1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 3 de Junho de 2010:
São passados quarenta anos sobre três acontecimentos de grande significado para as chefias militares e para a sociedade civil da Guiné, os quais se deram nos meses de Março e Abril de 1970.
Presenciei parte e também tive conhecimento de algo à surdina.
Assim rebuscando na memória, irei narrar os meus comentários, apresentando extractos de uma ímpar reportagem fotográfica, puxando ao pormenor a ordem cronológica das situações.
Concluiu-se o que eram preparativos para a paz na Guiné.
Arménio Estorninho
Três acontecimentos com impacto na Guiné - Março/Abril de 1970
Parte 1
Cidade de Bissau, a 16 de Março, de 1970
Tendo eu conhecimento de que um Homem Grande de Lisboa e Ministro do Ultramar, Dr. Silva Cunha, estava prestes a chegar a fim de efectuar uma visita Ministerial à Guiné, para “in loco” contactar o Povo Guinéu e inteirar-se da situação politica e militar, preparei o meu equipamento fotográfico, para ir presenciar e captar imagens de um grande ronco.
Havia vasta informação para a população estar presente e manifestar-se ao longo do percurso desde o Aeroporto de Bissalanca, Estrada de Brá, Sacor e Praça do Império.
Haveria concentração a partir da rotunda da Sacor / Mãe d’Àgua (foto 1), Av. Teixeira Pinto e em frente ao Palácio do Governador. Dentro da cidade o percurso estava engalanado e embandeirado, a população indígena estava disposta ao longo, trajando as suas vestes domingueiras e festivas, dançando e cantando ao som de batucadas.
Duvidando da forte presença humana, dando o meu palpite se devido a ofertas de sacos de bianda” e/ou por indicação dos Chefes Tradicionais (foto 2 a 6). Não sei de onde me vem esta ideia, será por detrás de cada memória há sempre um sopro de curiosidade.
Foto 1 – Guiné> Bissau> Rotunda da Mãe d,Água/Sacor> Março de 1970. Zona para início da concentração e recepção do Homem Grande de Lisboa. No centro dois polícias sinaleiros e no perímetro a presença de vários outros polícias.
Encontrei uma certa alegria dos indígenas embora estivessem em situação de guerra, sendo eu um dos poucos brancos que circulavam por entre a multidão, conforme se comprova pelas fotos, a fazer a reportagem que considerei interessante.
Foto 2 –Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)>Março de 1970. Artéria engalanada a propósito, com muito povo a aguardar a passagem do ministro do Ultramar. Fiquei surpreso em ver um indivíduo indígena (que segue pela direita), arrastando um tronco de árvore, amedrontando e marcando posicionamento.
Foto 3-Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Batucada, com dança nativa, foi uma boa forma de divertimento, preenchendo o tempo de espera. O africano que se apresenta em primeiro plano, pareceu-me que seria um dos filhos do Chefe Religioso Cherno Rachid, de Aldeia Formosa, e simular não perdendo por isso a oportunidade de tirar a foto.
Foto 4-Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Enquanto aguardam, há batucada e dança nativa para alegrar o povo.
Foto 5- Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Batucada e dança nativa. Pormenor, a diversidade da cor das vestes das bajudas.
Foto 6-Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Em fundo o Parque Teixeira Pinto (Praça dos Combatentes) e o povo colocado ordeiramente.
Quando da passagem dos Homens Grandes de Lisboa e de Bissau, deu-se um alarido e em forma de algaraviada. Nunca tinha presenciado uma manifestação com tanta expressão popular.
Depois, ficando na embrulhada, no meio do povo, aproximei-me da Polícia Metropolitana (foto 7), não fosse o diabo tecê-las, cometendo alguma imprudência naquele mar de gente.
Foto 7 – Guiné> Bissau> Em fundo o Parque Teixeira Pinto> Março de 1970. O povo aguardando a iminente passagem dos Homens Grandes, os civis brancos aparentemente seriam Polícias/Seguranças e o militar, Operador de Fotocine.
