quinta-feira, 13 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2631: Dando a mão à palmatória (5): Recado para uma ida à Guiné (Joaquim Mexia Alves)

Joaquim Mexia Alves, à esquerda da foto, no lançamento do livro Diário da Guiné, 1968-1969, de Mário Beja Santos, que está ao centro. À direita está o Henrique Matos que foi o 1.º CMDT do Pel Caç Nat 52

Foto: © Henrique Matos (2008). Direitos reservados.

1. Caros camaradas

Porque a informática nem sempre ajuda, por vezes desajuda, enquanto o nosso Luís andou por terras da Guiné-Bissau a minha ligação à Internete falhou insistentemente.
Por coincidência houve o lançamento do Diário da Guiné do nosso camarada Mário Beja Santos que também veio aumentar um pouco o trabalho editorial do Blogue. Quem se manteve firme no seu posto de comando? O nosso companheiro Briote. Claro que não chegou para tudo e agora há que pôr o trabalho em dia.

Esta introdução, para quê?

Primeiro para pedir desculpas públicas ao nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, porque nos enviou um bonito poema com o título Recado para uma ida à Guiné, que classifico como um roteiro de saudade e não foi publicado na devida altura.

A sua publicação, agora, pode parecer despropositada, pois o Luís já foi à Guiné-Bissau e, tendo regressado, não poderá cumprir o itinerário proposto.

Deixo-vos o texto para apreciarem e, se um dia lá forem, aproveitem a sugestão.

Com renovadas desculpas ao Mexia Alves, leiam e deliciem-se.
Carlos Vinhal

2. Recado para uma ida à Guiné,
por Joaquim Mexia Alves (2)

Vai, Luís,
Para essa terra quente
Que viveu dor e sofrimento
Para se fazer País.
Vai e leva o meu abraço
Porque num dia,
Num momento,
Também aí fui feliz.
Passa por Mansoa
E sobe para Mansabá
E ao carreiro da morte
Pára e contempla
Das árvores do Morés
O seu porte.
Deixa uma lágrima
E um voto
Por todos os que aí ficaram.
Depois desce a Jugudul
E segue a estrada nova
Que tanto sacrifício me deu.
Passa por Portogole
E mais à frente um bocado
Sobe ao Mato Cão,
E fica ali sentado
Com uma cerveja na mão
A assistir ao Pôr-do-Sol.
Agora que vês Bambadinca
Depois de parares um pouco
Segue em frente
Pela estrada do meu suor
A caminho do Mansambo,
Que fica à tua direita.
Na Ponte dos Fulas
Vai a pé,
Ali para a tua esquerda,
Sim dentro da mata,
Vá, anda,
Porque vais encontrar,
Se agora não me engano,
Uma mata de caju
Onde o macaco cão
Faz barulho que ensurdece.
Volta à estrada
Para o Xitole
E, quando lá chegares,
Senta-te naquela varanda,
Mesmo que destruída,
(reconheci-a entre mil),
E bebe por mim um uísque
Em memória do Jamil.
Segue para o Saltinho,
Banha-te naquelas águas
E não pares,
Arranja um barco
E sobe o Corubal.
Quando chegares ao Xime,
Desembarca na lama preta
E sobe por um bocado,
Apenas para ver a vista.
Regressa ao Geba.
Lá está a Nau Catrineta
Que tem muito que contar,
Embarca agora nela,
Deixa a maré te levar,
Porque assim à noite
Estarás em Bissau, a varar.
Já é tarde,
Estás cansado,
No físico, no coração,
Então senta-te no Pelicano,
E come…
Um ninho de camarão.
Vai, Luís,
Leva-me contigo,
Mata feridas, mata mágoas,
Mata saudades até,
E abraça por mim
A Guiné…

Joaquim Mexia Alves
Monte Real, 27 de Fevereiro de 2008

3 comentários:

Anónimo disse...

Um abraço para ti, Carlos Vinhal e para todos também, claro...

Joaquim Mexia Alves

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Muito original. Bem construido. Muito sentido. Muito vivo. Memória de elefante. De camarada genuino e amigo.
Parabéns
Joaquim Mendes Gomes

Anónimo disse...

"Grande" Joaquim
Gostava muito de
escrever assim...
Henrique Matos