Capa do 1º CD do grupo musical Toque de Caixa, de que o Abílio Machado, ex- Alf Mil da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/2) é um dos pais-fundadores: História do som. Edição: Numérica & Etnia, 1993. O design da capa é de dois elementos do grupo, o Miguel Teixeira e o Horácio. O Miguel é tanbém o autor de 8 dos 15 temas (ou o responsável pelos arranjos, no caso de temas tradicionais), incluindo 4 originais.
Contracapa: "Nascemos com o dealbar de 1986. Ao gosto comum pela música juntamos um cimento forte: a amizade. Solidária. Com ela planeámos o alicerce, erguemos a casa, polimos arestas, calafetámos as brechas. Algumas houve. No puxar do cimento racha sempre a parede mais frágil.
"Quantas vezes se nos esmoreceu a alma. De uma penada, víamos falecido o ânimo. Mas sempre remoçamos. A cada porta que se fechou, outra se nos oferecia, às escâncaras.
"Este dia foi um marinar lento. Um borbulhar quieto. Nem por isso nos parece requentada a receita. Se não o pretendemos um prato especioso, menos o consideramos malga de água chilra. Servimo-lo apurado, ao nosso gosto.
"Toque de Caixa, História de Som, 1993"
O autógrafo de um velho camarada e amigo de Bambadinca: "Com um abraço do Abílio Machado".
Tema 2, Agora baixou o sol / Alvorada (tradicional, Trás-os-Montes, 4' 52''); tema 14, O Amigo Vagabundo (5' 21''), de Ferrer Leandro, bem como mais outros dois ou três temas do álbum podem ser ouvidos, em gravação áudio, na página Myspace > Toque de Caixa, basta clicar na hiperligação). Estes dois são alguns temas dos meus favoritos. O tema 1 é também lindíssimo, com um solo fabuloso de flauta (Encosta do Silêncio, de Miguel Teixeira, 1' 14''). Outro tema disponível é o 13 (Encontro, tradicional, Beira Baixa, 3' 08''). Reconheci a voz do Abílio nalguns destes temas, uma voz que não ouvia - até Outubro de 2007 - desde 1971, em Bambadinca... Podem ainda ouvir-se dois temas, extras, que não fazem parte do álbum de 1993... A Valsa Venezuelana é um tema que convida à dansa e faz-me lembrar os bailes mandados dos camponeses do Norte que eu só conheci... em 1975. Em suma, o melhor da música tradicional, reiventada pelos Toque de Caixa, que são mesmo uma caixinha de surpresas... Venha o segundo CD, o mais rápido possível! Sei que a banda já está em gravações (pelo menos já fez 10 sessões até agora)!
Composição do grupo em 1993:
Abílio [Machado]: voz, guitarra, teclas, percussão;
Albertina Canastra: acordeão, concertina, teclas, percussões;
Edgar: percussão;
Emanuel: violino, bandolim, acordeão, concertina, teclas, percussões, voz;
Horácio: guitarra, viola braguesa, percussões;
Luís Viegas: voz, percussões;
Miguel Teixeira: guitarra, viola braguesa, rajão, quatro, o carina, percussões, voz; Rosa Pilão: percussão;
Tereza Paiva: gaita de foles, flautas, percussões.
1. Mensagem do Abilio Machado, com data de 30 de Outubro último (*):
Assunto - Novo CD ...
Meu caro:
Como podes ver, estou a usar um novo endereço (podes usá-lo de futuro, se o entenderes).
Respondendo ao teu mail recente, espero que desta vez o computador, após o transplante do disco, tenha ficado em ordem.
Vou enviar-te ainda hoje o CD original do Toque de Caixa. Descobri não sei como, no meio de velharias culturais que amontoo, em desalinho, esta raridade. É uma raridade, de facto: não pelo valor artístico (que o tem - ganhou em 93 o prémio José Afonso para o melhor disco editado nesse ano),mas porque não há seguramente outro exemplar no mercado. Mesmo em mãos de elementos do grupo Toque de Caixa não é fácil encontrá-lo. Usa e abusa ... é teu .
O teu mail foi quase providencial, pois surge numa altura em que finalmente decidimos partir para a gravação de um novo trabalho. Já vamos na terceira sessão de estúdio e as coisas estão a avançar. Espero que não claudiquem como de outras vezes. Desta vez é a sério!
