Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
Guiné 63/74 - P1393: Saudações tertulianas na chegada do novo ano de 2007 (1) : Luís Graça / Pedro Lauret
Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 28 de Dezembro de 2006 > Na paz bucólica da natureza, entre castanheiros e ovelhas à porta do inverno...
Fotos: © Luís Graça (2006). Direitos reservados
1. Amigos e camaradas de tertúlia:
A quadra natalícia não é a mais favorável ao nosso blogue. Viajando até ao Norte, onde vim passar o Natal, não tenho tido acesso à Internet. Deixo-vos uma pequena mensagem de continuação de boas festas.
Na quarta-feira passada, tive o privilégio de estar com a nossa minitertúlia de Matosinhos: o A. Marques Lopes, o Xico Allen, o Zé Teixeira, o Carlos Vinhal e o Samúdio (um Gringo de Guileje que conheci agora pessoalmente e que é do tempo de escola do Carlos Vinhal). Almoçámos todos numa simpática tasca, a Casa Teresa, junto ao Porto de Leixões. Faltou o Albano, que estava adoentado. Falei com ele pelo telefone. Esteve também o Santos, que não é ainda da nossa tertúlia, e que esteve em Guileje com o José Casimiro Carvalho (que vive na Maia).
O Xico Allen teve a gentileza de me ir buscar e levar à Madalena, onde estou alojado. Continua entusiasmadíssimo com a próxima ida à Guiné, na próxima primavera, e sobretudo com a excursão que quer organizar em 2008, por ocasião do encontro internacional sobre a guerra de libertação/guerra colonial em Guileje (que está a ser organizada pelo Pepito). O Xico (o apelido Allen vem-lhe de um antepassado inglês, inevitavelmente ligado ao comércio do Vinho do Porto)é talvez o mais guineense de todos os tugas, ex-combatentes da Guiné... Ele voltou lá em 1992, e a partir daí nunca mais parou, a ponto de ter autorização de residência naquele país irmão...
Enfim, o tempo é curto para estar com todos os amigos e familiares, incluindo os amigos e camaradas da Guiné que vivem aqui no Norte. Cheguei à conclusão que Matosinhos, só por si, foi uma terras que deu mais combatentes para o TO da Guiné. Espero receber dentro de dias as fotos que o Xico Allen tirou. Gostei muito de os rever. É gente fixe, que espero voltar a encontrar numa próxima reunião da tertúlia, possivelmente em Pombal, ou até talvez antes, em Candoz, na nossa quinta de família...
A todos os demais amigos e camaradas da Guiné um forte abraço, com votos de reforço dos laços que nos unem. Faço minhas as palavras que o Pedro Lauret me pediu para vos transmitir, e que só agora tive conhecimento. Outros amigos e camaradas tiveram a gentileza de me tefonar. A todos os agradeciemntos. Luís Graça.
2. Mensagem de 23 de Dezembro de 2006, enviada pelo Pedro Lauret:
Luís,
Agradecia que fizesses chegar estas boas festas à Tertúlia. Para ti um abraço muito especial.
Pedro Lauret
Camaradas e companheiros de Tertúlia,
Desejo a todos umas óptimas festas e um 2007 cheio de saúde e de concretizações pessoais.
Quero aproveitar a ocasião para agradecer a todos, em especial ao nosso timoneiro Luís Graça, o privilégio de com todos privar nesta nossa comunidade de homens diferentes, que em comum partilham: as memórias de uma guerra que foram chamados a participar e os afectos a uma terra que paradoxalmente passaram a chamar sua.
Um abraço amigo
Pedro Lauret
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
Guiné 63/74 - P1392: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (26): Missirá, 1968, um Natal (ecuménico)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Missirá > 1968 (?) > Cartão de Natal recebido por Beja Santos, no SPM 3778 (Missirá).
Guiné > Bissau > 29 de Julho de 1968 > Lacónico telegrama enviado pelo Mário Beja Santos à sua noiva, Cristina Allen, dizendo: "Viagem magnífica chagámos bem. Saudades. Logo que possa escrevo". Em nota manuscrita que me mandou a acompanhar, em 10 de Outubro de 2006, o documento original, ele esclareceu o seguinte: "Aqui nos telegramas, havia controlo. Só era possível utilizar expressões inócuas e fluídas. Nada de localização, elementso concretos, assuntos bélicos. 'Viagem magnífica chegámos bem' foi a frase que me sugeriram. Guarda, fia no dossiê que tu, um dia, quando eu bater a bota, entregarás no Arquivo Histórico-Militar. Vê se sensibilizas a malta a não deitar nada para o lixo. Teu amigo e admirador, Mário".
Texto e fotos: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.
Texto recebido em 6 de Dezembro de 2006. Post nº 26 da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Mário Beja Santos, ex-comandante do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1).
Caro Luís, este é o penúltimo episódio de 1968. Espero enviá-lo segunda ou terça feira. Volta a fazer milagres, por favor, com as ilustrações. Segue pelo correio o mesmo O Monte dos Vendavais que li em Missirá. Recebe um abraço deste amigo que viveu ontem momentos de alegria enquanto almoçava contigo e te oferecia o exemplar nº 1 de Este Consumo que nos Consome, Mário.
Comentário de L.G.:
Mário, hoje vou provavelmente decepcionar-te. Ou melhor, não pdoerei corresponder às tuas expectativas... Mas esse é também o papel do editor do blogue.
Recebi o teu livro da Emily Brönte, mas não tive tempo de digitalizar a capa. Fica para a próxima, com muita pena minha, já que era a tua empolgante leitura do dia de 25 de Dezembro de 1968. Também não encontrei na Net nenhuma imagem - com capa deste livro, em edição portuguesa (2) - que fosse suficientemente boa e pertencesse ao domínio público.
Também não vou poder postar o teu texto exactamente no dia 25, ou na véspera, 24. Hoje, 22, sigo de manhã para o Norte, para umas curtas férias natalícias, e não tenho a certeza de poder actualizar o nosso blogue nestes próximos dias. Se tiver acesso á Net, prometo encostar o teu post mais à data e hora da Consoada.
Não preciso de apelar à tua compreensão e boa vontade. Gostei, pá, da tua festa do Natal 68 em Missirá. Chamei-lhe ecuménica... Não páras (nem pares) de nos surpreender. Luís".
O Natal em Missirá
por Beja Santos
Desde o início de Dezembro que estão a chegar ao Cuor pacotes com pinhões, broas de milho e castelar, passas, avelãs, ameixas e até tâmaras. Múltiplos e misteriosos reis magos cirandam nos céus e depositam discretamente os acepipes natalícios que aterram em Bissalanca e daqui por mar e pelo ar chegam a Bambadinca.
Repito: não há oficial, sargento ou praça que não tenha um contacto a estabelecer para trazer outros acepipes para a festa de Natal em Missirá. O Augusto virá esbaforido com um bolo-rei que só arrefeceu a bordo do avião. Quando vou a Bafatá comprar vitualhas e adornos, cruzo-me com o Almeida que regressa de férias e traz fritos. Há a consoada e há o almoço de Natal.
Enquanto correm os preparativos, continuam as obras, as aulas, os patrulhamentos. Jobo Baldé, a 25, fará uma fornada suplementar de pão para o almoço comunitário. Haverá dois cabritos (depois de acalorada discussão na messe, os católicos percebem que não pode haver leitão nas mesas a pôr na parada) que foram encomendados em Santa Helena e Bantajã Mandinga.
Enquanto jantamos, os dois cozinheiros são inquiridos quanto às necessidades de trabalho extra e voluntário: canja, saladas de vegetais e fruta, sumos, tudo foi discutido ao pormenor, e na melhor divisão taylorista cada um conhecia as funções e desempenhos na organização de festejos, a partir de 23.
Reuni os homens grandes presididos pelo régulo. Aceitaram participar no festim, estabelecendo as regras de jogo: os homens sentados, as mulheres e as crianças comeriam quando eles partissem. E chegou o convite mais inesperado: queriam que os cristãos fossem rezar à mesquita, pedindo a Deus todo misericordioso que trouxesse a paz à Guiné, aproveitando para louvar o profeta cristão. Garanti-lhes que sim, no todo ou na parte brancos e cabo-verdianos aceitariam o honroso convite da oração comum.
Missirá: lugar de encontros e desencontros
Na azáfama, a roda dos acontecimentos continua a pregar as suas partidas, ludibriando o destino. Por exemplo, depois do José Manuel Fernandes, aqui já invocado no episódio A visita do soldado desconhecido, chegou a vez do surpreendente encontro com um civil desconhecido, mesmo no cruzamento de Canturé com a estrada que vem de Gambaná. Passo a descrever.
Finete, dava-nos sempre problemas e a burocracia de Bambadinca pediu uma relação minuciosa do armamento e fardamento. Se num aquartelamento de uma companhia de caçadores a tarefa pode ser um emaranhado de procedimentos de que toda a gente foge, na Finete mandiga e fula, expressando-se em crioulo, foi um pouco apetecível pesadelo de confere e confirma: horas e horas a ouvir as interpretações da nomenclatura local à nomenclatura oficial (para quem não sabe ou recorda, um par de peúgas era conhecido como um "ferro de meia curta" e um dólmen era conhecido por "casaquinho de ronco"...).
Findo o pesadelo, confirmada a relação do armamento e fardamento, guardados na viatura os restos da roupa podre e até pedaços de armas, regressámos a toda velocidade com a vizinhança do anoitecer. Eu ia ao lado do Setúbal que, exactamente quando avistámos o cruzamento de Canturé, me gritou:
- Porra, temos ali um gajo aos gritos e juro-lhe que não é dos nossos!
Segurei-lhe o braço com o pedido de parar imediatamente. Era de facto uma cena irreal: um homem esquálido com as mãos na nuca gritava frases inintelegíveis, enquanto corria para nós. Mandei saltar toda a gente da viatura, não fosse artimanha para emboscada. O visitante inesperado correu para nós, suava, os seus olhos parecia que tinham visto a morte, bebeu golos fartos do cantil que lhe pus nas mãos.
- Então, que se passa, meu amigo?
E veio a narrativa mirabolante, chamava-se Amadu, era natural de Bafatá e negociante de panos. Deslocara-se a Bissau a fim de se reabastecer com novos stocks. Regressara hoje de manhã num barco que fizera uma viagem normal até Porto Gole, mas junto a Ponta Varela, os rebeldes apareceram no Terrafe e foguearam com RPG2. Enquanto a embarcação guinava à deriva, o Amadu, apavorado pelo fogo e corpos esburacados à volta, atirou-se ao Geba com um pneu e à falta de melhor correu pela estrada de Mato de Cão, virou à direita e chegou a Canturé.
Isto contou ele em minutos com uma voz incendiada e olhando para trás, como se houvesse perseguidores. Usando de prudência, redobrada a cautela, rumámos para Missirá. Aqui o Amadu bebeu o leite que lhe apeteceu, banhou-se, mudou de roupa e adormeceu a refazer-se da tormenta. Amanhã, tal como fizemos com o José Manuel Fernandes, vamos reconduzir Amadu às suas lides quotidianas.
Outra história que aconteceu neste tempo merece igualmente registo. O Cabo Veloso, nosso estimado quarteleiro, partiu na companhia do Saiegh e do Domingos Ferreira. Fomos buscar o seu substituto, o Antero, um jovem de Penalva do Castelo. Passou cinco dias a aprender os locais onde se guardavam as tesouras corta-arame, as peças dos petromaxes, os livros do deve e haver da cantina. Ao fim desses cimco dias, o Teixeira trouxe uma mensagem decifrada:
- 1º Cabo Antero regressar este motivo erro de colocação.
E o Antero partiu para Bedanda. Partiu emocionado pois não precisamos de ser jovens para sabermos quanto pesa a boa camaradagem. E mais outra história. Continuamos a reconstruir as moranças seriamente atingidas pela flagelação de 6 de Setembro. Nem eu nem os furriéis recebemos noções de arquitectura militar. Quando, em Março de 69, aparecer no Batalhão de Engenharia de Brá e perguntar se existe algum manual para este tipo de edificações, a risota dos engenheiros Rui Gamito e Emílio Rosa foi farta e sincera: cada um constrói como sabe, quanto muito alguém da delegação de Bambadinca poderá emitir alguns pareceres no local. Quando em Bambadinca pedi uma ajuda voluntária, vi o pânico estampado no rosto dos furréis e cabos:
- Ir a Missirá? Só se formos de manhã e viermos à noite.
Ora os problemas surgiam como cerejas, umas vezes o reboco ficava imperfeito, outras vezes a parede ficava assimétrica, outras vezes era preciso mestria de carpinteiro para que a esquadria da porta fosse fixada. Pois é exactamente nesta balbúrdia que chega um enxame de gente que vem do Cossé ajudar a gente de Missirá nos cultivos. De um dia para o outro, soldados nativos em férias, mulheres, crianças de peito, bajudinhas, baús, camas de ferro desmontadas, galinhas e sacos de arroz entraram pelo cavalo de frisa de Missirá como se fosse um êxodo bíblico.
Paro por aqui, pois estou ansioso por vos relatar a consoada e o almoço de Natal. Abalados com o desastre do Paulo, não escondíamos a tristeza naquele sentimento contraditório de quem vive uma festa com uma alegria naturalmente mitigada. Por sugestão do Raposo e do Adão a consoada começou pelas 11h da noite com um bacalhau cozido, batatas e couves. Soube que houve peripécias para arranjar alho, ele lá apareceu com a pimenta, a salsa e a cebola picada.
Seguiram-se os fritos e todos os meus pedidos à moderação caíram por terra: não sobraram coscorões nem fatias paridas para o dia seguinte, isto depois de uma discussão horrível e acusações injustas ao Setúbal que tinha feito uma calda a descontento dos fundamentalistas. Avisei a comunidade cristã que havia limites para a consoada, que findou com copos de vinho do Porto.
Às 2 da manhã, uns com lágrimas do álcool alargado e generoso, outros exaustos, partimos para a cama, arrumada a messe. Fui acabar de ler uma obra prima de que vos vou falar adiante, O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë.
Como nos bastidores de um filme, a parada, a 25 de Dezembro, era um movimento de mesas, panos e baixela para a comida. Tudo o que servia para sentar apareceu dos locais mais inesperados. Pelas 11 da manhã, a criançada cercava Jobo Baldé, Gibrilo Embaló e Dauda Seidi, os padeiros de serviço. Ainda hoje guardo o cheiro do pão e a chilreada das crianças nesse dia. O pão seguiu em cunhetes de bazuca para a messe, a aguardar a hora do banquete. Seguiu-se o cheiro dos cabritos assados e, por exigência dos nossos cabo-verdianos uma tachada de arroz no forno.
Ao meio dia, toda a Missirá se juntou ao ágape. Vou ser conciso para travar a profunda emoção daquele momento. Após uma saudação curta de boas vindas, convidei os homens grandes a servirem-se. Avançou seguidamente o pelotão de milícias e recebi um abraço do seu comandante, Albino Mamadu Baldé, a quem eu muito afectuosamente sempre chamei o Príncipe Samba. Tomou depois lugar à mesa a malta do 52.
Para minha surpresa, o Domingos da Silva falou do dia de paz e a importância do nascimento do Menino e recordou outros Natais passados em Bissau. Pelas duas horas, a tropa abandonou a mesa e entregou a festa a mulheres e crianças de todas as idades. Cada um de nós regressou às suas moranças e abrigos, conforme previamente se acordara. Fiquei a fazer horas até irmos à mesquita, ao fim da tarde.
O Monte dos Vendavais
Acabei então a leitura de O Monte dos Vendavais. Não houve maior gratificação depois da festa de Natal mais linda de toda a minha vida. Visitei em 2004 Haworth, no Yorkshire, onde viveram as três irmãs Brontë (Charlotte, Emily e Anne). Introduzido naquela minúscula casa, um cicerone ilustrava as fases da vida quotidiana das filhas do reverendo Patrick Brontë. Como eu tinha lido esta obra prima décadas atrás, quando ele explicou que as três irmãs andavam à roda da mesa da sala de jantar contando os seus sonhos e falando das obras que queriam escrever, não me saía da cabeça aquelas leituras que fizera em Dezembro de 1968.
