quinta-feira, 3 de junho de 2010

Guiné 63/74 – P6528: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (37): Um básico super operacional (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 36ª mensagem, em 25 de Março de 2010:

Camaradas,

Hoje vou-vos dar conhecimento sobre quem foi Manuel Raposo Marques - Soldado Básico -, Nº Mecº 18757368, da CART 2519.
Um Homem que apesar de ter sido classificado como “básico”, foi uma das nossas maiores e melhores referências em combate, tornando-se num exemplo de abnegação e de heroísmo, dignificando sobremodo o soldado Português.

UM BÁSICO SUPER OPERACIONAL
Para quem não sabe ou não se lembra já, básicos eram todos os soldados que não conseguiam qualificação ou aptidão, para serem enquadrados em qualquer outra das muitas especialidades existentes no Exército.
Eram assim, a modos que uma espécie de proscritos, de mão-de-obra não especializada, que a tropa não dispensava e empregava no cumprimento de todo o tipo de tarefas indiferenciadas (tarefeiros, faxinas, auxiliares de pequenos serviços, etc.), normalmente apenas dentro das áreas delimitadas dos aquartelamentos.

Eles, tal como todos os outros especializados, iam, igualmente, “malhar” com os “ossinhos”em África.
Nessa altura o que estava em causa era a quantidade de homens a enviar para a guerra e não a desejada e necessária qualidade, porque, no fundo, éramos massa destinada a “carne para canhão”.

Básico era então o carimbo, com que eram marcados os incapazes e inábeis, e esta designação fez escola, tendo-se o termo generalizado a todos os sectores da sociedade portuguesa.

O “nabo” foi substituído pelo “básico”!

O Manuel Raposo Marques, conhecido na CART 2519 pelo Básico, tal como qualquer outro homem, tinha uma deficiência psíquica (vulgo “pancada”), daí ele ter reprovado, intencionalmente, na especialidade de cozinheiro.
Foto da cozinha do quartel em Mampatá

Dizia ele que não tinha nascido para andar de avental, de tamancos e de gorro na cabeça, e o que ele queria ser mesmo era atirador.

“Que grande maluco!” – pensei eu.

Acabou por ser reclassificado em básico, após ter sido considerado pronto na instrução e apto para desempenhar qualquer função de segundo plano, compatibilizou-se as suas capacidades humanas com as necessidades da Companhia.

Assim, o Manuel Raposo Marques, chegado à CART 2519, pediu ao Alf Mil Claudino - comandante do 4º Grupo de Combate -, para o integrar na sua equipa. O alferes falou ao capitão e este consentiu, numa fase experimental, que assim fosse. Mais tarde, em função do seu excelente comportamento activo e combativo no grupo, decidiu elevar este básico, por mérito próprio, à categoria de atirador.

Nos primeiros tempos, os seus Camaradas olhavam-no com desconfiança, porque receavam que o 4º Grupo de Combate viesse a ser apelidado, na generalidade, de básico, mas tal não aconteceu e o Marques veio a revelar-se como um dos melhores soldados da Companhia, com predicados de combatente acima da média e tiques de herói, tendo incrivelmente para quem não o conhece, sido agraciado com o prémio "Governador da Guiné".

Pois é, o nosso básico, ao ser confrontado com a “roleta da morte”, foi suficientemente corajoso e audaz para, após ter abatido dois guerrilheiros IN, conseguindo salvar a vida do seu comandante de secção, que se encontrava em situação difícil e ferido numa perna, numa acção em que o seu grupo de combate interceptou um grupo do PAIGC.
O Básico passou a ser uma referência da CART 2519 e respeitado por todos os seus Camaradas e Superiores Hierárquicos.

Nota: Estes dados foram retirados da História da Unidade e do livro “Há Sangue na Picada”, de Jacinto Manuel Barrelas - Cap da CART 2519.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

28 de Março de 2010 >
Guiné 63/74 – P6059: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (36): Reunião magna no Palácio do Governador (Mário G R Pinto)

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