Chegados à Praça do Império, estava toda engalanada, já com imenso Povo a aguardar, enchendo-se literalmente com os que vinham no cortejo, sempre com os manifestantes a cantar e a dançar ao som dos batuques (foto 8 a 11). Nas zonas frontais ao Palácio viam-se dísticos de ocasião e faziam-se alegorias com aclamações.
Foto 8 – Guiné> Bissau> Praça do Império (Praça Heróis Nacionais)> Março de 1970. “Mindjeres garandis, firma junti di Palácio,” cantando e batendo as tabuínhas. Esta foto foi tirada com consentimento, “nha mim mist leva metrópole,” veja-se a pose.
Cada etnia agrupava-se e dando um certo colorido e forma carnavalesca, que só as gentes africanas é que têm a arte e o saber do que lhes traz na alma.
Tudo se conjugava para uma grande concentração e manifestação, via-se no Pátio de entrada do Palácio muitos Homens Grandes, demonstrando apoio e confiança.
Foto 9 – Guiné> Bissau> Praça do Império (Praça Heróis Nacionais)> Março de 1970. Chegada do séquito que se aglomerou defronte do Palácio do Governador.
Foto 10 – Guiné> Bissau> Praça do Império (Praça Heróis Nacionais)> Março de 1970. Concentração do Povo defronte do Palácio do Governador. Recordo-me muito bem do africano que me olha defronte, desconfiado. Fiz de conta que não me apercebi simulando tirar outras fotos.
Foto 11 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março de 1970. Vista obtida do lado da Associação Industrial e Comercial. À varanda, a elite de Bissau aguardando a vinda das Entidades Oficiais “Homens Grandes Tugas.”
“O Homem Grande”, General António de Spínola, com a voz bem arrastada como era seu timbre, ainda me ficou na memória excertos do seu discurso, agradecendo a presença do Ministro do Ultramar e focando como era seu apanágio que queria para o Povo da Guiné melhores condições de vida, de bem estar (APSICO) e a paz.
Que o chão da Guiné era dos Guinéus e eram eles que tinham que o defender (auto defesa), os militares só ali estavam para os apoiar enquanto fizessem a comissão e depois iam-se embora para suas terras (foto 12). Foram palavras bem aceites pelo Ministro Silva Cunha e esfuziantes para o povo que se manifestava.
Por sua vez o Ministro do Ultramar Dr. Silva Cunha, fez a explanação dos motivos da sua vinda à Guiné. Vinha trazer mais apoio do Governo de Lisboa ao Governador General António de Spínola, para uma Guiné Melhor e dar mais condições (foto 13).
Em cada discurso, os manifestantes a mostravam exuberantemente o seu apoio, enquanto da varanda do Palácio retribuíam com agradecimentos através da aparelhagem sonora e com acenos.
Seguindo-se o descer ao Pátio de entrada do Palácio, para os cumprimentos aos Homens Grandes dominantes da Sociedade Tradicional, “Religiões e Chefes de Tabancas” (foto 14 e 15).
Foto 12 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março 1970. Na varanda, momento de discurso perante a expectativa dos manifestantes.
Foto 13 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março de 1970. Na varanda, momento de discurso. O militar Fotocine não dava descanso à máquina (está posicionado entre a primeira e a segunda porta).
Foto 14 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março de 1970. Na varanda, fim do discurso, que agrada ao Povo que se manifesta. O Ministro Dr. Silva Cunha correspondeu elevando o chapéu.
Foto 15 – Guiné> Bissau> Átrio da entrada do Palácio do Governador> Março de 1970. As altas individualidades desceram ao Pátio a fim de cumprimentarem os Homens Grandes dominantes da Sociedade Tradicional; “há mesmo manga di ronco.”
Terminada a manifestação, “outro péssoal bai nha gosse gosse,” para a baixa da cidade velha, palco de “Manga di ronco,” pensando eu o que iria nas cabeças daquele povo indígena, sendo sabido que estávamos em guerra com a outra parte oculta.