O Monte dos Vendavais é certamente uma das histórias mais prodigiosas do amor eterno. Emily recorreu a uma estrutura profundamente original para este romance. Socorre-se de um novo inquilino que vai viver na Herdade dos Tordos, o Sr Lockwood que é muito mal recebido no Monte dos Vendavais pelo Sr. Heathcliff. Uma criada e ama, Ella Dean, vai contar todas as vicissitudes afectivas do passado e presente do Monte dos Vendavais. Um proprietário abastado, Earnshaw traz uma criança que encontra abandonada no decurso de uma viagem. A filha do proprietário, Catherine, ou Cathy, irá apaixonar-se por Heathcliff. Nesta Inglaterra rural esta paixão conhece as reviravoltas da fortuna, a ponto de Cathy casar com outro e Heathcliff, por processo vingativo, casar com a irmã de Cathy, Isabella. A obra, na narrativa da ama, Ella Dean, vai de clímax em clímax, Cathy morta, haverá muitos falecimentos que levam a um final inesperado em que uma jovem e outra Cathy se vai apaixonar por um outro jovem que conhecera humilhações parecidas como as que sofrera Heathcliff na sua juventude.
O que ainda hoje guardo desta obra maravilhosa é o esplendor romântico de um amor que roça permanentemente a partida para a sepultura. Emily Brontë socorre-se de imagens do desespero, de declarações desvairadas em que a prosa manipula o melhor fraseado teatral, tornando o ultra-romantismo plausível. No final da obra, os espectros de Heathcliff e Cathy vão pairar sob as charnecas e os vales de Yorkshire. As juras de amor eterno foram mesmo cumpridas.
Ainda no êxtase destes sentimentos arrebatadores, sou convocado para a oração comum. Compareço bem como toda a comunidade cristã. Lânsana convida-nos a erguer as mãos e ouvimo-lo elevar o seu cântico até Deus. O Deus monoteísta terá regozijado por este encontro de Natal. Quando saímos para a ampla parada dou com um céu muito claro mas pontilhado de estrelas. Vão seguir-se as obrigações da guerra.
Quero reflectir convosco como vi, como estou a ver e a viver depois de 150 dias em Missirá. Eu e a gente de Madina já nos medimos e grandes recontros estão para vir. Até ao fim do ano, vou patrulhar metro a metro as margens do Geba, sobretudo a margem direita por onde se cambam vacas e arroz, seremos vistos em Fá Balanta, Fá Mandinga, Jada, Biana e Bissaque. É daqui que parte sustento fundamental para o outro lado do Cuor.
Vou desafiar a ferro e fogo esta corrente de abastecimento. Daqui até Outubro de 69 tudo nos irá acontecer: logo em Janeiro, mais sangue derramado em Chicri, a captura de um civil em Quebá Jilã. Depois, em Fevereiro a vinda do Brigadeiro Spínola e do Tenente-Coronel Hélio Felgas a Missirá. Mais tarde, a dolorosíssima Anda Cá onde vai ficar brutalmente ferido Fodé Dahaba. Muito e muito sofrimento para vos contar.
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts anterior > 18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1376: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (25): O presépio de Chicri
(2) Há uma edição portuguesa popular deste romance de Emily Brönte, de 1953 (Editora Romano Torres, 347 pp). Confesso que as Brönte, as irmãs Brönte, não são a minha leitura preferida...
Guiné > Bissau > 29 de Julho de 1968 > Lacónico telegrama enviado pelo Mário Beja Santos à sua noiva, Cristina Allen, dizendo: "Viagem magnífica chagámos bem. Saudades. Logo que possa escrevo". Em nota manuscrita que me mandou a acompanhar, em 10 de Outubro de 2006, o documento original, ele esclareceu o seguinte: "Aqui nos telegramas, havia controlo. Só era possível utilizar expressões inócuas e fluídas. Nada de localização, elementso concretos, assuntos bélicos. 'Viagem magnífica chegámos bem' foi a frase que me sugeriram. Guarda, fia no dossiê que tu, um dia, quando eu bater a bota, entregarás no Arquivo Histórico-Militar. Vê se sensibilizas a malta a não deitar nada para o lixo. Teu amigo e admirador, Mário".
Texto e fotos: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.
Texto recebido em 6 de Dezembro de 2006. Post nº 26 da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Mário Beja Santos, ex-comandante do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1).
Caro Luís, este é o penúltimo episódio de 1968. Espero enviá-lo segunda ou terça feira. Volta a fazer milagres, por favor, com as ilustrações. Segue pelo correio o mesmo O Monte dos Vendavais que li em Missirá. Recebe um abraço deste amigo que viveu ontem momentos de alegria enquanto almoçava contigo e te oferecia o exemplar nº 1 de Este Consumo que nos Consome, Mário.
Comentário de L.G.:
Mário, hoje vou provavelmente decepcionar-te. Ou melhor, não pdoerei corresponder às tuas expectativas... Mas esse é também o papel do editor do blogue.
Recebi o teu livro da Emily Brönte, mas não tive tempo de digitalizar a capa. Fica para a próxima, com muita pena minha, já que era a tua empolgante leitura do dia de 25 de Dezembro de 1968. Também não encontrei na Net nenhuma imagem - com capa deste livro, em edição portuguesa (2) - que fosse suficientemente boa e pertencesse ao domínio público.
Também não vou poder postar o teu texto exactamente no dia 25, ou na véspera, 24. Hoje, 22, sigo de manhã para o Norte, para umas curtas férias natalícias, e não tenho a certeza de poder actualizar o nosso blogue nestes próximos dias. Se tiver acesso á Net, prometo encostar o teu post mais à data e hora da Consoada.
Não preciso de apelar à tua compreensão e boa vontade. Gostei, pá, da tua festa do Natal 68 em Missirá. Chamei-lhe ecuménica... Não páras (nem pares) de nos surpreender. Luís".
O Natal em Missirá
por Beja Santos
Desde o início de Dezembro que estão a chegar ao Cuor pacotes com pinhões, broas de milho e castelar, passas, avelãs, ameixas e até tâmaras. Múltiplos e misteriosos reis magos cirandam nos céus e depositam discretamente os acepipes natalícios que aterram em Bissalanca e daqui por mar e pelo ar chegam a Bambadinca.
Repito: não há oficial, sargento ou praça que não tenha um contacto a estabelecer para trazer outros acepipes para a festa de Natal em Missirá. O Augusto virá esbaforido com um bolo-rei que só arrefeceu a bordo do avião. Quando vou a Bafatá comprar vitualhas e adornos, cruzo-me com o Almeida que regressa de férias e traz fritos. Há a consoada e há o almoço de Natal.
Enquanto correm os preparativos, continuam as obras, as aulas, os patrulhamentos. Jobo Baldé, a 25, fará uma fornada suplementar de pão para o almoço comunitário. Haverá dois cabritos (depois de acalorada discussão na messe, os católicos percebem que não pode haver leitão nas mesas a pôr na parada) que foram encomendados em Santa Helena e Bantajã Mandinga.
Enquanto jantamos, os dois cozinheiros são inquiridos quanto às necessidades de trabalho extra e voluntário: canja, saladas de vegetais e fruta, sumos, tudo foi discutido ao pormenor, e na melhor divisão taylorista cada um conhecia as funções e desempenhos na organização de festejos, a partir de 23.
Reuni os homens grandes presididos pelo régulo. Aceitaram participar no festim, estabelecendo as regras de jogo: os homens sentados, as mulheres e as crianças comeriam quando eles partissem. E chegou o convite mais inesperado: queriam que os cristãos fossem rezar à mesquita, pedindo a Deus todo misericordioso que trouxesse a paz à Guiné, aproveitando para louvar o profeta cristão. Garanti-lhes que sim, no todo ou na parte brancos e cabo-verdianos aceitariam o honroso convite da oração comum.
Missirá: lugar de encontros e desencontros
Na azáfama, a roda dos acontecimentos continua a pregar as suas partidas, ludibriando o destino. Por exemplo, depois do José Manuel Fernandes, aqui já invocado no episódio A visita do soldado desconhecido, chegou a vez do surpreendente encontro com um civil desconhecido, mesmo no cruzamento de Canturé com a estrada que vem de Gambaná. Passo a descrever.
Finete, dava-nos sempre problemas e a burocracia de Bambadinca pediu uma relação minuciosa do armamento e fardamento. Se num aquartelamento de uma companhia de caçadores a tarefa pode ser um emaranhado de procedimentos de que toda a gente foge, na Finete mandiga e fula, expressando-se em crioulo, foi um pouco apetecível pesadelo de confere e confirma: horas e horas a ouvir as interpretações da nomenclatura local à nomenclatura oficial (para quem não sabe ou recorda, um par de peúgas era conhecido como um "ferro de meia curta" e um dólmen era conhecido por "casaquinho de ronco"...).
Findo o pesadelo, confirmada a relação do armamento e fardamento, guardados na viatura os restos da roupa podre e até pedaços de armas, regressámos a toda velocidade com a vizinhança do anoitecer. Eu ia ao lado do Setúbal que, exactamente quando avistámos o cruzamento de Canturé, me gritou:
- Porra, temos ali um gajo aos gritos e juro-lhe que não é dos nossos!
Segurei-lhe o braço com o pedido de parar imediatamente. Era de facto uma cena irreal: um homem esquálido com as mãos na nuca gritava frases inintelegíveis, enquanto corria para nós. Mandei saltar toda a gente da viatura, não fosse artimanha para emboscada. O visitante inesperado correu para nós, suava, os seus olhos parecia que tinham visto a morte, bebeu golos fartos do cantil que lhe pus nas mãos.
- Então, que se passa, meu amigo?
E veio a narrativa mirabolante, chamava-se Amadu, era natural de Bafatá e negociante de panos. Deslocara-se a Bissau a fim de se reabastecer com novos stocks. Regressara hoje de manhã num barco que fizera uma viagem normal até Porto Gole, mas junto a Ponta Varela, os rebeldes apareceram no Terrafe e foguearam com RPG2. Enquanto a embarcação guinava à deriva, o Amadu, apavorado pelo fogo e corpos esburacados à volta, atirou-se ao Geba com um pneu e à falta de melhor correu pela estrada de Mato de Cão, virou à direita e chegou a Canturé.
Isto contou ele em minutos com uma voz incendiada e olhando para trás, como se houvesse perseguidores. Usando de prudência, redobrada a cautela, rumámos para Missirá. Aqui o Amadu bebeu o leite que lhe apeteceu, banhou-se, mudou de roupa e adormeceu a refazer-se da tormenta. Amanhã, tal como fizemos com o José Manuel Fernandes, vamos reconduzir Amadu às suas lides quotidianas.
Outra história que aconteceu neste tempo merece igualmente registo. O Cabo Veloso, nosso estimado quarteleiro, partiu na companhia do Saiegh e do Domingos Ferreira. Fomos buscar o seu substituto, o Antero, um jovem de Penalva do Castelo. Passou cinco dias a aprender os locais onde se guardavam as tesouras corta-arame, as peças dos petromaxes, os livros do deve e haver da cantina. Ao fim desses cimco dias, o Teixeira trouxe uma mensagem decifrada:
- 1º Cabo Antero regressar este motivo erro de colocação.
E o Antero partiu para Bedanda. Partiu emocionado pois não precisamos de ser jovens para sabermos quanto pesa a boa camaradagem. E mais outra história. Continuamos a reconstruir as moranças seriamente atingidas pela flagelação de 6 de Setembro. Nem eu nem os furriéis recebemos noções de arquitectura militar. Quando, em Março de 69, aparecer no Batalhão de Engenharia de Brá e perguntar se existe algum manual para este tipo de edificações, a risota dos engenheiros Rui Gamito e Emílio Rosa foi farta e sincera: cada um constrói como sabe, quanto muito alguém da delegação de Bambadinca poderá emitir alguns pareceres no local. Quando em Bambadinca pedi uma ajuda voluntária, vi o pânico estampado no rosto dos furréis e cabos:
- Ir a Missirá? Só se formos de manhã e viermos à noite.
Ora os problemas surgiam como cerejas, umas vezes o reboco ficava imperfeito, outras vezes a parede ficava assimétrica, outras vezes era preciso mestria de carpinteiro para que a esquadria da porta fosse fixada. Pois é exactamente nesta balbúrdia que chega um enxame de gente que vem do Cossé ajudar a gente de Missirá nos cultivos. De um dia para o outro, soldados nativos em férias, mulheres, crianças de peito, bajudinhas, baús, camas de ferro desmontadas, galinhas e sacos de arroz entraram pelo cavalo de frisa de Missirá como se fosse um êxodo bíblico.
Paro por aqui, pois estou ansioso por vos relatar a consoada e o almoço de Natal. Abalados com o desastre do Paulo, não escondíamos a tristeza naquele sentimento contraditório de quem vive uma festa com uma alegria naturalmente mitigada. Por sugestão do Raposo e do Adão a consoada começou pelas 11h da noite com um bacalhau cozido, batatas e couves. Soube que houve peripécias para arranjar alho, ele lá apareceu com a pimenta, a salsa e a cebola picada.
Seguiram-se os fritos e todos os meus pedidos à moderação caíram por terra: não sobraram coscorões nem fatias paridas para o dia seguinte, isto depois de uma discussão horrível e acusações injustas ao Setúbal que tinha feito uma calda a descontento dos fundamentalistas. Avisei a comunidade cristã que havia limites para a consoada, que findou com copos de vinho do Porto.
Às 2 da manhã, uns com lágrimas do álcool alargado e generoso, outros exaustos, partimos para a cama, arrumada a messe. Fui acabar de ler uma obra prima de que vos vou falar adiante, O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë.
Como nos bastidores de um filme, a parada, a 25 de Dezembro, era um movimento de mesas, panos e baixela para a comida. Tudo o que servia para sentar apareceu dos locais mais inesperados. Pelas 11 da manhã, a criançada cercava Jobo Baldé, Gibrilo Embaló e Dauda Seidi, os padeiros de serviço. Ainda hoje guardo o cheiro do pão e a chilreada das crianças nesse dia. O pão seguiu em cunhetes de bazuca para a messe, a aguardar a hora do banquete. Seguiu-se o cheiro dos cabritos assados e, por exigência dos nossos cabo-verdianos uma tachada de arroz no forno.
Ao meio dia, toda a Missirá se juntou ao ágape. Vou ser conciso para travar a profunda emoção daquele momento. Após uma saudação curta de boas vindas, convidei os homens grandes a servirem-se. Avançou seguidamente o pelotão de milícias e recebi um abraço do seu comandante, Albino Mamadu Baldé, a quem eu muito afectuosamente sempre chamei o Príncipe Samba. Tomou depois lugar à mesa a malta do 52.
Para minha surpresa, o Domingos da Silva falou do dia de paz e a importância do nascimento do Menino e recordou outros Natais passados em Bissau. Pelas duas horas, a tropa abandonou a mesa e entregou a festa a mulheres e crianças de todas as idades. Cada um de nós regressou às suas moranças e abrigos, conforme previamente se acordara. Fiquei a fazer horas até irmos à mesquita, ao fim da tarde.
O Monte dos Vendavais
Acabei então a leitura de O Monte dos Vendavais. Não houve maior gratificação depois da festa de Natal mais linda de toda a minha vida. Visitei em 2004 Haworth, no Yorkshire, onde viveram as três irmãs Brontë (Charlotte, Emily e Anne). Introduzido naquela minúscula casa, um cicerone ilustrava as fases da vida quotidiana das filhas do reverendo Patrick Brontë. Como eu tinha lido esta obra prima décadas atrás, quando ele explicou que as três irmãs andavam à roda da mesa da sala de jantar contando os seus sonhos e falando das obras que queriam escrever, não me saía da cabeça aquelas leituras que fizera em Dezembro de 1968.
O Monte dos Vendavais é certamente uma das histórias mais prodigiosas do amor eterno. Emily recorreu a uma estrutura profundamente original para este romance. Socorre-se de um novo inquilino que vai viver na Herdade dos Tordos, o Sr Lockwood que é muito mal recebido no Monte dos Vendavais pelo Sr. Heathcliff. Uma criada e ama, Ella Dean, vai contar todas as vicissitudes afectivas do passado e presente do Monte dos Vendavais. Um proprietário abastado, Earnshaw traz uma criança que encontra abandonada no decurso de uma viagem. A filha do proprietário, Catherine, ou Cathy, irá apaixonar-se por Heathcliff. Nesta Inglaterra rural esta paixão conhece as reviravoltas da fortuna, a ponto de Cathy casar com outro e Heathcliff, por processo vingativo, casar com a irmã de Cathy, Isabella. A obra, na narrativa da ama, Ella Dean, vai de clímax em clímax, Cathy morta, haverá muitos falecimentos que levam a um final inesperado em que uma jovem e outra Cathy se vai apaixonar por um outro jovem que conhecera humilhações parecidas como as que sofrera Heathcliff na sua juventude.
