domingo, 8 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3856: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (20): Resposta ao camarada e amigo J. Mexia Alves (Coutinho e Lima)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um momento poético-musical: da esquerda para a direita, o J. Luís Vacas de Carvalho, o J. Mexia Alves e o David Guimarães.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Dois homens de Guileje e membros da nossa Tabanca Grande: à direita, (i) o Cor Art Ref Coutinho e Lima, autor do livro A retirada de Guileje: a verdade dos factos (Linda-A-Velha, DG Edições, 2008); e à sua esquerda, (ii) o ex-Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, da CCAV 8350, os Piratas de Guileje , a última unidade de quadrícula de Guileje (À nossa Tabanca Grande, acabaram de se juntar, já este ano, os ex-Alf Mil da CCAV 8350, João Seabra e Manuel Reis).

Fotos: ©

Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.

1. Como eu costumo lembrar, há mais vida, felizmente, para além do nosso blogue e da blogosfera... A este propósito, o Joaquim Mexia Alves mandou-nos hoje esta mensagem que já partilhámos com o resto da nossa Tabanca Grande, e que nos sensibiliza:

Meus caros Luís, Virgínio e Carlos

Os amigos pertencem a todos os momentos das nossas vidas. Os amigos que passaram as mesmas coisas que nós talvez o sejam ainda mais.

Isto para vos dizer que na Segunda Feira, ao principio da tarde, vou estar no programa da Júlia Pinheiro [TVI, programa As Tardes da Júlia, das 14h às 17h], para falar sobre a minha vivência da fé cristã e católica.

Não tem obviamente a ver com a Tabanca Grande, mas tem a ver com a vida de um 'atabancado'.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves


Lembrei-me que temos aqui, pendente de edição, um texto do Coutinho e Lima, em que é visado o J. Mexia Alves. Aproveitamos a oportunidade para publicá-lo, com as nossas desculpas, aos dois, pelo atraso.
Ao J. Mexia Alves já tive a oportunidade de lhe desejar um bom desempenho televisivo: "É uma responsabilidade e um privilégio... Podes atingir um auditório vasto. Aproveita esse momento bem para passar o teu testemunho de fé e de esperança" (...).
Ao Alexandre Coutinho e Lima, o nosso agradecimento e o nosso apreço por querer continuar a partilhar connosco, com os amigos e camaradas da Guiné, as memórias do seu tempo de efémero comandante do COP 5 (Janeiro a Maio de 1973). LG


2. Mensagem do Coutinho e Lima, com data de 22 de Janeiro último:


Assunto - A Retirada de GUILEJE – Considerações sobre o poste de 19 JAN 09 de MEXIA ALVES

[Negritos, no texto, da responsabilidade do autor]

Só hoje tive oportunidade de ler o poste 3760 de 19 JAN 09, do nosso Camarada e Amigo MEXIA ALVES (**).

Nas considerações que faz, cita várias vezes o poste 3737 de 14 JAN 73, da autoria do Sr Ten Gen da FA, António Martins dos Santos (***). A apreciação deste sobre A Retirada de Guileje, vai ser objecto de um comentário meu, rebatendo várias afirmações e conclusões do Sr Ten Gen, que não correspondem à verdade.

Exemplo:

“Desde 6 de Maio que os GC [Gr Comb] do Guileje não efectuaram qualquer saída do quartel…”.

Esta afirmação é uma mentira; basta ler o último parágrafo da pág. 32 e o primeiro parágrafo da pág. 33 do meu livro, que remete para o Anexo V; neste, elaborado pela 4ª. Repartição do Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), são referidas as colunas de reabastecimento a Guileje; verifica-se que, após 6 MAI 73, foram realizadas colunas nos dias 7,11,14 e 16 MAI 73, isto é, 4 colunas.

Ora, o Sr Ten Gen, que diz ter tirado as conclusões depois da leitura do livro, ou não leu o Anexo V, ou se o leu, só ele pode explicar porque fez uma afirmação que é frontalmente contrariada pelo que consta no referido anexo, cuja autenticidade não pode ser posta em causa. A menos que o Sr Ten Gen considere que, nas colunas de reabastecimento, não saíam os Gr Comb de Guileje!