E vem em boa altura, agora que se verifica um ressurgimento da música tradicional, com o aparecimento de vários grupos a fazer coisas interessantes nesta área .
Em jeito de retrospectiva, o que diria ?
O Toque de Caixa surge em 85/86, quando, tendo mudado a minha morada para a Maia, encontrei um grupo de jovens com potencialidades que me pareceu de aproveitar. Criou-se um grupo base, no início ainda demasiado numeroso, que se foi depurando ao longo dos meses de elementos com menos qualidades. Os inevitáveis contactos com outros grupos da zona do Porto permitiram que, por alturas de 90, se desse uma espécie de fusão com outro grupo em desagregação.
Um outro processo de decantação ao longo do tempo permitiu que rapidamente o Toque de Caixa adquirisse uma qualidade que manifestamente não tinha nos seus primeiros tempos. Era a altura do director musical (era eu) ceder o lugar a quem mais sabia da marinhagem em tais ondas. Em boa hora o fiz, pois corríamos o risco de afogamento por cansaço ou inanição.
Foi naturalmente que em 92 nos propusemos a gravação desse CD. Foi gratificante tê-lo feito: pelos encómios, pela vivência, pelos concertos, pelas viagens a todo o lado ... Enfim, anos cheios de música preencheram a nossa vida. Vida que, porém, também nos vai lembrando que nem só de música vive o homem. Todos fomos assumindo responsabilidades de todo o tipo, familiar, profissional e isso começou a dificultar voos mais largos e projectos de mais fôlego.
Esmorecemos, mas nunca fechámos a loja. Houve um tempo até em que decidi, por razões também profissionais, sair do grupo, assegurando embora uma substituição vantajosa .
Já em situação de pré-reforma e com tempo disponível, retorno ao grupo como manager (?) e agora dando também apoio a nível vocal e de percussões .
É isto em síntese.
Prometo que logo tenhamos o novo CD terminado (não sei ainda quando - estamos a fazer uma sessão semanal em estúdio), chegar-te-á às mãos embrulhado num abraço de muita amizade, que é o que te envio agora.
Dá notícias.
Abilio Machado (**)
A antiga formação do Toque de Caixa: não tenho a certeza de reconhecer o Abílio na foto: poderá ser o primeiro da esquerda, na última fila, de pé ?
Membros da banda desde 29/3/07: Miguel Teixeira: Cordas; Horácio Marques: Cordas; Albertina Canastra: Acordeão + Concertina; Fernando Figueiredo: Baixo: Emanuel Sousa: Violino + Bandolim; Teresa Paiva: Gaita de Foles + Flautas; Tiago Soares: Percussões; Pedro Cunha: Piano; Nelson Silva: Som.
Fonte: Myspace > Toque de Caixa (2008) (Com a devida vénia...
Ainda sobre o Toque de Caixa, pode ler-se na sua página:
O TOQUE-DE-CAIXA nasceu com os cantares de janeiras, no natal de 1985. O gosto comum pela música tradicional fez com que os seus músicos, um grupo de amigos, prosseguissem a recriação de novos ambientes sonoros. – O moderno e o antigo, são elementos de fusão para uma “nova música tradicional”.
O TOQUE-DE-CAIXA tem participado, ao longo dos longos anos da sua existência, em vários festivais e encontros musicais, entre os quais se destacam concertos e festivais de grande renome e importância a nível europeu, em países com a França, Espanha, Alemanha e Grã-Bretanha.
De referenciar, duas digressões: a primeira em Agosto de 1992, onde participou em mais de 15 concertos, incluindo prestigiados festivais como os de Lincoln, Llangollem, Pontardawe, Garden Festival e European Arts Festival; na segunda digressão nestas terras participa, entre outros, no Eurofolkus Festival, partilhando os palcos com Maddy Prior, Dave Swarbrick, Kathryn Tikell, etc…
Durante esta digressão fazem vários workshops para escolas primárias, universidades, foras musicais, etc… o grupo recolheu memorável sucesso tanto entre as audiências como entre os vários músicos participantes!
Entre Julho e Setembro de 1993 grava com a editora 'Numérica' o disco “histórias do som” que faz a sua edição em Novembro em colaboração com a Cooperativa Cultural Etnia. Este disco foi considerado, nesse ano, o melhor trabalho de música popular portuguesa, pela principal crítica especializada nacional.