O que ainda hoje guardo desta obra maravilhosa é o esplendor romântico de um amor que roça permanentemente a partida para a sepultura. Emily Brontë socorre-se de imagens do desespero, de declarações desvairadas em que a prosa manipula o melhor fraseado teatral, tornando o ultra-romantismo plausível. No final da obra, os espectros de Heathcliff e Cathy vão pairar sob as charnecas e os vales de Yorkshire. As juras de amor eterno foram mesmo cumpridas.
Ainda no êxtase destes sentimentos arrebatadores, sou convocado para a oração comum. Compareço bem como toda a comunidade cristã. Lânsana convida-nos a erguer as mãos e ouvimo-lo elevar o seu cântico até Deus. O Deus monoteísta terá regozijado por este encontro de Natal. Quando saímos para a ampla parada dou com um céu muito claro mas pontilhado de estrelas. Vão seguir-se as obrigações da guerra.
Quero reflectir convosco como vi, como estou a ver e a viver depois de 150 dias em Missirá. Eu e a gente de Madina já nos medimos e grandes recontros estão para vir. Até ao fim do ano, vou patrulhar metro a metro as margens do Geba, sobretudo a margem direita por onde se cambam vacas e arroz, seremos vistos em Fá Balanta, Fá Mandinga, Jada, Biana e Bissaque. É daqui que parte sustento fundamental para o outro lado do Cuor.
Vou desafiar a ferro e fogo esta corrente de abastecimento. Daqui até Outubro de 69 tudo nos irá acontecer: logo em Janeiro, mais sangue derramado em Chicri, a captura de um civil em Quebá Jilã. Depois, em Fevereiro a vinda do Brigadeiro Spínola e do Tenente-Coronel Hélio Felgas a Missirá. Mais tarde, a dolorosíssima Anda Cá onde vai ficar brutalmente ferido Fodé Dahaba. Muito e muito sofrimento para vos contar.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. posts anterior > 18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1376: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (25): O presépio de Chicri
(2) Há uma edição portuguesa popular deste romance de Emily Brönte, de 1953 (Editora Romano Torres, 347 pp). Confesso que as Brönte, as irmãs Brönte, não são a minha leitura preferida...
Guiné 63/74 - P1391: Estórias de Bissau (9): Uma noite no Grande Hotel (José Casimiro Carvalho / Luís Graça))
Guiné > Bissau > Grande Hotel > 13 de Julho de 1973 > Factura
Foto: © José Casimiro Carvalho (2006). Direitos reservados.
1. Estou a organizar a correspondência do Zé Casimiro, relativa ao ano de 1973. Ele teve a gentileza - melhor, a nobreza - de confiar os seus álbuns de fotografias e as cartas que escrevia a seu pai, bem como a outros familiares e amigos. Mas ainda não sei o que é ele fazia exactamente em Bissau em Julho de 1973. Provavelmente gozava o justo repouso do guerreiro ou então convalescia dos ferimentos recebidos em Gadamael, em 1 de Junho, se não me engano, acabando por ser recolhido pela LFG Orion, cujo oficial imediato era o nosso Pedro Lauret (2).
Recorde-se que, de 18 a 22 de Maio de 1973, o José Casimiro esteve submetido a um situação-limite no aquartelamento de Guileje, cercado pelas forças do PAIGC (Op Amilcar Cabral), o que obrigou a sua unidade, CCAV 8356, a abandoná-lo, juntamente com cerca de 600 civis .
2. Prometo conhecer melhor a estória. De qualquer modo, uma estadia no Grande Hotel custava os olhos da cara: uma noite, 165$00, incluindo a taxa de serviço de 10%. Só não sei como é que o nosso ex-furriel miliciano de operações especiais conseguiu infiltrar-se no Grande Hotel...
Há tempos o Carlos Vinhal enviou-nos uma factura referente à estadia de dois dias no Hotel Portugal (3)... E lembrou-nos que em Bissau, naquele tempo, também havia segregação socioespacial em matéria de hotelaria: "Como te deves lembrar, podíamos ser muito ricos, que mesmo assim nos estava interdito o acesso ao Grande Hotel, onde só podiam ficar Oficiais (por mais labregos que fossem) e civis. Nós, os furrielitos, praças e demais maltrapilhos estávamos confinados ao melhor que havia, nomeadamente o Hotel Portugal ou o Chez-Toi ".
Talvez o Zé Casimiro queira (e possa) dar algumna explicação adicional sobre este documento, que vinha acompanhado de uma nota lacónica: "Velhos tempos"... É um bom começo para uma estória de Bissau (L.G.).
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)
(2) Vd. post de 15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)
(3) Vd. 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P1390: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (10): Os Maiorais de Empada, 1969 (Zé Teixeira)
Guiné > Empada (Região de Quínara) > CCAÇ 2381, Os Maiorais (1968/70) > Natal de 1969: a esposa do capitão da companhia veio de propósito passar a quadra natalícia com o marido e o resto dos Maiorais. A recepção foi de arromba: autocarro do amor, eurovisão, etc.
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados
Guiné > Empada (Região de Quínara) > CCAÇ 2381, Os Maiorais (1968/70) > Natal de 1969: um jantar como devia ser, a que não faltou o bacalhau com batatas, o vinho, a cerveja e a música.
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.
Mensagem do Zé Teixeira (1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381):
Caro amigo e camarada, neste tempo frio que só o cheirinho a Natal aquece, arrefecendo a nossa bolsa, queria sentir quanto estavas em Paz e que o amor também não falte.
Como é Natal, quero contribuir para a construção memorial dos nossos Natais vividos em tempo de guerra.
Natal de 1969 nos Maiorais de Empada (1)
por Zé Teixeira
1. Contrariamente ao Natal vivido em 1968 em Mampatá Forrea, o Natal do Silêncio em que apenas as rabanadas cozinhadas com todo o carinho pelo grande Valente, atirador transformado em cozinheiro à força mas que deu conta do recado de forma excelente, aqueceram um pouco o ambiente, mais as canhoadas que se ouviam ao longe - se bem me lembro, Guileje e Gandembel.
O Natal de 1969 foi uma festa, em que o perigo foi desafiado mas valeu a pena.
1º Já cheirava à peluda, éramos velhinhos com 18 meses de guerra, estavamos totalmente apanhados pelo clima.
2º Empada estava mais ou menos calma, apesar de no último ataque uns dias antes termos sofrido um morto de forma algo bizarra, como conto no Meu diário (2).
3º Foram criadas algumas condições anímicas para que fosse realmente uma festa.
O Capitão Moutinho Santos, desafiou a esposa a vir passar o Natal connosco e esta aceitou. Uma mulher branca no nosso meio, mesmo sendo a do esposa do capitão foi manga de ronco.
A festa da recepção foi de arromba, como se pode ver nas fotos. Não faltou o autocarro do amor com o respectivo coro, onde a senhora entrou de imediato (quem não se lembra desta célebre canção -era a coqueluche da época). A Televisão esteve presente com um excelente camaraman, cá o Zé.
Depois veio o jantar a rigor, com bacalhau com batatas, vinho e cerveja q.b. e muita música. Foi até cair.
Uma bela noite para recordar em que faltou a animação do costume, felizmente.
Guiné > Reguão de Quínara > Mampatá > Natal de 1968 > Miúdas da tabanca...
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados
Guiné > Mampatá > Natal de 1968 > A Mariama, cara de GMC, serviu de tema ao postal natalício...
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados
Guiné > Mampatá > O Zé Teixeira mais a sua Maimuna...
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.
2. As fotos que envio, reportam-se ao Natal de 1968. No cartão em que estão as crianças: a da esquerda é a Binta Bobo, que já faleceu e uns anos depois teve um fidjo matcho di branco, pelo que foi repudiada. Às costas trás a minha Mudjer - a criança que salvei de grande crise de paludismo, que tinha vindo de Bissau, desenganada pelos médicos e que eu, abusando dos meus conhecimentos empíricos adquiridos na guerra, curei. A mãe teimava oferecer-ma para minha mulher, chegando a vir trazer-ma à viatura quando me preparava para deixar Mampatá de vez a caminho de Buba. Grande momento de alegria, mas também de profundo sofrimento, pela partida de um lugar que me foi tão querido. (Ver Meu diário) (3). A outras miúdas são filhas do meu amigo sargenti di milicia Hamadú que não tive o prazer de voltar a ver em Buba, em 2005, mas ainda não desisti.
Na outra foto está a Mariama a quem pus a alcunha de cara de GMC- dará para entender !
Vai ainda uma foto em que estou com a minha Maimuna, no rescaldo de um ataque à uma da tarde de Novembro (que nos estragou um lauto banquete de vitela, que andava arredia de nós, há dois meses e que eu num golpe de magia, consegui) junto de uma morança queimada com o seu dono lá atrás, com tudo o que ficou.
3. Aproveito para reter na minha mente todos os tertulianos e não só, todos os camaradas que ainda têm a sorte e condão de fazer Natal uma vez por ano.
Pedir-lhe para que tenham a ousadia de tentar fazer do Natal uma festa de todos os dias para que a Paz e o Amor se transformem em realidade concreta, e não uma utopia.
Que este Natal seja Santo para todos vós.(É-se Santo, quando estamos em paz connosco mesmo, com quem nos rodeia e vivemos a alegria da vida que merece ser vivida com garra e doação).
Que o Ano de 2007 traga cada um de nós muitas surpresas agradáveis e seja um ano de construção de um mundo melhor com a nossa colaboração activa.
Zé Teixeira
Esquilo Sorridente
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1387: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (9): Catió, 1967 (Victor Condeço)
(2) Vd. post de 12 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (18): Empada, Novembro/Dezembro de 1969 )
(...) "Empada, 16 Novembro de 1969: O Marinho Caixeiro Conceição morreu. Era querido e estimado por todos. Passava o dia a cantar a cantar a morte o surpreendeu, quando no ataque do dia 14 estava na retrete. Talvez porque estivesse a cantar, não ouviu as saídas nem os gritos de avisos dos colegas que iam tomar banho. Quando sentiu o primeiro rebentamento junto à caserna tentou fugir, mas já era tarde, uma das primeiras granadas rebentou no telhado e meteu-lhe alguns estilhaços no corpo - o que lhe perfurou a nuca foi fatal -, e ainda foi projectado contra a parede, aumentando os estragos " (...).
(3) Vd. post de 19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (8): Chamarra, Janeiro de 1969
(...) Mampatá, 5 de Janeiro de 1969: (...) Admiro esta população de Mampatá. Quando souberam que eu ia de serviço na coluna em substituição do Lemos vieram despedir-se de mim. Fui abraçado, as bajudas beijavam-me e cantavam uma melodia triste. Até dá gosto viver com esta gente.A mãe da Binta veio trazer-ma para lhe dar um beijinho e fazer um festinha como era meu hábito (Pegava nela e atirava-a ao ar dando a miúda e a mãe uma gargalhada). A Maimuna tinha oito luas quando cheguei a Mampatá (...).
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados
Guiné > Empada (Região de Quínara) > CCAÇ 2381, Os Maiorais (1968/70) > Natal de 1969: um jantar como devia ser, a que não faltou o bacalhau com batatas, o vinho, a cerveja e a música.
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.
Mensagem do Zé Teixeira (1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381):
Caro amigo e camarada, neste tempo frio que só o cheirinho a Natal aquece, arrefecendo a nossa bolsa, queria sentir quanto estavas em Paz e que o amor também não falte.
Como é Natal, quero contribuir para a construção memorial dos nossos Natais vividos em tempo de guerra.
Natal de 1969 nos Maiorais de Empada (1)
por Zé Teixeira
1. Contrariamente ao Natal vivido em 1968 em Mampatá Forrea, o Natal do Silêncio em que apenas as rabanadas cozinhadas com todo o carinho pelo grande Valente, atirador transformado em cozinheiro à força mas que deu conta do recado de forma excelente, aqueceram um pouco o ambiente, mais as canhoadas que se ouviam ao longe - se bem me lembro, Guileje e Gandembel.
O Natal de 1969 foi uma festa, em que o perigo foi desafiado mas valeu a pena.
1º Já cheirava à peluda, éramos velhinhos com 18 meses de guerra, estavamos totalmente apanhados pelo clima.
2º Empada estava mais ou menos calma, apesar de no último ataque uns dias antes termos sofrido um morto de forma algo bizarra, como conto no Meu diário (2).
3º Foram criadas algumas condições anímicas para que fosse realmente uma festa.
O Capitão Moutinho Santos, desafiou a esposa a vir passar o Natal connosco e esta aceitou. Uma mulher branca no nosso meio, mesmo sendo a do esposa do capitão foi manga de ronco.
A festa da recepção foi de arromba, como se pode ver nas fotos. Não faltou o autocarro do amor com o respectivo coro, onde a senhora entrou de imediato (quem não se lembra desta célebre canção -era a coqueluche da época). A Televisão esteve presente com um excelente camaraman, cá o Zé.
Depois veio o jantar a rigor, com bacalhau com batatas, vinho e cerveja q.b. e muita música. Foi até cair.
Uma bela noite para recordar em que faltou a animação do costume, felizmente.
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados
Guiné > Mampatá > Natal de 1968 > A Mariama, cara de GMC, serviu de tema ao postal natalício...
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados
Guiné > Mampatá > O Zé Teixeira mais a sua Maimuna...
Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.
2. As fotos que envio, reportam-se ao Natal de 1968. No cartão em que estão as crianças: a da esquerda é a Binta Bobo, que já faleceu e uns anos depois teve um fidjo matcho di branco, pelo que foi repudiada. Às costas trás a minha Mudjer - a criança que salvei de grande crise de paludismo, que tinha vindo de Bissau, desenganada pelos médicos e que eu, abusando dos meus conhecimentos empíricos adquiridos na guerra, curei. A mãe teimava oferecer-ma para minha mulher, chegando a vir trazer-ma à viatura quando me preparava para deixar Mampatá de vez a caminho de Buba. Grande momento de alegria, mas também de profundo sofrimento, pela partida de um lugar que me foi tão querido. (Ver Meu diário) (3). A outras miúdas são filhas do meu amigo sargenti di milicia Hamadú que não tive o prazer de voltar a ver em Buba, em 2005, mas ainda não desisti.
Na outra foto está a Mariama a quem pus a alcunha de cara de GMC- dará para entender !
Vai ainda uma foto em que estou com a minha Maimuna, no rescaldo de um ataque à uma da tarde de Novembro (que nos estragou um lauto banquete de vitela, que andava arredia de nós, há dois meses e que eu num golpe de magia, consegui) junto de uma morança queimada com o seu dono lá atrás, com tudo o que ficou.
3. Aproveito para reter na minha mente todos os tertulianos e não só, todos os camaradas que ainda têm a sorte e condão de fazer Natal uma vez por ano.
Pedir-lhe para que tenham a ousadia de tentar fazer do Natal uma festa de todos os dias para que a Paz e o Amor se transformem em realidade concreta, e não uma utopia.
Que este Natal seja Santo para todos vós.(É-se Santo, quando estamos em paz connosco mesmo, com quem nos rodeia e vivemos a alegria da vida que merece ser vivida com garra e doação).
Que o Ano de 2007 traga cada um de nós muitas surpresas agradáveis e seja um ano de construção de um mundo melhor com a nossa colaboração activa.
Zé Teixeira
Esquilo Sorridente
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1387: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (9): Catió, 1967 (Victor Condeço)
(2) Vd. post de 12 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (18): Empada, Novembro/Dezembro de 1969 )
(...) "Empada, 16 Novembro de 1969: O Marinho Caixeiro Conceição morreu. Era querido e estimado por todos. Passava o dia a cantar a cantar a morte o surpreendeu, quando no ataque do dia 14 estava na retrete. Talvez porque estivesse a cantar, não ouviu as saídas nem os gritos de avisos dos colegas que iam tomar banho. Quando sentiu o primeiro rebentamento junto à caserna tentou fugir, mas já era tarde, uma das primeiras granadas rebentou no telhado e meteu-lhe alguns estilhaços no corpo - o que lhe perfurou a nuca foi fatal -, e ainda foi projectado contra a parede, aumentando os estragos " (...).