Tal como consta na pág. 28 do meu livro:

“ As colunas de reabastecimento eram verdadeiras Operações, que hipotecavam todos os meios operacionais disponíveis das duas guarnições”.

Não é especificamente referido no livro, mas é evidente que, não havendo água no quartel, esta era recolhida numa fonte a cerca de 4 Kms, na direcção do Mejo, isto é, no sentido contrário ao da estrada para Gadamael; o abastecimento de água era feito diariamente e, parece que é desnecessário referir, que esta actividade era efectuada pelos Gr Comb.

No próprio dia 18 MAI 73, à tarde (recordo que o ataque do PAIGC a Guileje, teve início com uma emboscada, neste dia às 7 horas), foi feito o indispensável reabastecimento de água (ver pág. 200 – resposta à 7ª. pergunta e pág.266, comentário 1).

A última saída de Gr Comb efectuou-se na manhã do dia 19 MAI, numa coluna para evacuação dos feridos da véspera, comandada por mim, na direcção de Mejo; devo referir que a Força Aérea não fez as evacuações solicitadas, a partir de Guileje, no dia 18; não questiono este facto, mas a promessa, não cumprida, feita pelo Sr Comandante-Chefe, na sua última visita a Guileje, em 11 MAI 73 (ver pág. 42 e 43). Recordo que um ferido grave (Cabo Metropolitano) faleceu 4 horas depois de te sido ferido na emboscada. Não se teria salvo se tivesse sido evacuado, em tempo oportuno?

Após esta actividade no dia 19, não mais saíram tropas do quartel, porque não estavam criadas as condições mínimas de segurança, nomeadamente a evacuação de feridos graves; pelo contrário, havia a CERTEZA DE NÃO EVACUAÇÃO e, como já acontecera, os feridos acabariam por morrer. Nestas condições, como é que um Comandante responsável podia atribuir missões de alto risco aos seus subordinados?

Nem tão pouco era mais viável a evacuação, através do rio, como fora efectuada no dia 19, porque os sintex (barcos com motor fora de borda) e os respectivos operadores não regressaram a Guileje.

Em função do que fica escrito, como é que o Sr Ten Gen pôde concluir que os Gr Comb não efectuaram qualquer saída, desde 6 de Maio?

Relativamente ao que o MEXIA ALVES afirma:

“Eu pessoalmente não vejo em nenhuma das descrições feitas algo que sustente que o quartel estava irremediavelmente perdido e que portanto devia ser abandonado, mas posso estar redondamente enganado.”

Ora desta afirmação, com os elementos de que dispõe, Mexia Alves entende que o quartel não devia ser abandonado (é a minha interpretação), a menos que esteja enganado. É evidente que não concordo com a sua analise, remetendo-o, bem como aos amigos tertulianos, para o que consta nas páginas 76 a 82 – “20. Decisão de efectuar a Operação de Retirada de GUILEJE”.

É curioso referir que, nem o Sr Ten Gen Martins de Matos nem o Mexia Alves fazem a mínima alusão aos factores que estiveram na base da minha decisão, constantes nas páginas indicadas atrás e este é um ponto crucial; para quem quiser analisar a situação com profundidade, é indispensável ler atentamente o que está escrito e depois concordar ou discordar sobre a validade ou não das minhas razões, avançando as suas.

Há algumas pessoas que, sobre o assunto, emitiram uma opinião “politicamente correcta”, como foi o caso do Sr Maj Gen Manuel Monge, no filme AS DUAS FACES DA GUERRA: só quem lá estava tinha a capacidade de tomar uma decisão, face à situação concreta.

A minha decisão de retirar não pode ser analisada, sem considerar a hipótese contrária, isto é, permanecer em Guileje; eram as duas modalidades de acção que podiam ser tomadas, importando apresentar os prós e contras de cada uma; na pág. 80 do meu livro ((9) . Previsão do futuro, a muito curto prazo) está expressa, de forma sucinta, a minha perspectiva do que aconteceria, se a decisão fosse permanecer.