Parte 2
Irei comentar resumidamente do que tive conhecimento em Bissau (entre Março e Abril de 1970) e outros dados que ao tempo foram decorrendo e contados em primeira mão. Entre os militares havia a suspeição de que algo estava para acontecer, interrogavam-se sobre determinados rumores e só havia palpites.
Era sabido que o General António de Spínola, já tinha convocado vários Comandantes das Unidades do CTIG para uma reunião em Bissau. O boato correra célere, pairava uma ansiedade para se saber da verdade, mas nada transparecia.
Assim, em dia e hora aprazada, deu-se a reunião com os Comandantes de todas as Unidades Militares do CTIG. Em surdina foram passando comentários de boca em boca, a pedir segredo, mas isso existe quando somente uma pessoa sabe de algo.
O COMCHEF General António de Spínola agradeceu a presença de todos e depois de uma breve dissertação de que já havia contactos entre Oficiais Portugueses e de grupos rebeldes, em que estes pretendiam entregar-se desde que não tivessem problemas e fossem integrados na sociedade guineense.
Mais comunicou que a guerra poderia estar prestes a acabar, mandando parar de imediato todas as acções ofensivas, operando-se somente situações meramente de caris defensivos, isto é, nunca disparavam primeiro e só o faziam se fossem atacados.
Foram dadas instruções a todas as Unidades Militares para se prever a possibilidade de grupos da guerrilha se poderem entregar.
No campo operacional estas instruções deram suspeição, perante os Alferes e os Furriéis, em que os seus comandantes, por força das circunstâncias, tiveram que se abrir e dar conta da situação deparada.
No entanto a 20 de Abril de 1970, gorou-se toda a tentativa de paz como consta devido ao assassinato dos três Majores: Pereira da Silva, Passos Ramos e Magalhães Osório, assim como do Alferes Mosca e outros acompanhantes, o trágico acontecimento em Jolmete, junto ao Rio Cacheu na Região de Teixeira Pinto (Canchungo)
Já li em qualquer lado e presenciei em imagens audiovisuais, dito pelos da facção dos intelectuais do lado do In, contrários ao acordo, “talvez por cobiça do poder”, pois tiveram o desplante de armarem uma cilada e matarem barbaramente militares desarmados em funções de paz. Ainda se deram ao descaramento de pavoneio em comentar a façanha, como heróis, da atitude e do propósito tomado. Provavelmente depois aperceberam-se do erro que cometeram e do bem que se perdeu, porque alguns quando em situações de aperto vieram acomodar-se na sombra de Portugal e em termos algarvios digo “pó diebo máquegêtos mã, tágafes, natescondas que játevite”
- E o Ministro Silva Cunha, como se veio a saber, apoiara esta tentativa de paz e até se dispôs a uma oferta monetária para eventuais despesas, mas depois de chegado a Lisboa roera a corda.
Enfim, quando houve uma boa oportunidade para uma Guiné melhor, logo o baralho se desmoronou e todos sofreram mais quatro anos. Provavelmente seria uma Guiné para melhor e sendo necessária a mudança “mas aquela exemplar descolonização.”
No acordo de Argel, pela situação politica/militar após o 25 de Abril, não foi tomado em conta aqueles que combateram a nosso lado e contudo Portugal prometeu apoiar a reintegração na vida civil desses militares.
Por parte do PAIGC, foi dito que como se acabou a guerra, para aqueles que estiveram ao lado do exército português não haviam vinganças. Pouco foi cumprido, porque depois da independência ocorreram por toda a Guiné situações inaceitáveis de julgamentos sumários, de prisões e de condenações à morte (foto 16), não se sabendo quantas mortes aconteceram e consta que provavelmente foram milhares.
Quem esteve na guerra, sabe que por vezes existem excessos e actos condenáveis por verem os seus morrerem, e de ambos os lados, mas em tempo de paz deverá haver tolerância.
