quinta-feira, 31 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1805: In memoriam (1): Adeus, Zé Neto (1929-2007) (José Martins, Humberto Reis, Luís Graça, Virgínio Briote e outros)

Guiné > Rio Corubal > Saltinho > 1969> As férias do pessoal da CART 1613, enquanto aguardava, em Colibuia e Cumbijã, a indicação do seu teatro de operações... No foto vemos o acrobático e já famoso salto do então sargento Neto... Em 29 de Maio de 2007, o capitão reformado José Neto deu o seu último salto mortal... Nascido em Leiria, em 1929, era uma atleta e um apaixonado pela vida... e por Macau e pela Guiné... Foi também um homem determinado, um homem que se fez a ele próprio, com trabalho, estudo e abnegação... (LG)

Foto: © José Neto (2007). Direitos reservados.

O Zé Neto (1929-2007) é a nossa primeira baixa na tertúlia. E logo ele que, com tanta esperança e afinco, e o nosso solidário apoio, se meteu na sua útima guerra, a guerra contra o cigarro, aos 77 anos. Os seus últimos quatro meses de doença, já este ano, foram dolorosos e penosos para ele e para a família. Morreu no dia 29 de Maio de 2007, anets da meia-noite.

Hoje a família e os amigos disseram-lhe o último adeus, no cemitério dos Olivais. O Virgínio Briote esteve no funeral e representou-nos a todos. Na véspera, alguns de nós já lhe tinham prestado a última homenagem, velando o seu corpo: eu, o Humberto Reis, o José Martins passámos pela Igreja de São João de Deus... Creio que outros cmaradas também por lá passaram: o Nuno Rubim, o Helder Sousa...

Conhececemos pessoalmente a viúva, um das suas três filhas e dois dos seus quatro netos, a Leo e o Afonso. É uma menina de oiro e é um menino de ouro, dois netos de que o avô nos falava no nosso blogue. Certamente que dos outros dois ele também tinha orgulho, mas não tivemos ocasião de estar com eles.

Vimos também gente que privou com o Zé Neto, nas mais variadas situações profissionais, desde Macau à guarda fiscal. Transmitimos à família o nosso apreço pelo Zé e o nosso pesar pelo seu desaparecimento. Em nome de todos, do pessoal do nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Aproveitamos hoje para publicitar, aqui, mensagens dos nossos camaradas de tertúlia que nos têm chegado. É a nossa maneira, pública, original mas sincera, de lhe dizer adeus e lhe testemunhar a nossa saudade. Zé, a tua memória e os escritos ficarão connosco. Vê como te escreveram palavras bonitas e sentidas, parta ti, que eras o nosso patriarca, o homem grande, como te chamou o Pipo. E podes ficar descansado: terás sempre o teu cantinho nesta generosa e magnífica tertúlia de amigos e camaradas da Guiné. (LG)
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José Martins

Caros amigos [mensagem dirigida à família]:

Recebi a notícia. Sinto a vossa dor, e se vos pode servir de alguma coisa, também vos acompanho na dor.

Conheci o Zé, permitam-me a forma como me exprimo, e apenas alguns momentos bastaram para se cimentar uma amizade que, creio, tambem era recíproca.

Mais um partiu, quiçá, para preparar a nossa chegada.

Não deixem perder a memória do vosso pai ou avô. É a maior homenagem que se lhe pode prestar. Para mim, perdurará na minha amizade.


José Martins
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Virgínio Briote

Caro Luís,

Acontecimentos importantes esta semana na nossa tertúlia. O doutoramento do Leopoldo Amado e a morte do José Neto. Ao 1º não fui, com muita pena minha. E bem gostaria de lá ter estado. Para ver todo o trabalho do doutorado e para vos ver e abraçar, ao J. Tunes, António Santos, José Martins (que belo trabalho tem desenvolvido este nosso camarada, desenterrar e ajudar a pôr no sítio tanto tijolo) e ao Hugo Moura Ferreira.

Infelizmente estive presente no velório do José ainda ontem e hoje assisti ao ofício fúnebre. Procurando alguém conhecido, encostado por ali, ainda vi que tinha assinado a presença o Helder Santos que não tive oportunidade de procurar, porque entretanto fui abordado por uma senhora que me disse ser a viúva. Respondi que era da tertúlia do foranada, um blogue de ex-combatentes da Guerra da Guiné. Que conhecia e que viu logo que eu devia ser do blogue. Chamou a neta Leonor, inconsolável.

E pronto, como se diz agora, ali fiquei até à saída de cena do José Neto.
Um abraço,

vb
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A. Marques Lopes


Até breve, Zé Neto!