(3) Vd. post de 19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (8): Chamarra, Janeiro de 1969
(...) Mampatá, 5 de Janeiro de 1969: (...) Admiro esta população de Mampatá. Quando souberam que eu ia de serviço na coluna em substituição do Lemos vieram despedir-se de mim. Fui abraçado, as bajudas beijavam-me e cantavam uma melodia triste. Até dá gosto viver com esta gente.A mãe da Binta veio trazer-ma para lhe dar um beijinho e fazer um festinha como era meu hábito (Pegava nela e atirava-a ao ar dando a miúda e a mãe uma gargalhada). A Maimuna tinha oito luas quando cheguei a Mampatá (...).
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
Guiné 63/74 - P1389: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (5): Comandos A. Mendes e João S. Parreira
Guiné > Brá > 1965 > O João S. Parreira, o primeiro do lado esquerdo, num grupo de comandos: "Passados uns meses após o segundo curso, o fotógrafo apanhou-me com o Capitão Maurício Saraiva, com o Alferes Virgínio Briote, comandante do Grupo Diabólicos (ao qual o Marcelino passou a fazer parte), e com o Furriel Marques de Matos, chefe de uma das equipas do mesmo grupo".
Foto: © João S. Parreira (2005). Direitos reservados.
Foto: © João S. Parreira (2005). Direitos reservados.
1. Mensagem de 5 de Outubro de 2006, do Amilcar Mendes (ex-1º cabo, 38ª Companhia de Comandos, Guiné, Brá, 1972/74), em resposta ao apelo da Irene Rodrigues Marcelino (1):
Querida amiga Irene, tive a honra de trabalhar com o seu pai enquanto militar na Guiné e já depois disso aqui em Portugal.
Ao que eu sei e até há muito pouco tempo, ele está (estava) bem. Um pouco velhote mas bem.
Se quiser saber mais notícias dele vá ao site da Associação dos Comandos e ponha a questão que eles de certeza vão ajudá-la.
Cumprimentos.
Amílcar Mendes
Querida amiga Irene, tive a honra de trabalhar com o seu pai enquanto militar na Guiné e já depois disso aqui em Portugal.
Ao que eu sei e até há muito pouco tempo, ele está (estava) bem. Um pouco velhote mas bem.
Se quiser saber mais notícias dele vá ao site da Associação dos Comandos e ponha a questão que eles de certeza vão ajudá-la.
Cumprimentos.
Amílcar Mendes
2. Mensagem de 11 de Dezembro de 2006, do João S. Parreira, ex-furriel miliciano comando (Brá, 1964/65):
Caro Luís,
Para compor um pouco mais a carreira do Marcelino da Mata, gostaria de dizer que fez parte de um dos primeiros três grupos de Comandos da Guiné, os Panteras, formados em 17 de Outubro de 1964, e liderados pelo Tenente António Manuel Bairrão Pombo dos Santos (2), no qual se encontrava também o Vassalo Miranda, que conheceste no passado 10 de Junho.
Embora tirada ao longe, o Marcelino, com os braços arqueados, reconheceu recentemente a foto tirada comigo e com o Lifna Cumba, em Có, naquela quarta-feira, de 30 de Junho de 1965, durante uma paragem, para de seguida se começar a progredir para a operação de quadros do segundo curso, realizada em Iussi.
Em Brá, passado uns meses após o segundo curso, o fotógrafo apanhou-me com o Capitão Maurício Saraiva, com o Alferes Virgínio Briote, comandante do Grupo Diabólicos ao qual o Marcelino passou a fazer parte, e com o Furriel Marques de Matos, chefe de uma das equipas do mesmo grupo.
O Marcelino da Mata passou a fazer parte do Grupo do Briote após os Panteras terem sido extintos.
Um abraço e até breve.
J.Parreira
Guiné > Região do Cacheu > Có > 2º curso de comandos > 30 de Junho 1965 > Embora com muito má qualidade, esta foto tem alguma interessante documental: no lado esquerdo, vê-se o Marcelino, com os braços arqueados, o Fur Mil Parreira e o Lifna Cumba.
Foto: © João S. Parreira (2006). Direitos reservados.
Caro Luís,
Para compor um pouco mais a carreira do Marcelino da Mata, gostaria de dizer que fez parte de um dos primeiros três grupos de Comandos da Guiné, os Panteras, formados em 17 de Outubro de 1964, e liderados pelo Tenente António Manuel Bairrão Pombo dos Santos (2), no qual se encontrava também o Vassalo Miranda, que conheceste no passado 10 de Junho.
Embora tirada ao longe, o Marcelino, com os braços arqueados, reconheceu recentemente a foto tirada comigo e com o Lifna Cumba, em Có, naquela quarta-feira, de 30 de Junho de 1965, durante uma paragem, para de seguida se começar a progredir para a operação de quadros do segundo curso, realizada em Iussi.
Em Brá, passado uns meses após o segundo curso, o fotógrafo apanhou-me com o Capitão Maurício Saraiva, com o Alferes Virgínio Briote, comandante do Grupo Diabólicos ao qual o Marcelino passou a fazer parte, e com o Furriel Marques de Matos, chefe de uma das equipas do mesmo grupo.
O Marcelino da Mata passou a fazer parte do Grupo do Briote após os Panteras terem sido extintos.
Um abraço e até breve.
J.Parreira
Guiné > Região do Cacheu > Có > 2º curso de comandos > 30 de Junho 1965 > Embora com muito má qualidade, esta foto tem alguma interessante documental: no lado esquerdo, vê-se o Marcelino, com os braços arqueados, o Fur Mil Parreira e o Lifna Cumba.
Foto: © João S. Parreira (2006). Direitos reservados.
Lisboa, Belém, 10 de Junho de 2006 > 13º Encontro Nacional de Combatentes > O João Parreira, à esquerda, e o Vassalo Miranda, à direita: dois veteranos dos velhos comandos de Brá. O Miranda, do Grupo Os Panteras, foi instrutor do Parreira, do Grupo Os Fantasmas.
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006). Direitos reservados.
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Nota de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores:
20 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1385: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (4): Nasceu e quer morrer português (Mário Dias)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1355: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (2): Orgulho-me de o ter conhecido em Guileje (José Carvalho)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
(2) Vd. post de 10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006). Direitos reservados.
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Nota de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores:
20 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1385: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (4): Nasceu e quer morrer português (Mário Dias)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1355: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (2): Orgulho-me de o ter conhecido em Guileje (José Carvalho)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
(2) Vd. post de 10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)
Guiné > Zona Leste > Madina do Boé > 1966 > Vista aérea do aquartelamento.
Foto: © Manuel Domingues (s/d) (Imagem reproduzida, sem menção da fonte, no Blogue do Fernando Gil > Moçambique para todas. Presumo que a sua autoria seja do Jorge Monteiro ou do Manuel Domingues) (1)
Texto do José Martins (ex-furriel miliciano trms, CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Canjadude , 1968/70). Terceira e última parte da série Madina do Boé: contributos para a sua história (2).
Continuação da publicação da lista dos nossos camaradas que tombaram em combate no triângulo do Boé (Madina, Beli, Cheche), bem como de outras unidades que lá estiveram ou passaram por lá:
De 7 de Fevereiro de 1969 até 20 de Agosto de 1974
A partir de 6 de Fevereiro de 1969, data em que as NT passaram o Rio Corubal junto ao Cheche, estava desfeito o Triângulo do Boé (Beli - Madina do Boé – Cheche), tendo sido, naquela zona em 24 de Setembro de 1973 proclamada unilateralmente a independência da Guiné-Bissau. Beli foi retirada em 15 de Junho de 1968. Madina em 5 de Fevereiro de 1969. E Cheche no dia seguinte. Por outro laDO, Canjadude FOI entregue ao PAIGC em 20 de Agosto de 1974. E Nova Lamego, duas semanas mais tarde, em 4 de Setembro de 1974.
Companhia de Caçadores 5
• Carlos Alberto Leitão Diniz, 1º Cabo Auxiliar de Enfermeiro, natural de Oliveira do Hospital, inumado no cemitério de Oliveira do Hospital, tombou vitima do rebentamento de uma mina na estrada de Nova Lamego a Canjadude em 3 de Agosto de 1970;
• João Purrinhas Martins Cecílio, Furriel de Infantaria, natural de São Pedro / Elvas, inumado no cemitério de Santo António dos Olivais em Coimbra, tombou vitima do rebentamento de uma mina na estrada de Nova Lamego a Canjadude em 3 de Agosto de 1970;
• Mamadu Djaló, Soldado Atirador, natural de Santa Isabel / Gabú, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, foi vítima, em 15ABR71, de ferimentos recebidos em combate numa operação de apoio à CCP 123 em Liporo, vindo a falecer no Hospital Militar 241 em 17 de Abril de 1971;
• Dembaro Baldé, Soldado Atirador, natural de Nossa Senhora da Graça / Farim, inumado no cemitério de Canjadude, tombou no ataque ao Aquartelamento de Canjadude em 22 de Julho de 1971;
• Quecuta Camará, Soldado Atirador, natural de Santa Isabel / Gabú, inumado no cemitério de Canjadude, tombou no ataque ao Aquartelamento de Canjadude em 22 de Julho de 1971;
• Saliú Embaló, Soldado Apontador de Metralhadora, natural de Pirada / Gabú, inumado no cemitério de Canjadude, tombou num patrulhamento junto do Rio Campossabane (zona norte do Cheche), em 1 de Agosto de 1971;
• Sulai Queta, Soldado Apontador de Metralhadora, natural de Cacine / Catió, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, tombou no ataque ao Aquartelamento de Canjadude em 8 de Agosto de 1973.
Companhia de Artilharia 3332
• João Alberto Lopes Vilela, Soldado Atirador, natural de Gil / Paços de Ferreira, inumado no cemitério de Paços de Ferreira, tombou no Aquartelamento do Che-che, quando este voltou a ser ocupado pelas nossas tropas – Companhia de Caçadores 5 e Companhia de Artilharia 3332 – que utilizaram pontualmente este Aquartelamento como base de patrulhas, em 11 de Fevereiro de 1971.
Companhia de Caçadores Páraquedistas 123
• Avelino Joaquim Gomes Tavares, Soldado Paraquedista, natural de Matosinhos, inumado na Metrópole, tombou numa operação em Liporo, em 15 de Abril de 1971;
• Carlos Alberto Ferreira Martins, Soldado Paraquedista, natural de Moledo / Vimieiro, inumado na Metrópole, tombou numa operação em Liporo, em 15 de Abril de 1971.
OUTRAS UNIDADES ENVOLVIDAS
Há unidades que não foram referidas no texto inicial, mas que pela continuada pesquisa sobre o tema encontramos elementos que garantem a sua presença na zona, pelo que nos compete fazer aqui referência às mesmas:
Centro de Instrução de Comandos
Em 23 de Outubro de 1963 teve início com a formação de um grupo de Oficiais e Sargentos, em serviço no CTIG, que foram receber instrução de comandos na Região Militar de Angola.
O primeiro Grupo de Comandos a ser formado na Guiné, teve o seu baptismo de fogo na Operação Tridente, realizada na Ilha de Como entre 14 de Janeiro e 24 de Março de 1964. Este Grupo de Comandos recebeu as insígnias de Comando em Bissau a 29 de Abril de 1964.
Em 3 de Agosto de 1964 inicia-se a Escola Preparatória de Quadros, com vista à formação de três Grupos, entre eles o Grupo de Comandos Os Fantasmas, que decorreu entre 30 de Setembro e 17 de Novembro de 1964.
Tendo a sua base em Brá (Bissau), estes grupos realizaram diversas operações em diversas zonas, das quais se destacam Madina do Boé, Catió, Farim, Jabadá, e Canjambari. Em este Centro de Instrução passou a ser designado por Companhia de Comandos até à sua extinção, após a chegada da 3ª Companhia de Comandos, mobilizada no Regimento de Artilharia 1 - Lisboa, que desembarcou em Bissau e 30 de Junho de 1966.
Batalhão de Engenharia 447
Foi criada em 1 de Julho de 1964, como unidade da guarnição normal da Guiné, tendo integrado todos os elementos de engenharia existentes na Guiné, nomeadamente a Companhia de Engenharia 447, mobilizada no Regimento de Engenharia 1 (Pontinha – Lisboa), que era constituída por, além do Comando, 1 Pelotão de Equipamento Mecânico, 2 Pelotões de Sapadores e 1 Pelotão de Pontoneiros, sendo este pelotão que garantia a ligação fluvial por barco em diversos pontos.
Destacou elementos para colaborar na execução e/ou reparação das estruturas de aquartelamentos (edifícios, electrificação, depósitos de água), construção de estradas e formação de pessoal local nas especialidades de pedreiro, carpinteiro, canalizador, electricista e operador de máquinas de terraplanagem. Foi extinto em 14 de Outubro de 1974 com a entrega das instalações e equipamento.
Chefia do Serviço de Material / Quartel General – Guiné
Com base no Quadro Orgânico aprovado por despacho ministerial de 14 de Novembro de 1963, tem início como unidade de guarnição normal do CTIG em 1 de Janeiro de 1964, integrando os destacamentos de manutenção de material até então existentes, passando a ser constituído por uma Companhia de Recuperação de Material e por uma Companhia de Manutenção de Material.
Desenvolveu acções de apoio a unidades em quadrícula através dos seus Pelotões de Manutenção assim como deu instrução para especialistas de material de serralheiros, carpinteiros e mecânicos, entre outros. Em 14 de Outubro de 1974 foi instinto com a entrega das instalações e equipamentos.
Pelotão de Milícias 161
Em 8 de Julho de 1968, este Pelotão de Milícia estava adido, operacional e administrativamente, à Companhia de Caçadores 5, sedeada em Nova Lamego e com pelotões em Canjadude, Cabuca e Che-che. Pela nota circular nº 47/68, Processo 706.4 de 28 de Setembro de 1968 da Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração do Quartel-general, passa a depender da Companhia de Artilharia 2338, já referida na I Parte deste texto.
Pelotão de Milícias 162
Em 8 de Julho de 1968, este Pelotão de Milícia estava adido, operacional e administrativamente, à Companhia de Caçadores 5, sedeada em Nova Lamego Lamego e com pelotões em Canjadude, Cabuca e Che-che. Pela nota circular nº 47/68, Processo 706.4 de 28 de Setembro de 1968 da Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração do Quartel-general, passa a depender da Companhia de Cavalaria 1662, já referida na I Parte deste texto.
Pelotão de Reconhecimento 1129
Formado e mobilizado no Regimento de Cavalaria 6, no Porto, chegou à Guiné em Julho de 1966, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Caçadores 1856, a partir dessa data até ter sido rendido em Maio de 1968, data em que regressou à Metrópole.
Pelotão de Caçadores Nativos 65
Constituído por militares do recrutamento local em Maio de 1968, passou por várias zonas e aquartelamentos, até ser desactivado e extinto após assinatura do Acordo de Argel em 26 de Agosto de 1974. Esteve sedeado em Nova Lamego entre a data sua formação e a sua transferência para Canjambari em Abril de 1969.
Companhia de Artilharia 3332
Mobilizada no Regimento de Artilharia Pesada 2, em Vila Nova de Gaia, desembarcou em Bissau em 19 de Dezembro de 1970, seguindo para Piche em 25 de Janeiro de 19871, após a realização no CIM, em Bolama, da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional. Em Piche substitui a CCAV 2747 na função de intervenção e reserva do CAOP 2 e reforço do BCAV 2922. Nesta função foi destacada para operações nas áreas de Canquelifá e Canjadude, onde colaborou, com três Grupos de Combate, na Operação Duas Quinas, para a ocupação temporário do antigo Aquartelamento do Che-che, para instalação de uma base de patrulhas na área. Regressou à metrópole em 13 de Dezembro de 1972.
Companhia de Caçadores Paraquedistas 123
Foi mobilizada no Regimento de Caçadores Paraquedistas, em Tancos, em Março de 1970, após o Curso de Paraquedisdas terminado em Fevereiro anterior. Foi considerada completa, já na Guiné, em 18 de Julho de 1970, ficando estacionada em Bissalanca e integrada no Batalhão de Caçadores Parquedistas 12. Tomou parte em várias operações ofensivas de combate, com incidência no Sector Leste. Foi desactivada depois de ter regressado à Metrópole, após a independência da Guiné, que ocorreu em 10 de Setembro de 1974.