Foto 16 – Guiné> Região de Quinara> Empada> 1969. Eu, com Homens Grandes das Tabancas e Milícias, estando à minha esquerda o Chefe da Milícia de Empada, Bakar Cassamá. Depois da Independência alguns foram assassinados de forma violenta e em grupo. Quanto a Bakar consta que foi desumanamente lançado ainda vivo para uma vala comum.
E assim, foram citados alguns acontecimentos do conhecimento geral e desta feita agora ilustrados com a achega de um lote de fotografias.
Com cordiais cumprimentos deste camarada e amigo.
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto
CCaç 2381 ”Os Maiorais"
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6441: (Ex)citações (59): Comentários e respostas (Arménio Estorninho)
Vd. último poste da série de 17 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6373: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (12): Algumas aventuras em Bissau
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 5 de junho de 2010
Guiné 63/74 - P6538: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (13): Três acontecimentos com impacto na Guiné - Março/Abril de 1970
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18 comentários:
Caro Arménio Estorninho
A tua fotoreportagem é de facto interessante. Sem dúvida que se trata de um registo único.
Parabéns!
Abraço
Hélder S.
Caro Arménio Estorninho
Tambem eu perparei o meu equipamento fotográfico, e tive a sorte de tirar uns belos e festivos, diapositivos, animados com banda do povo.
Um abraço
José Corceiro
Agora se fala que os outros foram massacrados. Portugal tinha quase já V séculos no ultramar, e já era tempo suficiente para saber negociar as coisas. Agora se fala das matanças, sabem vós de quantos matais na Guiné em nome de Portugal? Vamos deixar de brincar com coisas sérias. 90% dos soldados portugueses no ultramar eram analfabetos. E foi a burrice da vossa gente, que chegamos à esse ponto. O PAIGC, não matou numa decada aquilo que o branco português matou durante V sêculos. E deviam ter vergonha, quando se fala da colonização, mais como Portugal está na cauda da Europa, mesmo quem foi para a Guiné lutar, sem saber, o porquê das coisas também fala. O pior desastre do mundo, é a escravidão e a colonização. Vós os portugueses lutaram para a vossa independência, e achavam que o preto não devia estar livre, das vossas atrocidades sem vergonha. E porquê não deixaram que os Espanhóis vos colonizem. E porquê que lutaram contra os mouros. É preciso ter tanta lata para falar da guerra colonial. Até já camaradas.
Só comprederemos a n/guerra, quando os principais protagonistas se pronunciarem.
Os principais protagonistas foram os guineenses e depois nos os "tugas" e o PAIGC.
Pena que apareçam poucos Mario´s Correia.
Antº Rosinha
Pois é caros camaradas.
Acabo de ler a obra prima do Mário Ansaly Correia.
Felizmente que todos os que aqui escrevem, não são analfabetos. Pelo contário são homens e mulheres de coragem e inteligência.
Por desconhecimento talvez o Mário Correia, não conhece a História de Portugal nem Mundial. É de puro desconhecimento e duma insensibilidade atrós a comparação entre a morte de combatentes, e a chacina de gente desarmada, honestamente caminhando para o entendimento entre os homens e o tentar resolver esse drama Guerra.
Não me vou limpar nem esconder, porque também eu fiz a guerra.
Vamos defenir coisas e identificá-las:
Fomos muito burros! É verdade. E principalmente por não defendermos aqueles que também criam ser livres e foram chacinados.
Tenho de recorrer à História já que burro sou. Em cinco céculos o que se passou no Golfo da Guiné? Quem fazia prisioneiros e os vendia aos barcos "negreiros" Ingleses, Holandeses, Franceses e Outros?
Para conhecimento estimado Mário Ansaly, veja as estatisticas e verifique: Matou mais naturais guineenses o PAIGC do que o Exército Português.
Escravidão, colonização! Vejamos a história do mundo:
Fizeram os Portugueses em Àfrica e no Brasil o que fizeram outros Povos? Por exemploo espanhol Pizarro às civilizações sul americanas?
