Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Guiné 63/74 - P3852: As minhas andanças com a CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68) (José Brás, ex-Fur Mil Trms)
1. Mensagem do José Brás (*):
Caríssimos amigos Luís Graça e Carlos Vinhal
Na sequência da apresentação do meu texto e da nota que o Carlos Vinhal me enviou, aqui vão os dados em falta para completar a entrada na Tabanca,
A minha especialidade foi de Transmissões na Companhia de Caçadores 1622.
Chegámos no Niassa numa noite de Novembro de 66 à vista das luzes do que nos disseram ser Bissau.
Durante a noite fomos transladados para uma LDG que nos levou até Buba, navegando aquelas águas apertadas no escuro e na sombra da vegetação marginal.
De Buba marchámos para Aldeia Formosa pela estrada principal, mais tarde alcatroada com festa e encerrada no mesmo dia.
Em Aldeia Formosa mantivemos um Pelotão em destacamento em Cumbijã e outro de uma secção em Chamarra.
Lá por Maio (se a memória não me atraiçoa), por troca com a Companhia do Capitão Cadete, rumámos a Mejo, onde ficámos quase até ao fim da Comissão, saindo para inaugurar um centro de recuperação em Bolama, após inspecção por junta médica deslocada a Mejo, concluir que a saúde daquela malta não permitia aguentar mais.
Porque fiquei a entregar material, só saí de Mejo quando uma coluna fez o caminho de Guileje, onde vivi os primeiros dias da abertura de Gadembel.
A estrada de Gadamael era já minha conhecida porque quase sempre me disponibilizei para deixar os rádios aos cabos e alinhar nas colunas, nas patrulhas, nas emboscadas, acho que num sentimento que, por um lado assumia solidariedade com os meus sacrificados irmãos, e por outro lado, mexia com a vontade de sentir aquilo por dentro, a ansiedade, algum medo e a espantosa alegria de regressar inteiro.
De Gadamael rumei em batelão civil para Cacine, depois Catió (onde ia morrendo de intoxicação alimentar), Bolama (onde já não estava a minha Companhia) e, de Bolama a Bissau (à beira de um naufrágio), até Bissau, onde, de novo, já não estava a minha Companhia que, apesar de estar em Bissau para regressar, foi mandada para Teixeira Pinto.
Chegado eu a Teixeira Pinto, a minha Companhia tinha ido para o Pelundo e só voltei a encontrá-la duas semanas depois para fazer parte de um coluna a Có.
Todos juntos regressámos a Lisboa em Julho de 68.
Com gente a menos, infelizmente, perdidos no corredor, em Chim-Chi Dari, na estrada Mejo-Guileje…
E pronto!
Como este texto é apenas para completar dados e como me parece já muito longo fiquemos por aqui com um abraço forte, longo e amplo.
Montemor-o-Novo, 05.02.09
José Brás
_________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes de:
8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3851: Blogoterapia (89): Ninguém tem razão sozinho, viva o debate e o abraço (José Brás)
5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3842: Tabanca Grande (111): José Brás, ex-Fur Mil
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Constantemente, os Guineenses, quer na diáspora, como dentro da Guiné, se referem aos comandos e valas comuns, que não eram apenas de comandos mas tambem de civis.
Agora com a internet, é facil ler comentários de guineenses sobre essas valas.
Todos condenam incondicionalmente e nunca li nem ouvi, nem a mais pequena condenação da actuação dos militares portugueses.
Diariamente, sempre que possivel, leio tudo o que posso sobre o ex-ultramar.
Antº Rosinha
... que ao ler o primeiro 'post' relacionado com o veterano José Brás, de imediato se apercebeu já ter visto aquela cara em algum lado, e também o estilo literário não era desconhecido.
Se é o mesmo José Augusto dos Santos Brás, natural de Alenquer, «membro dos corpos gerentes da secção cultural da União Desportiva Vila-Franquense no início dos anos 60, [e] aí conviveu com Alves Redol», e que cumpriu serviço militar na Guiné [CCac1622/RI2-Abrantes, chegada a Bissau em 17Nov66 e a Aldeia Formosa em 19Nov66, mudança para o Mejo em Jun67 e regressada a Lisboa em Ago68], e de cuja passagem "por terras da Guiné" retirou material para escrever as «Vindimas no Capim» (PEA, Mem Martins 1987), estranho que ao longo dos P3832, P3851 e P3852 sobre a sua pessoa –, permaneça oculto aos visitantes, e, provavelmente, também aos próprios editores, deste blogueforanada, o facto de haver sido distinguido em 1986 com «Prémio de Revelação de Ficção» atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores e pelo Instituto Português do Livro e da Leitura.
Se não os Camaradas da Guiné e demais visitantes, pelo menos a este agradaria viesse a ser aqui publicado algo mais sobre José Brás, furriel miliciano de transmissões de infantaria que
pertenceu à Companhia de Caçadores 1622.
Mea Culpa!
Possivelmente, serei eu o culpado, por ter insistido com o José Brás para entrar no Blogue, e não ter feito de facto a aprasentação do Zé como escritor pois, ele não o faria.
Ao Abreu Santos e a toda a Tabanca peço desculpa. No entanto, o que conheço do José Brás, homem simples que não gosta de protagonismos, talvez tenha influênciado a minha decisão.
Mas aqui fica: É mesmo o homem que conviveu com Alves Redol e que "Vindimas no Capim" teve o Prémio de Revelação de Ficção 1986 APE - IPLL.
Fur. Mil. de Transm. da C.CAÇ. 1622
chegada a Bissau a 17 de Nov. de 1966, no Navio Nissa, que no regresso transportou a C.CAÇ. 763 a qual pertencia o tertuliano, que está batendo estas teclas, sendo despejado em Lisboa na tarde de 26 de Nov. de 1966.
Conheci o José Brás na TAP, e possuo o seu livro com uma dedicatória expecial com data de 28/01/88.
Reconheço!... Deveria ter sido eu a identificar o Zé Brás, porque ele tenho a certeza não o faria.
Aqui fica portanto a mea culpa.
Para toda a Tabanca o velho abraço de sempre.
Mário Fitas
No nosso blogue, há já uma referência, mais antiga, ao José Brás, escritor, autor do romance "Vindimas no Capim" ( Lisboa, Publicações Europa-América, 1987), feita pelo seu amigo Mário Fitas:
15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3630: Banco do Afecto contra a Solidão (2): Ajuda ao João Santos, ex-combatente em Moçambique, que vive num contentor (Mário Fitas)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2008/12/guin-6374-p3628-banco-do-afecto-contra.html
Agradeço a chamada de atenção do nosso leitor Abreu dos Santos sobre o currículo, extramilitar, do José Brás... Tomámos boa nota dessas informações que, de certo, nos vêm ajudar a conhecer um pouco melhor o novo membro da nossa Tabanca Grande. Aos dois, as nossas saudações. LG
Enviar um comentário