A minha companhia, quando fui para a Guiné, tinha o lema "Sem Temor". Já o tinha antes, quando nos disseram que íamos para Timor. À última da hora diseram-nos que, afinal, tínhamos de ir para a Guiné. Durante a viagem no Ana Mafalda, os alferes reuniram e decidiram que havia que mudar de lema e que devia ser "Sem Timor". E logo pensámos na morte que nos esperava. E lá ficaram alguns: os alferes Fernandes e Peixoto, o capitão Guimarães, o furriel Canadas e vários cabos e soldados... que morreram "sem temor" porque "sem Timor". Glória e recordação permanente ao seu sacrifício. Outros foram morrendo, entretanto.

Os que ficámos temos a vantagem de deixar mais recordaçãoes. Além dos camaradas de guerra, nunca nos esquecemos uns dos outros,. há as mulheres e os filhos, que, embora não compreendendo totalmente (só compreende por completo quem viveu por completo as mesmas situações), nos procuraram aceitar e entender, com sacrifício e amor.

Meu amigo Zé Neto, lá, no "assento etéreo onde subiste" ( e estás lá com certeza, porque, se não, vou desacreditar totalmente), tens a recordação dos teus familiares e dos teus amigos, incluindo os deste blogue "noveforanadaevaotres", nome fuleiro, invulgar... mas com gente fixe que gosta de ti.

Um grande abraço, Zé Neto, e até breve.

A. Marques Lopes
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J.Vacas de Carvalho

O Talmude diz-nos que o nascimento e a morte são como uma viagem de barco. Quando nascemos ou quando partimos, não sabemos como vai ser a vida ou a viagem. Pode ser calma, com muitos amigos, boa familia ou tempestuosa. Vamos enfrentar dificuldades?. Vamos ser homens honestos ou canalhas?. Então, quando nascemos vamos chorar, porque não sabemos o que vida ou a viagem nos virá trazer.

Mas quando a viagem chega ao fim, e temos orgulho nela, como é o caso do Zé Neto, então vamos rir, vamos beber um copo, porque quando se chega ao fim de uma grande viagem, com a dignidade do Zé, com a amizade e o amor que ele partilhava com os amigos e com a família , então, valeu a pena fazer a viagem, valeu a pena viver.

Tenho uma cerveja fresca que vou beber por ele e pela família. Zé Neto, valeu a pena, fazer a viagem como tu a fizeste.

Um abraço

Zé Luis
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Carlos Vinhal

O Comboio da Vida!...

Camaradas: Por coincidência chegou hoje ao meu computador este trabalho de alguém que interpreta a vida assim...

O nosso Zé Neto será sempre chamado em cada Formatura do nosso Pelotão.
Carlos Vinhal

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Nuno Rubim

Querida Amiga Leonor:

É com profunda consternação que recebi a infaustosa notícia, não obstante estar preparado para ela.

Peço-lhe que transmita à família, especialmente à sua Avó, os meus sentidos pêsames e a minha solidariedade neste difíceis momentos. Espero estar presente no velório.

Um gande abraço
Nuno Rubim
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Sousa de Castro

É a lei da vida, por muito que nos custe, temos de ser fortes para enfrentar situações como esta que acaba de ocorrer. Nesta hora de profunda tristeza para a família e também para toda a tertúlia, apresento condolências à família do Zé Neto. Que descanse em Paz.

Sousa de Castro
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Idálio Reis

Neta Leonor, a minha mensagem de há dias, provavelmente já não foi do teu conhecinento nem do teu avô (*).

Toda a tua família perde um ente querido. Também vamos sentir a sua falta na nossa tertúlia. Deixará sempre uma lacuna difícil de preencher.

Nesta hora de manifesto pesar, curvo-me em silêncio à perenidade do Homem grande que foi o companheiro Zé Neto.

Sentidas condolências do Idálio Reis.

* May 25, 2007 8:09 PM > Subject: Oh meu grande Zé Neto!

Tomo conhecimento que o antigo camarada de guerra José Neto porventura debate-se com uma das mais duras batalhas com que actualmente está confrontado.

O determinismo da lei da vida prega-nos, de quando em vez, contrariedades de monta, como que armadilhas dolorosas. E somos tão insignificantes para contrariar tais vicissitudes.

O Zé Neto foi um dos homens que me impulsionou a escrever a história da minha Companhia, porque ele a viveu enquanto esteve em Guileje, e reconheceu como poucos essa fase dramática da nossa vivência naquela fatídica zona, deixando bem espelhado pela força da sua escrita o que Gandembel representou no contexto da guerra que se travava então naqueles tempos.

Desejo muito ardentemente que consiga sobrepujar esta fase crucial, da forma como ele merece.

À sua família, a minha solidariedade, pedindo-lhe que lhe transmita este meu recado. Com votos de rápidas melhoras, cordialmente Idálio Reis.
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Benito Neves

Luís,

Não tive o prazer de conhecer pessoalmente o Zé Neto, mas pelos seus escritos também vamos criando as nossas afinidades, admiração e respeito. A notícia que hoje recebemos provocou o mesmo sentimento que tive quando, na Guiné, vi cair outros camaradas: revolta e tristeza perante a impotência para vencer esta, como outras batalhas.