Mais do que a minha avaliação da situação concreta, importa conhecer o que, sobre este assunto, pensava o Sr Brigadeiro Leitão Marques, Comandante Adjunto Operacional do Comando-Chefe, constante na acta da Reunião de Comandos de 15 MAI 73.

Esta reunião foi presidida pelo Sr General Comandante-Chefe, estando presentes os Senhores Comandantes dos 3 Ramos das Forças Armadas: Exército, Marinha e Força Aérea, Sr Comandante Adjunto Operacional, Sr Chefe do Estado Maior do Comandante-Chefe e os Senhores Chefes das Repartições de Operações e Informações.

Chamo a atenção acerca da data desta reunião – 15 MAI – isto é, 7 dias após o início do ataque do PAIGC a Guidage (8 MAI) e 3 dias antes de se iniciar o ataque a Guileje (18 MAI). Só não foram incluídas, no meu livro, transcrições desta importantíssima reunião, para não aumentar ainda mais o seu volume.

Segue-se a transcrição de parte das declarações do Sr Brigadeiro Leitão Marques:

“… O In está a preparar as necessárias condições para conquista e destruição de guarnições menos apoiadas por dificuldade de \acesso (GUIDAGE, BURUNTUMA, GUILEJE, GADAMAEL, etc), a fim de obter os êxitos indispensáveis à sua propaganda internacional e manobra psicológica – isto está já ao alcance das suas possibilidades militares.

Quanto às vantagens para manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros em número tal que possa constituir um elemento de pressão psicológica sobre a Nação Portuguesa. A dar-se este facto e aceitando que a orientação comunista prevalecerá, tal elemento será aproveitado ao máximo para desmoralizar a retaguarda e manter-se-á até serem atingidos os objectivos finais em todas as PU
.

Esta transcrição fala por si; não possuindo eu a informação privilegiada do Sr Brigadeiro, a avaliação que fiz da situação não foi substancialmente diferente da \posição do Sr Comandante Adjunto Operacional. Tendo em conta os factores já indicados, considerei a posição insustentável, decidindo retirar na manhã do dia 22 MAI, aproveitando o efeito de surpresa; não estou certo que, se permanecesse, mais um dia que fosse, a retirada pudesse ser viável.

Espero que, com estas considerações, tenha contribuído para que o Mexia Alves tenha ficado mais esclarecido.

Logo que li o poste do Sr Ten Gen, enviei um mail ao Luís Graça, em que dizia:

“…quem não conhecer o livro e só ler a sua apreciação, ficará com uma ideia errada do que aconteceu, o que poderá ser o caso de muitos tertulianos…”.

Parece que adivinhava. O poste do Mexia Alves, pessoa que, além de bem informada, considero que tem intervenções sensatas e equilibradas, demonstra à evidência que, determinadas afirmações e conclusões, não fundamentadas, sobre o “dossier” Guileje, podem tornar-se perigosas. Ainda bem que a apreciação do Sr Ten Gen Martins de Matos foi publicada no blogue; esta circunstância vai-me permitir rebater as suas opiniões, como fiz relativamente à não saída dos Gr Comb de Guileje.

Aproveito esta oportunidade para desejar aos Camaradas e Amigos da Tabanca Grande um ANO de 2009 repleto de êxitos pessoais e profissionais e especialmente com muita SAÚDE, extensiva a todas as famílias. Quero também agradecer todas as provas de solidariedade que, por diversas formas, tenho recebido.

Um grande abraço solidário

Coutinho e Lima
___________

Nota de L.G:

(*) Vd. último poste da série > 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

(**) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3760: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (15): A minha homenagem aos que viveram a Guerra da Guiné. (J. Mexia Alves)

(***) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)

4 comentários:

Anónimo disse...

