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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18335: Vídeos da guerra (14): visionamento e resumo analítico do vídeo da ORTF / INA, "Guerre en Guinée" (1969, 13´ 50''): tradução e adaptação de Luís Graça e Virgínio Briote


Vídeo: "Guerre en Guinée" (1969) (13' 50'')... Cortesia de INA - Institut National de l' Audividuel

[Em 2007, o vídeo não estava disponível para ser visto, diretamente, no nosso blogue, apesar do Virgínio Briote ter comprado uma cópia para seu uso pessoal;  a política do INA mudou entretanto; este vídeo foi obtido diretamente do seu portal,  utilizando livremente um código de exportação... Vive la France!... 

Mas este trabalho da ORTF foi "pago" pelos contribuintes portugueses: o Spínola ofereceu aos jornalistas franceses "cama, mesa e roupa lavada"... É o preço da propaganda de Estado... Só que a "ostra" saiu-nos mesmo "amarga", a todos nós... 

A vergonha, para nós,  portugueses, ou pelo menos para mim, português, ex-combatnte, é que os fotocines do exército e os repórteres da RTP nunca conseguiram oferecer-nos nada de jeito, que não fossem meros documentários de propaganda...] (LG)

Guerre en Guinée | Point contrepoint  | Video 11 Nov. 1969  | 88892 Vues  | 13 min 50 sec


Ficha técnica: Émission: Point contrepoint |  Production: Producteur ou co-producteur > Office national de radiodiffusion télévision française | Générique: Réalisateur > Jean Baronnet

Journaliste > Jean François Chauvel | Opérateur de prise de son > Roger Mathurin
| Opérateur de prise de vue > Jean Louis Normand | Participant > Antonio Spinola

Le point sur la situation en Guinée Bissau, découverte en 1446 par Nuno TRISTAO. Elle est peuplée de 600 000 habitants lorsqu'éclate en 1959 une grève des dockers sous la direction d'Amilcar CABRAL et de son parti marxiste, le "parti africain de l'indépendance de la Guinée et du Cap Vert". En 1963, il déclenche la lutte armée selon les préceptes révolutionnaires de CHE GUEVARA. Aujourd'hui 25000 soldats portugais luttent contre les guérilleros du PAIGC sur tout le territoire, mais ne contrôlent qu'un 1/3 du territoire et 2/3 de la population. Une troupe de soldats part en mission dans la brousse et est prise en embuscade. Un soldat blessé est secouru par ses camarades, un autre est tué, pendant que les renforts sont appelés. Les soldats africains de la troupe portugaise se tiennent à l'écart. Les hélicoptères arrivent et emportent les blessés. Le général Antonio DE SPINOLA, gouverneur de Guinée, affirme que la population de Guinée souhaite dans sa majorité le maintien de la présence portugaise. Il réfute les accusations de violences à l'encontre des populations locales et place le conflit dans le contexte de la Guerre froide.

  

Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAV 2487 / BCAV 2862 (Bula, 1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido no decurso da Op Ostra Amarga (também ironicamente conhecida como Op Paris Match)...

As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo cap cav José Sentieiro, hoje cor cav ref e cruz de guerra de 1ª classe (, a viver em Torres Novas,) caem num emboscada do PAIGC, às 7h15 da manhã... O combate é registado por uma equipa da televisão francesa, a ORTF...

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote (**)


1. O filme-documentário da portuguesa Diana Andringa e do guineense Flora Gomes, As Duas Faces da Guerra (2017) , utilizou cenas de uma reportagem feita em 18 de outubro de 1969 por uma equipa da televisão francesa, a ORTF, acompanhada de um ou dois repórteres do então muito em voga semanário Paris-Macth.

Segundo a investigação posterior feita pelo nosso coeditor  (hoje jubilado...) Virgínio Briote, junto de Diana Andringa e de outras fontes (antigos camaradas, coronel cav ref José Sentieiro, cor cav ref e escritor Carlos Matos Gomes, Arquivo Histórico Militar, etc.), descobrimos na altura que estas cenas referim-se à Op Ostra Amarga, na região de Bula, em que as NT caíram debaixo de uma emboscada do PAIGC, sofrendo dois mortos e um ferido…


Estas cenas de combate são mostradas no vídeo, que está disponível no sítio do INA – Institut National de l’Audiovisuel [Instituto Nacional Francês do Audiovisual] .

No filme-documentário, As Duas Faces da Guerra, que se estreou, entre nós, no dia 19 de outubro de 2007, no decurso do 5º Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa, DocLisboa2007, (*), dois antigos combatentes portugueses que participaram nessa operação (um deles o que fora ferido), comentam, emocionados,  esse episódio de guerra, que ficou também conhecido, ironicamente, por Operação Paris Match, já que nela iam integrados vários jornalistas franceses, incluindo uma mulher, Geneviève Chauvel,  a expresso convite do  gen Spínola.



É de referir que o general Spínola aparece, em carne e osso, no local, depois da emboscada, acompanhado do então capitão (ou já major?) Almeida Bruno a trocar impressões com o ten cor Alves Morgado,  comandante do BCAV 2862 (Bula, 1969/70) envolvido na Op Ostra Amarga.

Será depois entrevistado no final da reportagem, no palácio do Governador,  fazendo-se perante os jornalistas estrangeiros o arauto da política do Governo Português, no que diz respeito à defesa das “províncias ultramarinas”. Fala em francês, mas com erros e pouca desenvoltura. Uma parte das suas declarações são lidas.

Em suma, tudo indica que os jornalistas estrangeiros, oriundos de um país amigo, da NATO, a França, iriam fazer um mero passeio pelo mato e testemunhar, com os seus próprios olhos, que a situação militar, no interior da Guiné, estava sob o nosso inteiro controlo, contrariamente à propaganda externa do PAIGC (que também irá usar, sobretudo nos anos 70, a arma da sedução e da propaganda, convidando jornalistas estrangeiros e diplomatas, de países amigos, a visitar as regiões libertadas).

