sábado, 6 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3578: O segredo de... (3): Luís Faria: A minha faca de mato


1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 5 de Dezembro de 2008.

Vinhal e Luis

Ao ler O Segredo... do Santos Oliveira (P3544) (*), que muito apreciei, recordei esta passagem, a meu ver também muito curiosa e de certo modo elucidativa de aspectos reais menos conhecidos e julgados até frutos do cacimbo,que se passaram naquele cenário de guerra tão suigéneris que era o da Guiné.

Sem mais, um abraço a toda a Equipa e a todos os Tertulianos
Luis S Faria


2. A minha Faca de Mato

Tinha-a comprado no Porto. Era equilibrada adaptava-se muito bem à minha mão, éramos inseparáveis e até dez passos o lançamento não falhava o alvo. Levantou 1032 minas, mas nunca chegou a ser usada em/contra alguém.

Um dia, numa operação na zona de P. Matar, embrulhei (amos) forte e feio.

Durante o regresso dei pela falta dela. Por qualquer motivo, desembainhou-se e lá se foi, no campo de batalha. Fiquei bem aborrecido! Era a minha companheira, tinha-lhe um carinho especial e ela transmitia-me uma sensação de segurança. Não tinha hipótese de voltar atrás para a procurar. Por lá ficou, perdida mas não esquecida.

Talvez numa próxima visita aquela zona tivesse a sorte do reencontro, quem sabe?

Alguns dias passados, estava com dois ou três amigos a beber uns copos na tasca do Silva (creio que era o nome) e às tantas uma bajuda abeirou-se deu-me um um pedaço de papel enrolado, disse: - É do Furié… - e rapidamente desapareceu, não dando tempo a qualquer pergunta.

Desenrolei o papel e… era a minha Faca de mato!

Um abraço a Todos
Luís S Faria
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3544: O segredo de... (2): Santos Oliveira: Encontros imediatos de III grau com o IN

3 comentários:

Santos Oliveira disse...

Caro Luis Faria

Eu altero o nome da Sondagem para:"... mas naquela guerra podia haver lugar para amigos inimigos". Seguramente!
Devagarinho, vai-se constatando que em ambos os lados havia a consciência de não ser uma Guerra de pessoas, nem contra pessoas. Mas o sistema político (qualquer que fosse o lado)não suportaria, nunca, que déssemos as mãos ás claras.
Mas, ainda agora existe a marca do desespero, do medo, do terror que transparece nos votos já formulados.
Luis Faria, também tu tinhas amigos no IN? Tiveste a prova e mantiveste silêncios, sem contudo perderes o que sentias.É de Homem.

Um abraço, do
Santos Oliveira

António Matos disse...

Caro compadre Luis,
Achei fantástica esta tua peripécia do reencontro da faca que eu desconhecia totalmente.
Não tive dessas estórias lá por aquelas bandas mas considero-as uma mais valia para todos aqueles que, como tu, foram protagonistas.
A coisa mais "parecida" que durante a tropa poderia assemelhar-se à "perca" do material que me estava distribuído, passou-se em Mafra, na recruta.
A cena passa-se perto da aldeia dos macacos onde se faziam as provas físicas como o galho, o pórtico, o túnel, a vala, etc.
Estávamos numa sessão de ordem unida com a Mauser.
A determinada altura, o alferes, Ventosa de seu nome, dava ordens sucessivas de firmeeee! Seeeeop ! Daí passava-se ao ombroooooo, arma !
Se bem se lembrarão, o "ombro arma" era precedido dum ligeiro levantar da coronha do chão para, em seguinda, a arma ser lançada, pelo ar, numa trajectória da direita para a esquerda, para finalmente ser apanhada por ambas as mãos e seguir-se toda a série de "acrobacias" até parar, de facto, no ombro.
Aconteceu, porém, o nunca visto e altamente improvável; quando ponho as mãos prontas para agarrar a arma, esta possa a grande velocidade por mim, não me dando qualquer hipótese de a apanhar.
Conclusão, vai-se estatelar ruidosamente no chão, em frente ao pelotão, mas a máxima de que em sentido não mexe nem que lhe passe um c.... pelos queixos, manteve-me inerte, a aguadar os acontecimentos.
Devo confessar o esforço titânico que foi preciso fazer para não entoar uma gargalhada estridente mas essa vontade de rir passaria logo a seguir quando fui obrigado a "pagar" as esperadas 300 enchidelas !!!
Nessa altura não havida qualquer bajuda que viese de lá com papelinhos ajudar a levantar o moral do desgraçado do cadete ...
Chegado ao quartel, foi só o tempo de tomar uma banhoca e ir directo para o cafezinho que estava mesmo de fronte e banquetear-me com os habituais 2 galões e 12 bolos de arroz ....
Enfim, era o lanche diário dum jovem faminto a preparar-se para defender a Pátria ....

Anónimo disse...

Essa fez-me lembrar a da de baixo de mira em Teizeira Pinto.Sempre foste bafejado pela sorte!...

Aquele abraço.

JORGE FONTINHA