1. Mensagem de Virgínio Briote (*), ex-Alf Mil Comando, CCAV 489/BCAV 490, Guiné 1965/67, com data de 1 de Fevereiro de 2009:
Foi apenas um comentário ao artigo do Mexia Alves, Camarada que aprecio ler na coerência que defende, sempre de uma forma honesta e leal . Não julgo que merecia um artigo. Saiu das contradições que tenho, da forma como vejo a minha participação na Guerra na Guiné. Com declarações de apoio ou de repulsa, está feito, não há mais nada a declarar.
Penso, no entanto que devo uma explicação (**). Quando me referi ao meu familiar, desertor, de quem fui muito amigo (já morreu) e ao meu irmão, limitei-me a relatar a contradição de uma família feita de "nacionalistas" e "oposicionistas", para utilizar a linguagem da época. E limitei-me a descrever os sentimentos que me assaltaram.
O nosso blogue tem também, para não dizer principalmente, um efeito desbloqueador de sentimentos. Juntar ex-combatentes, ajudá-los a reencontrarem-se com a sua própria história, que é a História do Portugal daqueles anos. E de que não tenho vergonha, acrescento, independentemente do governo e das oposições de então.
No meu comentário não pretendi fazer qualquer censura aos que, por qualquer motivo, decidiram sair do país. Da mesma forma, não foi minha intenção denegrir nem as vozes dos locutores, nem as músicas que se ouviam.
O que pretendi foi dizer que ainda me lembro do que vi, ouvi e senti nesses tempos. E que continuo a sentir. É uma cultura que tem raízes, não vem de agora. Na minha adolescência convivi com dois ex-combatentes na Flandres. Ouvia-os falar dos gases, das metralhadoras, dos capacetes alemães, do frio que lhes queimava os dedos. E via-os doentes, abandonados pelo Estado, amparados pelas famílias.
Nos EUA, Inglaterra, Canadá, Austrália, França, até na Alemanha da época hitleriana, honram-se os soldados que combateram pelas suas pátrias, procedem-se a cerimónias anuais, com veteranos, filhos, netos, governantes e oposição presentes. Os cemitérios são tratados como os outros, com respeito.
Cemitérios da mesma guerra na Normandia: alemão, aliados e americano
VB
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Notas de CV
(*) Vd. último poste de 31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3824: (Ex)citações (14): Foi bom que a guerra tenha acabado, mas não foi por este país que eu combati (Virgínio Briote)
(**) Vd. último poste desta sérioe, Blogoterapia > 30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3820: Blogoterapia (87) : O nosso (às vezes, triste) fado... (Joaquim Mexia Alves)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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11 comentários:
Meu caro camarigo Virgínio
Em primeiro lugar obrigado pelas referências que me fazes.
Não as mereço, mas tu lá sabes.
Em segundo lugar quero assinar por baixo este teu texto.
Quando regressei em Dezembro de 1973, tornou-se tão dificil viver em Lisboa por todas as razões que apontas e mais algumas, que quando um irmão meu, mais velho, me propôs ir trabalhar para Angola, não hesitei.
Não me sentia no meu país, em Lisboa.
sentia-me "desenquadrado".
Quando regressei em Novembro de 1975, foi ainda mais dificil, por isso te percebo, ou nos percebemos muito bem.
Sentia-me "escorraçado".
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
Por ora,não retiro uma palavra ao que escrevi ao Poste do JM Alves e ao comentário, que virou poste, do VBriote.Nem acrescento nada. Até porque não posso violar nenhuma regra do blogue, nem era necessário.Mas,meu caro VBriote tu dizes:
- o que sentes e sentiste outrora. Tens esse direito;
- "É uma cultura que tem raízes, não vem de agora"...Perfeito!
- Mostras tres fotos e, acima delas, está o parágrafo - " Nos EUA...(até)...com respeito".
Palavras para quê? Minhas claro. É o nosso fado...talvez não...
Um abraço para ti e para todos.
Torcato
Felizmente para quem tem um suporte como este blog para descarregar...E os milhares de soldados que não teem qualquer auto-defesa? E teem que ouvir condenações demagógicas e autopromoções antifascistas e anticolonialistas de políticos sobredotados que já sabiam tanta política aos 19 anos?
V. Briote e co-editores, vejam se podem alargar o mais possível os horizontes deste blog e arrastar ainda mais gente.
Antº Rosinha
...
cito:
- «Vejam se podem alargar o mais possível os horizontes deste blog e arrastar ainda mais gente.»
(António Rosinha dixit)
Apoiado!
Caros Camaradas
Como já referira no post relacionado com "os nossos regressos", publicado aqui no nosso blogue, aquando do regresso e em especial no período pós-25 Abril, era doloroso falar sobre o que tinhamos passado na guerra colonial, porque não era politicamente correcto, porque não estávamos na moda, porque heróis eram os "outros" e até eramos acusados de ter sustentado as políticas colonialistas por não termos também fugido para França, Alemanha, etc. Raio de Pátria, que tenta esconder,desvalorizar, desacreditar, uma imensa massa humana, milhares de soldados, que deram os melhores anos da sua juventude, lutando por Portugal numa guerra de três frentes, durante 13 anos, em condições por vezes incriveis, mas mantendo um excelente moral combantente.
Para muitos a Pátria continuou a ser um lugar de exílio.
Virgínio, Mexia Alves, Mário Fitas, tantos outros....como eu vos compreendo.
Um abraço
Luís Dias
Passei por aqui e verifiquei que está tudo mais calmo.
Ainda bem.
Mas eu, não escrevo mais nada.
Nem vou à Academia Militar, no dia 4
Já li o suficiente do sítio Guerra Colonial, para saber que me sentiria desconfortável.
Manuel Amaro
É mesmo, meu caro Briote, sentimentos contraditórios.Mas isso tem também a ver com a pequenez e mediocridade de muita gente no nosso Portugal. Adoramos dizer mal de nós próprios.
É o fado.
Estou contigo, Briote.
Se for capaz, tentarei fazer um texto para o blogue desenvolvendo o que penso.
Um forte abraço,
António Graça de Abreu
Raramente estou de acordo consigo.
Não li o seu Diário. Tenciono ler, não por este comentário agora feito, ao texto do VBriote, talvez "pela água pura"e para saber mais sobre a sua passagem pela Guiné. Só.
Mas estou de acordo consigo,no comentário acima feito acima feito.
Irrelevante para si.Mas concordo.
Cumprimenta,
Torcato Mendonça
Descreves o que também senti!
Obrigado!
Abraço Grande.
Jorge Cabral
Que mal é que eu te fiz, meu caro Torcato, para me tratares por você, etc.?
Lê o meu Diário da Guiné, procura conhecer-me melhor. Tenho todo o respeito por todos os camaradas de armas. Sofremos muito numa guerra estúpida e inútil.
Temos opiniões diferentes sobre a guerra, é natural.
Um abraço,
António Graça de Abreu
Nada de mal meu caro A. Graça Abreu.
Já fiz o "mea ulpa" no P3847 do Mário Fitas, por concordar com o conteúdo e, estar mais acima na "postagem".Enviei email também.
Um Abraço do Torcato
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