No que respeita à Op Ostra Amarga (que raio de nome, que premonição!), as coisas, de facto, não correram, como se previa, e os próprios jornalistas caíram debaixo de fogo, juntamente com os dois Grupos de Combate onde iam integrados… O pior é que tivemos dois mortos e um ferido, sendo a agonia de um dos nossos camaradas, o António da Silva Capela, registada em filme… Cenas atrozes, senão mesmo voyeuristas...

2. O Virgínio Briote tinha, tempos antes, comprado, ao INA francês (, o Instituto Nacional do Audiovisual), os direitos de “téléchargement” (download), para uso estritamente pessoal, de nove vídeos sobre a Guiné, embora não tendo na altura conseguido autorização para os passar directamente no nosso blogue, como era sua e nossa intenção (**).

Decidimos então, na época (****); fazer um resumo alargado do filme (que é falado em francês), de modo a possibilitar o seu visionamento e a sua melhor compreensão pelos nossos camaradas (muitos dos quais não dominavam a língua gaulesa)… Não o podendo inserir directamente no blogue (por causa do copyright) , fizemos uma ligação (ou link) para o sítio do INA (***).

Passados estes anos, o vídeo está disponível para ser descarregado livremente. E ainda bem, a França e a língua francesa bem precisam de marcar pontos no mercado global. Decidimos voltar a rever e a publicar a sinopse do filme, em francês, seguida de um resumo analítico, mais alargado, feito por nós. As imagens que aqui reproduzimos são fotogramas do filme, retiradas pelo Virgínio Briote da sua cópia pessoal.


3. Vídeo Guerre en Guinée

(Resumo analítico e descrição das cenas em português. trabalho dos editores Luís Graça e Virgínio Briote)

Point contrepoint
ORTF - 11/11/1969
Vídeo: 13' 50''

Guinée Portugaise / VA de la région / VA d'un bateau à quai / VA de la berge / grues / transportement des caisses / marin armé / deux noirs sur une petite embarcation / la rue / travelling latéral le long d'un grand immeuble à loggias / zoom arrière sur un bac / soldats armés / camions militaires / hélicoptère survolant une région à la frontière du Sénégal / soldats armés qui en descendent / ils partent dans un canot pneumatique et s'éloignent /


VA à bord de l'hélicoptère sur les berges de la rivière / BA de la forêt / soldats patrouillant dans la forêt / PA de soldats blancs et noirs qui patrouillent / colonne dans forêt lors de l'embuscade / soldats pris sous le feu / tir au lance grenades / images très assemblées / soldat touché / blessé à terre / cadavre sur le sol / GP sur le soldat blessé / GP de cadavres sur le sol / GP de soldats l'air écoeuré / après l'attaque / soldat aux visages tuméfiés / blessé allongé à qui on fait une transfusion / on essaie de la transporter / il a une jambe coupée / départ du blessé / râle du blessé / GP mort.

Quelques soldats autour du blessé / un soldat assis / GP d'un jeune soldat / un autre fume / GP d'un soldat qui traspire / soldat qui est mort / soldat autour d'un mort / hélicoptère dans le ciel / 2 soldats soutiennent un blessé / hélicoptère qui atterit en contre plongée / attérissage / on retire la civière / une infirmière descend / un monte un blessé sur une civière à l'intérieur de l'hélicoptère / un homme blessé à bras d'homme est hissé à bord / départ de l'hélicoptère / deux têtes de palmiers se détachent dans le ciel / soldat qui boit à la gourde / mise au point de l'officier, de ses hommes /.


Général A. Spinola commandant en chef de l'armée (portant monocle) / "défendre les institutions contre l'avenir du Sénégal et en Guinée" (retire ses monocles) / préoccupation constante des forces militaires / de ménager les populations... le pays profite surtout de l'appui des pays du Pacte de Varsovie.


4. Resumo analítico >  Tradução e adaptação de Luís Graça e Virgínio Briote:

Guerra na Guiné


Programa: Ponto Contraponto
Estação de TV: Organismo da Radiotelevisão Francesa [ORTF]
Data: 11 de Novembro de 1969
Duração do filme: 13m 57s



0' 00'' > Guiné Portuguesa em 1969 [apresentação: geografia, história, demografia… Território do tamanho da Bélgica… Meio milhão de habitantes, apenas 3 mil de origem portuguesa…].
Vista aérea da região /
Vista aérea dum barco no cais de Bissau /
Vista aérea da margem /
Gruas /
Estivadores [Referência à greve dos marinheiros e estivadores do cais do Pindjiguiti em 1959, cuja repressão vai desencadear o início da luta contra o domínio português, segundo os testemunhos posteriores dos fundadores e dirigentes do PAIGC… 
Referência ao papel histórico de Amílcar Cabral, um homem de origem mestiça (sic), fundador do PAIGC, um partido marxista (sic)] /
Marinheiro armado /
Dois negros numa piroga /
A rua /

1' 00'' > Travelling lateral ao longo de zona comercial de Bissau, de casas de arquitectura colonial
[Vinte cinco mil soldados portugueses controlam um terço do território e dois terços da população; o PAIGC controla outro terço do território; o resto está sob duplo controlo]

Zoom de uma barcaça [Bissau é um ilha… A 30 km, é o preciso tomar uma barcaça para penetrar no interior… Referência à travessia do Rio Mansoa, em João Landim, segundo se depreende] /
Soldados armados /

2' 00'' > Camiões da tropa da caminho da barcaça / 
jangada em João Landim


Helicóptero que sobrevoa uma região de fronteira com o Senegal
[Fuzileiros vão a uma base do PAIGC onde não encontram ninguém… Referência ao constante patrulhamento de rios e braços de mar… Um zebra dos fuzileiros… Uma Lancha de fiscalização da Marinha de Guerra, P361…].
Uma equipa de fuzileiros parte num barco pneumático e afasta-se /
Vista aérea do helicóptero sobre as margens do rio /
Vista aérea da floresta.


