sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3610: Tabanca Grande (104): António Paulo Bastos, 1.º Cabo do Pel Caç 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)


1. Mensagem do nosso camarada António Paulo Bastos, 1.º Cabo do Pel Caç 953, Teixeira Pinto e Farim, com data de 11 de Dezembro de 2008:

Amigos companheiros da Tabanca Grande, a todos um saudoso Natal e um próspero Ano Novo. Que o novo Ano lhes traga tudo de bom e que os companheiros que ainda não foram à Guiné, vão este Ano.

Amigo Carlos, perguntas-me se não quero fazer parte da Tabanca Grande? Pois meu amigo, eu agradeço o convite e vou aceitar, porque sou dos que não larga a Net, a procurar tudo que diga respeito à Guiné ou até à guerra.

Amigo, sobre mandar fotos da minha guerra e sobre as que fiz das vezes que lá voltei (3) poucas tenho, mas tenho alguns vídeos. Também te informo que sobre computador sou um autêntico analfabeto, sempre que preciso de alguma coisa tenho de pedir ajuda.
Mas vou tentar enviar algumas.

Vou falar sobre a minha vida militar.

No dia 12 de Janeiro 1964 assentei praça no RAAF de Queluz, depois fui transferido para uma Bateria que existia em Porto Btandão, aí fiz a recruta e jurei bandeira em Queluz. Depois foi para o RI1 na Amadora onde fiz a especialidade. Tinha como oficial comandante de pelotão, um Tenente que se chamava (já faleceu) Nuno Nest Arnout Pombeiro que era genro do Comandante da Unidade, Coronel Américo Mendonça Frazão (faleceu como General). Aí acabei a especialidade e fui mobilizado para a Guiné, incorporado num Pelotão Caçadores 953, independente.

Embarquei para a Guiné no dia 15 de Julho de 1964, onde cheguei a 21. Desembarquei e fui para Amura, aí permaneci duas horas, sendo depois escoltado pela Polícia Militar até João Landim, onde rendemos o Pelotão Caçadores independente 857.

Dali fomos para Bula, Comando de Batalhão 507, cujo Comandante era o Tenente Coronel Hélio Felgas (já falecido). Depois das apresentações fomos para Teixeira Pinto, onde ficámos adidos à Companhia de Artilharia 527, comandada pelo capitão António Amorim Varela Pinto.

Eram já 16 horas quando almoçámos, dali seguimos para Cacheu onde permanecemos até ao dia 9 de Março de 1965, regressando novamente a Bissau para seguirmos para Farim, via Mansoa e Mansabá. Jantámos e às quatro horas da manhã seguimos então para Farim.

Aí já nos esperava o BCav 490, comandada pelo Tenente Coronel Cavaleiro. Permanecemos lá uns dias.

No dia 23 de Março de 1965 deu-se a grande invasão de Canjambari onde a guarnição era composta pelas Companhias 487 e 488, Pelotão Morteiros 980, um Pelotão da 1.ª Companhia de Caçadores Africanos, um Pelotão Auto-metrelhadoras e o meu, o 953.

Eram 6,30 horas quando rebentou uma mina debaixo de uma GMC e começámos a embrulhar até às 16,00 horas. Quando os T6 largaram as bombas, o IN logo nos deixou, mas por poucos dias, porque depois começaram a atacar-nos no acampamento. Este era para ficar em Canjambari praça, mas o Comandante mandou-nos recuar para Canjambari Morcunda.

Começámos logo a fazer o aquartelamento com palmeiras. De dia trabalhava-se, de noite era um desassossego, porque vinham visitar-nos e fazer alguns tiritos. Também tínhamos as operações a nível de duas secções de brancos e uma de africanos. Infelizmente numa dessas operações tivemos duas baixas na 488. Os trabalhos e até a pista para a avioneta foram todos feitos à força de braço.

Com a saída do BCav 490, veio o 733, comandado por Tenente Coronel Glória Alves, que infelizmente nos deixou no dia 30 de Novembro. Passámos a descansar e viemos para Jumbembem onde permanecemos três meses, regressando um mês a Canjambari.

Em Maio de 1966 regressámos a casa.

Um pouco abreviado é esta a minha vida militar.

Amigos e companheiros desculpem-me alguns erros, mas foi uma 4.ª classe tirada a martelo.

Vou-me despedir e desejando a todos os amigos um Natal muito feliz.
Até breve
A.Paulo Bastos

Cacheu > 1964 > António Paulo Bastos


2. Comentário de Carlos Vinhal

Caro António Paulo Bastos, ainda bem que deste resposta positiva ao meu convite para aderires à nossa Tabanca Grande.

Não te preocupes com a tua 4.ª classe tirada a martelo, como dizes. Escreve que nós estamos aqui para dar um jeito e nem se vai notar. Estou a brincar, claro, estamos aqui para nos ajudarmos uns aos outros e, como diz o nosso camarada Vitor Junqueira, o que interesa é que nas histórias se reconheça o seu autor. Não é necessária uma literatura muito eleborada, mas antes o ponto de vista sincero de quem as viveu.

Hoje deste o primeiro passo, com a tua apresentação e a resenha que fizeste da tua vida militar. Não referiste o teu Posto e a tua Especialidade, mas farás oportunamente.

Terás outras histórias, que contarás aos poucos e uma de cada vez.

Em nome de toda a Tertúlia, deixo-te um abraço, votos de um Natal com saúde e um novo Ano cheio de coisas boas.
____________________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3588: Tabanca Grande (103): Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745, Águias de Binta (Binta, 1972/74)

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro António Paulo
Não participei na tomada de Canjambari, mas vivi-a de perto. Enquanto vocês lá em baixo procuravam fixar-se em Canjambari Morocunda, eu passageiro num Dornier, pilotado, se a memória não me falha pelo Ten Lemos,a pedido do TenCor Cavaleiro, andámos por cima de Canjambari para largar o vosso correio e um saco de pão acabado de cozer. A história não acabou bem. O Dornier ficou todo furado, o vosso correio ficou nas minhas mãos, o pão foi-se pelo ar lançado pelo capelão do BCav 490, um tal Gama, também se a memória não me atraiçoa. E queres saber a melhor? Quase um ano depois, já nos comandos do CTIG, o meu grupo fez a nomadização na zona. Queres saber que demos com o saco do pão? Claro que era um saco todo carcomido, quase pó, de pºao nem vestígios. Há coisas...O Teu Cmdt se Pelotão não se chamava Cruz?
vbriote, da CCav 489, Cuntima.

Anónimo disse...

Regresso para corrigir o nome do vosso Cmdt de Pelotão. Não era Cruz, mas Arnault Pombeiro. Está correcto? E um dos vossos Furriéis era o Marques de Matos? Podes ver o que resumi da vossa tomada de Canjambari em Dornier, http://tantasvidas.blog.pt/
E um abraço para um Camarada que não conheci pessoalmente do vbriote