Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 22 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16411: Parabéns a você (1124): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil Inf do CIC (Angola, 1969/71) e José Luís Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16406: Parabéns a você (1123): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)
domingo, 21 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16410: Blogpoesia (466): "De negro a noite", "A revolta dos fragmentos" e "A Natureza", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
1. Belíssimos poemas do nosso camarada Joaquim Luís
Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), dos que nos vai enviando ao longo da semana, e que nós publicamos com prazer:
De negro a noite
De negro se veste a noite.
Será tristeza, será luto?
Um manto de silêncio a envolve
Como se fosse a sepultar.
Nenhum sinal de vida.
A quietude a cala.
Parece.
Jamais irá nascer outro dia.
Não suporto vê-la.
Fecho minha janela.
De luz acesa, minha alma,
Quase exausta, ressuscita.
Crepita em mim o fogo da esperança.
Minha alma exulta.
À hora certa,
Voltará o sol com seu dia
De presente...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
6h30m
clareando tímidamente
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
A revolta dos fragmentos
Eram majestosas estátuas.
Imponentes obeliscos.
Com tanta história.
Nas praças ao centro.
O mundo passava.
Ali impávidas.
Cumprindo a sorte.
Fazia sol.
Fazia vento.
Caía a neve.
Ninguém ligava.
Tanta indiferença.
Chegou o dia.
Tudo ruiu.
Melhor a morte,
Voltar ao chão,
Em fragmentos!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
16h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
A Natureza
É cozinheira a Natureza.
Trabalha noite e dia na cozinha.
Que beleza de tempêros ela põe
Em cada prato.
Nos vicia...
Tem segredos. Não revela.
Só quer servir bem.
Igual para todo o mundo.
Nada cobra.
Enche o prato até esbordar.
Ninguém sai com fome,
É seu timbre.
A praia e serra é o refeitório.
De dia o sol é candelabro.
De noite um painel de estrelas
Com a lua a cirandar.
O vento silva afoito e certo
Ao ritmo das ondas
Que o mar rege
Como um maestro.
E a sala sempre cheia
Nunca fecha.
Tão belas são as sinfonias!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
7h10m
depois de ouvir Maria Betânia
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16387: Blogpoesia (465): "Pianista mágica" e "Vou para a minha janela falar com a lua", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
De negro a noite
De negro se veste a noite.
Será tristeza, será luto?
Um manto de silêncio a envolve
Como se fosse a sepultar.
Nenhum sinal de vida.
A quietude a cala.
Parece.
Jamais irá nascer outro dia.
Não suporto vê-la.
Fecho minha janela.
De luz acesa, minha alma,
Quase exausta, ressuscita.
Crepita em mim o fogo da esperança.
Minha alma exulta.
À hora certa,
Voltará o sol com seu dia
De presente...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
6h30m
clareando tímidamente
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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A revolta dos fragmentos
Eram majestosas estátuas.
Imponentes obeliscos.
Com tanta história.
Nas praças ao centro.
O mundo passava.
Ali impávidas.
Cumprindo a sorte.
Fazia sol.
Fazia vento.
Caía a neve.
Ninguém ligava.
Tanta indiferença.
Chegou o dia.
Tudo ruiu.
Melhor a morte,
Voltar ao chão,
Em fragmentos!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
16h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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A Natureza
É cozinheira a Natureza.
Trabalha noite e dia na cozinha.
Que beleza de tempêros ela põe
Em cada prato.
Nos vicia...
Tem segredos. Não revela.
Só quer servir bem.
Igual para todo o mundo.
Nada cobra.
Enche o prato até esbordar.
Ninguém sai com fome,
É seu timbre.
A praia e serra é o refeitório.
De dia o sol é candelabro.
De noite um painel de estrelas
Com a lua a cirandar.
O vento silva afoito e certo
Ao ritmo das ondas
Que o mar rege
Como um maestro.
E a sala sempre cheia
Nunca fecha.
Tão belas são as sinfonias!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
7h10m
depois de ouvir Maria Betânia
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16387: Blogpoesia (465): "Pianista mágica" e "Vou para a minha janela falar com a lua", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Guiné 63/74 - P16409: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (20): A fábula do lobo, do boi e do elefante, contada aos pioneiros do PAIGC (Blufo, nº 7, jun-dez 1966, p. 3)
"Os seus primeiros alunos foram, precisamente, muitas das crianças que aí tinham acorrido, acompanhando os dirigentes das diferentes regiões e que, de acordo com as orientações de Amílcar Cabral, foram levadas para Conakry, a fim de aí poderem receber instrução".
"Luís Cabral foi o principal impulsionador da criação do Blufo, orgão dos pioneiros do PAIGC - o que lhe advinha das suas responsabilidades no Secretariado Permanente do Conselho Executivo da Luta em matéria de informação e propaganda".
O Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares disponibiliza um CD-ROM com a série completa do jornal "Blufo". Esssa coleção de originais foi, por sua, disponibilizada por Luís Cabral.
O "Blufo" publicou-se ao longo de cinco anos, de aneiro de 1966 a dezembro de 1970). Tinha pequena tiragem, e a sua edição irregular. mas foi uma iniciativa meritória da Escola-Piloto. Era escrito em bom português e ilistrado com algumas fotografias, Não sabemos em rigor qual o seu impacto na formação político-ideológica dos jovens do PAIGC. Recorde.se que “Blufo”, em balanta, significa o jovem ainda não circunsisado, que transporta em si o passado, o presente e o futuro.
O "Blufo" publicou-se ao longo de cinco anos, de aneiro de 1966 a dezembro de 1970). Tinha pequena tiragem, e a sua edição irregular. mas foi uma iniciativa meritória da Escola-Piloto. Era escrito em bom português e ilistrado com algumas fotografias, Não sabemos em rigor qual o seu impacto na formação político-ideológica dos jovens do PAIGC. Recorde.se que “Blufo”, em balanta, significa o jovem ainda não circunsisado, que transporta em si o passado, o presente e o futuro.
