segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1143: Parabéns, comandante Pedro Lauret, é uma honra tê-lo a bordo (Paulo Santiago)

A LFG Orion a navegar no Cacheu em Janeiro de 1967.

Foto: © Lema Santos (2006)

O Paulo Santiago, no seu regresso à Guiné, em Fevereio de 2005.

Foto: © Paulo Santiago (2006)


1. Mensagem do Paulo Santiago (ex-alf mil, cmdt Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1972/73) a Pedro Lauret (oficial imediato do NRP Orion, 1971/73). Embora privada, a mensagem faz parte das nossas memórias (individuais e colectivas) e diz respeito à nossa tertúlia. Ambos consentiram, na sua publicação:

Caro Comandante:

Acho ser uma honra ter um Tertuliano condecorado com a Ordem da Liberdade (1). Ainda que atrasados, os meus parabéns.

Fui um frequentador, sempre que ía a Bissau - em 72 fui algumas vezes -, do NRP Orion. Conheci o Comandante Rita uma noite em Bissau, não sei precisar quando e onde. Ficámos amigos, assim como do Ten RN Alves da Silva, o Eduardinho, engenheiro silvicultor. É estranho não me lembrar do Imediato daquele navio, possivelmente serias tu. Lembro o Imediato do Comandante Sarmento, não sei o nome, mas encontrei-o em Coimbra onde dava aulas na Faculdade de Ciências.

Voltando ao Orion. Depois de conhecer o Rita, mal chegava a Bissau, procurava logo saber se o navio estava no cais. Se estivesse, regressava ao mato com o fígado em péssimas condições. Em Janeiro de 72 vim do Saltinho de heli para Bissau, em trânsito para Bambadinca, encontrei o Rita que me pediu para lhe mandar fazer um anel em prata no ourives de Bafatá com o nome em caracteres árabes. Depois de feito, fui ao Xime entregá-lo ao Comandante Pires Neves que me trouxe umas botas de fuzo enviadas pelo meu amigo.

Nunca mais encontrei o Rita. Perguntei por ele, há anos, penso que ao Comandante Barreto de Albuquerque - não tenho a certeza-, que me informou ter o Rita sofrido um terrível desgosto com a morte da única filha, com um tipo de cancro raríssimo.

Gostava de encontrar o Comandante Rita. Se o encontrares, dá-lhe um abraço.

Vamos encontrar-nos em Montemor.

Um grande abraço do
Paulo Santiago
(ex-Alf Mil, cmdt do Pel Caç Nat 53)


Foto: © Pedro Lauret (2006)


2. Resposta do Pedro Lauret (actualmente, capitão-de-mar-e-guerra, na reforma)

Caro Paulo:

Fiz a minha primeira metade da comissão com o Rita, um grande homem e um grande comandante. Infelizmente o Rita faleceu há menos de um ano, também com um cancro. Morreu amargurado com a morte da filha. Ficou também muito desiludido por não ter chegado a almirante, o que pessoalmente considero uma grande injustiça. Em 1972 era eu o imediato da Orion, não nos encontrámos provavelmente por eu ter a minha mulher em Bissau e, logo que podia, ia para casa, claro…

A minha mulher é mais veterana que nós, pois o meu sogro era oficial do exército e em 1961 foi como 2º comandante do 114, o 3º batalhão a chegar a Angola, tendo estado empenhado nas operações em Nabuangongo. Fez a seguir outra comissão como comandante de batalhão em Cabinda. Por isso, a minha mulher tem 3 comissões!

Sou também muito amigo do Albuquerque que, infelizmente, também não está muito bem (coração).

O Pires Neves (hoje vice-Almirante) esteve depois comigo no gabinete do Pinheiro de Azevedo. O Sarmento, também vice-Almirante, está bem e vive agora retirado em Trás os Montes. O Alves da Silva não o voltei a ver.

No dia 14 vamos ter muito que conversar.

Um abraço
Pedro Lauret

PS – A Orion tinha a melhor garrafeira da Guiné e o Rita sabia fazer as honras da casa, não me admira dos problemas de fígado quando passavas pelo navio.



3. Comentário de L.G.:

Camaradas Pedro e Paulo:

Partilho, com o Paulo, a honra que tenho/temos de ter, nesta tertúlia, nesta caserna virtual, um camarada que lutou pela nossa liberdade e que foi merecedor de uma condecoração como a Ordem da Liberdade - Grande Oficial… Espero que esse facto não tenha passado despercebido ao resto da tertúlia…


4. Resposta do Pedro Lauret:

Caro Luís,

Agradeço as palavras que me dirigiste. Quando recebemos uma distinção como a Ordem da Liberdade (2), ficamos divididos entre a alegria pelo reconhecimento e por outro pensamos nos muitos que contribuíram, tanto ou mais que nós, e a quem não foi reconhecido o mérito.

Sinto especial responsabilidade pois sendo ex-combatente e colaborado directamente no 25 de Abril, tenho a noção clara que se criou uma relação incómoda entre a “guerra e a libertação” e, o que é mais grave, criou sobre os ex-combatentes um sentimento de inutilidade pelo sacrifício que foram obrigados a fazer. É necessário inverter este sentimento e dignificar gerações que muito deram para que finalmente fosse encontrada uma saída e uma solução.

Envio-te um texto NOTÁVEL do filho do nosso camarada Coronel Carlos Fabião que saiu numa pequena separata a ele dedicada no último número do Referencial, revista da A25A - Associação 25 de Abril. Podes publicar no blogue com as indicações do costume (3).

Sobre os mails com o Paulo, usa como entenderes. Achei piada ele ser visita do meu antigo navio e conhecer bem o Rita que era um homem excepcional.

Um abraço
Pedro Lauret
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 1 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1137: Do NRP Orion ao MFA: uma curta autobiografia (Pedro Lauret, capitão-de-mar-e-guerra).

(2) A Ordem da Armada, 1ª Série, nº 21, de 24 de Maio de 2006 publica: Ordens Honoríficas Portuguesas: Alvará n° 26/2006, de 9 de Maio: Por alvará de 3 de Março de 2006: Ordem da Liberdade – Grande-oficial: Capitão de Mar e Guerra PEDRO MANUEL CUNHA LAURET.

(3) A publicar proximamente.

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