Está, também a nível discográfico, representado internacionalmente na editora Elipsis Arts, de Nova Iorque, em duas colectâneas com distribuição mundial.
O Grupo ganhou, ainda nos anos 90, o prestígiado Prémio José Afonso.
Fonte: Myspace > Toque de Caixa (2008) (Com a devida vénia...)
1ª Página do Sitio da Banda Melech Mechaya, de que faz parte o João Graça
2. Comentário de L. G.:
Há mais de um atrás (20 de Outubro de 2007) mandaste-nos, pelo correio, uma cópia do CD do teu grupo musical, a mim, ao Humberto Reis, ao Tony Levezinho e ao Gabriel Gonçalves. Foi uma revelação para mim: passei a ouvi-lo regularmente, no meu carro, a gasóleo, com o qual faço as viagens para fora de Lisboa (Lourinhã, Porto, Candoz...). Cá em casa, ficámos todos fãs do grupo. Somos quatro, incluindo um músico, o João (24 anos, médico e violonista da banda Melech Mechaya). O João, por exemplo, adora o tema 10, Aula de Música, de Miguel Teixeira, lenga-lenga, tradicional (3' 47'')...
Na altura, eu escrevi-te, de resto, o seguinte:
24/10/07
Bilocas: Obrigado, já recebi [o CD] em boas condições e fiz uma primeira audição. Grande nível de execução. O grupo revela já uma grande maturidade. Há temas que me arrepiaram. O segundo por exemplo... A nossa música popular é riquíssima e merece ser melhor divulgada. Dás-me autorização para pôr uma das faixas, em vídeo, no nosso blogue ? Preciso só de saber o título das músicas, o nome do grupo e o ano da gravação… Se me permites, queria incluir isto numa 'estória de vida': como é que a 'paixão da músicao' sobrevive à guerra da Guiné…. Mandas-me duas ou três 'notas' sobre a tua actividade de animador e líder do grupo ? Podes acrescentar duas ou três coisas sobre a tua 'comissão' em Bambadinca… Estou a ser amigo da onça… Vou ao Norte pelos Santos, se puder apito-te…
Respondeste-me a seguir, mas não satisfizeste a minha curiosidade, por teres o PC avariado:
31/10/07
Meu caro : Faz o que entenderes de qualquer dos temas do CD. O meu computador segue hoje para reparação, mas logo que mo devolvam escreverei o que me pedes .
Um abração
Machado
Acabámos por estar um ano 'incomunicáveis'... Que crueldade!... Sempre eu que ia ao Norte - e viu lá regularemente, sete ou oito vezes pro ano - dizia a mim mesmo que queria dar-te um abraço... O tempo passou e aqui estamos a nós a prometer que nos iremos ver pelo Natal...
Entretanto, recebi a minha prenda de Natal, antecipada... um exemplar, uma relíquia, do CD de 1993, do teu Toque de Caixa, o grupo que ajudaste a fundar e a crescer, conforma mail que já reproduzi acima...
Tomei a liberdade de reproduzir a capa e a contracapa do CD. A ti, espero ter-te feito esta pequena homenagem: tu bem a mereces; que o teu exemplo ajude também a iluminar os nossos caminhos. Um Alfa Bravo. Luís
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Finais de 1971 ou princípios de 1972 > CCS do BART 2917 (1970/72) > Noite de copos e de cantorias.
Ao lado do Paulo Santiago, comandante do Pel Caç Nat 53, de bigode, de camuflado, na ponta da mesa, está o Alf Mil Abílio Machado, à civil, de óculos, a fumar (assinalado com um círculo, a amarelo). Pertencia à CCS do BART 2917. Era minhoto, natural de Riba D'Ave. Antes da tropa, trabalhava numa cooperativa local. Daí a malta chamá-lo Bilocas da Cuprativa. Tinha um excelente relacionamento connosco, que eramos a velhice da CCAÇ 12 (1969/71). Tocava viola, era um dos nossos baladeiros. À esquerda do Machado, está um outro alferes, magrinho, que o Paulo Santiago garante que também pertencia à CCS, mas de cujo nome já não se recorda. O tipo da viola também não me é estranho... Privámos com esta malta do BART 2917 ainda cerca de 9 meses, desde meados de 1970 até Março de 1971... O BART 2917 veio substituir o BCAÇ 2852 (1968/70).
