sábado, 4 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3269: Memórias literárias da guerra colonial (1): Conferência do A. Graça de Abreu (Luís Graça / Mário Fitas)

"Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura"

Conferência do António Graça de Abreu, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, 2 de Outubro de 2008




1. Recuperamos o comentário que o Luís Graça escreveu em "Guiné 63/74 - P3267: Controvérsias (1): Sedengal, ...":


Amigos e camaradas:

Encontrei ontem o Zé Martins na conferência do António Graça de Abreu,, no Museu-Biblioteca Reppública e Resistência, em Benfica...

Não éramos muitos, mas estávamos em maioria, a malta da nossa Tabanca Grande: além do António (que era o artista principal) e do Zé, o Fernando Franco, o Mário Fitas, o Humberto Reis, o Artur Conceição, o Alberto Branquinho... Cito de cor, não tenho aqui à mão a lista...

Havia mais uns paisanos e antigos militares. O António Graça de Abreu trouxe um primo, 1º sargento de máquinas da Orion (1966/68), que se fartou de levar (e dar) porrada no Cacheu... Convidei-o a visitar o blogue... Ele andou com o Lema Santos, se não em engano...
O António trouxe ainda consigo um amigo, hoje coronel de artilharia na reforma, que esteve com ele no CAOP 1, em Cufar. Sobre a conferência, falarei com mais tempo e vagar em próxima ocasião...

Tudo isto foi só para dizer que o Zé Martins, que é uma companheiraço, já me mostrou mais ums dados novos sobre Sedengal e as unidades que por lá passaram... Fico/amos à espera... Bem como das fotos que ele tirou. No meio da sessão fiquei sem pilhas...

Luís Graça


2. Também o Mário Fitas esteve presente e não pôde deixar de se ver novamente nas terras onde viveu a história da Pami Na Dondo (2)


A 2 de Outubro p.p. não podia deixar de estar presente, na Biblioteca – Museu Republica e Resistência / Grandella, para ouvir o António Graça de Abreu, falar sobre o seu livro, Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura.


Como o poema de 8 de Dezembro de 1973,


"O clarear incerto da manhã,
a luz pálida, azul e negra,
o golpear do vento na paisagem,
a chuva gotejando como lágrimas nos telhados de capim.


As bolanhas escuras e doentes,
as garras, os bicos dos abutres,
a fome, a agonia dos corpos,
os homens mastigando miséria e sofrimento.

Guiné o lastro de cinco séculos,
Como pedras de um túmulo.”


O livro como a sua poesia, profunda, já me eram bastante familiares. Mas a curiosidade de ouvir um homem culturalmente avançado, falar da sua experiência e observação sobre um local onde eu tinha estado sete anos antes com vivências um pouco diferentes, aguçou-me a curiosidade.


António Graça de Abreu, com a sua fluidez e saber transmitir extraordinário, e após a surpresa extraordinária com a apresentação dos magníficos slides de Cufar, levou-me a reviver aquela querida terra.

Andei por tabancas e matas, fui a Cabolol e atravessei o Monterunga e o Tompar. Passei para a outra margem do Cumbijã, e voltei a recordar a destruição por duas vezes dos acampamentos do PAIGC em Flaque Injã, revivi a emboscada que o “Nino” comandando uma companhia do Exército Popular nos tinha preparado na descida para o cais de Caboxanque, os velhinhos T6 picando sobre a mata e a vedeta e as lanchas, arrimando-se (como se diz na tauromaquia) ao tarrafe, para ajudar e embarcar a malta.

Recordei a ansiedade do pessoal que tinha ficado em Cufar ao saber que o T6 do Alf Pil Av Ribeiro iria aterrar de emergência com dezassete furos e o motor a gripar. Recordei o velho Alfa Nan Cabo, meu irmão, ex-PAIGC com toda a sua sabedoria, a safar os Lassas daquela enrascadela.

A realidade de antanho sem mistificação trazendo Cumbijã abaixo Malam e PamiTudo isto agora de volta, quando a insinuação me é imposta como ferrete, e que rejeito em nome da verdade. O meu velho Alfa ainda sobrevivia em 1974, que lhe teria acontecido?

Tanta História para narrar! Cada homem viveu a sua guerra sempre diferente mas irmanados na “Lama, Sangue e Água Pura”.

Obrigado Graça Abreu, pelo teu saber estar.

Como sempre para toda a Tabanca o velho e fraterno abraço do tamanho do Cumbijã,

Mário Fitas
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Notas de vb: artigos relacionados em

(1) 29 de Setembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3250: Bibliografia de uma guerra (34): Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu (José Martins)
(2) 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro António,
como verificaste, não fui só eu e o nosso Chefe de Tabanca que lá estivemos. Aliás ele teve o cuidado de referir os outros camaradas.
As novas tecnologias abrem caminho inovador às técnicas de informação.
Um abraço para ti e para o teu primo da Orion.

Mário Fitas