O sr. Coronel Coutinho e Lima, justificando as suas teses, cita
palavras do Brigadeiro Leitão Marques, em Bissau, a 15 de Maio de 1973:"O IN está a preparar as necessárias condições para a conquista e destruição de guarnições menos apoiadas (Guidage, Buruntuma,Guileje, Gadamael)(...) isto já está ao alcance das suas possibilidades militares."
Como o sr. Coronel e todos nós sabemos, o IN não conquistou nem destruiu Guidage,nem Buruntuma, nem Guileje (Guileje foi abandonado pelas NT),
nem Gadamael, isso não estava ao alcance das suas possibilidades militares. Se estivesse, os aquartelamentos, (estes e outros até Abril de 1974) teriam sido conquistados e destruídos. E não foram, esta é a verdade. O Brigadeiro Leitão Marques estava
enganado na apreciação da conjuntura militar na Guiné, Abril, Maio de 1973.
Um abraço,
António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Quero acrescentar e para que conste que no final de Maio e como estava-mos sem munições, mantimentos e a Força Aerea deixou de fazer evacoações, cheios de feridos, em dada o Sr.Cor. CORREIA DE CAMPOS dizer para O SR.Gen SPINOLA que, se não fossem feitos reabastecimentos em tempo util tambem nós abandonariamos o aquartelamento pois estava a ser impossivel aguentar.Só quem passou por estas situações unicas na guerra é que têm capacidade de julgar como se pretende julgar os bravos camaradas de Guileje

Anónimo disse...

Sr. Coronel Coutinho e Lima
Releia por favor o que diz a pgs.281 que mais uma vez se transcreve:
""a partir de 30 de Abr 73 foi solicitada e autorizada ... a redução da actividade operacional da CCav 8350 no sentido de o esforço principal ser orientado para as obras do aquartelamento, que estavam atrasadíssimas; ... só em Abril de 1973 foi autorizada a realização de algumas obras, ou seja, passados mais de 3 meses.
A redução da actividade, ao mínimo, permitiu ao Inimigo fazer os reconhecimentos à vontade e instalar o seu dispositivo sem grandes perturbações o que não teria acontecido se a actividade operacional decorresse no ritmo normal".
Palavras-chave: Mínimo, À vontade, Se.
Mais palavras para quê?
João Mendes

Anónimo disse...

O João Mendes tem razão!
Mas...Por vezes fico confuso!?
Se houve tanta oportunidade para o PAIGC fazer todos os reconhecimentos. Porquê só entra em Guilege três dias depois?
Expliquem-me! Eu assim não percebo nada sobre esta guerra de guerrilha.
Pior é que fico com a sensação de não ter estado dois meses em Lamego. Não conhecer nada sobre o PAIGC. e não ter valido a pena o tempo que gastei a ler:
_Omar Cabezas Lacaio "A montanha é algo mais do que uma imensa estepe verde"
_Enrique Acevedo "Descamisado"
_Che Guevara "A Aventura Boliviana"
_O Livrinho Vermelho do Mao
_Muita coisa _até filmes_ sobre o Vietename.
_Todos ou quase todos os Livros publicados em Portugal sobre a Guerra na Guiné.
Ou pior ainda, estarei sem capacidade de análise sobre o grande feito que estamos ao elaborar aqui na Nossa Tabanca, a verdadeira história vivida, da Guerra na Guiné.
Volto a referir: Foi concerteza para o PAIGC (_embora tenha aproveitado em termos de propaganda_ talvez das maiores decepções, ao assaltar um acampamento fictício porque lá não existia vivalma.
Já estamos esclarecidos sobre a FAP! Ou não!?
Haja quem exclareça o resto!
Eu não falo da experiência do meu antigo comandante da C.CAÇ. 763 e posterior homem da Psico do Spínola na Amura e substituto do Major Mariz no COP3. E Porquê? Ele já morreu, mas eu acredito naquilo que falá-mos. Só que não posso falar por ele não poder confirmar.
Contarei outras estórias de Cufar.

O Abraço de sempre do tamanho do Cumbijã

Mário Fitas