado da sua vida e já nem se lembrava das orações que faziam em casa de seus pais.

De qualquer modo fechou os olhos, baixou a cabeça, e quase num murmúrio disse: Menino Jesus, se me amas, ajuda-me a nascer de novo.

Veio ao seu coração uma certeza inabalável: Tinha que ir a casa dos seus pais nessa noite pedir-lhes perdão e que o deixassem passar com eles a noite de Natal.

Num instante colocou algumas coisas num saco e partiu de viagem, porque já era tarde e ainda tinha muitos quilómetros para fazer.

Longe, na terra de seus pais, já se celebrava a Missa do Galo e eles lá estavam, como sempre na igreja, tentando viver com alguma alegria a noite de Natal.

Mas era quase impossível, porque o seu filho longe e sem saberem onde, gerava uma tristeza muito profunda nos seus corações.

Deram as mãos no Pai Nosso e mesmo sem dizerem nada um ao outro, sabiam que nessa oração pediam ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo por aquele filho a quem tanto amavam.

Acabada a Missa saíram da igreja e caminharam apressadamente, por causa do frio, para sua casa que era ali bem perto.

Quando chegaram perto de casa, perceberam que junto à porta de entrada estava um vulto de homem, e ficaram um pouco receosos.

À medida que se aproximavam parecia-lhes que o ar se tornava mais leve, que uma qualquer melodia enchia aquela rua, que uma expectativa alegre tomava conta dos seus corações.

Foi então que reconheceram o seu filho junto à porta e, sem pensarem nem um pouco, correram para ele enquanto ele corria para eles, também.

Abraçaram-se chorando de alegria e quando ele tentava pedir-lhes perdão, eles só lhe diziam: Obrigado, obrigado por teres vindo ter connosco. Vem, entremos em casa e vivamos o Natal que fez renascer o nosso menino.

No presépio, podiam jurar que o Menino Jesus, Maria e José, sorriam embevecidos com os abraços intermináveis daquela família.

Marinha Grande, 21 de Dezembro de 2024
Joaquim Mexia Alves

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Notas do editor:

Conto de Natal, "Reencontro", por Joaquim Mexia Alves, publicado no Blogue da Tabanca do Centro, reproduzido aqui com a devida vénia

Último post da série de 23 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26304: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (10): Mensagens natalícias dos camaradas Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav; João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais/BEN 447; Vítor Junqueira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 e Manuel Serôdio, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1787/BCAÇ 1932

Guiné 61/74 - P26305: Parabéns a você (2340): Fernando de Jesus Sousa, DFA, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/71)

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Nota do editor

Último post da série de 23 de Dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26301: Parabéns a você (2339): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Bijene e Guidaje, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Bissau, 1968/70) e Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira, poetisa e declamadora

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26304: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (10): Mensagens natalícias dos camaradas Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav; João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais/BEN 447; Vítor Junqueira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753; Manuel Serôdio, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1787/BCAÇ 1932 e João Moreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721


1. Mensagem natalícia do nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa e Mansabá, 1969/71):

Caros amigos
Especialmente para vós, fundador e coeditores, um Feliz Natal e um ótimo Ano 2025 (extensivo às famílias), que teimosamente não deixam desviver este blogue.

Um grande abraço,
Ernestino Caniço


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2. Mensagem natalícia do nosso camarada João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, 1968/71):

Bom dia,
Para ti, tua família e, para todos os tabanqueiros, são os meus melhores votos.

Grande abraço
João Rodrigues Lobo


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3. Mensagem do nosso camarada Vítor Junqueira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Bironque e Mansabá, 1970/72):

Caros amigos,
Por circunstancias várias tenho estado ausente. Desde que me "matriculei" na Tabanca do Centro é por aqui que tenho andado nos últimos anos. Nesta altura, ocorre-me expressar votos de Festas Felizes para toda a Tabanca Grande e seus visitantes.

Um até sempre acompanhado de forte abraço.
Vitor Junqueira


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4. Mensagem natalícia do nosso camarada Manuel Serôdio, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1787/BCAÇ 1932 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68):

Desejo avisar todos os camaradas que muito embora o meu silêncio, ainda me encontro no "mundo dos vivos" continuando a residir em Rennes (França), aproveitando para desejar a todos um santo e feliz Natal, assim como um ano 2025 repleto de boas coisas, saúde e muita paz.

Abração para todos.
Cumprimentos,
manuel serodio

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5. Mensagem natalícia do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil Inf da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72):

A todos os camaradas da Guiné desejo que tenham um Feliz Natal e que o Ano Novo satisfaça os vossos desejos

Abraço
João Moreira

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Nota do editor

Último post da série de 21 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26297: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (9): ...God Jul Och Gott Nytt År ...para os amigos e camaradas (José Belo, "Lappland near Key West")