Portal Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > Fábula africana, "A história do lobo, do boi e do elefante" > Blufo, nº 7, junho-dezembro de 1966, p. 7 (Reproduzido com a devida vénia...)
Fonte:
Portal Casa Comum
Instituição > Fundação Mário Soares
Pasta: 04693.007 [Disponível aqui]
Título: Blufo - Orgão dos Pioneiros do PAIGC
Número: 07
Data: Junho de 1966 - Dezembro de 1966
Observações: Publicação da Escola-Piloto
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Luís Cabral
Tipo Documental: IMPRENSA
Direitos:
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
Arquivo Amílcar Cabral > 06. Organização Civil > Ensino > Escola-Piloto > Blufo
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
Arquivo Amílcar Cabral > 06. Organização Civil > Ensino > Escola-Piloto > Blufo
Nota do editor:
Último poste da série > 7 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16172: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (19): Declarações do 1º cabo mec auto, CCS/BART 1896 (Buba, 1966/68) à Rádio Libertação, do PAIGC, em Conacri, em 1968... O Correia foi aprisionado, em 20/5/1968, com mais 7 camaradas, na picada entre Mampatá e Uane
Último poste da série > 7 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16172: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (19): Declarações do 1º cabo mec auto, CCS/BART 1896 (Buba, 1966/68) à Rádio Libertação, do PAIGC, em Conacri, em 1968... O Correia foi aprisionado, em 20/5/1968, com mais 7 camaradas, na picada entre Mampatá e Uane
Guiné 63/74 - P16408: Memórias de Gabú (José Saúde) (64): “Mansões” na densidade de um mato que acolhia combatentes exaustos. A palhota.
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
As minhas memórias de Gabu
“Mansões” na densidade de um mato que acolhia combatentes exaustos.
A palhota
As palhotas, vulgarmente conhecidas por cabana de negros, eram simplesmente silhuetas reais que o combatente visualizava em pleno mato. Serviam, por vezes, para um precioso descanso a militares exaustos pelas agruras de um matagal que não dava tréguas e de uma imprevisibilidade constante.
O calor intenso, o cansaço da jornada, a falta de um abençoado sossego e um momento de pausa para retemperar as forças inevitavelmente já esgotadas, a palhota era um pressuposto paraíso de uma guerrilha que teimava em manter ativa a sua persistência num terreno que nos era adverso.
Conheci, aliás conhecemos, essa indesmentível realidade em território da Guiné. Em chão fula, Gabu, deparei-me com essa inequívoca veracidade. Tratava-se de um “trono” onde se retemperavam malazengas físicas que entretanto se apoderavam de um corpo que aparentava alguma debilidade.
A palhota era normalmente construída de forma simples e pelo pessoal anfitrião que bem conhecia as técnicas artesanais utilizadas na sua feitura. Um pequeno círculo, uns paus em madeira que sustentavam o material utilizado em cima, normalmente capim, julgo, ou outro semelhante, e eis uma “mansão” que acolhia combatentes fatigados.
Não entro em pormenores sobre a sua razão de ser. As causas dos usos e costumes das palhotas terão obviamente explicações plausíveis. Sei que muitas foram as vezes que por lá passei e descansei.
Na época das chuvas as palhotas eram símbolos maiores para fugir à tempestade. Resguardávamo-nos, quanto possível, da intempérie. Sendo o espaço exíguo, a malta acomodava-se e lá deixava o tempo diluir-se num tempo sem tempo. Ah, chovesse ou não a cântaros nem uma pinga de água passava por aquele arcaico “manto”.
Creio que o tema sobre as palhotas é motivo para os camaradas dissecarem conteúdos reais sobre as nossas comissões na Guiné. Na minha perspetiva raro será certamente aquele camarada que não se obsequiou pela sombra, ou resguardo, de uma palhota no mato.
A palhota nas minhas costas (foto) situava-se numa zona onde a malta fazia uma proteção avançada que visava proteger os aviões que aterravam e levantavam voo da pista de Nova Lamego.
O tempo era de guerra, razão pela qual o meu grupo se encarregava dessa missão. Lembro que foram horas imensas que passámos nessa incumbência. Não há registos de escaramuças ao largo da minha comissão. Mas, o tempo que passei naquele chão fula faz parte absoluta das minhas memórias de Gabu e as palhotas tema de interesse.
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BRT 6523
Mini-guião de
colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
8 DE JUNHO
DE 2016 > Guiné 63/74 -
P16177: Memórias de Gabú (José Saúde) (63): O “ventre” de um espólio raramente
conhecido. Passagem de bens alimentícios em armazém.
Guiné 63/74 - P16407: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte X: A faixa litoral, de Teixeira Pinto a Bissau, vista "by air", em fevereiro de 1972
Foto nº 42
Foto nº 41
Foto nº 43
Foto nº 44
Guiné > Região do Cacheu > Fevereiro de 1972 > Vistas aéreas da faixa litoral entre Teixeira Pinto e Bissau. Fotos, n~s de 41 a 44).
Fotos (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) (*).
Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50 €). Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoalfranciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 14 de agosto de 2016> Guiné 63/74 - P16386: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte IX: Março de 1972, Cacheu... "Pintado de branco, o forte / que defendeu a velha feitoria. / Aqui, o negro evitava a morte / tornando-se mercadoria"
(*) Último poste da série > 14 de agosto de 2016> Guiné 63/74 - P16386: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte IX: Março de 1972, Cacheu... "Pintado de branco, o forte / que defendeu a velha feitoria. / Aqui, o negro evitava a morte / tornando-se mercadoria"
Guiné 63/74 - P16406: Parabéns a você (1123): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 DE AGOSTO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16403: Parabéns a você (1122): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 20 DE AGOSTO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16403: Parabéns a você (1122): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)
sábado, 20 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16405: Manuscrito(s) (Luís Graça) (92): Praia do Caniçal: memórias
Lourinhã > Praia do Caniçal > 5 de agosto de 2010 > Memória(s)
Fotos (e texto): © Luís Graça(2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Praia
do Caniçal:
aqui gostaria de deixar a minha caixa preta,
antes de trepar
pela tua árvore genealógica,
como o salmão,
até ao paleolítico superior,
pelo leito dos rios que sobem, secos,
pelo interior do planeta,
até às grandes fossas marinhas.