Que descanse em paz!

Agradeço-te que apresentes, em meu nome, os meus sentidos pêsames a toda a família.

Benito Neves
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Manuel Lema Santos

Prezada Leonor,

Não conheci pessoalmente o seu Avô. Mesmo no blogue não tenho antiguidade suficiente e as circunstâncias da vida não me proporcionaram o conhecimento desse Camarada.

Embora tenhamos partilhado, na Guiné, o ano de 1967 e parte de 1968, ramos diferentes das Forças Armadas - estive na Marinha - tornavam impossível vencer a distância física entre Gadamael, onde chegávamos e Guileje, onde o seu Avô esteve.
Mesmo como ilustres desconhecidos, a identidade adquirida foi a mesma e
indelevelmente gravada no espírito - Guiné.

Curvo-me, em silêncio, na sentida homenagem ao Marido, Pai, Avô, Homem e também Militar, num até breve.

Manuel Lema Santos
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José Teixeira

Querido Camarada e amigo Zé Neto:

Cruzamo-nos esporadicamente no campo de batalha em Buba. Pisamos o mesmo tchão. Vivemos as mesmas angústias. Tive opotunidade de dialogar contigo e receber de ti amáveis palavras de conforto sobre o meu simples trabalho de descrever a quente algum do tempo que vivi a contra gosto, numa guerra que não queria, para que os vindouros pudessem conhecer a verdadeira história.

Acolheste-me neste blogue com carinho e afecto, quando eu timidamente fazia passar as minhas estórias. Agora vejo-te partir para o eterno aquartelamento sem no mínimo te poder abraçar.

Deixa-me chorar um pouco, pois foi um pouco de mim, de nós todos, que partiu, mas fica. Fica na minha memória. Esta classe em extinção ficou mais pobre, ou talvez mais rica, quem sabe !
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Texto do José Neto, capitão (reformado), o patriarca da nossa tertúlia: era o Sargento da CART 1613, em Guileje, tendo feito uma comissão entre 1967 e 1968. Seguido da minha resposta.

Tenho acompanhado com interesse especial o Diário do José Teixeira por uma simples razão: Eu estava em Buba, com a CART 1613 (Os Lenços Verdes) quando a companhia dele [a CCAÇ 2381] lá desembarcou. Éramos a companhia de apoio ao novo Batalhão (BCAÇ 2835),"dita" em descanso depois de onze meses em Guileje.

A flagelação de 22 de Julho ao quartel de Buba que ele descreve foi "realmente uma brincadeira", pois foi efectuada a partir do outro lado do rio e dali "até com uma fisga se acertava no cu dum cozinheiro", mas não acertaram uma. Fraca pontaria? Não sei.

Desse evento guardo dois momentos hilariantes: (i) um capitão do comando do Batalhão (morreu há dias,Coronel) envergando um colete anti-balas vermelho que fazia parte do seu enxoval, acachapado numa vala e a guinchar como um desalmado; (ii) e a sessão fotográfica dos "maçaricos" (Comandantes incluídos) junto dos invólucros canelados de transporte das granadas que o IN lá deixou.
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Agora é a minha vez de saudar o Zé Neto e dizer-lhe que tem uma grande memória. Gostava de lhe dizer que os muçulmanos que têm dois traços na face e que lhe é colocada ao nascer, numa espécie de baptizado muito gira,em que em cheguei a participar, são "Fula Futas" ,ou seja um grupo Fula proveniente da região famosa do interior de África - Futa Jalon, que se entrosou com os Fulas e os Mandingas na Guiné.

Posso também informr que a partir de Agosto de 1968, acabaram-se as colunas de Buba para Quebo, pela estrada de Cumbijá. Aliás nessa data as povoações de Cumbijá e Colibuia estavam abandonadas. A sua população tinha sido evacuada para Mampatá. Era zona demasiado "quente" para ser transitada. Na penúltima coluna que se fez por lá, tive o meu baptismo de fogo em coluna, tivemos um morto e dois feridos por mina e duas ferozes emboscadas, as tais dos dois bi-grupos.

Na última , em que não participei, sei que as emboscadas foram violentas e o que nois salvou foi o grupo de Comandos africanos estacionados em Quebo, que avançaram para o IN de peito aberto - o tal encontro em que trouxeram como trofeus as orehas dos IN mortos.

As ligações para Gadamael Porto, via Buba também estavam encerradas e a estrada de Buba para Fulacunda intransitável, pois a meio do caminho havia o campo IN de Sare Tuto, que tive o preazer de visitar recentemente e ter o meu último e agradável encontro com antigos Guerrilheiros, como já foi também noticiado.

Um abraço

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Querido Zé: Que o Criador te acolha como tu soubeste acolher este amigo, no blogue. Gostei de te conhecer, tanto quanto gostaria que ainda estivesses no nosso meio.
Descansa em paz

J.Teixeira

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