Meu amigo o que aconteceu aos Indios Americanos? Não existiram? Ou foi só para figurantes dos filmes de Cowboys?
Sobre Espanha? Os espanhóis não fizeram a Sul, que na altura até era Islamico é verdade. Mas fizeram a Norte, pois nas escolas da Galiza é proibido falar Galego, a lingua obrigatória é o Castelhano.
Pois é! Meu amigo Ansaly, mesmo com o perigo que poderei ter de se apelidado de "terrorista", fale-me do "Pais Basco".
É isso somos burros! Por isso como ignorante explique-me: Porque estamos na cauda da Europa?
Que lhe seja conservada essa dota inteligência.
"O Preto"? Desconheço! Mas sei que muita gente de côr adora e vive neste país Portugal.
Portugês analfabeto mas sabendo assinar:
Mário Fitas
"Estamos num mundo, onde tudo se passa de uma forma tão estranha, porque ninguém até agora conseguiu detalhadamente explicar as nossas origens"... (Blogue de Mário Ansaly Correia, Ocante M'Buco > Poste de 24 de julho de 2009 > O mundo dos perdidos!
http://macgeny.blogspot.com/2009_07_01_archive.html
Mário, com a sua idade, a avaliar pela sua foto e pela pouca informação biográfica que consta do seu perfil no Blogger, seguramente que você não terá sido "camarada" dos soldados portugueses que fizeram a guerra colonial... Poderia acontecer, mas não me parece que seja o caso: em 1974, um em cada cinco militares do "exército colonial" era guineense... Nessa altura, você ainda não tinha nascido ou então seria muito "minino"... Nem sequer sei, de resto, se é guineense, a viver na diáspora...
Guineense ou não, estranho a "violência" da sua linguagem num blogue que pretende "construir pontes" entre a Guiné-Bissau e Portugal... Ou nós temo-nos explicado mal ou você não nos leu, de boa fé.
Nós, pela nossa parte, não temos problemas de identidade. Espero, em contrapartida, que você tenha encontrado, depois de 24 de Julho de 2009, resposta para a a sua pergunta, que é legítima, mas profundamente filosófica e fora das nossas preocupações, que são menos existenciais que as suas... A pergunta (isolada, solitária, única) mantêm-se no seu blogue. Sem resposta. Sem comentários. Sem posteriores desenvolvimentos.
Lembro as palavras de Amílcar Cabral que sempre fez questão de dizer que nunca lutou contra o povo português mas sim contra um regime político e um sistema económica de que ninguém aqui fez a defesa...
Tenho pena que tenha chegado até aqui com duas pedras na mão... E acenando com argumentos de puro primarismo ideológico...
Não quero entrar no seu jogo. Não lhe posso dar as vindas. Mas também não vou eliminar o seu comentário, que vem devidamente assinado... A menos, claro, que no próximo se confirmem eventuais suspeitas de provocação...
Há meses que não exerço o "doloroso e execrável direito" de eliminar comentários que infringem as boas regras de convívio... E, a propósito, elas estão publicadas na coluna do lado esquerdo, do nosso blogue; talvez seja útil relembrá-las aqui:
(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);
(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);
(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);
(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);
(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;
(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;
(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);
(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;
(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;
(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.
O TEXTO DO MÁRIO ANSALY CORREIA MAIS PARECE PROVINDO DE UMA DESTILARIA ONDE O ÁLCOOL FOI SUBSTITUÍDO PELO ÓDIO...
NÃO É ESSA FELIZMENTE A OPINIÃO GENERALIZADA DA POPULAÇÃO GUINEENSE E QUE TEMOS VINDO A CONFIRMAR ATRAVÉS DOS RELATOS DE MUITOS CAMARADAS QUE TÊM FEITO VIAGENS DE RETORNO À TERRA DE QUE APRENDEMOS TODOS A GOSTAR JÁ LÁ VÃO ALGUMAS DÉCADAS, ANTES AINDA DO NASCIMENTO (VÊ-SE QUE NÃO TERÁ SEQUER TRINTA ANOS...)DO MÁRIO ANSALY CORREIA.