Luís Graça (2004)
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Nota do editor:
Último poste da série > 18 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16398: Manuscrito(s) (Luís Graça) (91): A ilha da praia do Caniçal...
Guiné 63/74 - P16404: Magnífica Tabanca da Linha: oferta de emprego: secretário de SEXA, o Senhor Comandante, precisa-se!... (José Manuel Matos Dinis)
O secretário demissionário, Zé Manel Matos Dinis |
Assunto - OFERTA DE EMPREGOL SECRETÁRIO DA TABANCA DA LINHA
Requisitos e competências exigidas:
1 - Certificado do Instituto Português de Psicologia, que confirme uma personalidade de subserviência activa, mas não canina (muitíssimo essencial);
2 - Conhecimento profundo das rotas dos vinhos e petiscos, com disponibilidade para não se enfrascar e arriscar a vida de terceiros, (essencial);
3 - Resistir à crítica, quando em auto-estrada conduz o Exmo. Senhor Comandante à velocidade vertiginosa de 70 Km / hora , (muito conveniente);
4 - Disponibilidade permanente para aceitar encargos meditativos, ou alinhar em desvairadas patuscadas,(muito essencial);
5 - Não se aceitam candidaturas de homossexuais (impensável).
Também se repudia a acusação de homofóbico, pois cada um leva onde quiser, menos na Magnífica Tabanca da Linha.
Já antevejo o próximo secretário de SEXA. o Senhor Comandante, metido em alguma situação embaraçosa. SEXA. barricado e com uma arma de guerra a disparar sobre manifestações de maricas, e a berrar para o próximo secretário:
– Ó Beto, dá-me aí mais carregadores cheios, que estes gajos são mais que muitos.
E depois de o servir, o Beto, à rasca, alerta-o para a situação eminente:
– Ó Senhor Comandante, veja lá se ao menos acerta nalguns (palavra derivada de nalgas), que já só temos quatro cunhetes.
– Tens a certeza?
– Tens a certeza?
O resto do diálogo não foi ouvido, pois, entretanto, recomeçou o tiroteio, mas SEXA, o Senhor Comandante, ainda cogitou:
– O Zé é que me faz cá falta.
Trata-se de uma oportunidade de grande prestigio, com evidente promoção social, destinada a pessoa ambiciosa e bem ataviada, discreta e competente, que saiba reconhecer e divulgar em constância as virtudes de quem serve.
De facto, passados estes anos em que servi o melhor que pude SEXA, o Senhor Comandante da Magnífica Tabanca da Linha, chegou a hora de passar a outro a invejada função de que me tenho desembaraçado com natural júbilo e admiração.
– O Zé é que me faz cá falta.
O comandante, Jorge Rosales |
De facto, passados estes anos em que servi o melhor que pude SEXA, o Senhor Comandante da Magnífica Tabanca da Linha, chegou a hora de passar a outro a invejada função de que me tenho desembaraçado com natural júbilo e admiração.
Ainda ontem à noite, a caminho da uma da matina, tocou o telefone com estrídula insistência, o que não me permitiu fingir que não ouvia. Calcei os chinelos trocados, marrei em dois móveis que se atravessaram ao caminho, e perguntei:
– Quem é?
Do outro lado respondeu SEXA, o Senhor Comandante, com o seu tom afável, mas inflexível:
– Olá, Zé, 'tás bom? É pá, diz-me aí o número do telefone do Resende - o Exmo Comandante das tecnologias da Magnífica, que falta-me um número do telefone dele.
– Algarismo, falta um algarismo– arrisquei corrigir.
– É pá, tá bem. Diz-me lá isso. ´
Ripostei:
– Mas ainda há dias o disse.
Ripostei:
– Mas ainda há dias o disse.
– Pois foi – respondeu– mas enganei-me a passar para a agenda.
Esgotadas as tentativas de lhe fazer ver o incómodo a que me obrigava, e na óbvia condição de sujeição em que me encontrava, voltei a calçar os chinelos, evitei marrar com os móveis, e fui à procura dos apontamentos telefónicos. Fiz-me sacana, e demorei mais para o fazer sofrer à espera.
– Tá? toma nota.
– É pá, que horas são?
– É quase uma da matina, tinha acabado de ferrar o galho. Olha, deitei-me por um bocadinho, e só agora acordei.
– Desculpa lá isso.
– Certamente!
– É quase uma da matina, tinha acabado de ferrar o galho. Olha, deitei-me por um bocadinho, e só agora acordei.
– Desculpa lá isso.
– Certamente!
Despedimo-nos, e cada um foi à sua vida. Escorreguei na cama e ajeitei-me numa posição confortável. Sorri, ao imaginar o Exmo. Comandante das tecnologias a acordar com outro telefonema urgente.
AS INSCRIÇÕES ESTÃO ABERTAS
Para alcançar vantagem sobre a concorrência, alerto cada candidato para as mais que certas boas impressões a causar, no caso de acrescentar ao necessário CV. uma interessante colecção de vinhos das diferentes proveniências, bem como uns preparos regionais, de que destaco o presunto, o queijo e os maranhos. Para lhe adoçar a escolha, recomendo barricas de ovos moles; e para aromatizar o arroto final, sugiro uma boa bagaceira do Cartaxo, ou de vinho verde, ou de medronho, ou mesmo de zimbro. São dicas tão significativas, que devem agradecer-me.
JD - o secretário demissionário
AS INSCRIÇÕES ESTÃO ABERTAS
Para alcançar vantagem sobre a concorrência, alerto cada candidato para as mais que certas boas impressões a causar, no caso de acrescentar ao necessário CV. uma interessante colecção de vinhos das diferentes proveniências, bem como uns preparos regionais, de que destaco o presunto, o queijo e os maranhos. Para lhe adoçar a escolha, recomendo barricas de ovos moles; e para aromatizar o arroto final, sugiro uma boa bagaceira do Cartaxo, ou de vinho verde, ou de medronho, ou mesmo de zimbro. São dicas tão significativas, que devem agradecer-me.