3' 35'' > Soldados armados que descem do heli...
(Aqui começa a Op Ostra Amarga, envolvendo soldados de uma companhia de cavalaria, a CCAV 2487 - e não de comandos, como nos pareceu inicialmente… 

A força é comandada pelo então cap cav  José Sentieiro… A operação decorre na região de Bula. setor da responsabilidade do BCAV 2862, comandado pelo ten cor Morgado).


4' 30'' > Soldados deslocam-se na floresta /
Soldados, brancos e alguns negros /
(Ouvem-se os ruídos típicos da floresta… Já de dia, às 7 horas e um quarto, a testa da coluna na mata sofre um emboscada. É atingida por rockets…) /
Soldados debaixo de fogo/ 
Ouve-se o matraquear de armas automáticas.



Contra-resposta  dos dois Gr Comb emboscados/
Tiro de lança-granadas das tropas portugueses [que estão equipadas com LGFog 3.7, que eram originalmente só usadas pelas tropas especiais, paraquedistas, comandos e fuzileiros...] /
5' 00' > Tiro de morteiro 60 /
Correria até à frente da coluna.


Soldado atingido /
Ferido no chão /
Corpos no chão /
(Há um morto imediato, 
o Henrique Costa, de Ferrel, Peniche, retalhado pela roquetada, enquanto o António Capela, de Ponta de Lima, sobreviverá apenas 45 minutos, morrendo na altura em que chega o heli para a evacuação) /
Grande Plano do soldado ferido /
Grande plano de cadáver no solo /
Grande plano de um soldado com ar abatido.


5' 30'' > Depois do ataque… Soldados de rosto entumecido /
Ferido estendido no chão recebendo soro do maqueiro, de pé (segundo a Diana Andringa, deve ser o Pedro Gomes, o 1º cabo auxiliar de enfermagem, natural de Peniche, e  falecido em 2007) /
Tentam transportá-lo /
Tem uma perna partida /
Partida do ferido /
Estertor do ferido /
Grande plano do morto.
Alguns soldados à volta do ferido /
Um soldado sentado /
Grande plano de um jovem soldado /
Um outro que fuma /
Grande plano de um soldado que transpira /
Soldado que morreu /

8' 47'' > Imagens breves das lavadeiras do rio Lima estendendo a roupa ao sol (, Ponte de Lima era a terra do Capela)
Soldado à volta do morto /
Um crucifixo caído no capim, perto do morto.
Helicóptero que surge no céu /
Dois soldados apoiam um ferido a caminho 
do helicóptero /
Helicóptero que aterra, em contre plongée /
Aterragem /
Retiram a maca /

9' 50'' > Uma enfermeira-paraquedista, de blusa branca e calças de camuflado, que sai. [Era a "nossa" Rosa Serra. membro da Tabanca Grande]


Transporte dum ferido em maca para o interior do helicóptero /
Um homem ferido é levado para bordo, em braços/
Partida do helicóptero /
As copas de duas palmeiras destacam-se no céu /
Soldado que bebe água do cantil /
Enfoque da câmara no oficial (capitão de cavalaria José Sentieiro), rodeado dos seus homens (os 2 Gr Comb da CCAV 2487).

11' 30'' > Chega o Spínola (, com o seu ajudante de campo, o então capitão Almeida Bruno, hoje general, que empunha a G-3, com luvas brancas)... 
Está também acompanhado de um oficial superior, tenente coronel Morgado, comandante do Batalhão de Cavalaria 2868, com sede em Bula


11' 53'' > Por fim, o general Spínola (comandante-chefe das forças portugesas, usa monóculo, diz o guião) dá uma entrevista à equipa da ORTF e possivelmente aos restantes jornalistas (que nunca aparecem no filme), defendendo a política ultramarina do Governo Português... e a sua actuação na Guiné... 

Dá impressão que também está a ler um papel. Às tantas tira o monóculo (o "caco") e segura-o na mão. Aparenta estar em boa forma física. Está com 59 anos feitos em 11 de abril.

No essencial, diz o Com-Chefe português: A preocupação constante das forças militares é de proteger e apoiar as populações, contrariamente ao que diz a propaganda do PAIGC, o qual beneficia sobretudo do apoio dos países do Pacto de Varsóvia e da China… (Discurso de circunstância ou de contrapropaganda…). (****)
__________

Notas do editor:

(*) Vd. post de 20 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2197: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (4): Encontro tertuliano no hall da Culturgest na estreia do filme (Luís Graça)

(**) Vd. post de 16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

(***) Vd. poste de 8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

 (****) Último poste da série > 8 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16577: Vídeos da guerra (13): Documentário "Cartas da Guerra - Making of" (, produção O Som e a Fúria, 2016) passou na RTP2, dia 14 de setembro de 2016, e pode ser visto "on line"

sábado, 8 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6341: Antropologia (18): Elogio ao nosso blogue em comunicação sobre Régulos, almamis e mouros durante a guerra colonial, do Prof Eduardo Costa Dias

 Cortesia do amigo e colega Eduardo Costa Dias, grande especialista da cultura e da história da Guiné-Bissau, professor de Estudos Africanos, Departamento de Sociologia, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) (foto à direita, Bissau, 2008).


1. Resumo de uma comunicação científica, em francês [, com a respectiva tradução, em português, ] do nosso amigo Eduardo Costa Dias, professor e investigador no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, e em que se faz uma elogiosa referência ao nosso blogue.


Colonial auxiliaries or advocates of colonial subjects? A comparative view on chiefs and ‘traditional rule’ during the colonial period

Régulos, Almamis et Mouros pendant la guerre coloniale dans l’ex- ‐Guinée portugaise: à chacun son rôle, ses convenances et ses fidélités 


Eduardo Costa Dias
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa


L’avènement de la guerre coloniale, en 1963, dans l’ex- ‐Guinée portugaise non seulement a profondément transformé le modus vivendi des populations africaines et européennes, comme, un peu partout, a basculé les relations tissues entre les autorités traditionnelles et l’administration coloniale.