É muito provável que outras unidades tenham reforçado os Aquartelamentos referenciados nos textos, nomeadamente os Pelotões de Armas Pesadas ou Pelotões de Reconhecimento, que estivessem atribuídos aos Órgãos de Comando do Sector de Nova Lamego, que coordenava as operações na área, pelo que arriscamos a mencionar as seguintes subunidades que, apesar de não registarem baixas de qualquer causa, colaboraram em colunas, operações ou em reforço das unidades em quadrícula:
Pelotão de Caçadores 871
Mobilizado no Batalhão de Caçadores 5 em Lisboa, chegou à Guiné em Dezembro de 1962, sendo colocado em Cabedu. Em Abril de 1963 foi colocado em Nova Lamego até Outubro desse ano, altura em que foi transferido para Pirada onde veio a terminar a comissão em Outubro de 1965.
Pelotão de Reconhecimento 805
Mobilizado no Regimento de Cavalaria 6, no Porto, ficou colocado em Bissau desde a sua chegada em Novembro de 1964 até Fevereiro de 1965, data em que foi transferido para Nova Lamego, Sector Leste. Muito provavelmente tomou parte em colunas de reabastecimento a diversos aquartelamentos do Sector, nomeadamente à zona do Boé. Terminou a sua comissão em Agosto de 1966.
Companhia de Milícias 19
Formado em Junho de 1965 por elementos recrutados na província, esta força auxiliar esteve colocada no destacamento do Cheché até à retirada deste em 6 de Fevereiro de 1969. Foi extinto em Dezembro de 1971
Pelotão de Morteiros 1029
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, chegou à Guiné em Setembro de 1965, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Caçadores 512. Em Outubro de 1965 foi deslocado para Canquelifá, regressando a Nova Lamego em Maio de 1966, agora integrando o dispositivo do Batalhão de Cavalaria 705, tendo sido rendido em Maio de 1967, data em que regressou à Metrópole. É muito provável que tenha tido em diligência esquadras junto das unidades que se encontravam em quadrícula no Sector..
5ª Companhia de Comandos
Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira 1, em Lisboa, desembarcou na Guiné em 27 de Dezembro de 1966, ficando instalado em Brá (Bissau). Esteve destacada em Nova Lamego em reforço da guarnição daquela localidade, para efectuar patrulhamentos e reconhecimentos ofensivos, no período de 10 de Julho a 3 de Agosto de 1968. Foi durante aquele período que ministrou a instrução da especialidade à 15ª Companhia de Comandos. Cessou a actividade operacional em 26 de Setembro de 1968, regressando à metrópole em 31 de Outubro seguinte.
Pelotão de Morteiros 1191
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 15, em Tomar, chegou à Guiné em 13 Abril de 1967, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Cavalaria 1915, tendo sido rendido em Março de 1969, data em que regressou à Metrópole. Durante a sua comissão destacou, em diligência junto de outras unidades, diversas esquadras, que rodava com certa frequência nos Aquartelamento de Buruntuma, Canquelifá, Madina do Boé, Beli e Cabuca.
Pelotão de Milícias 129
Formado por elementos recrutados na província, esta força auxiliar é referido nos relatórios de operações da Companhia de Caçadores 5, aquartelada em Canjadude, a partir de Junho de 1968, nada mais constando sobre o mesmo
Companhia de Cavalaria 2482
Unidade pertencente ao Batalhão de Cavalaria 2867 e mobilizada no Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz, chegou à Guiné em 1 de Março de 1969. Seguiu de imediato para Tite, onde assumiu a responsabilidade do Sector. Em Julho de 1969 cedeu um grupo de combate à Companhia de Caçadores 5, enquanto esta realizava a Operação Sátiro, com a totalidade do seu efectivo operacional, à região do Rio Corubal. Durante a sua permanência no Aquartelamento de Canjadude, sofreu uma flagelação IN, de 11 para 12 de Julho de 1968. Após a operação regressou ao seu sector.
Pelotão de Morteiros 2105
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, chegou à Guiné em 25 de Fevereiro de 1969, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Caçadores 2835 e a partir de 22 de Novembro de 1969 integrado na Batalhão de Caçadores 2893, tendo sido rendido em Dezembro de 1970, data em que regressou à Metrópole. Durante a sua comissão destacou, em diligência junto de diversas unidades, esquadras, que rodava com certa frequência, no Aquartelamento Canjadude.
Batalhão de Caçadores 2893
Chegou à Guiné em 29 de Novembro de 1969 tendo sido mobilizado no Batalhão de Caçadores 10, em Chaves. Em 29 desse mês assume a responsabilidade do Sector L3, com sede em Nova Lamego, substituindo o Batalhão de Caçadores 2835. Foi rendido pelo Batalhão de Cavalaria 3854 e regressou à metrópole em 25 de Setembro de 1971.
Pelotão de Milícias 254 da Companhia de Milícia 18
Esta unidade de Forças auxiliares, é referida no relatório de Situação Geral, como constituindo uma das componentes que constituem e guarnição de Canjadude, sob a responsabilidade da CCAÇ 5, em Janeiro de 1970
Companhia de Artilharia 2762
Mobilizada no Regimento de Artilharia Pesada 2, em Vila Nova de Gaia, chegou à Guiné em 20 de Julho de 1970, seguindo para Pirada. Em 5 de Junho de 1971 foi transferida para Nova Lamego, em missão de intervenção e reserva do Batalhão de Caçadores 2893 e depois do Batalhão de Cavalaria 3854, tendo efectuado várias acções nas áreas de Canjadude e Cabuca. Regressou à metrópole em 17 de Junho de 1972.
Pelotão de Morteiros 2267
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, chegou à Guiné em 31 de Outubro de 1970, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Caçadores 2893 e a partir de 5 de Setembro de 1971 integrado no Batalhão de Cavalaria 3854, tendo sido rendido em Setembro de 1972, data em que regressou à Metrópole. Durante a sua comissão destacou, em diligência junto de diversas unidades, esquadras, que rodava com certa frequência, no Aquartelamento Canjadude.
Batalhão de Cavalaria 3854
Mobilizado no Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz, chegou à Guiné à Guiné em 10 de Julho de 1971. Após a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional efectuada no Centro Militar de Instrução no Cumeré, assumiu a responsabilidade do Sector de Nova Lamego em 5 de Setembro de 1971, rendendo o Batalhão de Caçadores 2893. Foi rendido pelo Batalhão de Artilharia 6523/73 e regressou à metrópole em 5 de Outubro de 1973.
Pelotão de Morteiros 4574/72
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 15, em Tomar, chegou à Guiné em Julho de 1972, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Cavalaria 3854 e a partir de 8 de Setembro de 1973 integrado no Batalhão de Artilharia 6523, tendo retirado de Nova Lamego em Agosto de 1974, de acordo com a retracção das NT, regressando à Metrópole. Durante a sua comissão destacou, em diligência junto de diversas unidades, esquadras, que rodava com certa frequência, no Aquartelamento Canjadude.
Grupo Especial de Milícias 244
Esta unidade de forças auxiliares, está referida no relatório da Flagelação IN a Canjadude em 27 de Abril de 1973, pelas 22H50, como tendo encontrada, no dia anterior, vestígios IN a Sul de Canjadude e ter sido flagelado na zona situada entre o Rio Mebouro e Rio Siai, nesse mesmo dia, a partir da zona a sul do Rio Corubal. Estava no aquartelamento de Canjadude na altura da flagelação.
Batalhão de Artilharia 6523/73
Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira 5, em Penafiel, chegou à Guiné em 13 de Julho de 1973, assumindo em 8 de Setembro de 1973 a responsabilidade do Sector L 3. O comando regressou a Bissau em 29 de Agosto de 1974, mantendo-se um Pelotão da CCS, que procedeu à desactivação e entrega ao PAIGC de Nova Lamego. Foi a última unidade a comandar este Sector.
Também é de salientar o esforço desenvolvido pelos elementos da Força Aérea que, ao comando das aeronaves disponibilizadas para as diversas missões, apoiaram as tropas no terreno, não só com o apoio de fogos e no transporte de pessoal e alimento, mas, sobretudo, no socorro prestado aos feridos e doentes na sua evacuação para a retaguarda, afim de serem assistidos de forma ao seu restabelecimento rápido.
Hastear da bandeira da Guiné-Bissau em Canjadude em 20 de Agosto de 1974.
Aqui já não era Portuguesa
Foto João Carvalho – 1974 – com a devida vénia
É de esperar que, não só criticas ou sugestões surjam na publicação destes textos mas que, num espírito de trazer ao conhecimento de todos e, em especial daquela camada que não viveu a guerra e que esperamos não a venha a viver, conheçam o esforço de um punhado de homens que, abandonando os campos, as fábricas, os escritórios e as escolas, e muito penosamente as próprias famílias, e responderam PRESENTE quando a Pátria os convocou!
José Martins
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 25 Outubro 2005 > Guiné 63/74 - CCLVIII: Antologia (22): Madina do Boé, por Jorge Monteiro (CCAÇ 1416, 1965/67)
(2) Vd. posts anteriores:
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)
15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)
Foto: © Manuel Domingues (s/d) (Imagem reproduzida, sem menção da fonte, no Blogue do Fernando Gil > Moçambique para todas. Presumo que a sua autoria seja do Jorge Monteiro ou do Manuel Domingues) (1)
Texto do José Martins (ex-furriel miliciano trms, CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Canjadude , 1968/70). Terceira e última parte da série Madina do Boé: contributos para a sua história (2).
Continuação da publicação da lista dos nossos camaradas que tombaram em combate no triângulo do Boé (Madina, Beli, Cheche), bem como de outras unidades que lá estiveram ou passaram por lá:
De 7 de Fevereiro de 1969 até 20 de Agosto de 1974
A partir de 6 de Fevereiro de 1969, data em que as NT passaram o Rio Corubal junto ao Cheche, estava desfeito o Triângulo do Boé (Beli - Madina do Boé – Cheche), tendo sido, naquela zona em 24 de Setembro de 1973 proclamada unilateralmente a independência da Guiné-Bissau. Beli foi retirada em 15 de Junho de 1968. Madina em 5 de Fevereiro de 1969. E Cheche no dia seguinte. Por outro laDO, Canjadude FOI entregue ao PAIGC em 20 de Agosto de 1974. E Nova Lamego, duas semanas mais tarde, em 4 de Setembro de 1974.
Companhia de Caçadores 5
• Carlos Alberto Leitão Diniz, 1º Cabo Auxiliar de Enfermeiro, natural de Oliveira do Hospital, inumado no cemitério de Oliveira do Hospital, tombou vitima do rebentamento de uma mina na estrada de Nova Lamego a Canjadude em 3 de Agosto de 1970;
• João Purrinhas Martins Cecílio, Furriel de Infantaria, natural de São Pedro / Elvas, inumado no cemitério de Santo António dos Olivais em Coimbra, tombou vitima do rebentamento de uma mina na estrada de Nova Lamego a Canjadude em 3 de Agosto de 1970;
• Mamadu Djaló, Soldado Atirador, natural de Santa Isabel / Gabú, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, foi vítima, em 15ABR71, de ferimentos recebidos em combate numa operação de apoio à CCP 123 em Liporo, vindo a falecer no Hospital Militar 241 em 17 de Abril de 1971;
• Dembaro Baldé, Soldado Atirador, natural de Nossa Senhora da Graça / Farim, inumado no cemitério de Canjadude, tombou no ataque ao Aquartelamento de Canjadude em 22 de Julho de 1971;
• Quecuta Camará, Soldado Atirador, natural de Santa Isabel / Gabú, inumado no cemitério de Canjadude, tombou no ataque ao Aquartelamento de Canjadude em 22 de Julho de 1971;
• Saliú Embaló, Soldado Apontador de Metralhadora, natural de Pirada / Gabú, inumado no cemitério de Canjadude, tombou num patrulhamento junto do Rio Campossabane (zona norte do Cheche), em 1 de Agosto de 1971;
• Sulai Queta, Soldado Apontador de Metralhadora, natural de Cacine / Catió, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, tombou no ataque ao Aquartelamento de Canjadude em 8 de Agosto de 1973.
Companhia de Artilharia 3332
• João Alberto Lopes Vilela, Soldado Atirador, natural de Gil / Paços de Ferreira, inumado no cemitério de Paços de Ferreira, tombou no Aquartelamento do Che-che, quando este voltou a ser ocupado pelas nossas tropas – Companhia de Caçadores 5 e Companhia de Artilharia 3332 – que utilizaram pontualmente este Aquartelamento como base de patrulhas, em 11 de Fevereiro de 1971.
Companhia de Caçadores Páraquedistas 123
• Avelino Joaquim Gomes Tavares, Soldado Paraquedista, natural de Matosinhos, inumado na Metrópole, tombou numa operação em Liporo, em 15 de Abril de 1971;
• Carlos Alberto Ferreira Martins, Soldado Paraquedista, natural de Moledo / Vimieiro, inumado na Metrópole, tombou numa operação em Liporo, em 15 de Abril de 1971.
OUTRAS UNIDADES ENVOLVIDAS
Há unidades que não foram referidas no texto inicial, mas que pela continuada pesquisa sobre o tema encontramos elementos que garantem a sua presença na zona, pelo que nos compete fazer aqui referência às mesmas:
Centro de Instrução de Comandos
Em 23 de Outubro de 1963 teve início com a formação de um grupo de Oficiais e Sargentos, em serviço no CTIG, que foram receber instrução de comandos na Região Militar de Angola.
O primeiro Grupo de Comandos a ser formado na Guiné, teve o seu baptismo de fogo na Operação Tridente, realizada na Ilha de Como entre 14 de Janeiro e 24 de Março de 1964. Este Grupo de Comandos recebeu as insígnias de Comando em Bissau a 29 de Abril de 1964.
Em 3 de Agosto de 1964 inicia-se a Escola Preparatória de Quadros, com vista à formação de três Grupos, entre eles o Grupo de Comandos Os Fantasmas, que decorreu entre 30 de Setembro e 17 de Novembro de 1964.
Tendo a sua base em Brá (Bissau), estes grupos realizaram diversas operações em diversas zonas, das quais se destacam Madina do Boé, Catió, Farim, Jabadá, e Canjambari. Em este Centro de Instrução passou a ser designado por Companhia de Comandos até à sua extinção, após a chegada da 3ª Companhia de Comandos, mobilizada no Regimento de Artilharia 1 - Lisboa, que desembarcou em Bissau e 30 de Junho de 1966.
Batalhão de Engenharia 447
Foi criada em 1 de Julho de 1964, como unidade da guarnição normal da Guiné, tendo integrado todos os elementos de engenharia existentes na Guiné, nomeadamente a Companhia de Engenharia 447, mobilizada no Regimento de Engenharia 1 (Pontinha – Lisboa), que era constituída por, além do Comando, 1 Pelotão de Equipamento Mecânico, 2 Pelotões de Sapadores e 1 Pelotão de Pontoneiros, sendo este pelotão que garantia a ligação fluvial por barco em diversos pontos.
Destacou elementos para colaborar na execução e/ou reparação das estruturas de aquartelamentos (edifícios, electrificação, depósitos de água), construção de estradas e formação de pessoal local nas especialidades de pedreiro, carpinteiro, canalizador, electricista e operador de máquinas de terraplanagem. Foi extinto em 14 de Outubro de 1974 com a entrega das instalações e equipamento.
Chefia do Serviço de Material / Quartel General – Guiné
Com base no Quadro Orgânico aprovado por despacho ministerial de 14 de Novembro de 1963, tem início como unidade de guarnição normal do CTIG em 1 de Janeiro de 1964, integrando os destacamentos de manutenção de material até então existentes, passando a ser constituído por uma Companhia de Recuperação de Material e por uma Companhia de Manutenção de Material.
Desenvolveu acções de apoio a unidades em quadrícula através dos seus Pelotões de Manutenção assim como deu instrução para especialistas de material de serralheiros, carpinteiros e mecânicos, entre outros. Em 14 de Outubro de 1974 foi instinto com a entrega das instalações e equipamentos.
Pelotão de Milícias 161
Em 8 de Julho de 1968, este Pelotão de Milícia estava adido, operacional e administrativamente, à Companhia de Caçadores 5, sedeada em Nova Lamego e com pelotões em Canjadude, Cabuca e Che-che. Pela nota circular nº 47/68, Processo 706.4 de 28 de Setembro de 1968 da Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração do Quartel-general, passa a depender da Companhia de Artilharia 2338, já referida na I Parte deste texto.