JD - o secretário demissionário
Guiné 63/74 - P16403: Parabéns a você (1122): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16399: Parabéns a você (1121): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66)
Nota do editor
Último poste da série de 19 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16399: Parabéns a você (1121): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66)
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16402: Em busca de... (270): Demba Baldé, falecido em 2003... Teria sido chefe de tabanca, comandante de milícia ou militar em Cansissé, região do Gabu (Francisco Teixeira)
Guiné > Região de Gabu > Cansissé > CCAÇ 2317 > Julho de 1969 > Entre as forças militarizadas, agora juntas, foi criado um forte espírito de coesão. Até ao Unimog, lhe coube um papel relevante para esse reforço, pois possibilitou a muitos dos milícias ter a grata sensação de desfrutar de um meio de transporte desconhecido.
Foto e legenda: © Idálio Reis (2006). Todos os direitos reservados
______________Foto e legenda: © Idálio Reis (2006). Todos os direitos reservados
1. Mensagem do nosso leitor (e presumivelmente camarada) Francisco Teixeira:
Data: 10 de agosto de 2016 às 03:01
Assunto: Demba Baldé.
Boa Noite.
Quem sabe se no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné me ajudam a descobrir este homem, Demba Baldé, da tabanca de Canxixé [, ou melhor, Cansissé], Nova Lamego [, região de Gabu,] e que seria o chefe de tabanca, ou o comandante de milícia ou militar.
Data: 10 de agosto de 2016 às 03:01
Assunto: Demba Baldé.
Boa Noite.
Quem sabe se no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné me ajudam a descobrir este homem, Demba Baldé, da tabanca de Canxixé [, ou melhor, Cansissé], Nova Lamego [, região de Gabu,] e que seria o chefe de tabanca, ou o comandante de milícia ou militar.
O mesmo faleceu em 2003, ou seja o PAIC não deu cabo dele.
Agradeço a sua ajuda.
Os meus cumprimentos.
F. Teixeira
Os meus cumprimentos.
F. Teixeira
2. Comentário do editor:
Amigos e camaradas, com estes elementos, como poderemos ajudar?
Ab, Carlos
Ab, Carlos
Nota de leitura:
Último poste da série > 19 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16318: Em busca de... (269): Alf mil médico, estomatologista, radioamador, CR8AK... Raul [Luís Vilhena Soares] Nobre, Guiné (1969) e Timor (1971/73) (Artur Marcos, professor, radioamador, escritor, especialista em cultura timorense, residente em Queluz)
Último poste da série > 19 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16318: Em busca de... (269): Alf mil médico, estomatologista, radioamador, CR8AK... Raul [Luís Vilhena Soares] Nobre, Guiné (1969) e Timor (1971/73) (Artur Marcos, professor, radioamador, escritor, especialista em cultura timorense, residente em Queluz)
Guiné 63/74 - P16401: Notas de leitura (872): “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”, por James Pinto Bull (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2015:
Queridos amigos,
Independentemente do que aqui se escreve a propósito de um encontro fortuito na Feira da Ladra e de uma dedicatória de James Pinto Bull ao seu prezado primo Jorge, quis o acaso que o tenha visto pela primeira e última vez em Julho de 1970, dois helicópteros trouxeram um conjunto de deputados a Bambadinca, foram até aos Nhabijões e conversaram com o comandante e o segundo comandante. E refrescaram-se na messe. Vindo dos Nhabijões, onde montáramos segurança aos ilustres visitantes, reencontrei José Pedro Pinto Leite e conversámos à parte. O deputado estava ciente que as coisas da Guiné caminhavam para o beco sem saída, disse-me que ia avisar Marcello Caetano. Não teve tempo, morreu dois dias depois no rio Mansoa, tal como James Pinto Bull.
Casos e acasos de que se fazem as nossas vidas.
Um Abraço do
Mário
Da circuncisão entre os Balantas, por James Pinto Bull
Beja Santos
Em 1951, James Pinto Bull, nascido em 1913 em Bolama, funcionário colonial, ao tempo administrador de circunscrição, e com carreira de deputado pela frente, três vezes eleito pelo círculo da Guiné para a Assembleia Nacional, escreve no Boletim Cultural da Guiné um artigo intitulado “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”. É uma escrita direta, de pendor marcadamente divulgativo, chama à atenção para o “fanado” e para o modo como os Balantas encaram esta cerimónia religiosa, começando logo por referir que os “grandes” das tabancas apresentam-se com o tradicional “lopé” e trazendo enrolado pelo corpo pedaços de corda, vão à autoridade local pedir autorização para “deitar o fanado”.
Segue-se uma descrição vivacíssima:
“Dada a autorização, rompe imediatamente o tamborilar de um pequeno tambor para levar a nova aos indígenas reunidos nas moranças e com danças alusivas à cerimónia que se vai iniciar, os velhos regressam à tabanca. Toda a noite se ouve o barulho do “ẽbõbor” (tambor grande, anunciando às tabancas distantes a realização do fanado, convidando os jovens a virem alegrar com a sua presença a grande festa. Rompe a aurora e principia a concentração da turba nas proximidades da tabanca onde se realiza o fanado. A falange engrossa rapidamente e os assistentes vão-se aquecendo, não só pela ação do calor que sufoca, mas também pela do álcool. O mestre-cerimónia dá o sinal para se fazer a concentração geral. Começa a marcha e centenas de indígenas lançam-se em correria desenfreada, parecendo à primeira vista que se trata de um ataque guerreiro, pois quase todos os do sexo masculino ostentam espadas e cacetes. O grupo dos futuros circuncisos esforça-se por abrir caminho a fim de se dirigir para o porto ou bolanha mais próximos, onde besuntam o corpo com lama. Em correria louca e entoando cânticos variados, os blufos regressam à tabanca, formando grupos separados, para que cada um possa mostrar o seu valor. Continua nos arredores da tabanca o barulho ensurdecedor dos tambores, misturado com milhares de vozes e com a gritaria infernal dos mais alcoolizados. O sol vai declinando e, enquanto os futuros circuncisos se reúnem na tabanca para tomarem a última refeição ainda como blufos e receberem as mezinhas para os proteger contra os feiticeiros durante a permanência na barraca, a multidão alegra-se cada vez mais, chegando a tomar o aspeto de verdadeira orgia. Todos estão em maior ou menor grau sobre a ação etilisante do álcool”.