Estranhamente, não tenho uma única fotografia com o Abílio Machado... Já lhe pedi algumas... Vai mas dar no próximo encontro, na Maia, neste Natal...
(LG).
Foto: © Paulo Santiago (2006). Direitos reservados
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste desta sére > 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3165: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (6): Com o José Manuel, in su situ, um pé no Douro e uma mão no Marão (Luís Graça)
(**) Vd. postes de:
13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1520: Bambadinca, CCS do BART 2917: Alferes Abílo Ferreira Machado, o Bilocas da Cooperativa (Humberto Reis)
28 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1631: À amizade (Abílio Machado, CCS do BART 2917/ Humberto Reis, CCAÇ 12)
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1635: Amigos, enquando vos escrevo, bebo um Porto velho à nossa saúde (Abílio Machado, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
(...) Nem ingratidão, nem desinteresse, nem desleixo ... a vida tout court, que me fez (a todos nós, quem sabe) muitas vezes desviar de quem estimava.
"Da guerra, com que nunca concordei, como sabem, guardo para mim as recordações que não pude apagar; e parece que nelas envolvi os meus próprios amigos: não os apaguei (não poderia!), mas guardei-os (guardei-os , sim!) com um afecto interior e uma discrição que, não fossem eles verdadeiros, teriam sido levados pelo olvido. Não foram, nunca foram.
"Em 2005, quando me desvinculei da empresa onde trabalhei, lancei-me a pôr em ordem os meus papéis. Ao organizar as fotos, lá está o que vocês eram (e são), a recordar-me uma vida que vivi, mas que parece quis manter em latência, como um baú velho onde guardamos as lembranças de família. Nem as minhas filhas sabem da missa a metade .(Enquanto escrevo, bebo à nossa saúde um velho Porto!).
(...) " Do Henriques, a célebre noite (e negra noite ! - eu era amigo do Cunha, porra!) em que o grito "Assassinos! Assassinos!" ecoou e fez emudecer a parada de Bambadinca!" (...).
(...) "O meu pós-guerra ?
"Em resumo: empreguei-me em 1973 como Delegado de Propaganda Médica. Labutei 12 anos de pasta na mão (em empresas italiana e americana ). Chefiei o sector Norte, 2 anos. Passei a Chefe Nacional de Vendas durante 6 anos. Retomei o controle do sector Norte. E, no fim de 2004, a BMS (Bristol-Myers Squibb) honrou-me com uma desvinculação por mútuo acordo. Aguardo em Junho próximo a passagem à reforma .
"Como hobbies, muitas coisas. A principal, o grupo de música tradicional que fundei, Toque de Caixa (é verdade, Gabriel, a televisão) e que preencheu boa parte da minha vida .CD's, concertos, países, enfim...uma vida cheia ! Não me arrependo.
"Quanto ao resto, como diz a Elis Regina: casei...descasei...investi...desisti ... De facto, Humberto e Levezinho, já não estou com a Lua. Eclipsei, mas somos bons amigos.Temos duas filhas (Josina e Rita) e duas netas (Raquel e Renata - 4 anos e sete meses).
"A minha morada é: R. Ana da Fonte, 74 - Gueifães 4470-495 Maia e o telelé é o 917822171. Não perdoarei agora a nenhum de vocês que, se vierem ao Porto, não me contactem. Quer eu quer a minha nova companheira podemos receber-vos com alguma comodidade. Não há portanto desculpas. Por hoje chega. Acabou-se o Porto " (...).
17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)
(...) O pudor em falar da guerra...
por Abílio Machado
(...) Meu caro Henriques (desvenda-se o mistério do nome): os nomes serão inócuos, as pessoas que eles ocultam, nem sempre o são. E há-as bem carregadas de contra-indicações e efeitos secundários. E incómodas, como o diabo...
"Aquela noite em Bambadinca … Ainda lembras ou também queres esquecer? Ainda hoje não sei - ou sei - como escapaste à psiquiatria … O que, naquelas circunstâncias, seria, apesar de tudo, o mal menor. Antes louco que preso. Seria ? (...).
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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