A "DOUTA" OPINIÃO CARREGADA DE RACISMO( SÓ ISSO PODERÁ EXPLICÁ-LA...),ALIADA A UMA MENORIDADE INTELECTUAL DE QUEM NUNCA PERCEBEU OS POSICIONAMENTOS DOS POVOS DOS DOIS LADOS E DESCONHECE O PENSAMENTO DE AMÍLCAR CABRAL,FORAM,CREIO,O LEIT-MOTIV PARA ESTE "DISPARAR DE RAJADA CONTRA TUDO O QUE MEXE"...
NÃO LHE FICARIA MAL UMA RETRATAÇÃO PÚBLICA,ANTES PELO CONTRÁRIO,CARO MÁRIO.
Dedicado a Mário Ansaly Correia
Podes e concerteza tens razão em algumas coisas que escreves. O que é verdade, é que o PAIGC"BORROU A PINTURA", não havia necessidade de matar BÁRBARAMENTE os seus patricios. Não se podia condenar quem não colaborou com o PAIGC, tinham as suas familias e era dificil abandoná-las e passar á clandestinidade. Para mais,e sendo para mim o mais importante, onde ficou a vossa PALAVRA DE HONRA, quando da independência, em não haver represálias.
Eles foram enganados, não é verdade? Que o diga os familiares de alguns homens bons de Bissorã, por exemplo o QUEBÁ, o CITAFÁ, etc.,e dezenas deles mortos depois de abrir a cova, sendo os filhos e mulheres abrigados a ver a cena.Estas cenas foram multiplicadas ao longo do território.
Quanto ao racismo, haverá alguma comparação com o que se passou entre o vosso povo da Guiné e Cabo-Verdianos? Dizia-me um Cipaio de nome Pedro (que foi assassinado)
e depois de uma brincadeira minha, em que dizia que ele qualquer dia seria um Administrador do Concelho, respondeu que o lugar dele seria o mais elevado, porque os Cabo-Verdianos ocupavam sempre os lugares de destaque, como Administradores, Chefes da Fazenda, Chefe dos Correios, etc. e que a terra deles não era aquela.
Então nós os "brancos" é que eram os racistas, dá vontade de rir.
Como despedida dizes -até já camaradas- não te considero assim, porque pela idade não o foste, a não ser que queira dizer outra coisa.
Um abraço ao Luis Graça, Mário Fitas e Manuel Maia, 100% de acordo com as considerações.
Rogerio
os comandos africanos foram os piores traidores que alguma vez a guiné os viu nascer.
esses senhores que estão vestidos de brancos são todos eles muçulmanos(traidores) é mesma coisa que al-quaeda.
nelson...««queluz lisboa
Quando li o último comentário aqui deixado, e somado ao outro, vim aqui para deixar também uma resposta à minha maneira.
Depois, antes de escrever pensei, e percebi que há coisas que apenas merecem a nossa total e absoluta indiferença!
Caro Camaradas,foi com grande tristeza que li comentário do "Miúdo" Mário Ansaly Correia,que nem divia merecer comentários digno de registo. Sou natural da Guiné,já com 61 anos de idade, servi Exercito Português em 1971,como Português, para que ele poder estar cá em Portugal,hoje com hipotetica formação que disse ter no seu perfil. Pois bem,disse chamar se Mário,porque não Demitrio
Mariolov!? Ou apenas Embana,ou ainda Ocante Ansaly,pura ilusão e falta de conhecimento da História da sua propria Terra Natal, se é que não chegou a Portugal,"Miúdo" sem saber nem preocupe ler a Histórias de Seculo XX quanto ao Seculo V o que era a História da Guiné,o que eu recomendaria.