Faz-se aqui uma pausa para recordar duas coisas. Primeiro, ao tempo do Governador Sarmento Rodrigues começou-se a solicitar aos quadros da administração colonial espalhados pela província que enviassem regularmente relatórios com pendor etnográfico, etnológico e antropológico, sugeria-se mesmo que elaborassem monografias e enviassem quer para o boletim cultural quer para o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa artigos ou dados relevantes que se prendiam com observação do funcionário. Segundo, este texto decorre dessa mesma observação, é feita sem comentários, sem interpretação, não há pretensões de qualquer leitura científica, o que aqui se escreve é o que James Pinto Bull viu e fotografou, e escreveu com gosto, vê-se que aprecia temperar os seus relatos. Continuando:
“As mulheres e as bajudas estão completamente excitadas sobre a dupla ação do álcool e algumas delas não resistem à tentação de se deixar agarrar pelo blufos que sabem tirar partido destas oportunidades. É que nesse dia tudo é permitido, desde o adultério, que para certos maridos até constitui honra, por verem que as suas mulheres foram muito apreciadas, até a própria violação das bajudas, facto que alguns pais perdoam, não exigindo a costumada reparação material”.
É então que o mestre-cerimónia, velhos e rapazes já circuncidados seguem para a bolanha para que se cumpra a operação. A festa acabou. Os futuros circuncisos já chegaram à bolanha e estão atolados pelo menos até aos joelhos. Vamos regressar ao relato:
“Começa então a operação feita pelo parente mais próximo, a qual consiste no corte do prepúcio, por um ou mais golpes ao contrário do que se sucede nas outras tribos em que o corte tem que ser rápido e com um único golpe. Acaba a operação, os pacientes recolhem-se a um local antecipadamente escolhido, em princípio numa mata próxima da tabanca, e onde é feita previamente uma clareira protegida por uma paliçada. A permanência varia de um a três meses, e enquanto os circuncidados ali permanecerem, as famílias são obrigadas a preparar-lhes as melhores comidas e a confecionar os tradicionais e caprichosos panos de fanado. Terminado o tempo julgado necessário, os circuncisos descem às povoações, formando um único grupo, envolto nos panos do fanado. Cumpridas estas regras, o irresponsável blufo que até vivia em comum com os seus camaradas, adquire todos os direitos e deveres de homem, podendo construir a sua palhota e arranjar mulher para constituir família”.
Pergunta o leitor a que propósito se descreve a circuncisão entre Balantas, assunto que praticamente ninguém desconhece. Esta separata de James Pinto Bull tem a sua história. Num vendedor da Feira da Ladra encontrei esta separata e francamente que não lhe teria dado qualquer atenção não contivesse a dedicatória do autor ao prezado primo Jorge. Acicatado pela dedicatória, comecei a vasculhar em toda a papelada à venda e lá encontrei fotografias e referências a Jorge Wahnon Pinto Costa. São momentos em que junto à excitação a repugnância pelas pessoas que se desfazem da intimidade daqueles que morreram e são assim postos a nu na praça pública, na rua do Século, em Lisboa existe um alfarrabista que tem a biblioteca e dossiês do professor Silva Cunha, que foi ministro do Ultramar. Interrogo-me como é que é possível desbaratar tal património que devia ser apreciado pelos competentes investigadores. Uma última nota, James Pinto Bull irá falecer num acidente de helicóptero, em Julho de 1970, faleceram entre outros, José Pedro Pinto Leite, considerado como uma das grandes promessas da Ala Liberal. As voltas que o mundo dá.
Nota do editor
Último poste da série de 17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos
Queridos amigos,
Independentemente do que aqui se escreve a propósito de um encontro fortuito na Feira da Ladra e de uma dedicatória de James Pinto Bull ao seu prezado primo Jorge, quis o acaso que o tenha visto pela primeira e última vez em Julho de 1970, dois helicópteros trouxeram um conjunto de deputados a Bambadinca, foram até aos Nhabijões e conversaram com o comandante e o segundo comandante. E refrescaram-se na messe. Vindo dos Nhabijões, onde montáramos segurança aos ilustres visitantes, reencontrei José Pedro Pinto Leite e conversámos à parte. O deputado estava ciente que as coisas da Guiné caminhavam para o beco sem saída, disse-me que ia avisar Marcello Caetano. Não teve tempo, morreu dois dias depois no rio Mansoa, tal como James Pinto Bull.
Casos e acasos de que se fazem as nossas vidas.
Um Abraço do
Mário
Da circuncisão entre os Balantas, por James Pinto Bull
Beja Santos
Em 1951, James Pinto Bull, nascido em 1913 em Bolama, funcionário colonial, ao tempo administrador de circunscrição, e com carreira de deputado pela frente, três vezes eleito pelo círculo da Guiné para a Assembleia Nacional, escreve no Boletim Cultural da Guiné um artigo intitulado “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”. É uma escrita direta, de pendor marcadamente divulgativo, chama à atenção para o “fanado” e para o modo como os Balantas encaram esta cerimónia religiosa, começando logo por referir que os “grandes” das tabancas apresentam-se com o tradicional “lopé” e trazendo enrolado pelo corpo pedaços de corda, vão à autoridade local pedir autorização para “deitar o fanado”.