Pelotão de Milícias 162
Em 8 de Julho de 1968, este Pelotão de Milícia estava adido, operacional e administrativamente, à Companhia de Caçadores 5, sedeada em Nova Lamego Lamego e com pelotões em Canjadude, Cabuca e Che-che. Pela nota circular nº 47/68, Processo 706.4 de 28 de Setembro de 1968 da Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração do Quartel-general, passa a depender da Companhia de Cavalaria 1662, já referida na I Parte deste texto.
Pelotão de Reconhecimento 1129
Formado e mobilizado no Regimento de Cavalaria 6, no Porto, chegou à Guiné em Julho de 1966, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Caçadores 1856, a partir dessa data até ter sido rendido em Maio de 1968, data em que regressou à Metrópole.
Pelotão de Caçadores Nativos 65
Constituído por militares do recrutamento local em Maio de 1968, passou por várias zonas e aquartelamentos, até ser desactivado e extinto após assinatura do Acordo de Argel em 26 de Agosto de 1974. Esteve sedeado em Nova Lamego entre a data sua formação e a sua transferência para Canjambari em Abril de 1969.
Companhia de Artilharia 3332
Mobilizada no Regimento de Artilharia Pesada 2, em Vila Nova de Gaia, desembarcou em Bissau em 19 de Dezembro de 1970, seguindo para Piche em 25 de Janeiro de 19871, após a realização no CIM, em Bolama, da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional. Em Piche substitui a CCAV 2747 na função de intervenção e reserva do CAOP 2 e reforço do BCAV 2922. Nesta função foi destacada para operações nas áreas de Canquelifá e Canjadude, onde colaborou, com três Grupos de Combate, na Operação Duas Quinas, para a ocupação temporário do antigo Aquartelamento do Che-che, para instalação de uma base de patrulhas na área. Regressou à metrópole em 13 de Dezembro de 1972.
Companhia de Caçadores Paraquedistas 123
Foi mobilizada no Regimento de Caçadores Paraquedistas, em Tancos, em Março de 1970, após o Curso de Paraquedisdas terminado em Fevereiro anterior. Foi considerada completa, já na Guiné, em 18 de Julho de 1970, ficando estacionada em Bissalanca e integrada no Batalhão de Caçadores Parquedistas 12. Tomou parte em várias operações ofensivas de combate, com incidência no Sector Leste. Foi desactivada depois de ter regressado à Metrópole, após a independência da Guiné, que ocorreu em 10 de Setembro de 1974.
É muito provável que outras unidades tenham reforçado os Aquartelamentos referenciados nos textos, nomeadamente os Pelotões de Armas Pesadas ou Pelotões de Reconhecimento, que estivessem atribuídos aos Órgãos de Comando do Sector de Nova Lamego, que coordenava as operações na área, pelo que arriscamos a mencionar as seguintes subunidades que, apesar de não registarem baixas de qualquer causa, colaboraram em colunas, operações ou em reforço das unidades em quadrícula:
Pelotão de Caçadores 871
Mobilizado no Batalhão de Caçadores 5 em Lisboa, chegou à Guiné em Dezembro de 1962, sendo colocado em Cabedu. Em Abril de 1963 foi colocado em Nova Lamego até Outubro desse ano, altura em que foi transferido para Pirada onde veio a terminar a comissão em Outubro de 1965.
Pelotão de Reconhecimento 805
Mobilizado no Regimento de Cavalaria 6, no Porto, ficou colocado em Bissau desde a sua chegada em Novembro de 1964 até Fevereiro de 1965, data em que foi transferido para Nova Lamego, Sector Leste. Muito provavelmente tomou parte em colunas de reabastecimento a diversos aquartelamentos do Sector, nomeadamente à zona do Boé. Terminou a sua comissão em Agosto de 1966.
Companhia de Milícias 19
Formado em Junho de 1965 por elementos recrutados na província, esta força auxiliar esteve colocada no destacamento do Cheché até à retirada deste em 6 de Fevereiro de 1969. Foi extinto em Dezembro de 1971
Pelotão de Morteiros 1029
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, chegou à Guiné em Setembro de 1965, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Caçadores 512. Em Outubro de 1965 foi deslocado para Canquelifá, regressando a Nova Lamego em Maio de 1966, agora integrando o dispositivo do Batalhão de Cavalaria 705, tendo sido rendido em Maio de 1967, data em que regressou à Metrópole. É muito provável que tenha tido em diligência esquadras junto das unidades que se encontravam em quadrícula no Sector..
5ª Companhia de Comandos
Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira 1, em Lisboa, desembarcou na Guiné em 27 de Dezembro de 1966, ficando instalado em Brá (Bissau). Esteve destacada em Nova Lamego em reforço da guarnição daquela localidade, para efectuar patrulhamentos e reconhecimentos ofensivos, no período de 10 de Julho a 3 de Agosto de 1968. Foi durante aquele período que ministrou a instrução da especialidade à 15ª Companhia de Comandos. Cessou a actividade operacional em 26 de Setembro de 1968, regressando à metrópole em 31 de Outubro seguinte.
Pelotão de Morteiros 1191
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 15, em Tomar, chegou à Guiné em 13 Abril de 1967, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Cavalaria 1915, tendo sido rendido em Março de 1969, data em que regressou à Metrópole. Durante a sua comissão destacou, em diligência junto de outras unidades, diversas esquadras, que rodava com certa frequência nos Aquartelamento de Buruntuma, Canquelifá, Madina do Boé, Beli e Cabuca.
Pelotão de Milícias 129
Formado por elementos recrutados na província, esta força auxiliar é referido nos relatórios de operações da Companhia de Caçadores 5, aquartelada em Canjadude, a partir de Junho de 1968, nada mais constando sobre o mesmo
Companhia de Cavalaria 2482
Unidade pertencente ao Batalhão de Cavalaria 2867 e mobilizada no Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz, chegou à Guiné em 1 de Março de 1969. Seguiu de imediato para Tite, onde assumiu a responsabilidade do Sector. Em Julho de 1969 cedeu um grupo de combate à Companhia de Caçadores 5, enquanto esta realizava a Operação Sátiro, com a totalidade do seu efectivo operacional, à região do Rio Corubal. Durante a sua permanência no Aquartelamento de Canjadude, sofreu uma flagelação IN, de 11 para 12 de Julho de 1968. Após a operação regressou ao seu sector.
Pelotão de Morteiros 2105
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, chegou à Guiné em 25 de Fevereiro de 1969, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Caçadores 2835 e a partir de 22 de Novembro de 1969 integrado na Batalhão de Caçadores 2893, tendo sido rendido em Dezembro de 1970, data em que regressou à Metrópole. Durante a sua comissão destacou, em diligência junto de diversas unidades, esquadras, que rodava com certa frequência, no Aquartelamento Canjadude.
Batalhão de Caçadores 2893
Chegou à Guiné em 29 de Novembro de 1969 tendo sido mobilizado no Batalhão de Caçadores 10, em Chaves. Em 29 desse mês assume a responsabilidade do Sector L3, com sede em Nova Lamego, substituindo o Batalhão de Caçadores 2835. Foi rendido pelo Batalhão de Cavalaria 3854 e regressou à metrópole em 25 de Setembro de 1971.
Pelotão de Milícias 254 da Companhia de Milícia 18
Esta unidade de Forças auxiliares, é referida no relatório de Situação Geral, como constituindo uma das componentes que constituem e guarnição de Canjadude, sob a responsabilidade da CCAÇ 5, em Janeiro de 1970
Companhia de Artilharia 2762
Mobilizada no Regimento de Artilharia Pesada 2, em Vila Nova de Gaia, chegou à Guiné em 20 de Julho de 1970, seguindo para Pirada. Em 5 de Junho de 1971 foi transferida para Nova Lamego, em missão de intervenção e reserva do Batalhão de Caçadores 2893 e depois do Batalhão de Cavalaria 3854, tendo efectuado várias acções nas áreas de Canjadude e Cabuca. Regressou à metrópole em 17 de Junho de 1972.
Pelotão de Morteiros 2267
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, chegou à Guiné em 31 de Outubro de 1970, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Caçadores 2893 e a partir de 5 de Setembro de 1971 integrado no Batalhão de Cavalaria 3854, tendo sido rendido em Setembro de 1972, data em que regressou à Metrópole. Durante a sua comissão destacou, em diligência junto de diversas unidades, esquadras, que rodava com certa frequência, no Aquartelamento Canjadude.
Batalhão de Cavalaria 3854
Mobilizado no Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz, chegou à Guiné à Guiné em 10 de Julho de 1971. Após a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional efectuada no Centro Militar de Instrução no Cumeré, assumiu a responsabilidade do Sector de Nova Lamego em 5 de Setembro de 1971, rendendo o Batalhão de Caçadores 2893. Foi rendido pelo Batalhão de Artilharia 6523/73 e regressou à metrópole em 5 de Outubro de 1973.
Pelotão de Morteiros 4574/72
Formado e mobilizado no Regimento de Infantaria 15, em Tomar, chegou à Guiné em Julho de 1972, ficando instalado em Nova Lamego, integrado nas forças operacionais do Batalhão de Cavalaria 3854 e a partir de 8 de Setembro de 1973 integrado no Batalhão de Artilharia 6523, tendo retirado de Nova Lamego em Agosto de 1974, de acordo com a retracção das NT, regressando à Metrópole. Durante a sua comissão destacou, em diligência junto de diversas unidades, esquadras, que rodava com certa frequência, no Aquartelamento Canjadude.
Grupo Especial de Milícias 244
Esta unidade de forças auxiliares, está referida no relatório da Flagelação IN a Canjadude em 27 de Abril de 1973, pelas 22H50, como tendo encontrada, no dia anterior, vestígios IN a Sul de Canjadude e ter sido flagelado na zona situada entre o Rio Mebouro e Rio Siai, nesse mesmo dia, a partir da zona a sul do Rio Corubal. Estava no aquartelamento de Canjadude na altura da flagelação.
Batalhão de Artilharia 6523/73
Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira 5, em Penafiel, chegou à Guiné em 13 de Julho de 1973, assumindo em 8 de Setembro de 1973 a responsabilidade do Sector L 3. O comando regressou a Bissau em 29 de Agosto de 1974, mantendo-se um Pelotão da CCS, que procedeu à desactivação e entrega ao PAIGC de Nova Lamego. Foi a última unidade a comandar este Sector.
Também é de salientar o esforço desenvolvido pelos elementos da Força Aérea que, ao comando das aeronaves disponibilizadas para as diversas missões, apoiaram as tropas no terreno, não só com o apoio de fogos e no transporte de pessoal e alimento, mas, sobretudo, no socorro prestado aos feridos e doentes na sua evacuação para a retaguarda, afim de serem assistidos de forma ao seu restabelecimento rápido.
Hastear da bandeira da Guiné-Bissau em Canjadude em 20 de Agosto de 1974.
Aqui já não era Portuguesa
Foto João Carvalho – 1974 – com a devida vénia
É de esperar que, não só criticas ou sugestões surjam na publicação destes textos mas que, num espírito de trazer ao conhecimento de todos e, em especial daquela camada que não viveu a guerra e que esperamos não a venha a viver, conheçam o esforço de um punhado de homens que, abandonando os campos, as fábricas, os escritórios e as escolas, e muito penosamente as próprias famílias, e responderam PRESENTE quando a Pátria os convocou!
José Martins
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 25 Outubro 2005 > Guiné 63/74 - CCLVIII: Antologia (22): Madina do Boé, por Jorge Monteiro (CCAÇ 1416, 1965/67)
(2) Vd. posts anteriores:
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)
15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)
Guiné 63/74 - P1387: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (9): Catió, 1967 (Victor Condeço)
Guiné > Região de Tombali > Catió > 1967 > Postal de Natal
Foto: © Vítor Condeço (2006). Direitos reservados.
Caro Luís:
Com o mesmo postal que utilizei em 1967 para desejar as Boas Festas aos meus familiares e amigos, faço-o hoje para ti e tua família e para todos os camaradas e amigos da Tertúlia.
Que tenham um SANTO NATAL e um FELIZ ANO NOVO, que este permita concretizar os vossos sonhos!
Um abraço
Victor Condeço (1)
_______________
Nota de L.G.:
(1) Vd. posts de:
3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1336: Catió: Autor de pintura mural, procura-se (Victor Condeço)
3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)
Foto: © Vítor Condeço (2006). Direitos reservados.
Caro Luís:
Com o mesmo postal que utilizei em 1967 para desejar as Boas Festas aos meus familiares e amigos, faço-o hoje para ti e tua família e para todos os camaradas e amigos da Tertúlia.
Que tenham um SANTO NATAL e um FELIZ ANO NOVO, que este permita concretizar os vossos sonhos!
Um abraço
Victor Condeço (1)
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Nota de L.G.:
(1) Vd. posts de:
3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1336: Catió: Autor de pintura mural, procura-se (Victor Condeço)
3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)
quarta-feira, 20 de dezembro de 2006
Guiné 63/74 - P1386: Um homem de Guidaje (Barreto Pires, CART 2412)
Texto do José Barreto Pires, que vive em Alenquer e pertenceu à CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70) (1)
Amigos e Camaradas;
Tertuliano desde de alguns meses a esta parte, tenho me remetido quase ao silêncio, não obstante de ter apreciado bastante os duelos estabelecidos e as notícias transmitidas.Entre os imensos temas trocados,impressionaram-me sobre maneira os de alguns dias atrás sobre Telegrama e Guidaje, não fosse eu um homem de Guidaje, ou melhor dito, que não tivesse andado efectivamente por essas bandas...
De facto, integrei a CART 2412, que comandei mais de 50% do tempo que permaneceu em terras de Guiné. Fomos alcunhados como Os sempre diferentes e de facto eramos, pelo que indo ao desafio do Telegrama, porque existem imensas coisas para contar, julgando-me, de certa forma, apresentado, passarei a colaborar, semanalmente, com um episódio dos imensos vividos nessa experiência que, de facto, não é minha...nem é tua...mas foi de todos nós...Segue para a semana...
Com um grande abraço
Barreto Pires
____________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de Maio de 2006 > Guiné 63/74- DCCCII: Um novo tertuliano, o José Barreto Pires (CART 2412)
Amigos e Camaradas;
Tertuliano desde de alguns meses a esta parte, tenho me remetido quase ao silêncio, não obstante de ter apreciado bastante os duelos estabelecidos e as notícias transmitidas.Entre os imensos temas trocados,impressionaram-me sobre maneira os de alguns dias atrás sobre Telegrama e Guidaje, não fosse eu um homem de Guidaje, ou melhor dito, que não tivesse andado efectivamente por essas bandas...
De facto, integrei a CART 2412, que comandei mais de 50% do tempo que permaneceu em terras de Guiné. Fomos alcunhados como Os sempre diferentes e de facto eramos, pelo que indo ao desafio do Telegrama, porque existem imensas coisas para contar, julgando-me, de certa forma, apresentado, passarei a colaborar, semanalmente, com um episódio dos imensos vividos nessa experiência que, de facto, não é minha...nem é tua...mas foi de todos nós...Segue para a semana...
Com um grande abraço
Barreto Pires
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de Maio de 2006 > Guiné 63/74- DCCCII: Um novo tertuliano, o José Barreto Pires (CART 2412)
Guiné 63/74 - P1385: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (4): Nasceu e quer morrer português (Mário Dias)
O Coronel do Exército Português, na reforma, Marcelino da Mata (o segundo a contar da esquerda), f0tografado em 24 de Setembro de 2005, durante o convívio dos Grupos de Comandos que actuaram na Guiné entre 1964/66. O grupo fotografado é constituído por elementos que participaram na mítica Operação Trindente (Ilha do Como, Janeiro-Março de 1964).
Da esquerda para a direita (situação militar reportada a 1964):
(i) sold João Firmino Martins Correia;
(ii) 1º cabo Marcelino da Mata;
(iii) 1º cabo Fernando Celestino Raimundo;
(iv) fur mil António M. Vassalo Miranda;
(v) fur Mário F. Roseira Dias;
(vi) sold Joaquim Trindade Cavaco
Texto da autoria do Mário Dias, sargento comando (Brá, 1963/66):
Caro Luís:
Tens toda a razão, pois, realmente, ainda nada disse sobre o Marcelino (1).
Vou pôr de parte as controvérsias que figuras como ele sempre geram. É normal que assim seja e só demonstra que se alguém concita em si a atenção pública, com defensores e detractores, é porque essa pessoa - no caso vertente o Marcelino - fizeram algo que ultrapassa o comum dos mortais.