En effet, les autorités traditionnelles ont été confrontées, en plus de l’exigence de « faire vite » allégeance à un des deux belligérants, avec le besoin de composer presque inopinément avec de nouveaux interlocuteurs coloniaux. Plus la guerre s’étendait à de nouvelles zones du territoire guinéen et les combats regagnaient d’intensité, davantage, localement, les commandants militaires remplaçaient de facto et de jure, comme interlocuteurs des autorités traditionnelles, les administrateurs civils (administradores de circunscrição, chefes de posto, etc.). Dans plusieurs sens, pendant la guerre coloniale, dans la majeure partie du territoire, « l’ (vraie) autorité portugaise » était l’armée.

Dans l’étude de cas qu’adosse cette communication – le cas des autorités mandingues et, surtout, peuls des cercles administratifs de Bafatá et de Nova Lamego (Gabú) – , toutefois, plus que le renforcement « rayonnant » ou la rupture brutale de la très ancienne collusion stratégique entre les chefs musulmans et l’État colonial, on a assisté principalement à la multiplication, en nombre et en « qualités », des interlocuteurs locaux des autorités portugaises et, naturellement, à une plus grande diversité des prises de position des dignitaires politiques e religieux mandingues et peuls.

Un almami ou un mouro (marabout) n’avait nécessairement, par rapport aux autorités portugaises ou au PAIGC, le même positionnement que « son » régulo, même si celui- ‐ci, en plus de musulman et mandingue/peul comme lui, était son frère. Au contraire, parfois, il y’ avait même grands avantages en aménager des positions différentes dans une même famille, tabanca (village) ou zawiya (délégation locale d’une confrérie); dans des situations complexes comme celles vécues pendant la guerre coloniale pour beaucoup de peuls et mandingues de Bafatá et du Gabú, la bonne utilisation de la réinterprétation ouest- ‐africaine de l’institut du muwalat – « accommodation sur réserve avec l’infidèle »/ « acceptation d’un compromis provisoire avec l’infidèle » - presque le prescrivait!

Dans l’essentiel, l’information travaillée pour cette communication a été obtenue à partir des entrevues faites dans les années 1990 et 2000 à des dignitaires musulmans des régions de Bafatá et du Gabú, de la compulsation de documentation dans des archives portugaises (AHM, AHU, ANTT) et de la lecture systématique d’un blog d’anciens combattants portugais dans l’ex-Guinée portugaise.

Le blog « Luis Graça & Camaradas da Guiné », en plus de sa « mission » fondatrice, est actuellement, malgré le caractère « témoin personnel » de la plupart des posts, un important répertoire des activités des militaires portugais en Guinée, entre 1963 et 1974.





Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Contuboel > 16 de Dezembro de 2009 > O almami local...  Foto do médico e músico João Graça, membro da nossa Tabanca Grande.

Foto:  © João Graça (2009). Direitos reservados





2. Tradução de L.G.:


Auxiliares coloniais ou advogados dos súbditos coloniais ? Uma análise comparativa dos chefes e do sistema de autoridade tradicional durante o período colonial  [Título em inglês]


Régulos, Almamis e Mouros durante a guerra colonial na ex-Guiné-Português: a cada um a sua função, sua conveniência e sua lealdade

Eduardo Costa Dias
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa

O advento da guerra colonial em 1963, na ex-Guiné Portuguesa, não só mudou o modus vivendi das populações africanas e europeias, como, um pouco por toda parte, mexeu com as relações mantidas entre as autoridades tradicionais e a administração colonial.

Com efeito, as autoridades tradicionais,  para além da exigência de rapidamente se posicionarem ao lado de uma das duas partes beligerantes, foram confrontadas com a necessidade de lidar, quase inesperadamente, com novos interlocutoers coloniais.

Quanto mais a guerra se estendia a novas zonas do território guineense e os combates aumentavam de intensidade, mais, a nível local, os comandantes militares se substituíam, de facto e de direito, aos administradores civis (administradores de circunscrição, chefes de posto, etc.) como interlocutores das autoridades tradicionais.

Em diversos sentidos, durante a guerra colonial, na maior parte do território, “a (verdadeira) autoridade portuguesa ", foi o exército.

No estudo de caso a que se reporta esta comunicação - o caso das autoridades mandingas e, sobretudo, fulas, dos círculos administrativos de Bafatá e de Nova Lamego (Gabu), no entanto, mais do que o reforço “fulminante” ou a ruptura brutal da velha coligação estratégica entre os chefes muçulmanos e o e Estado colonial, assistiu-se principalmente à multiplicação, em número e em "qualidades", dos interlocutores locais das autoridades portuguesas e, naturalmente, a uma maior diversidade das tomadas de posição dos dignitários políticos e religiosos mandingas e fulas.

Um almami ou mouro (marabú) não tinha, necessariamente, em relação às autoridades portuguesas ou ao PAIGC, a mesma posição que o “seu” régulo, mesmo se este, para além de ser muçulmano e mandingo / fula como ele, fosse seu irmão.

Pelo contrário, às vezes, havia mesmo grandes benefícios em tomar posições diferentes numa mesma família, tabanca (aldeia) ou zawiya (delegação local duma confraria); em situações complexas, como aquelas vividas durante a guerra colonial por muitos dos fulas e mandingas de Bafatá e do Gabu, o uso adequado da reinterpretação oeste-africana do instituto da muwalat – "acomodação, sob reserva, com o infiel” / “aceitação de uma compromisso provisório com os infiéis” –  que obrigava a isso!

No essencial, a informação tratada nesta comunicação foi obtida a partir de entrevistas realizadas nos anos de 1990 e 2000 a dignitários muçulmanos das regiões de Bafatá e Gabu, da consulta de documentação em arquivos portugueses (AHM, AHU, ANTT) e da leitura sistemática de um blogue de antigos combatentes portugueses na ex-Guiné Portuguesa.