Segue-se uma descrição vivacíssima:
“Dada a autorização, rompe imediatamente o tamborilar de um pequeno tambor para levar a nova aos indígenas reunidos nas moranças e com danças alusivas à cerimónia que se vai iniciar, os velhos regressam à tabanca. Toda a noite se ouve o barulho do “ẽbõbor” (tambor grande, anunciando às tabancas distantes a realização do fanado, convidando os jovens a virem alegrar com a sua presença a grande festa. Rompe a aurora e principia a concentração da turba nas proximidades da tabanca onde se realiza o fanado. A falange engrossa rapidamente e os assistentes vão-se aquecendo, não só pela ação do calor que sufoca, mas também pela do álcool. O mestre-cerimónia dá o sinal para se fazer a concentração geral. Começa a marcha e centenas de indígenas lançam-se em correria desenfreada, parecendo à primeira vista que se trata de um ataque guerreiro, pois quase todos os do sexo masculino ostentam espadas e cacetes. O grupo dos futuros circuncisos esforça-se por abrir caminho a fim de se dirigir para o porto ou bolanha mais próximos, onde besuntam o corpo com lama. Em correria louca e entoando cânticos variados, os blufos regressam à tabanca, formando grupos separados, para que cada um possa mostrar o seu valor. Continua nos arredores da tabanca o barulho ensurdecedor dos tambores, misturado com milhares de vozes e com a gritaria infernal dos mais alcoolizados. O sol vai declinando e, enquanto os futuros circuncisos se reúnem na tabanca para tomarem a última refeição ainda como blufos e receberem as mezinhas para os proteger contra os feiticeiros durante a permanência na barraca, a multidão alegra-se cada vez mais, chegando a tomar o aspeto de verdadeira orgia. Todos estão em maior ou menor grau sobre a ação etilisante do álcool”.
Faz-se aqui uma pausa para recordar duas coisas. Primeiro, ao tempo do Governador Sarmento Rodrigues começou-se a solicitar aos quadros da administração colonial espalhados pela província que enviassem regularmente relatórios com pendor etnográfico, etnológico e antropológico, sugeria-se mesmo que elaborassem monografias e enviassem quer para o boletim cultural quer para o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa artigos ou dados relevantes que se prendiam com observação do funcionário. Segundo, este texto decorre dessa mesma observação, é feita sem comentários, sem interpretação, não há pretensões de qualquer leitura científica, o que aqui se escreve é o que James Pinto Bull viu e fotografou, e escreveu com gosto, vê-se que aprecia temperar os seus relatos. Continuando:
“As mulheres e as bajudas estão completamente excitadas sobre a dupla ação do álcool e algumas delas não resistem à tentação de se deixar agarrar pelo blufos que sabem tirar partido destas oportunidades. É que nesse dia tudo é permitido, desde o adultério, que para certos maridos até constitui honra, por verem que as suas mulheres foram muito apreciadas, até a própria violação das bajudas, facto que alguns pais perdoam, não exigindo a costumada reparação material”.
É então que o mestre-cerimónia, velhos e rapazes já circuncidados seguem para a bolanha para que se cumpra a operação. A festa acabou. Os futuros circuncisos já chegaram à bolanha e estão atolados pelo menos até aos joelhos. Vamos regressar ao relato:
“Começa então a operação feita pelo parente mais próximo, a qual consiste no corte do prepúcio, por um ou mais golpes ao contrário do que se sucede nas outras tribos em que o corte tem que ser rápido e com um único golpe. Acaba a operação, os pacientes recolhem-se a um local antecipadamente escolhido, em princípio numa mata próxima da tabanca, e onde é feita previamente uma clareira protegida por uma paliçada. A permanência varia de um a três meses, e enquanto os circuncidados ali permanecerem, as famílias são obrigadas a preparar-lhes as melhores comidas e a confecionar os tradicionais e caprichosos panos de fanado. Terminado o tempo julgado necessário, os circuncisos descem às povoações, formando um único grupo, envolto nos panos do fanado. Cumpridas estas regras, o irresponsável blufo que até vivia em comum com os seus camaradas, adquire todos os direitos e deveres de homem, podendo construir a sua palhota e arranjar mulher para constituir família”.
Pergunta o leitor a que propósito se descreve a circuncisão entre Balantas, assunto que praticamente ninguém desconhece. Esta separata de James Pinto Bull tem a sua história. Num vendedor da Feira da Ladra encontrei esta separata e francamente que não lhe teria dado qualquer atenção não contivesse a dedicatória do autor ao prezado primo Jorge. Acicatado pela dedicatória, comecei a vasculhar em toda a papelada à venda e lá encontrei fotografias e referências a Jorge Wahnon Pinto Costa. São momentos em que junto à excitação a repugnância pelas pessoas que se desfazem da intimidade daqueles que morreram e são assim postos a nu na praça pública, na rua do Século, em Lisboa existe um alfarrabista que tem a biblioteca e dossiês do professor Silva Cunha, que foi ministro do Ultramar. Interrogo-me como é que é possível desbaratar tal património que devia ser apreciado pelos competentes investigadores. Uma última nota, James Pinto Bull irá falecer num acidente de helicóptero, em Julho de 1970, faleceram entre outros, José Pedro Pinto Leite, considerado como uma das grandes promessas da Ala Liberal. As voltas que o mundo dá.
Dedicatória
____________Nota do editor
Último poste da série de 17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos
Guiné 63/74 - P16400: Inquérito 'on line' (66): Num total de 20 respostas até agora, a maioria (12) diz que nunca conheceu camaradas guineenses, nas nossas fileiras, menores de idade (aparentando ter 18 ou menos anos)... O prazo para responder termina no domingo, dia 21, às 13h44
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > O Valdemar Queiroz, com os recrutas Cherno, Sori e Umarau (que irão depois para a CCAÇ 2590/CCAÇ 12). Estes mancebos aparentavam etr 16 ou menos anos de idade. Era,m do recrutamento local.
Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados.
