quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9119: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (11): Sexo - a quanto obrigas

1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 28 de Novembro de 2011:

Caros Camaradas
Esta é mais uma história que não gostaria de contar. Para quê falarmos das
misérias e mal-estares que passámos na guerra da Guiné? Porém, seguindo o
princípio do Blogue LG, que nos incentiva a sermos nós a contar as nossas
histórias e, por outro lado, sentindo a necessidade de que tudo deve ficar
registado, junto este testemunho denominado "Sexo - a quanto obrigas".

Um abraço do
Silva da Cart 1689


Outras memórias da minha guerra (11)

Sexo - a quanto obrigas!

O furriel Silveirinha nunca se envolvia em conquistas pontuais com as mulheres nem, tão pouco, era visto a aproveitar algum contacto com as bajudas ou com a sua lavadeira. Portava-se tão bem que elas se deixavam “apanhar” a banhar-se, com ele a olhar. Normalmente dizia que as respeitava porque, quando as via, imaginava a namorada, as irmãs e a sua própria mãe. Por outro lado, sentia muita relutância por causa da falta de higiene. Até porque eram abundantes as notícias de doenças contraídas nesses contactos.

À medida que o tempo ia passando, maior era a sua luta pela abstinência sexual. Ele lia muito, banhava-se mais, rezava bastante e procurava distrair-se permanentemente. Seguramente, tinha um comportamento mais comedido que o de alguns religiosos missionários.
Porém, em conversa com os seus militares mais directos, por vezes, confessava as suas carências e a sua crescente necessidade sexual.

Estávamos em Outubro de 1968. Fomos fazer a coluna de reabastecimento a Nova Lamego, capital do Gabu. Gozava-se de um bom período de paz naquela zona, que era visível no ambiente relativamente alegre que ali se vivia. A povoação, de ruas largas em terra batida e algumas casas de madeira com primeiro andar e varandas, até parecia uma “city” do Texas, nos tempos da corrida ao ouro.

O Soldado Montalegre, também conhecido por Montacabras, depois que um seu vizinho de Boticas o descobriu numa das nossas passagens por Bambadinca, era o terror do sexo oposto. Pelo menos, fama de “montar” não lhe faltava quer na nossa Companhia quer, pelos vistos, naquela região transmontana. Ele tinha ido a Bissau arrancar dois dentes do siso e estava ali há alguns dias, à nossa espera, para regressar a Canquelifá. Como se dava muito bem com o Silveirinha, veio dizer-lhe que estava cansado de tanto foder e que tivera a sorte de apanhar a melhor miúda de Nova Lamego. Acrescentou que, como costumava ir dormir com ela, podia dar-lhe a vez.

À noite foram a um pequeno Bar indígena. O Silveirinha viu aquela miúda linda a sorrir-lhe, não acreditava no que estava a acontecer.

O Montacabras despediu-se e o Silveirinha seguiu logo atrás da miúda. Efectivamente, tratava-se de um “borrachinho” de “mama firme”, bastante jovem, de carnes duras, pele cor negro/bronzeado, com feições arredondadas. Não teria mais que 14 anos. Tinha caído ali, em Nova Lamego, há pouco tempo e, com tanta tropa carente de sexo, ela não tinha tempo para descansar.

A miúda acendeu uma vela, que colou no chão, tirou o vestido amarelado, fino e curto, que era a única peça de roupa que vestia. E ficou nua à frente do Silveirinha. Este, sentado na cama, atrapalhado, não conseguia despir as calças porque se esquecera de descalçar as botas. Quando ele se lançou ao ataque, já a miúda tinha apagado a vela e se estendera na cama.

Depois da "primeira", a moça, que não falava crioulo e que falava uma língua que o Silveirinha não entendia, por gestos, pediu para descansar, porque era evidente o cansaço resultante do desgaste no “emprego” recente. Ela virou-se e ele não esperou muito tempo para ela recuperar.

Faminto como andava, não aguentou a demora e toca a forçar a jovem, para "dar outra". Ela, cansada e com o sono pesado, fazia um esforço enorme para corresponder à volúpia do Silveirinha. Ele descarregou os tomates, mas a miúda já dormia. Entrou em sono profundo.
O Silveirinha ainda voltou ao ataque, mas a jovem nem se mexia. Inclinou-se para a berma da cama e adormeceu também.

Quando acordou, já se sentia uma nesga de claridade. Voltou-se de barriga para cima e começou a reagir à medida que ia despertando. E, quando se apercebeu de que estava com a miúda, excitou-se rapidamente. Voltou-se para ela, que estava de bruços, e deu início a nova investida. Como ela não reagia, puxou-a pelas pernas mais para baixo. Porém, não conseguiu acordá-la. Tentou a penetração e lá concluiu da forma que pôde esta última relação.

Relaxou um pouco e pareceu-lhe estar a despertar de um sonho estranho. Caiu na real. Olhou a parede/divisória marcada de escarros e cuspidelas, levantou-se de repelão e sentiu os joelhos “enlameados” naquele lençol imundo. Pôs-se a pensar que essa “lama” era de outros e que ali nem se podia limpar sequer.

Ficou apavorado. Veio-lhe tudo à cabeça, recuperando assim, todas as suas preocupações e o seu comportamento exemplar.

Largou apressadamente a caminho do Quartel e não descansou enquanto não foi directamente ao chuveiro lavar-se de uma noite que nunca esqueceria.

A partir dali, sempre que se falava em relações sexuais, o Silveirinha não demorava cinco minutos para passar com toalha e sabonete na direcção do chuveiro.

Silva da Cart 1689

Fur Mil Silva e o seu vizinho, Alf Mil Armando Alves

Chegada da coluna de reabastecimento a Nova Lamego, a caminho de Canquelifá.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9087: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (25): O Zé Maria ou as cambanças da nossa geração

Vd- último poste da série de 18 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9056: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (10): O grande choque (2)

6 comentários:

Unknown disse...

Caro Zé,
Para além da história, castiça como todas as que nos dás a conhecer e ainda bem, tenho de realçar o teu estilo sui-generis no vestir, realçado ainda mais na foto em que te encontras (encontravas) com o Alferes.
Por acaso há dias andei a rever velhas fotos e lá fui encontrar uma tua, no dia em que regressaste de férias, em Junho (ou terá sido Julho) de 68. Embora no velho bar de Catió, com alguma calorenta etilicocidade distribuída pelos presentes, estás um mimo de elegância, mas nada comparada com a que apresentas na fotinha lá de cima.
Um abraço

José Marcelino Martins disse...

Caro Zé

O Armando Alves que está contigo na primeira foto, não pertenceu à CCAÇ 5?

José Marcelino Martins disse...

Caro Zé

O Armando Alves que está contigo na primeira foto, não pertenceu à CCAÇ 5?

Silva da Cart 1689 disse...

Amigo Jorge
Este aspecto é o reflexo de uma velhice antecipada. Por favor, não mostres as outras porque, a avaliar pelas celebrações do regresso a Catió, devo estar "irreconhecível".
Amigo Marcelino
Encontrei lá o Armando (Out.68) mas não me lembro de mais nada. Como foi viver para o Porto e eu para Crestuma, só o vi duas ou três vezes mais.
Abraço para amboos

Anónimo disse...

14 anos?

Jose Macedo, DFE 21
Guine 73-74

Silva da Cart 1689 disse...

Caro Macedo
Vamos acreditar que sim. Para quê, pensar no pior?
Um abraço