O blogue "Luis Graça  & Camaradas da Guiné ", para além da sua “missão" fundadora, é hoje, apesar do carácter de “ testemunho pessoal" da maior parte dos postes,  um importante repertório das actividades dos militares portugueses atividades, na Guiné, entre 1963 e 1974.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18333: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Quem são os camaradas da CCAV 2487 / BCAV 2862 (Bula, 1969/70), que assistiram aos últimos minutos de vida do trágico herói limiano António da Silva Capela (1947-1969), uma das vítimas mortais da emboscada, em 18/10/1969, no último dia da Op Ostra Amarga ? Estou a fazer a biografia deste filho de Ponte de Lima, que não pode ficar sepultado na vala comum do esquecimento na sua terra natal... (Mário Leitão)




Foto nº 2


Foto nº 3


 Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6



Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


 Foto nº 10



Foto nº 11


 Foto nº 12


Foto nº 13



Foto nº 14

Footogramas, selecionados por Mário Leitão, do vídeo, em francês, "Guerre en Guinée" [, "Guerra na Guiné", ORTF, Paris, 1969] , hoje disponível no portal do INA - Institut national de l'audiovisuel (13' 58'').


1. Mensagem, com data de 8 do corrente, do nosso camarada: Mário Leitão [ hoje farmacêutico reformado, ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973; residente em Ponte de Lima, membro da nossa Tabanca Grande, escritor, autor de livros como "História do Dia do Combatente Limiano" (2017) e "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012).



Camarada Luís, um grande abraço!

Não sei se será possível ou oportuno pedir à nossa comunidade de grão-tabanqueiros e aos visitantes assíduos as identificações dos camaradas que aparecem nos frames do vídeo ORTF sobre a morte de ANTÓNIO DA SILVA CAPELA, ocorrida no último dia da Operação Ostra Amarga. (*)

A questão é a seguinte: estou a terminar a biografia desse herói limiano (que tem o seu nome numa rua de Loures, mas que é desconhecido em Ponte de Lima!) e gostaria de deixar para a história o maior número de referências possível!

Referir alguns dos camaradas cujos rostos aparecem no filme, seria elementar sob o ponto de vista de rigor histórico, creio eu.

De resto, a biografia do Soldado Atirador de Cavalaria António Capela (CCAV 2487) está bastante completa, havendo uma descrição cronológica dos acontecimentos desde a madrugada do dia 18/10/1969, até ao regresso ao aquartelamento, no final da tarde.

Se for possível lançar um SOS, seria muito bom!
Outro abraço, extensivo a toda a tua equipa!

Muito obrigado!


Foto nº 1 > Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAV 2497 / BCAV 2862  (Bula, 1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido, numa emboscada,  no decurso da Op Ostra Amarga (que ficou também ironicamente conhecida como Op Paris Match)... Os nossos camaradas foram atingidos por um LGFog inimigo.

As duas vítimas mortais foram: (i) o Henrique Ferreira da Anunciação Costa, soldado clarim n.º 03434368, natural de Ferrel,  freguesia de Atouguia da Baleia, concelho de Peniche,  que teve morte imediata; e (ii) o  António da Silva Capela, soldado atirador n.º 0721868, natural da freguesia de Cabaços, concelho de Ponte de Lima:  morreu à espera da helievacuação.  Está sepultado no cemitério de Lousa, concelho de Loures (, município onde tem também nome de rua, homenagem realizada dois anos depois, em 1971).

As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo Capitão Cav José Sentieiro, hoje coronel ref) caem num emboscada do PAIGC... O combate é presenciado por jornalistas estrangeiros e registado em filme por uma equipa da televisão francesa... No fotograma acima (foto nº 1), as NT prestam os primeiros socorros a um dos feridos graves. Um dos militares transporta, às costas, uma fiada de granadas de LGFog 3,7...

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote, editor jubilado do nosso blogue (*)


2. Comentário do editor LG:


Fazemos um apelo para que os nossos leitores, e em especial os da CCAV 2487 / BCAV 2862 (Bula, 1969/70), possam idenrtificar estes camaradas que estiveram envolvidos na Op Ostra Amarga. (**)

O nosso camarada Mário Leitão tem-se dedicado, de alma e coração, à indispensável e exaustiva recolha e tratamento da informação relativa aos 52 limianos, os naturais do concelho de Ponte de Lima, mortos nos TO de Angola, Guiné e Moçambique bem como no continente ou outros territórios, no cumprimento do serviço militar, no período que abarca a guerra do ultramar (1961/74).

A lista (52 nomes no total). já aqui por nós publicada.  é enriquecida com fotos e valiosas notas biográficas. Os camaradas mortos no TO da Guiné  foram assinalados a vermelho (sublinhado). Um deles foi o António da Silva Capela, sold at, CCAV 2487 (1969/70), morto em combate no decurso da Op Ostra Amarga, e cuja atroz agonia foi filmada por uma equipa da televisão francesa, de visita ao TO da Guiné.

3. Este é o vídeo mais 'pornográfico' da guerra da Guiné, passado e repassado nas nossas estações televisivas,  na Net e no cinema, muitas vezes sem um mínimo de "pudor", sem uma informação de contexto, sem citação da fonte: a helievacuação ipsylon que não chegou a tempo, a atroz agonia do sold at da CCAV 2487, António da Silva Capela, natural de Ponte de Lima, mortalmente atingido nessa emboscada, no último dia da Op Ostra Amarga, no subsetor de Bula, região do Cacheu, uma ostra amarga para Spínola, para todos nós  e para os jornalistas franceses que cobriram este acontecimento de guerra.

O vídeo, em francês, "Guerre en Guinée" [, "Guerra na Guiné", com resumo analítico, em português, no poste P2249 (*)] , está disponível no portal do INA - Institut national de l'audiovisuel (13' 58''). Foi produzido pela ORTF, a estação de televisão pública francesa, em 1969. Não o podemos reproduzir, diretamente aqui, no blogue, pro razões de direitos de autor.  Mas apelamos a que os nossos leitores o vejam ou revejam, no portal do INA.fr [clicar aqui "Guerre en Guinée"]  para melhor identificação dos nossos camaradas, cujos fotogramas constam da primeira parte deste poste, e que vão renumerados, de 2 a 14.