Porugal > Resende > 1999 > Num dos convívios do pessoal de Bambadinca, de 1968/71, o Umaru Baldé. já com 46 anos, parece ter mais de um metro e noventa de altura... Ao centro o Fernando Andrade Sousa e outro camarada da CCAÇ 12 que não é possível idemtificar.
INQUÉRITO DE OPINIÃO:
"SIM, CONHECI CAMARADAS APARENTANDO 16 ANOS OU MENOS COMO O UMARU BALDÉ"...
As primeiras 20 respostas, quando faltam 2 dias para encerrar o inquérito em curso:
"SIM, CONHECI CAMARADAS APARENTANDO 16 ANOS OU MENOS COMO O UMARU BALDÉ"...
As primeiras 20 respostas, quando faltam 2 dias para encerrar o inquérito em curso:
1. Sim, aparentando 16 ou até menos anos > 1 (5%)
2. Sim, aparentando 16/17 anos > 4 (20%)
3. Sim, aparentando 18 anos > 0 (0%)
4. Não, não conheci camaradas guineenses com 18 ou menos anos > 12 (60%)
5. Não sei/ não tenho opinião > 3 (15%) (*)
Votos apurados > 20 (100%)
Dias que restam para votar: 2. O prazo termina em 21 de agosto de 2016, às 13h44 (**)
____________
Notas do editor;
(*) Vd. poste de 13 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16385: Manuscrito(s) (Luís Graça) (89): O exército de reserva de mão de obra infantil...
Vd. também:
12 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16382: Álbum fotográfico de Fernando Andrade Sousa (ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, 1969/71) - Parte III: Lembrando, com saudade, o "puto" Umaru Baldé
16 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16393: Facebook...ando (40): Sou açoriano, nasci em janeiro de 1955, fui à inspeção em dezembro de 1970, com 15 anos... Em abril de 1971 fui para a tropa, e em setembro, com apenas 16 anos, parti para o CTIG... (ex-1º cabo Alcides, da CCÇ 3476, "Bebés de Canjambari", Canjambari e Dugal, 1971/73; emigrante no Canadá, desde junho de 1974)
(**) Último poste da série > 6 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16364: Inquérito 'on line' (65): em outubro de 1963, quando parti para o CTIG, deram-me um kit de sobrevivência: canivete de bolso com saca-rolhas, abre-latas e abre-cápsulas; copo, prato, marmita, colher e garfo, tudo inox (José Botelho, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65)
(**) Último poste da série > 6 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16364: Inquérito 'on line' (65): em outubro de 1963, quando parti para o CTIG, deram-me um kit de sobrevivência: canivete de bolso com saca-rolhas, abre-latas e abre-cápsulas; copo, prato, marmita, colher e garfo, tudo inox (José Botelho, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65)
Marcadores:
CART 11,
CCAÇ 12,
Fernando Andrade Sousa,
inquérito online,
instrução militar,
Os nossos camaradas guineenses,
Umaru Baldé,
Valdemar Queiroz
Guiné 63/74 - P16399: Parabéns a você (1121): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 18 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16397: Parabéns a você (1120): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Coronel Inf Ref António Melo de Carvalho, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465 (Guiné, 1969/70)
Nota do editor
Último poste da série de 18 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16397: Parabéns a você (1120): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Coronel Inf Ref António Melo de Carvalho, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465 (Guiné, 1969/70)
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16398: Manuscrito(s) (Luís Graça) (91): A ilha da praia do Caniçal...
A
ilha da praia do Caniçal…
por Luís Graça
Chita,
em homenagem
aos nossos 40 anos de casados
(1976-2016),
e ao
teu aniversário natalício,
duas efemérides que ocorrem
no "nosso querido mês de agosto"…
no "nosso querido mês de agosto"…
Uma vida em comum
com
os seus montes e vales,
as
suas ilhas e mares,
os
seus cabos das tormentas
e
das boas esperanças,
os
seus encantos e desencantos,
amores
e desamores,
e
dois filhos,
uma Joana
e um João,
que
são afinal as flores mais lindas do nosso jardim.
só posso
oferecer-te rosas,
meu amor,
vermelhas,
em celebração
da vida e do amor.
Nunca te ofereci outras flores,
senão rosas,
vermelhas.
Espero que gostes deste poema
sobre (a ilha d)a praia do Caniçal
onde demos o nosso primeiro beijo, lembras-te ?
Espero que gostes deste poema
sobre (a ilha d)a praia do Caniçal
onde demos o nosso primeiro beijo, lembras-te ?
Teu, (e)terno amante e amado, Nhicas.
Praia do Caniçal…
Poderia ser a minha ilha,
afinal, aqui tão perto,
poderia ser a minha ilha,
sim, senhor,
se eu quisesse ser egoísta,
se eu pudesse, outrossim,
ter uma ilha só para mim,
registada em meu nome pessoal,
depois de me ter perdido
na vida,
e de ter sido achado por ti, algures no deserto!
A mais exclusiva das ilhas,
com muitas milhas em redor,
pintadas de azul marinho,
até perder de vista,
“ad nauseam”.
Não, não nasci,
nem gostaria de ter nascido numa ilha.
Se eu lá tivesse nascido, não duvido,
o sítio perderia todo o encantamento,
que é coisa que está
justamente ligada ao mistério.
Não, não quereria
nenhuma ilha como berço
e muito menos o oceano Atlântico
como cemitério.
Mas, confesso,
gostaria de ter tido um ilha,
só para mim,
como se eu fosse o Robinson Crusoé
do século XXI,
náufrago
apátrida,
sem lar nem terra,
errático,
proscrito,
ex-veterano da guerra da Guiné
ou de outra qualquer guerra.
Robinson Crusoé
ou outro pobre diabo,
em busca de uma ilha,
porto de abrigo
ou tábua de salvação,
e a quem tivesse saído o Euromilhões
por um bambúrrio da sorte
ou tivesse sido nomeado
presidente do Goldman Saque Saque Saque,
por um dia,
por um um simples bug
informático.