Quanto as Matanças por Militares Portugueses citado por Mário,foi lhe respondido por Luis Graça e outros,ficou bem claro,o nosso Menino Arquitecto,se tinha nascido
não sabia e ainda nem sabe dizer o que deve dizer, mas atenção todos que cumpriram Serviram Militar Brancos e Pretos, em Angola, Moçambique e Guiné,foram obrigados para tal,em cuprimeto de diver a Pária,todos hoje com 59 a 70 anos,devem merecer todos jovens da tua idade, independentemente da cor. Sou preto ou seja Natural da Guiné,respeitado pelo filhos de meus Camaradas Brancos,não porque sou Preto, mas sim pela Cultura e boa Educação, Médicos, Engenheiros, Advogados e Arquitectos. (HABRI UJO, BU LEI MÁS.)para aprender a História.
Boa sorte se assim desejar.
DJAURA
Camaradas
Depois de ler o comentário do "Djubi" Mário Correia, fiquei a pensar se ele não seria um dos djubis que em fila com uma lata na mão esperavam à porta de armas dos quarteis e destacamentos espalhados pela Guiné as sobras das refeições para reforçar a alimentação familiar. Se não era teve muita sorte !!!
Também não percebo porque trabalha numa empresa de construções, num país tão hostil como Portugal.
Porque não vai pôr os seus conhecimentos de arquitectura ao serviço do seu País, desenhando por exemplo bairros sociais em Bissau.
Ah! Já sei é que aqui recebe o patacão ao fim do mês e lá não saberia como o receber e teria de andar a comer mancarra para enganar a fome. Aqui é o senhor arquitecto e tem dinheiro para viver bem com a família ao contrario dos seus compatriotas que ficaram no seu "chão ".
Pois fique sabendo que nos almoços da minha companhia comparencem os djubis que andavam pelo quartel e hoje (felizmente) têm uma boa vida aqui em Portugal. Se fossem mal tratados de certeza que não iriam aos almoços.
Abraço Camarigo para toda a Tabanca Grande
Luís Borrega
Embora mereça a minha indiferença o comentário de Mário Ansaly Correia, darei uma resposta e adequada à circunstância.
Pegando no comentário do meu Camarada António Rosinha, os protagonistas foram os Guineenses e depois nós os Tugas, e o PAIGC.
Assim, da forma como v. também escreveu em outros comentários, presume que é Guineense (?) e no entanto o seu apelido Correia é muito comum nos Cabo-verdianos.
Penso eu que v. perdeu uma boa oportunidade para estar calado, pois se for natural daquele País amigo (Guiné) e comentar de forma leviana e grosseira, concordando ou não de como eu nutre simpatia e entenda-se com o bom povo da Guiné-Bissau.
Se o que escreveu são coisas que lhe vão na alma, sem ter sentido na pele e no coração, e considerando a sua idade ainda distante dos meus cabelos brancos. Eu que fiz a guerra na defensiva, tenho muita simpatia por aquele povo e como sou Técnico de Saúde Ambiental, já me aprestei para uma comissão cívica de períodos de três meses e para o Sector de Buba (Empada, Mampatá, Aldeia Formosa e Saltinho). Versus, você está na Diáspora para se acoitar e melhorar o seu nível de vida, porque não vai lá também dar uma ajudinha e depois naturalmente compreender o que é ter laivos de atitudes xenófobas e racistas,
Como não sendo concludente o seu potencial de escrita, relativamente ao comentário nada ortodoxo, tome a liberdade e digo-lhe que:
-Exagerou quanto aos Soldados Portugueses analfabetos de 90%, o que logicamente estou incluído, pois acredito que foi um grande lapso da sua parte e não é tarde para redimir-se procurando uma Biblioteca Portuguesa e esclarecer-se de qual a percentagem dos que à época não tinham a Instrução Primária (analfabeto é de percentagem inferior).
-Se é Guineense (o que continuo em dúvida até prova em contrário), devia saber e muito bem, que não é de bom trato chamar os seus Patrícios por “pretos,” porque na Guiné é um termo depreciativo, mas é aceitável chamar de pessoal africano e/ou negro.