Vamos então aos factos:
Corria o início do ano de 1963 quando, tendo eu regressado ao serviço militar e sido colocado na 2ª Repartição (Informações) do QG de Bissau, conheci o Marcelino.
Ela era 1.º cabo condutor nessa repartição e desde logo me apercebi ser pessoa de muita confiança do Chefe da Repartição bem como do restante pessoal do QG de qualquer função ou graduação. Falava correctamente o português, conhecia várias línguas dos povos da Guiné e era um fiel e incansável colaborador na procura de informações que nesse tempo do início do conflito não eram muitas.
Eu falava muito frequentemente com ele, como é natural, e fiquei a saber que no início das actividades do PAIGC também havia sido aliciado, o que recusou. Talvez por isso, alguns familiares seus, entre os quais a mãe, foram alvos de sevícias e alguns, até raptados. Isso só aumentou a sua determinação de combater ao lado dos portugueses pois, conforme dizia - e continua dizendo - nasceu e quer morrer português.
Mais tarde, já em Janeiro de 1964, quando decorria a Operação Tridente na Ilha do Como, apareceu lá para se juntar ao grupo de comandos. Foi aí que comecei a admirar as suas extraordinárias capacidades de combatente.
O Marcelino era, realmemente, aquilo que nós costumamos designar por uma máquina. Era um dos mais entusiastas do grupo e senhor de uma coragem e determinação extraordinárias. Nunca o vi vacilar perante o perigo nem reclamar pelas duras condições a que estávamos sujeitos. E a minha admiração por ele cresceu por ele ser guineense e estar ao lado dos portugueses, quando havia já muitos portugueses aliados ao PAIGC ou, pelo menos, fazendo resistência passiva, o que só fortalecia o adversário.
Depois da Op Tridente (2), e após o regresso a Bissau, o Marcelino continuou nos comandos e colaborou com os seus conhecimentos do terreno e a sua natural aptidão de combatente na formação dos grupos de comandos que se instruiram no 1º curso de comandos realizado em Brá. Ficou a pertencer aos Panteras (3) e foi uma peça importante na operacionalidade desse grupo.
Mais tarde, criou o seu próprio e lendário grupo que se chamava Os Roncos, salvo erro.
Eu regressei a Lisboa em Fevereiro de 1966. Portanto, não poderei testemunhar tudo quanto o Marcelino realizou desde essa altura mas é do domínio público que foi muito. Não é por não ter feito nada nem por não ter extraordinário valor que se recebe por várias vezes a Cruz de Guerra a ainda a Torre Espada; nem que se passa de 1º cabo a tenente-coronel por sucessivas promoções por distinção.
Cometeu excessos, dizem alguns. Não sei. Não assisti. Porém, ponho as minhas reticências porque, enquanto com ele lidei, nunca o vi realizar acções menos dignas nem ter atitudes desumanas. Era duro e inflexível porque assim é a guerra; mas cruel e sanguinário, não.
Hoje, o Marcelino mantém-se igual ao que sempre foi: determinado, amigo do seu amigo, e senhor de um amor a Portugal que deveria fazer corar de vergonha muitos patriotas da nossa praça. Quando o encontro e por vezes o confronto com esse facto que não é, nos dias de hoje, politicamente (e vantajosamente, digo eu) correcto, ele me responde invariavelmente:
- Eu sou português e sempre serei. Esses gajos (PAIGC) que fizeram a independência só trouxeram desgraça. E em Angola e Moçambique é a mesma coisa. Os governantes enchem a barriga e o povo passa fome. E remata com o vernáculo p... que os pariu.
É este o Marcelino que eu conheci e conheço. Homem vertical que nada nem ninguém consegue dobrar. Nem mesmo os sanhudos torcionários do RALIS onde esteve preso durante o nefasto PREC (4).
Marcelino, daqui te envio aquele abraço.
Mário Dias
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores:
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1355: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (2): Orgulho-me de o ter conhecido em Guileje (José Carvalho)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
(2) Vd. textos (inéditos) do Mário Dias sobre a batalha do Como:
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)
17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)
(3) Vd. post de 10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
(4) Vd. blogue do Virgínio Briote > Tantas Vidas > 29 de Junho de 2006 > O que é feito deles (II)
(...) "O Marcolino das Matas [nome ficcional de Marcelino da Mata] voltou a pegar na G3 no tempo do Governador Spínola. Fez um grupo especial de africanos, o processo de promoção por distinção suspenso foi retomado, num ápice passou de cabo a capitão, cruzes de guerra incluídas, quase sem saber ler e escrever que os guerrilheiros exigiam outras habilidades.
"Pirou-se para Lisboa e fez muito bem, antes que fosse tarde demais. Continuou a sua vida de aventuras, quando o filme de Abril estava a ser rodado foi torturado por educadores da classe operária. Considerado como um dos militares mais condecorados por feitos em combate, é visto muitas vezes nos 10 de Junho e 1ºs de Dezembro. Apareceu também nos jornais e telejornais quando foi depor ao tribunal, a propósito de um escândalo qualquer numa universidade" (...).
Recorde-se que - segundo os jornais da época - em 15 de Maio de 1975 soldados do RALIS, militantes do MRPP, detém irregularmente um fuzileiro e depois o alferes comando Marcelino da Mata, o qual é torturado a 17 ... Enfim, um episódio triste da revolução dos cravos.
Da esquerda para a direita (situação militar reportada a 1964):
(i) sold João Firmino Martins Correia;
(ii) 1º cabo Marcelino da Mata;
(iii) 1º cabo Fernando Celestino Raimundo;
(iv) fur mil António M. Vassalo Miranda;
(v) fur Mário F. Roseira Dias;
(vi) sold Joaquim Trindade Cavaco
Texto da autoria do Mário Dias, sargento comando (Brá, 1963/66):
Caro Luís:
Tens toda a razão, pois, realmente, ainda nada disse sobre o Marcelino (1).
Vou pôr de parte as controvérsias que figuras como ele sempre geram. É normal que assim seja e só demonstra que se alguém concita em si a atenção pública, com defensores e detractores, é porque essa pessoa - no caso vertente o Marcelino - fizeram algo que ultrapassa o comum dos mortais.
Vamos então aos factos:
Corria o início do ano de 1963 quando, tendo eu regressado ao serviço militar e sido colocado na 2ª Repartição (Informações) do QG de Bissau, conheci o Marcelino.
Ela era 1.º cabo condutor nessa repartição e desde logo me apercebi ser pessoa de muita confiança do Chefe da Repartição bem como do restante pessoal do QG de qualquer função ou graduação. Falava correctamente o português, conhecia várias línguas dos povos da Guiné e era um fiel e incansável colaborador na procura de informações que nesse tempo do início do conflito não eram muitas.
Eu falava muito frequentemente com ele, como é natural, e fiquei a saber que no início das actividades do PAIGC também havia sido aliciado, o que recusou. Talvez por isso, alguns familiares seus, entre os quais a mãe, foram alvos de sevícias e alguns, até raptados. Isso só aumentou a sua determinação de combater ao lado dos portugueses pois, conforme dizia - e continua dizendo - nasceu e quer morrer português.
Mais tarde, já em Janeiro de 1964, quando decorria a Operação Tridente na Ilha do Como, apareceu lá para se juntar ao grupo de comandos. Foi aí que comecei a admirar as suas extraordinárias capacidades de combatente.
O Marcelino era, realmemente, aquilo que nós costumamos designar por uma máquina. Era um dos mais entusiastas do grupo e senhor de uma coragem e determinação extraordinárias. Nunca o vi vacilar perante o perigo nem reclamar pelas duras condições a que estávamos sujeitos. E a minha admiração por ele cresceu por ele ser guineense e estar ao lado dos portugueses, quando havia já muitos portugueses aliados ao PAIGC ou, pelo menos, fazendo resistência passiva, o que só fortalecia o adversário.
Depois da Op Tridente (2), e após o regresso a Bissau, o Marcelino continuou nos comandos e colaborou com os seus conhecimentos do terreno e a sua natural aptidão de combatente na formação dos grupos de comandos que se instruiram no 1º curso de comandos realizado em Brá. Ficou a pertencer aos Panteras (3) e foi uma peça importante na operacionalidade desse grupo.
Mais tarde, criou o seu próprio e lendário grupo que se chamava Os Roncos, salvo erro.
Eu regressei a Lisboa em Fevereiro de 1966. Portanto, não poderei testemunhar tudo quanto o Marcelino realizou desde essa altura mas é do domínio público que foi muito. Não é por não ter feito nada nem por não ter extraordinário valor que se recebe por várias vezes a Cruz de Guerra a ainda a Torre Espada; nem que se passa de 1º cabo a tenente-coronel por sucessivas promoções por distinção.
Cometeu excessos, dizem alguns. Não sei. Não assisti. Porém, ponho as minhas reticências porque, enquanto com ele lidei, nunca o vi realizar acções menos dignas nem ter atitudes desumanas. Era duro e inflexível porque assim é a guerra; mas cruel e sanguinário, não.
Hoje, o Marcelino mantém-se igual ao que sempre foi: determinado, amigo do seu amigo, e senhor de um amor a Portugal que deveria fazer corar de vergonha muitos patriotas da nossa praça. Quando o encontro e por vezes o confronto com esse facto que não é, nos dias de hoje, politicamente (e vantajosamente, digo eu) correcto, ele me responde invariavelmente:
- Eu sou português e sempre serei. Esses gajos (PAIGC) que fizeram a independência só trouxeram desgraça. E em Angola e Moçambique é a mesma coisa. Os governantes enchem a barriga e o povo passa fome. E remata com o vernáculo p... que os pariu.
É este o Marcelino que eu conheci e conheço. Homem vertical que nada nem ninguém consegue dobrar. Nem mesmo os sanhudos torcionários do RALIS onde esteve preso durante o nefasto PREC (4).
Marcelino, daqui te envio aquele abraço.
Mário Dias
_____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores:
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1355: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (2): Orgulho-me de o ter conhecido em Guileje (José Carvalho)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
(2) Vd. textos (inéditos) do Mário Dias sobre a batalha do Como:
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)
17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)
(3) Vd. post de 10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
(4) Vd. blogue do Virgínio Briote > Tantas Vidas > 29 de Junho de 2006 > O que é feito deles (II)
(...) "O Marcolino das Matas [nome ficcional de Marcelino da Mata] voltou a pegar na G3 no tempo do Governador Spínola. Fez um grupo especial de africanos, o processo de promoção por distinção suspenso foi retomado, num ápice passou de cabo a capitão, cruzes de guerra incluídas, quase sem saber ler e escrever que os guerrilheiros exigiam outras habilidades.
"Pirou-se para Lisboa e fez muito bem, antes que fosse tarde demais. Continuou a sua vida de aventuras, quando o filme de Abril estava a ser rodado foi torturado por educadores da classe operária. Considerado como um dos militares mais condecorados por feitos em combate, é visto muitas vezes nos 10 de Junho e 1ºs de Dezembro. Apareceu também nos jornais e telejornais quando foi depor ao tribunal, a propósito de um escândalo qualquer numa universidade" (...).
Recorde-se que - segundo os jornais da época - em 15 de Maio de 1975 soldados do RALIS, militantes do MRPP, detém irregularmente um fuzileiro e depois o alferes comando Marcelino da Mata, o qual é torturado a 17 ... Enfim, um episódio triste da revolução dos cravos.
Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)
Foto: © João S. Parreira (2005). Direitos reservados.
Mensagem do novo membro da nossa tertúlia, o ex- Alf Mil António de Figueiredo Pinto, BCAÇ 506 (1963/65) (1):
Caro José Martins:
Foi por mero acaso que, pesquisando na Internet assuntos sobre a Guiné, encontrei o site do Amigo Luís Graça (feliz acaso !), apartir do qual e em pouco tempo começo a receber notícias de Amigos, que, como eu, passaram por terras da Guiné.
És o primeiro que eu constato que palmilhou muitos dos caminhos por onde andei. Já estou quase nos 68 anos, um bocado entradote na idade mas um novato nestas andanças de computadores e Internet.
A memória já me vai traindo um bocado, mas há momentos que jamais poderei esquecer e com certeza que me acompanharão para sempre. Guardei alguns documentos daquele tempo e, vasculhando-os, verifico que pertenci à 3ª Companhia de Caçadores, em Nova Lamego, e aos Batalhões de Caçadores, sediados em Bafatá, nºs 506 e 512 e finalmente ao Batalhão de Cavalaria nº 705.
Sobre Madina do Boé (2) estive lá no 2º ano de comissão, lembro-me que fomos os primeiros a lá chegar e montar o 1º aquartelamento que ficou ao fundo da estrada, onde havia uma escola desactivada. Os primeiros tempos passámo-los sem sobressaltos de maior até que houve o 1º ataque, não posso precisar a data. Não tivemos feridos.
Há um episódio, no entanto, entre vários, que me marcou bastante. Vou tentar resumi-lo:
Uma tarde estávamos no Destacamento, quando, de repente, ao fundo da tal estrada vimos chegar, com grande alarido dois ou três jipes com uma velocidade inusitada e alguém aos gritos, que só conseguimos entender quando chegaram à nossa beira. Era um grupo de Comandos, chefiados pelo alferes Saraiva (um homem tremendamente marcado pela guerra em Angola, onde assistiu à morte de familiares seus ) . Aos berros, pediu-nos viaturas e homens para efectuar uma operação (de que eu não tinha conhecimento ) nos arredores de Madina. De tal maneira ele estava transtornado que chegou a puxar de pistola para um Furriel do Destacamento, que esta a apertar as botas, tal era a sua pressa.
O que não posso esquecer é o pedido que um dos nossos soldados fez para substituir o condutor duma viatura, salvo erro, uma Mercedes, argumentando que, sendo ele pequeno ( e era-o de facto) se uma mina rebentasse ele saltava com mais facilidade, pedindo só para deixar tirar a capota da viatura. Não me recordo do nome dele mas vejo-o constantemente...
Essa patrulha, em que não participei, pois o Saraiva não o permitiu, foi atacada, após o rebentamento de minas. Morreram vários camaradas nossos, entre eles o referido condutor, que teve uma morte horrorosa.
Alguns desses camaradas deixaram este mundo nos meus braços e nos do médico que, na altura, estava conosco e que é por demais conhecido - o Luiz Goes, que todos conhecem, com certeza, pelos seus fados de Coimbra (3).
Este foi um dos momentos mais dramáticos que vivi na Guiné (4), para além de outros, especialmente em Beli, onde fui ferido e que noutra altura relatarei.
Penso não estar a ser fastidioso.
Tu mo dirás se posso relatar outros factos que agora se estão a soltar e vir ao consciente.
Fiquei bastante emocionado ao ver no teu contributo de Memórias da Guiné ao ver o nome do meu maior Amigo, dentre tantos Amigos que lá tive - Martinho Gramunha Marques. Sobre ele também gostaria de falar um dia.
Amigo José Martins, breve voltarei, se não fôr inconveniente.
Um grande abraço.Tudo de bom para ti e toda a tua Família.
Pinto
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli
(...) "Alguns dados sobre a minha estadia na Guiné:
(i) Embarquei em Novembro de 1963, em rendição individual. Fui substituir um colega que se pirou para o Senegal.
(ii) Estive algum tempo em Nova Lamego, tendo sido, em seguida destacado para Pirada onde reconstrui o aquartelamento.
(iii) Estive algum tempo em Geba, zona na altura um bocado perigosa, mas sem problemas.
(iv) Vim de férias em Outubro de 1964, conhecer o meu primeiro filho, com 3 meses de idade.
(v) No regresso, fui destacado para Madina do Boé, tendo sido o primeiro pelotão a chegar lá onde montei o primeiro aquartelamento.
(vi) Depois fui para Beli, onde ao fim de algum tempo, e depois também de ter sido o primeiro pelotão a lá chegar e ter montado o destacamento, em Maio de 65, fomos atacados tendo aí sido ferido (mais seis companheiros) mas, felizmente ninguém morreu. Os meus ferimentos foram motivados pelo rebentamento de uma granada de morteiro, que me encheu o corpo de pequenos estilhaços, mas depois de um mês no hospital em Bissau, fiquei OK" (...).
(2) Vd. posts recentes do José Martins:
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)
15 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)
(3) Vd. blogue Fado de Coimbra e... > Luiz Goes
(...) "Luiz Fernando de Sousa Pires de Goes nasceu em Coimbra, em 1933 e licenciou-se em Medicina, em Outubro de 1958.