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26230: Casos: a verdade sobre ... (50): António Lobato, sete anos prisioneiro de Amílcar Cabral e Sékou Touré / L' affaire Antonio Lobato, sept années prisionnier d' Amilcar Cabral et de Sékou Touré

Imagem, à esquerda: 

António Lobato (1938-2024), maj pil av ref; no cativeiro (maio de 1963 / novembro de 1970) sempre recusou a liberdade em troca da denúncia da guerra colonial aos microfones da rádio do PAIGC.

Mas em carta  à  mulher, datada de Kindia, 22/5/65, escreveu: (...) "Houve momentos de fraqueza em que quase me arrependi de ter recusado essa liberdade, hoje porém agradeço a  Deus o ter-me dado a força necessária para resistir".

Imagem a seguir, em baixo, à direita: 

O António Lobato entrevistado em 1996, num programa da RTP1, "Operação Mar Verde - Parte l", Série "Enviado Especial", apresentado pelo jornalista José Manuel Barata-Feyo, em 7 de julho de 1997. Fotograma capturado e editado, com a devida vénia à RTP Arquivos. (Vídeo: 17' 38'').



1. É curioso (mas nada que nos possa surpreender)  como o tempo, a distância, os conflitos entre países, a (in)comunicação, a ideologia, as crenças,os preconceitos, etc., tendem a gerar e alimentar mitos, lendas, boatos,  atoardas, mentiras, etc.  Em suma, falsificar a(s) história(s).

Costuma-se dizer que quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto...Todos temos essa experiência com as diferentes narrativas da guerra, onde nós próprios participámos.

Um dos nossos leitores, que escreve em francês, e é africano pelo nome (não sabendo nós o que faz nem onde vive) tem aqui mostrado interesse pela história da Op Mar Verde e a libertação do nosso camarada da FAP, António Lobato (infelizmenfe falecido há uns meses).

Numa segunda mensagem  que recebemos dele, datada de 30 de outubro último, põe-nos ao corrente  de "boatos" que corriam na época,  na África Ocidental:

(i) que o António Lobato era filho do Presidente da Câmara de Lisboa;

(ii) ou então de um  poderoso industrial português que alegadamente teria dado um murro na mesa,  junto do governo português,  para obter a sua libertação;

 (iii) e
que o presidente Sékou Touré teria fechado um acordo (secreto) com os portugueses para virem buscar os seus prisioneiros...

Ora nada disto é verdade, para nós, portugueses e antigos combatentes. O António Lobato era filho (único) de pais minhotos, de Melgaço, terra que ele adorava. E, infelizmente, teve que esperar 7 longos anos de cativeiro até conseguir ser libertado, em 22 de novembro de 1970, na sequência da Op Mar Verde, cuja objetivo principal ia muito para além da libertação dos prisioneiros portugueses nas cadeias do PAIGC, em Conacri (26 ao todo)... 

Sabemos que a missão principal desta arriscada operação era ajudar uma facção de oposicionistas guineenses ao regime no poder em Conacri a derrubar o Sékou Touré e a decapitar o PAIGC. 


1. Mensagem, em francês, do nosso leitor, Lamine Bah:
 

30/10/2024, 07:58

Bonjour, merci pour cette bibliographie sur Antonio Lobato, pilote de guerre,  portugais detenu 7 ans durant en Guinée. (*)

N'a été liberé que suite à l'operation Mar Verde. Cette operation connu en Guinée sous le le nom d'agression portugaise contre la République de Guinée,  a été l'occasion pour Sékou Touré d'arreter et d'executer sans jugement de nombreux cadres civils et militaires, y compris des membres du gouvernement, comme complices des portugais. 

Ces accusés n'ont pas eu droit à un procès equitable, privés d'avocats. Le verdict se basait sur des aveux extorqués sous la torture et difusés à la radio.

Ma question est de savoir si Antonio Lobato etait le fils du Maire de Lisbonne à l'époque ou d'un industriel portugais qui aurait tapé sur la table au près du gouvernement portugais pour sa liberation ?

En tout cas c'est ce qu'évoquaient les rumeurs de l'époque.

Une autre rumeur serait que le Président Sékou Touré aurait conclu un 'deal' avec les portugais pour venir chercher leurs prisonniers.

Merci pour vos réponses.
Sincères salutations.

Cumprimentos,
Lamine Bah | laminebah2000@yahoo.fr



2. Tradução da mensagem para português:

Bom dia

Obrigado pela  bibliografia que me indicou, sobre o piloto de guerra António Lobato,  português detido durante 7 anos na República da Guiné. 

Só foi libertado após a Operação Mar Verde. Esta operação conhecida em Conacri como uma  agressão portuguesa contra a República da Guiné, foi um pretexto para Sékou Touré mandar prender e executar numerosos quadros civis e militares,  sem julgamento,  incluindo membros do governo, acusados de serem  cúmplices dos portugueses. 

Esses réus não tiveram direito a um julgamento justo e com advogados de defesa. O veredito baseou-se em confissões extraídas sob tortura e transmitidas na rádio.

A minha pergunta é se António Lobato era filho do Presidente da Câmara de Lisboa,  na época, ou  de um industrial português que alegadamente teria dado um murro na mesa,  junto do governo português,  para obter a sua libertação?

De qualquer forma, era isso que sugeriam os rumores da época.

Outro boato seria que o presidente Sékou Touré teria fechado um acordo com os portugueses para virem buscar os seus prisioneiros.

Obrigado pelas suas respostas.
Os meus cumprimentos.
Lamine Bah | laminebah2000@yahoo.fr

3. Réponse en français, pour une meilleure compréhension de notre lecteur:

On sait que le temps, la distance, les conflits entre pays, l'incommunication, l'idéologie, les croyances, les préjugés, etc., tendent à créer et à alimenter des mythes, des légendes, des mensonges, des rumers, à falsifier les faits, etc. 

On dit souvent, en portugais, que celui qui raconte une histoire, y ajoute un point… Nous avons tous cette expérience des différents récits de la guerre, en Guinée-Bissau, auquelle nous avons nous-mêmes participé .