-Então quando escreveu, tinha bebido só café e/ou foi também vinho de palma já marado, então em que ficamos se o PAIGC não matou numa década (10 anos) aquilo que o branco matou em V Séculos (500 anos), que linda comparação é como a do cu com a Feira de Castre e assim prova que não somos tão maus (se v. fosse mouro algarvio chamava-lhe de tagafe),falta de visão mas tenho pejo dessa baixeza.
- Se quiser dar-se ao trabalho poderá contabilizar quantos Guineenses, que depois da Independência foram fuzilados e estropiados à catanada, são muitos mais que na década de guerra e de ambos os lados. Vimos logo de que lado está no bem-estar Guinéu.
-Quanto a mouros, posso-lhe dizer que sou algarvio e descendente desse povo, dando como prova a tez escura dos meus familiares paternos e o meu apelido “Estorninho” ave de penas negras e sou adepto das Regiões Autónomas. O mesmo que desejava e deveria ter sido feito para uma Guiné melhor e seria o encanto de todos nossos olhos.
Também entendi que em outros comentários, está com uma orientação protectora ideológica ao PAIGC e por isso considera-se na linha dos intelectuais, e, os melhores ficaram no seu País (?). Então não está bem neste País. i.e. do crioulo, “nha bó cá mist morança di tabanca manga di gira, enton nha bó tem cabeça suma nha burri di Bafatá.”
Um praça Português considerado analfabeto, que antes de ir para o Serviço Militar já tinha como habilitações literárias o 2º Ciclo, da Escola Industrial e Comercial de Silves.
Com um amigo destes não são necessários inimigos.
Arménio Estorninho
Ex-1º Cabo Mec. Auto, C.Caç.2381 “Os Maiorais de Empada”
Mais uma vez estou aqui, para dizer aos senhores, aquilo que penso acerca da colonização, das guerras por esse mundo fora. Porque neste mundo, ninguém quer ouvir a verdade, mesmo sendo nua e crua. Uma coisa é ser tropa e fazer amizades, por locais onde passamos, à outra, era o próprio sistema colonial. Pergunto: porquê que se deu o 25 de Abril em Portugal? É porque o sistema estava bem, ou mal? Estou em Portugal, como estão muitos portugueses por este mundo fora, meus senhores.
Vai daí?...
Caro amigo
Aqui não se faz apologia à guerra do Ultramar. Estamos todos, estes velhos que por lá andaram, fartos da guerra que estragou as nossas vidas.
Aqui é um local para contar histórias e não de saudosistas da guerra.
Veja o exemplo da Guiné-Bissau onde os portugueses, mesmo os ex-combatentes, entram livremente e são recebidos como irmãos, até pelos ex-combatentes do PAIGC.
Descanse amigo que não fazemos mal a ninguém. Se não é português e está a trabalhar, desejo-lhe a melhor sorte porque tem aquilo que muitos de nós não têm, trabalho.
Carlos Vinhal
Boa noite meus senhores. Se realmente queremos falar da tabanca, tabanca somos nós. Se houver alguém, que me queira desafiar, em termos do bem, e do mal, estou eu, e pronto, e na linha da frente. No final, a vossa tabanca,é de se vanglorisarem-se, de que foram bons combatentes no ultramar, ou de se, admitirem que foi um erro, do sistema colonial, de que todos nós, combateram. Se um dia alguém venha a querer o meu contacto, para o debate público, estou à dispôr dos meus senhores. Que estejam à vontade, é não devo favores à nimguém, e nunca andei a pedir sopas no quartel. Até, achava, que era a Santa Casa que dava sopas na Guiné, e sem armas ao punho. Abrem os olhos meus senhores.
Há comentários que não merecem comentários.
Fazer comentários sobre algo que quem não sabe escreve, melhor é parar.
Já que tem um blogue, escreva nele, pois esse nunca o irei lei!
José Martins
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