"Sobrinho de Armando Goes (que foi contemporâneo de Edmundo de Bettencourt, António Menano, Lucas Junot, José Paradela de Oliveira, Almeida D’Eça e Artur Paredes), Luiz Goes cedo se iniciou nas cantorias do fado por influência de seu tio.
(...) "Terminado o curso de Medicina em 1958, Luiz Goes fixou-se em Lisboa como médico estomatologista. De 1963 a 1965 o cantor prestou serviço militar na Guiné, na guerra colonial, como alferes-médico. Mas depois, continuou a sua carreira artística, como aliás se demonstra pela quantidade de discos que gravou a partir dessa altura.
"Nesta segunda fase, Luiz Goes foi acompanhado, à guitarra, por Carlos Paredes (que com ele participou na gravação de discos, embora sob pseudónimo), por João Bagão, António Andias, Aires de Aguiar e esporadicamente, por Jorge Tuna e Octávio Sérgio; à viola, por Fernando Alvim, João Gomes, António Toscano, Fernando Neto, e Durval Moreirinhas.
"Para além de excelente intérprete, Luiz Goes é também autor da música e da letra de muitos fados e baladas de Coimbra (25 e 18 respectivamente)" (...).
(4) Julgo tratar-se do mesmo episódio já aqui evocado pelo Virgínio Briote (que comandou o Grupo de Comandos Diabólicos):
Vd. post de Virgínio Briote, de 13 de Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXV: Brá, SPM 0418 (3): memórias de um comando (Virgínio Briote).
Extracto:
"Novembro de 64, dia 28. Na estrada de Madina do Boé para Contabane, a uma escassa centena de metros do pontão sobre o rio Gobige, os Fantasmas detectaram uma mina anti-carro. Levantaram a mina e simularam o rebentamento. Ficaram emboscados nas proximidades cerca de 2 horas. Viram um grupo IN aproximar-se e afastar-se logo que deram pela presença de mulheres na estrada. Uma hora depois viram um elemento IN a fugir. Afinal, estavam em igualdade de circunstância, todos sabiam da presença uns dos outros.
"No dia seguinte voltou com o grupo ao local. Meteu-se com alguns soldados no Unimog mais pequeno à frente, e encaixou dezasseis militares no Unimog maior atrás. A 1ª viatura passou, a outra, uma dezena de metros atrás, não. Pisou uma mina. Ao mesmo tempo que em cima deles caía uma chuva de balas de armas automáticas, o Unimog incendiou-se e as munições explodiram como foguetes num arraial minhoto. Quase todos os homens foram projectados a arder. 7 mortos logo ali e três feridos graves. Tinham partido 22 de Bissau, regressaram doze. Com o grupo dizimado, poucos dias depois arrancou com os restantes para uma operação".
Guiné 63/74 - P1383: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (8): CART 2732, Mansabá, 1971 (Carlos Vinhal)
Guiné > Região do Oio > Mansabá > CART 2732 ( 1970/72) > Almoço de Natal de 1971. "Na foto reconheço, com a mão no ar o cabo cripto Miralles, à esquerda deste o Fur Pires (transmontano dos quatro costados) e, por último, mas não menos importante, EU. De costas, mas virado para a objectiva o cabo cripto Mário (Romana) Soares" (CV).
por Carlos Vinhal
O Natal de 1971 foi diferente (1). Já estava connosco parte da Companhia açoriana (CCAÇ 2753) que nos iria render em Mansabá, o que significava que este seria o segundo e último Natal passado longe da família. Além disso o dia 17 de Janeiro aproximava-se a passos largos e com ele o fim (teórico) da nossa comissão de serviço na Guiné.
Quando se está longe há tanto tempo, já não se consegue disfarçar a ansiedade de chegar são e salvo ao fim da Comissão. Pensa-se que no próximo ano a consoada já será no aconchego da nossa família. A necessidade de afecto do ser humano é muito forte e a camaradagem e a amizade alicerçadas ao longo de quase dois anos de convívio, de partilha de privações e perigos, criou um elo muito forte que ajudava a passar aqueles momentos de ansiedade.
O mês de Dezembro de 1971 tinha sido particularmente trágico para a nossa Companhia, porque só naquele mês tivemos 2 mortos e 23 feridos em combate. Todos os feridos tiveram que ser evacuados para o Hospital Militar de Bissau. Alguns, inacreditavelmente, tinham sido feridos pela segunda vez. Voltaram mais tarde a Mansabá, e com a mesma coragem e valentia enfrentaram os perigos do dia a dia até à hora de embarque para regressarem à pacatez das suas aldeias madeirenses.
À parte isto, o convívio foi alegre tanto quanto possível, pois tínhamos menos cinco camaradas entre nós.
O alferes Couto, os soldados Vieira, Barbosa, Sivestre e Malcata estarão sempre connosco, em todos os Natais da nossa vida, jamais os esqueceremos.
Carlos Esteves Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732
Mansabá 1970/72
Leça da Palmeira
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1379: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (4): Mansabá, 1970 (Carlos Vinhal, CART 2732)
terça-feira, 19 de dezembro de 2006
Guiné 63/74 - P1382: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (7): No longínquo ano de 1968 em Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis)
Guiné > Gandembel > Ponte Balana > Novembro de 1968 > Passagem de uma coluna logística de Aldeia Formosa para Gandembel. A CCAÇ 2317, a que pertencia o Alf Mil Idálio Reis, e que estava aquartelada em Gandembel, tinha um grupo de combate a defender a Ponte Balana (de Abril de 1968 a Março de 1969). Estas duas posições foram abandonadas pelas NT. A "Gambendel das morteiradas" era uma canção de caserna muito em voga quando cheguei à Guiné (LG).
Foto: © José manuel Samouco (2006). Direitos reservados.
Texto do Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1):
Meus caros Luís e restantes Tertulianos
Nestes últimos tempos, não tenho dado notícias. E agora, neste período de graça, solidariedade e de paz, convém explicar este meu mutismo: prometi escrever uma estória, quanto a essa odisseia que foi Gandembel/Ponte Balana.
Não se tem tornado fácil para quem se confrontou com 4 folhas escritas, que estão no Arquivo Militar, e mesmo essas com alguns lapsos. Todavia, no início do próximo ano, começarei a narrar a minha visão, como resulltado de uma permanência pessoal sem hiatos, com a fidegnidade que a minha Companhia merece. E também há-de aparecer algo sobre o dia de Natal.
Desejando a todos, às minhas almas contemporâneas e generosas, que vêm trazendo os seus posts em engrandecimento do teu blogue, um Natal Feliz e um novo Ano com muita saúde e felicidades, a compartilhar irmãmente com os seus mais íntimos
E hoje, relembro esse Natal de 1968, através de um poema de José Valle de Figueiredo, que em Dezembro de 2003, então escreveu o que só os grandes poetas sabem tão bem fazer.
E para ele, que não sei como tomou conhecimento do dia de Natal em Gandembel, os meus agradecimentos.
Eis então:
GANDEMBEL, NATAL 68
Esta linguagem amara
do silêncio mordendo
o coração; o voo leve
da noite, e a navalha
da saudade cortando
a memória - como se
o parco murmúrio
do capim viesse comer
a atenção das armas;
ou como se o tempo
parado no abrigo,
por todos os lados
repartisse a lembrança
de nós próprios.
Mordemos o coração,
e vem o mover leve do silêncio
que nos vai colhendo;
murmuramos o SEU nome.
José Valle de Figueiredo (2)
Fonte: O Corpo da Pátria - Antologia Poética da Guerra do Ultramar
E que o menino do Natal, me ajude neste meu propósito.
Um cordial abraço a dividir por todos.
Idálio Reis.
____________
(1) Vd. posts do Idálio Reis:
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIV: Um sobrevivente de Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317)
18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXX: Um pesadelo chamado Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317, 1968/69)
12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P866: De Cansissé e a Fonte dos Fulas ao Baixo Mondego ou como o mundo é pequeno (Idálio Reis)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P953: Cansissé, terra de encantos mil (Parte I) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P954: Cansissé, terra de mil encantos (Parte II) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1016: Cansissé, terra de mil encantos (Parte III) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
(2) José Valle de Figueiredo nasceu em Tondela, em 1942. É um dos intelectuais de referência da direita nacionalista portuguesa. Poeta e crítico literário, foi director do jornal Combate e da revista Commedia. Foi um dos fundadores, em 1980, do movimento Ordem Nova. Em jovem escreveu o célebre Requiem por Jan Pallach, poema que evoca a memória do jovem estudante de filosofia que se imolou pelo fogo na cidade de Praga, em protesto pela invasão soviética.
Foto: © José manuel Samouco (2006). Direitos reservados.
Texto do Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1):
Meus caros Luís e restantes Tertulianos
Nestes últimos tempos, não tenho dado notícias. E agora, neste período de graça, solidariedade e de paz, convém explicar este meu mutismo: prometi escrever uma estória, quanto a essa odisseia que foi Gandembel/Ponte Balana.
Não se tem tornado fácil para quem se confrontou com 4 folhas escritas, que estão no Arquivo Militar, e mesmo essas com alguns lapsos. Todavia, no início do próximo ano, começarei a narrar a minha visão, como resulltado de uma permanência pessoal sem hiatos, com a fidegnidade que a minha Companhia merece. E também há-de aparecer algo sobre o dia de Natal.
Desejando a todos, às minhas almas contemporâneas e generosas, que vêm trazendo os seus posts em engrandecimento do teu blogue, um Natal Feliz e um novo Ano com muita saúde e felicidades, a compartilhar irmãmente com os seus mais íntimos
E hoje, relembro esse Natal de 1968, através de um poema de José Valle de Figueiredo, que em Dezembro de 2003, então escreveu o que só os grandes poetas sabem tão bem fazer.
E para ele, que não sei como tomou conhecimento do dia de Natal em Gandembel, os meus agradecimentos.
Eis então:
GANDEMBEL, NATAL 68
Esta linguagem amara
do silêncio mordendo
o coração; o voo leve
da noite, e a navalha
da saudade cortando
a memória - como se
o parco murmúrio
do capim viesse comer
a atenção das armas;
ou como se o tempo
parado no abrigo,
por todos os lados
repartisse a lembrança
de nós próprios.
Mordemos o coração,
e vem o mover leve do silêncio
que nos vai colhendo;
murmuramos o SEU nome.
José Valle de Figueiredo (2)
Fonte: O Corpo da Pátria - Antologia Poética da Guerra do Ultramar
E que o menino do Natal, me ajude neste meu propósito.
Um cordial abraço a dividir por todos.
Idálio Reis.
____________
(1) Vd. posts do Idálio Reis:
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIV: Um sobrevivente de Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317)
18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXX: Um pesadelo chamado Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317, 1968/69)
12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P866: De Cansissé e a Fonte dos Fulas ao Baixo Mondego ou como o mundo é pequeno (Idálio Reis)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P953: Cansissé, terra de encantos mil (Parte I) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P954: Cansissé, terra de mil encantos (Parte II) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1016: Cansissé, terra de mil encantos (Parte III) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
(2) José Valle de Figueiredo nasceu em Tondela, em 1942. É um dos intelectuais de referência da direita nacionalista portuguesa. Poeta e crítico literário, foi director do jornal Combate e da revista Commedia. Foi um dos fundadores, em 1980, do movimento Ordem Nova. Em jovem escreveu o célebre Requiem por Jan Pallach, poema que evoca a memória do jovem estudante de filosofia que se imolou pelo fogo na cidade de Praga, em protesto pela invasão soviética.
Guiné 63/74 - P1381: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu regresso (6): comandos de Brá em 1965, crime e castigo (João S. Parreira)
Guiné > Brá > Insígnias dos grupos de comandos constituídos em Brá (1963/66).
Fotos: © Virgínio Briote (2006). Direitos reservados. (Reproduzido do blogue Tantas Vidas, com a devida vénia...).
Mensagem do João S. Parreira, ex-furriel miliciano comando (Brá, 1964/65)
Natal/Ano Novo dos 4 Grupos Comandos em Brá - 1965
por João Parreira
Na véspera de Natal daquele ano o Comandante do Batalhão que se encontrava aquartelado em Brá, decidiu dar uma festa, mas apenas para os militares do seu Batalhão.
Assim, para a festa de Natal foi colocado na estrada alcatroada que virava para a direita do interior do aquartelamento um estrado de madeira (palco) rodeado por um palanque.
Com a festa a decorrer naquele fim da tarde, pois o barulho ouvia-se no meu quarto, saí com intenção de pedir boleia a algum jipe que nessa altura saísse para Bissau, pelo que tive necessariamente que passar por detrás do palanque. ´
De passagem parei por detrás dos convidados e ainda ouvi o final de uma anedota contada pelo militar que naquela altura estava em cena.
Logo a seguir fizeram um intervalo e muitos dos assistentes sairam dos seus lugares e foram dar uma volta. Nesta altura um soldado de um dos grupos de comandos que ia a passar, vendo que o estrado estava vazio, decidiu subir e começou a cantarolar.
De imediato o Comandante do Batalhão mandou prendê-lo. Presenciei a cena e fiquei revoltado e indignado. Ouviram-se depois muitas vozes em uníssimo gritar:
- É Natal, soltem o rapaz...soltem o rapaz...soltem o rapaz!
Mas o rapaz não foi solto. Não muito tempo depois, no local da festa, explodiu uma granada ofensiva, que provocou uma cratera no asfalto e fez com que várias lascas de madeira saltassem em várias direcções, ferindo ligeiramente alguns dos presentes.
O rebentamento da granada coincidiu com a entrada em Brá de uma viatura transportando o Comandante-Chefe, General Arnaldo Schultz, que por sinal se cruzou à saída com um jipe que me estava a dar boleia, e que a meu pedido me deixou ficar na estrada, perto da morança da Alda Mendonça, filha do Régulo de Bula. No dia seguinte vim a saber que alguém comentou que tinha sido algum comando, e que o General tinha dado ordem para não permitir a saída de nenhum comando, e mandar recolher os que se encontrassem em Bissau.
Foi mandado realizar um inquérito para averiguar responsabilidades, e subsequentes punições. Se as mesmas não dessem resultado, os 4 grupos seriam enviados para vários aquartelamentos no interior do país, por um período de 3 semanas.
Como o resultado foi infrutífero, o meu Grupo - que já não eram os Fantasmas, mas os Apaches, liderados pelo Mário Dias - foi reforçar o quartel de Bigene, onde a passagem de Ano foi passada em abrigos pois estava-se à espera de um ataque. Os Vampiros foram para Guileje. Os Diabólicos já não sei para onde, tal como os Centuriões (2)...
Com um abraço.
João Parreira
PS - O João acaba de mandar Vê se consegues corrigir ou fazer um P.S. pois no Natal 1965, Naquela altura o meu Grupo era os Apaches ,liderado pelo Mário Dias.
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 3 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74- CCCXXX: Velhos comandos de Brá: Parreira, o últimos dos três mosqueteiros (Luís Graça / Virgínio Briote / Mário Dias / João Parreira)
(...) "É um privilégio reunir nesta tertúlia três veteranos da guerra da Guiné. E mais do que isso, três mosqueteiros dos velhos comandos dos primeiros anos de guerra (1963/66). Estou referir-ne, por ordem cronológica de chegada a esta tertúlia, aos milicianos Virgínio Briote (alferes), Mário Dias (2º sargento) e, agora, João Parreira (furriel). Este é o mais recente membro da nossa tertúlia. Pedi aos dois primeiros para o apresentarem. Aqui ficam as palavras destes três sábios guerreiros que, contrariamente a muitos de nós, foram voluntários e conheceram a Guiné, de lés a lés. O Mário, inclusive, participou na mítica batalha da Ilha do Como (1964).
(...) "Mensagem do Virgínio Briote:
(...) "E agora pede para entrar o João Parreira, uma das lendas vivas dos velhos comandos de Brá. Andou pela Guiné toda, viu camaradas a morrer mesmo ao lado dele, foi evacuado no mesmo heli que transportou para Bissau o corpo do Furriel Morais. E tanta coisa que o João pode contar, se quiser!
"Luís, parabéns pela obra que estás a erguer. Ninguém ainda a tinha feito desta forma, sem recriminações, sem bons e maus. Apenas combatentes, de um lado e doutro. Com mais ou menos vontade, uns e outros cumpriram a missão de que os encarregaram" (...).
(2) Segundo informação do João, no Natal de 1965, já não existiam os Grupos Fantasmas, Panteras e Camaleões.
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