Un de nos lecteurs, qui écrit en français et dont le nom est africain, Lamine Bah (nous ne savons pas ce qu'il fait ni où il habite) se montre intéressé par l'histoire de l'Opération "Mar Verde" (invasion amphibie de Conakry, le 22 novembre 1970) et de la libération de notre camarade de l' Armé de l'Air Portugaise, Mr. António Lobato, malheureusement décédé quelques mois auparavant. (**)

Dans un deuxième message que nous avons reçu de son coté, le 30 octobre 2024, il nous fait part de rumeurs qui circulaient à l'époque en Afrique de l'Ouest:

(i) que Mr. António Lobato était le fils du maire de Lisbonne ou d'un industriel portugais qui aurait tapé sur la table avec le gouvernement portugais pour obtenir sa libération;

(ii) et que le Président Sékou Touré avait trouvé un accord secret avec les Portugais pour la rescue de leurs prisonniers...

Or, rien de tout cela n’est vrai, pour nous, les ancients combattants portugais. Mr. Antonio Lobato était le fils unique, ses parents demeurant  à Melgaço, au Nord du Pays, une petite ville  qu'il aimait de tout son coeur.

Et malheureusement, il a eu attendre sept longues années de captivité avant d'être libéré, le 22 novembre 1970, à la suite de l'Opération "Mar Verde", dont l'objectif principal allait bien au-delà de la libération des 26 prisonniers portugais aux mains du parti de Mr. Amilcar Cabral, à Conakry... On sait que la mission principale était d'aider une faction de l'opposition guinéenne au régime en place à Conakry à renverser Sékou Touré et décapiter le PAIGC.

(**) Último poste da série > 15 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26157: Casos: A verdade sobre... (49): Os "djubis" da CART 11 e da CCAÇ 12, que foram soldados... (Luís Graça)

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23516: Humor de caserna (56): O anedotário da Spinolândia (VII): a outra alcunha do nosso general, Aponta,Bruno! (referência ao seu ajudante de campo, o então cap cav João Almeida Bruno, falecido ontem, aos 87 anos)


Guiné > Região de Cacheu > Bula > Pecuré > Op Ostra Amarga > 18 de outubro de 1969  > Depois da embocada, o general Spínola, ao centro, ladeado à esquerda pelo major João Marcelino (2.º comandante do BCAV 2868, então em Bissau e que apanhou boleia no heli) e o ten cor Alves Morgado, comandante do BCAV 2868 que acompanhou o desenrolar da acção. À direita de Spínola, o seu ajudante de campo, o cap cav Almeida Bruno (que faleceu ontem, 10/8/2022, aos 87 anos) (*), empunhando uma G3, e de costas  o cap cav José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485 que, por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregado de dirigir a Op Ostra Amarga. 

Vd. também o vídeo "Guerre en Guinée" (1969) (13' 50''), imagens da chegada do  Spinola e do Almeida Bruno, 11' 30'' ... Cortesia de INA - Institut National de l' Audividuel.

A foto acima reproduzida (e editada pelo blogue) é do Paris-Match nº 1071, de 15 de novembro de 1969 (Com a devida vénia...). Vd. também o vídeo "Guerre en Guinée" (1969) (13' 50''), imagens da chegada do  Spinola e do Almeida Bruno, ao 11' 30'' ... Cortesia de INA - Institut National de l' Audividuel.


1. Recordando Spínola e o seu mais conhecido ajudante de campo, o então cap cav João Almeida Bruno  (*)... Excertos de um poste, velhinho. de 16 de março de 2006, da autoria do Zé Teixeira (*)

Luís, a propósito do Caco Baldé, toma outra alcunha do gen Spínola (*):

− O Aponta, Bruno... Aí vem o Aponta, Bruno !  dizia logo o pessoal quando se avistava o Héli que o transportava.

Porquê? Toda a zona de Buba, Nhala, Mampatá, Chamarra e Aldeia Formosa esteve uns tempos a comer, ao almoço e ao jantar, arroz com arroz e de vez em quando uma amostra de chispe. A barcaça que levava os mantimentos foi afundada pelos nossos amigos, e ficamos a ver... barcaças !

Isto gerou um mal estar que mais se agravou com o ataque às 5 da matina, como já contei no meu Diário. Devo dizer que a minha companhia estava reduzida a 36 homens operacionais, dado esforço que se estava a fazer com a protecção à nova estrada de Buba para Aldeia Formosa, em que saíamos com o que seriam três pelotões às seis da matina. Regressávamos à tarde, no dia seguinte estávamos de serviço à segurança do quartel e logo de seguida abalávamos de novo para a estrada.

Então o homem chega e começa o discurso:

 Pátria está a exigir de vós um grande esforço e vós sois ... blá, blá, blá. Sei que a comida não tem sido a melhor, mas a Pátria exige sacrifícios... blá, blá,blá. Quando estiverdes a comer feijão ou arroz, sem mais nada, fechai os olhos e imaginai-vos a comer um belo peru recheado ou um grãozinho com bacalhau, lá em Lisboa... blá, blá, blá.

Acompanhava-o um capitão, seu ajudante de campo, que toda a gente conhece e perante as reclamações do Major e do médico, ele só dizia:

− Aponta, Bruno!

Felizmente tínhamos um excelente médico, a quem presto a minha homenagem no Blogue, o Dr. João Carlos de Azevedo Franco, que à mais pequena mazela, muitas vezes resultante do estado psicológico em que vivíamos, dava uma baixa. Recordo que nesse célebre dia do Aponta, Bruno,  o Spínola disse ao médico:

− Estes rapazes o que precisam é de umas picas, vou-lhe mandar uma boa dose de medicamentos... Aponta, Bruno!

 Ao que o médico lhe respondeu:

 O que eles precisam é de uns bons bifes e descanso.

