sábado, 7 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1156: Dar voz (e fazer justiça) aos antigos combatentes africanos (Jorge Rosmaninho)

Guiné-Bissau > Bissau > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira > 17 de Julho de 2006 > Manifestação de antigos combatentes guineenses do Exército Português, por ocasião da chegada, com intervalo de 2 minutos, do Presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, e do Primeiro Ministro, José Sócrates, no âmbito da VI Cimeira da CPLP. "Nós, os antigos combatentes, exigimos o cumprimento do acordo de Argel", é a mensagem que se podia ler no belíssimo pano artesanal que foi feito para a ocasião (LG) (1).

Fonte: Africanidades, blogue do Jorge Neto, ou melhor, Jorge Rosmaninho (2).
Foto: © Jorge Neto (2006) (Direitos reservados)

Texto do Jorge Neto, aliás, Jorge Rosmaninho, publicado sob o título "Os indígenas, filhos da República", no seu blogue Africanidades, em 3 de Outubro de 2006 (blogue que entretanto mudou de servidor e, que portanto, tem um novo endereço: http://africanidades.blogspot.com/ )

A França decidiu actualizar as pensões dos antigos combatentes africanos. A decisão foi provocada pelo filme Indígenas, que comoveu Chirac (o presidente haveria mesmo de reconhecer que os antigos combatentes eram Filhos da República). Villepin, por seu lado, considerou que a medida é tardia.

Uma olhadela por sites francófonos permite dizer que o descongelamento das pensões foi acolhido com reservas por parte dos antigos combatentes. Se por um lado afirmam que “mais vale tarde que nunca”, por outro referem que “a valorização das pensões é mínima e fica aquém do merecido”.

No total, cerca de 84 000 antigos soldados (57 000 reformas e 27 000 pensões de invalidez) de 23 países beneficiarão deste ajustamento. Mas a medida de Chirac não é totalmente desinteressada. Como referia na Quinta-feira na edição portuguesa da RFI certo analista, “muitos dos filhos e netos destes homens vivem hoje em França, emigrados. E votam! Apesar de esta não ser uma fatia de eleitorado muito significativa, nesta coisa da democracia todas as migalhas contam. Migalhas também são pão".

Portugal tem no gesto da França uma oportunidade de corrigir uma injustiça (1). É uma obrigação que deve aos seus antigos soldados coloniais, que ficaram esquecidos no mato e hoje vivem, grande parte, na miséria. Como disse Chirac frente aos seus ministros, “a França teve um acto de justiça e de reconhecimento para com todos aqueles que combateram sob a nossa bandeira. Devemo-lo a estes homens, que pagaram com o seu sangue, e aos seus filhos e netos, muitos dos quais são franceses.”

Sócrates pode inspirar-se nestas palavras, para um dia não ter que dizer, como disse Villepin, que “a reparação da injustiça é [será] tardia". Aliás, o peso da injustiça já deve pairar na consciência do PM português. Em Julho, quando viajou a Bissau para participar na Cimeira da CPLP, Sócrates passou por uma manifestação de ex-combatentes, mesmo à saída do aeroporto, que de bandeira verde-rubra em punho exigiam aquilo que lhes é devido. Interpelado pelos jornalistas, o PM referiu “não ter visto manifestação nenhuma.” Cegueira política.
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 27 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P998: Antigos combatentes: sem pernas, sem braços mas com memória (Jorge Neto)

(2) O Jorge, o nosso correspondente em Bissau, mudou-se com armas e bagagens para a nova versão (beta) do Blogger.com... Está a passar por alguns problemas (por exemplo, não reconhecimento dos caracteres portugueses, dificuldades em moderar os comentários), que eu espero que ele possa rapidamente ultrapassar, para o bem-estar e sossego dos fãs do seu blogue, o Africanidades... Aproveitou para se registar com outro dos seus apelidos: Rosmaninho. Enfim, decidiu assumir a sua costela alentejana (sic)... Ontem fiz um negócio com ele e com o Paulo Santiago: a nosso pedido, no interesse da nossa memória comum, da nossa História comum (portugueses e guineenses), ele vai tentar entrevistar o Paulo Malu, que hoje trabalha na Direcção-Geral das Alfândegas e que em 17 de Abril de 1972 comandava o grupo do PAIGC que, no Quirafo, na estrada Saltinho-Dulombi, montou a mais mortífera ou uma das mais mortíferas emboscadas às NT... Este episódio já foi aqui abundantemente evocado, descrito, falado... Veja-se, enter outros, os posts do Paulo Santiago:

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