1. Mensagem de José Colaço (*), ex-Sold de Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, com data de 13 de Abril de 2009:
Carlos, agora que tanto se fala de poesia, e eu que não sei rimar duas palavras, mas na CCaç 557 temos o ex-camarada de armas Francisco dos Santos, poeta popular, que todos os anos no almoço da Companhia nos presenteia com um poema dele. Lembrei-me de te enviar este. Se achares que merece honras de blogue, publica.
Um ligeiro apanhado da missão cumprida pela CCaç 557 na Guiné
Fomos a 557
Companhia que cumpriu
A história não se repete
Regressamos com muito brio
Foi de Évora que partimos
No ano de sessenta e três
A nossa missão cumprimos
Com altos e baixos... talvez
Chegamos à Guiné-Bissau
Com novo clima a pairar
Em guerra é tudo mau
Tudo isto há que encarar
De Bissau partimos um dia
Para o mato com coragem
Quase ninguém sabia
Que o Como era a paragem
Mal a gente tinha chegado
O pior aconteceu
Com um tiro transviado
Um nosso colega morreu
Onze meses foi a paragem
Foi amargo como o fel
Trabalhamos com coragem
construímos o quartel
Num espaço de labirinto
Havia muitas madeiras
Fizemos o nosso recinto
Só com troncos de palmeiras
O que mais fazia falta
Era a água potável
A Catió ia a malta
Num serviço impecável
No local a sobrevivência
Só por si era uma luta
Havia que ter paciência
Pois a guerra era a disputa
Nas matas desta Guiné
Lutamos bem com genica
Nunca perdemos a fé
Éramos uma grande equipa
Fomos grandes camaradas
Nestas terras promotoras
Mesmo com as morteiradas
E o som das metralhadoras
Mês após mês passava
Num total isolamento
A comida escasseava
Mas não perdíamos o alento
Éramos a família unida
Por isso não digo nomes
Sacrificamos a vida
Que heróis todos nós fomos
Mas veio então a mudança
Bafatá que era a norte
Havia mais esperança
E talvez melhor sorte
Não queríamos muito mais
O tempo passa a correr
Mas o soldado Nabais
No rio viria a morrer
A morte por afogamento
Que já ninguém o previa
Este triste acontecimento
Chocou muito a Companhia
Há muito mais para contar
Em toda esta aventura
Só pensávamos em regressar
Para dar e receber ternura
E isso aconteceu
Em Novembro foi o dia
O passado morreu
Dêmos largas à alegria.
Francisco dos Santos
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4052: Por que é que, no auge da Op Tridente, não se decapitou o PAIGC em Cassacá, em Fevereiro de 1964 ? (José Colaço)
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4147: Blogpoesia (38): A Criatura e Rambo Guinéu (Manuel Maia)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
José Colaço:
Parabéns pela tua brilhante ideia de salvar as quadras do teu camarada Francisco dos Santos... Um dia destes iremos publicar o nosso romanceiro ou Cancioneiro da Guiné... E o Francisco dos Santos (alentejano ?) ficará lá muito bem, a representar os seus valentes camraradas da CCAÇ 557. Vê-se que são quadras feitas agora, de memória. Mas deve haver por aí muitas mais, se calhar envergonhadas, escondidas...
Todo este material tem um enorme interesse para a compreensão socioantroplógica do homem português da geração (a nossa) que fez a guerra de África. Isto é também a nossa História, a nossa Cultura...
Dá os parabéns ao Francisco dos Santos e diz-lhe que ele merece figurar, com chapa e tudo, no quadro de honra da nossa Tabanca Grande. Vê se lhe sacas as duas fotos da praxe para o Carlos Vinhal poder fazer a sua apresentação ao resto dos tabanqueiros e... mais umas tantas quadras... Tu mesmo podes acrescentar algumas notas e comentários: por exemplo, quando e onde morreu o Nabais ?
Um Alfa Bravo. Luís
Luís o Nabais era um rapaz muito simples por esse motivo era muito apoiado por todos os camaradas,quem lhe escrevia as cartas os aerogramas era o Francisco dos Santos.
A sua morte não teve nada a ver com combates de guerra, não sei se por ironia do destino ou sei lá assisti na praticamente aos últimos minutos de vida do Nabais.
Era uma tarde bonita cheia de sol
o Geba convidava-nos a tomar banho
então um grupo de 1o ou 12 militares fomos tomar banho,o Nabais não sabia nadar ele estava neste caso mais ou menos á beira rio entretanto notou-se a falta do Nabais mas como do grupo nenhum sabia mergulhar com capacidade para procurar o Nabais, uma corrida até ao quartel chamar o Fernando Cabo condutor óptimo mergulhador que em poucos segundos aparece com o Nabais na palma da mão ao cimo da agua mas sem sinais de vida ainda se tentou a recuperação mas o Nabais estava morto não se sabe se por afogamento ou problemas por estar a fazer a digestão.
Ficou sepultado em Bafatá no talhão dos militares 13/04/1965
Quanto ao Francisco dos Santos darei noticias somos muito amigos.
Um abraço Colaço
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