Não sei se há ilhas dessas
à venda,
ao desbarato,
aqui à porta,
na feira da ladra
ou da bolsa vazia de valores de Lisboa,
no meu país
que é Portugal
ou no que resta dele.
Yes,
Portugal, my Lord,
Portugal,
sítio, para quem não sabe,
que fica na ponta mais acidental da Europa.
Uma ilha rigorosamente exclusiva
e vigiada,
concentracionária,
com arame farpado
e neblinas matinais,
por causa dos meus medos irracionais,
a sul do cabo Carvoeiro,
e com um arco-íris grafitado
a anunciar a borrasca que aí vem,
para desencorajar os intrusos,
afastar os mirones,
intimidar os candidatos a refugiados,
ah!, uma tabuleta a (con)dizer,
um gigantesco
outdoor,
em português, gente com fama de cortês,
em inglês, língua de corsário,
em alemão, a vingança dos godos e visigodos,
em árabe, por causa dos mártires de todos os islões,
em chinês, mandarim,
com muitos cifrões:
“Propriedade privada.
Cuidado com o cão
E com o tubarão.
Perímetro de segurança armadilhado”.
Para
quê, ó estúpido,
tanto
medo securitário ?
Haverá
sempre um chinês
que
não sabe mandarim,
ou
um árabe analfabeto
ou
um português,
xico-esperto,
tetraneto
dos
grandes descobridores
dos
mares e ilhas por achar,
e
com a mania de espreitar
pelo
buraco da fechadura do vizinho.
Ficarás
deveras constrangido
quando
ouvires a notícia de pobres diabos
eletrocutados
nas
fronteiras de Schengen!
Virão
da África subsariana
e o
único árabe que terão aprendido
será
o das tabuinhas das madraças
de
contrafação.
Mas, que importa ?
Viva o cinismo, a ideologia dominante
deste tempo global!
Se eu fosse um milionário,
excêntrico,
idiota,
suicidário,
teria à minha direita, a norte,
o polo,
e mais ligeiramente, ao lado,
a estrela,
polar.
E o esplendor,
já não de Portugal,
mas de um dos seus últimos recantos,
a praia de Paimogo,
atapetada de algas,
e, sob a a areia, diamantes,
rubis, topázios, esmeraldas,
com sorte o forte,
setecentista,
com os seus soldadinhos de chumbo
e os seus canhões de bronze,
de pólvora seca e longo alcance.
Com engenho e arte
faria parte
do meu condomínio
a enseada,
sereníssima,
nas tardes de fim de verão da minha civilização,
mais a velha rampa dos contrabandistas,
e dos mariscadores
e das tropas luso-britânicas
que aqui hão de desembarcar
no verão quente de 1808
e que na batalha do Vimeiro
se hão de cobrir de glória.
Pensando bem,
e tal como o Robinson Crusoé,
preferiria uma ilha sem história,
sem as brumas da memória,
sem qualquer inquietante peugada humana.
E, tanto quanto a minha geografia consente,
ao longe, em frente,
as Berlengas,
que, em dias de nevoeiro,
não são de ninguém,
ou são de quem as achar,
à deriva,
em alto mar…
Poderiam ser minhas,
por usucapião, ou não ?!
Sim, as Berlengas,
ali,
quase ao alcance da tua mão,
que
o teu braço,
diriam
depois os teus inimigos,
seria
tão comprido
como
o abraço
com
que se enforcam
os
violadores da lei e da ordem.
Mas,
para que é que tu, cretino,
querias
ter mais uma ilha,
ao lado
de outra ilha,
e às
tantas um arquipélago,
uma
metrópole,
um
império ?
Terias,
que chatice, pagar IMI,
de
um extenso areal
do
domínio público marítimo
e,
nas marés vivas de setembro,
rodear-te
de altas falésias,
caídas
a pique.
E, imagina, que muda o governador
do reino
d’aquém e d’além mar,
e
que na sua fúria iconoclasta,
própria
dos ex-proletários,
contra
os milionários,
excêntricos,
idiotas,
suicidários,
acionava
o princípio da retroatividade
da
lei e da ordem ?
Diz o mapa do tesouro
que
a ilha está datada
do tempo
do jurássico superior
E
foi cemitério de dinossauros,
corsários
e
cetáceos.
Cento
cinquenta milhões de anos!,
mas
o que é isso, afinal,
na
escala geocronológica
da
tua galáxia,
da
qual nem sequer sabes o nome,
só
sabes que foi o pedacinho de universo
que
te coube em sorte.
Sim, pensando bem,
para que quereria eu
uma enseada,
mesmo que sereníssima,
e, depois do sol posto,
a magia do luar de agosto ?
A insularidade é solidão,
e a solidão não se partilha,
Respondendo à minha consciência crítica,
para que quereria eu, de facto,
um forte militar
e um pelotão de milícias
com os seus bacamartes e arcabuzes ?
Só para brincar às guerras
do tempo em que Portugal
era ainda um país de brandos costumes,
no século das luzes.
Fica aqui desde já a minha declaração
de conflito de interesses
e, outra, de
objetor de consciência.
Não tenho licença de uso e porte de armas,
não gosto de brincar às guerras,
já fiz uma e não gostei,
e os seus fantasmas nunca os exorcizei.
Mais:
nunca achei a violência lúdica,
nem sexy,
nem muito menos romântica,
qualquer que seja a sua bandeira,
branca, negra ou vermelha,
A violência sempre foi uma má parteira
da história.
E, depois,
o que faria eu,
com o meu metro e setenta e dois de altura,
com uma ilha… só
para mim ?
Sem ti, meu amor?
Sem vocês, meus queridos ?
Sem todos nós e os nossos amigos ?
A insularidade não é só solidão,
é lonjura,
é amargura.
Lourinhã, praia do Caniçal, 7-18/8/2016
__________
Nota do editor:
Último poste da série > 14 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16389: Manuscrito(s) (Luís Graça) (90): Praia de Paimogo da minha infância
Último poste da série > 14 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16389: Manuscrito(s) (Luís Graça) (90): Praia de Paimogo da minha infância
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