Claro está que o Capitão Bruno não apontou o que o médico disse. Não é que oito dias depois chega a barcaça com mantimentos e duas enormes caixas de medicamentos não solicitados?! Escusado será dizer que foram devolvidas ao remetente, com a informação "medicação não solicitada" e a vida continuou. (...) (***) 
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Notas do editor:

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7415: (Ex)citações (118): A propósito do vídeo da ORTF sobre a Op Ostra Amarga: "As imagens que vi, foram uma espécie de murro no estômago e cimentaram a admiração que nutro por todos aqueles que sentiram o silêncio bem no meio do capim" (Miguel Sentieiro)

1. Miguel Sentieiro, professor de educação física, em Torres Novas, filho de um camarada nosso (o ex-Cap Cav, hoje coronel reformado, comandante da CCAV 2485, José Sentieiro) enviou-nos, em tempos (9 de Fevereiro de 2007),  o seguinte comentário, inserido no poste P2249 (*), e que achámos oportuno agora divulgar...  Aliás, é estranhamente o único comentário que lá consta, ao fim destes 3 (três) anos...
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Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Imagem da reportagem Guerre en Guinée, que passou na televisão francesa, a ORTF,  em 11 de Novembro de 1969, no programa Point Contrepoint [, Ponto Contraponto].

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) /  Cópia pessoal de Virgínio Briote 
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Na altura,  o detalhadíssimo relato do making of deste vídeo, da ORTF, sobre a Op Ostra Amarga (um poste meu e do Virgínio Briote, que custou muitas horas de trabalho, de pesquisa, de contactos com alguns dos protagonistas,  e de edição), passou completamente despercebido por parte (ou pelo menos não mereceu a devida atenção) dos nossos camarigos e demais membros da nossa Tabanca Grande (*)... 

Estranhamente, têm-nos chegado à nossa caixa de correio, se não todos os dias, pelo menos com alguma regularidade, nestes últimos meses, mails de tipo Spam com avisos do tipo "Vídeo nunca visto sobre a guerra colonial na Guiné, feita por uma equipa da televisão francesa" ou "Guiné - Guerra colonial - Vídeo nunca antes divulgado"... 

E depois acrescenta-se mais detalhes, incompletos, imprecisos ou até errados: "Cenas arrepiantes... É o único filme feito na Guiné que apanhou uma sequência real de guerra. Os jornalistas franceses que seguiam nesta patrulha, mandada executar para que eles tomassem conhecimento com o dia a dia das NT estacionadas em Bula [, CCAV 2487, pertencente ao BCAV 2862, Bula, 1969/70], um pouco a N do Rio Mansoa, apanharam um 'cagaço', mas registaram algo que mais nenhum registou. Se não estou errado, ia também uma jornalista" [,Geneviève Chauvel,]  (...). 

E acrescenta o autor do último mail que recebi: (...) "A emboscada que as NT sofreram, não estava 'no programa', mas isto era o que podia acontecer sempre que se saía para o mato (...). O Spínola, com a seu ajudante de campo (era ainda o Almeida Bruno) e o Cmdt do Batalhão de Bula [, ten cor Morgado,] foram lá, mal tiveram conhecimento do que tinha acontecido" (...).

Na altura, em Fevereiro de 2007, eu e o Virgínio Briote fizemos a tradução da sinopse do filme (que é falado em em francês), de cerca de 14 minutos (mais exactamente 13' 58''), e incluímos um link para o sítio onde está alojado, o INA: Guerre en Guinée  [ Guerra na Guiné]: Carregar aqui para ver o filme; estamos autorizados pelo INA  a inserir um link do filme mas não a disponibilizá-lo directamente no blogue; o Virgínio pagou, do seu bolso, o direito a télecharger o filme, para uso pessoal...). Já revi este notável documento várias vezes e sempre com a mesma emoção... No sítio do INA, este vídeo tem mais de 37 mil visualizações...





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Foto à direita: De costas, o Capitão de Cavalaria José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485, que por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregue de dirigir a Op Ostra Amarga. Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487. Cópia da imagem do Paris-Match, nº 1071, de 15 de Novembro de 1969 .
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2. Comentário do Miguel Sentieiro (*)
Caro Luis Graça:
Não sou um camarada da Guiné, mas graças a si consegui decifrar melhor o video que o meu pai (José Sentieiro) me facultou há pouco tempo. Tenho 39 anos e não tinha nem tenho a perfeita noção do que todos vocês passaram na guerra colonial. 
O DVD que vi, facultou-me provavelmente a imagem mais esclarecedora que algum dia vi da guerra. Os grandes planos das caras dos homens após a emboscada e o silêncio entrecortado por gritos de dor, não surgem nas grandes produções americanas sobre a guerra do Vietname que todos estamos habituados a ver. 
As imagens que vi, foram uma espécie de murro no estômago e cimentaram a admiração que nutro por todos aqueles que sentiram o silêncio bem no meio do capim. 





Um abraço, Miguel Sentieiro






Os 2 Gr Comb da CCAV 2487, comandados pelo Cap Cav José Sentieiro sofrean uma emboscada do IN na região de Pecuré, a noroeste de Bula,sofrendo 2 mortos e 1 ferido. (**)


[ Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.]
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de  8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

Vd. também os postes relacionados:

 8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís 

Graça)

15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amèrepara a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)

(**) Sobre este Batalhão, BCAV 2868:

Mobilizado pelo RC 7, partiu para a Guiné em 23/2/1969 e regressou a 30/12/1970. Esteve em Bissau e Bula. Era comandado pelo Ten Cor Cav José Machado Alves Morgado. Unidades de quadrícula:  CCAV 2485, 2486 e 2487.

A CCAV 2485 esteve em Cacheu, Bula, Ponta Augusto  de Barros, Bula, Pete e Bula. Era comandado pelo Cap Cav  José Maria de Campos Mendes Sentieiro.

A CCAV 2486 passou por Teixeira Pinto, Bula, Pete e Bula.  Foi comandada pelo Cap Cav João Soares de Sá e Almeida e pelo Alf MIl Inf  JoséManuel Duarte Fernandes.

Por fim, a CCAV 2487  esteve em Cacheu, Bula, Ponta Augusto  de Barros, Bula, Ponta Augusto  de Barros e Bula. Comandantes: Cap Mil Cav  João Caetano de Almeida de Lima Quintela e Cap QEO José António Caiomoto Duarte