quarta-feira, 3 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4456: Blogpoesia (48): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (V Parte): III Dinastia (Filipina)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Mais imagens do "apartamento de Cafal Balanta, na zona turística do Cantanhez"...

Recorde-se que o ainda periquito, nestas andanças bloguísticas, Manuel Maia foi Furriel Miliciano da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74). Depois de sete a meses em
Bissum Naga (região de Bula, a norte de Bissau), participou na reconquista do Cantanhez, na Região de Tombali, no sul, o que implicou a ida de dois Grupos de Combate, (entre os quais o seu) para Cafal - Balanta, ficando adstritos à Companhia residente (que ali se encontrava apenas há dias).

Em Cafal Balanta, Manuel Maia e os seus camaradas vivem em condições duríssimas, em buracos escavados no solo, cobertos apenas por panos de tenda e folhas de palmeira. Esta co-habitação durou uns três a quatro meses até à chegada do resto da Companhia que foi destacada para Cafine (a cerca de 2 km de Cafal Balanta).

O resto da comissão foi dedicada à construção de reordenamentos para alojar a população local, até então sob controlo do PAIGC... "Foram nove ou dez meses ali passados, naquela zona minguada de tudo menos de mosquitos e balas" (MM)...

Fotos: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.


V parte da História de Portugal em Sextilhas, escritas pelo Manuel Maia, licenciado em História (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74) (*).




TERCEIRA DINASTIA (FILIPINA) (**)


152-Querendo obter a estima portuguesa,
Filipe, em Tomar, dá por certeza
respeito pela língua e cultura.
Garante ainda p´ro luso tesouro,
pertença da riqueza em prata e ouro,
dos, cheios, reais cofres dessa altura...


153-Sujeitos a forçada união
são alvo, os portugueses, da acção
das hordas de piratas holandeses,
que vendo a nossa armada destruída
vão ocupar colónias de seguida
e em Vera Cruz se juntam a franceses...


154-Já farto de opressão e humilhado
milagre busca o povo, angustiado,
quando ao Prior do Crato adere em massa.
Esforço patriota derradeiro,
magado pela acção do rei primeiro,
dos três, que a Espanha impôs à lusa raça.


155-Face à derrota fica inconformado,
pedindo apoio à França é ajudado,
com barcos, homens, mesmo cabedais...
Em S. Miguel, o esmaga, o opressor
que faz de si, de novo, perdedor,
mau grado auxílio inglês, ora em Cascais...



Defeat of the Spanish Armada, 8 August 1588 /
A derrota da Armada Invencível,
em 8 de Agosto de 1588.

Óleo (1796) de Philippe-Jacques de Loutherbourg (1740-1812)
National Maritime Museum, Greenwich Hospital






Fonte: Wikipedia Commons. Domínio público.







156-Prepara Espanha a Armada Invencível
julgando que a vitória era possível
sobre Inglaterra a quem vai invadir.
À força lusa é imposto envolvimento
de apoio ao espanhol atrevimento,
e o mito filipino vai ruir...


157-Rondando como abutres, rês ferida,
sabendo a nossa armada destruída,
saqueiam Portugal, os vis ingleses.
Interesses lusos, alvos atacados,
sem forças para verem rechaçados,
piratas e corsários holandeses...


158-Depois do rei Prudente, o filho assume
um tempo de rudeza e azedume
que faz germinar ódios na Nação.
Ao publicar tão vis Ordenações,
O Pio exponencia mil razões
p´ra já bem explosiva situação...


159-Um Pio muito pouco apiedado,
com mouros/descendentes agastado,
a quem vai expulsar de Portugal...
Chamando para seu governador
o tão famigerado vil traidor,
gerou um forte clima emocional...


160-A saga filipina avançará:
terceiro aqui é já o quarto lá,
mais opressor ainda que anteriores.
Impostos são garrote asfixiante
vexame cada vez mais ultrajante,
havia que expulsar os invasores...


161-Se na primeira fase houve acalmia,
pois nobres têm sempre a tença em dia...
segunda etapa é fogo de vulcão.
Agravo tributário é uma constante,
o povo abomina o ocupante,
no sul, Manuelinho entra em acção...


162-Prisões são arbitrárias, quais insultos,
gerando mil protestos e tumultos,
no ar pairava a sede de vingança...
Mil seis quarenta estava no final,
Dezembro em pleno dia inaugural,
foi marco, para a Casa de Bragança...


163-A vida alentejana de acalmia
que o duque para sempre pretendia,
forçada a corte abrupto, teve um fim.
P´ra trás ficou de vez Vila Viçosa,
que a Pátria está de si esperançosa,
fidalgos receberam o seu sim...


164-Sucesso da revolta determina
que seja um sucessor de Catarina,
duquesa de Bragança, a governar.
João Pinto Ribeiro e sublevados,
quarenta atacam paço esperançados
da honra, então poderem reganhar...

165- ‘stratégia tem João Pinto Ribeiro
a dirigir o acto aventureiro
que D. João iria sancionar.
O povo só mais tarde é informado
e logo adere assaz entusiasmado,
saindo à rua p´ro rei aclamar...


166-Tal como a foice corta a erva ruim,
também a Vasconcelos se deu fim
na lâmina afiada de uma espada,
que vai trazer, de volta, a dignidade
a um povo que vivia a adversidade,
sentindo ocupada a Pátria amada...


167-Sessenta anos tempo deste jugo,
que teve o castelhano por verdugo
e apoio vil, de, poucos, nobres lusos.
Renasce a fé e a esp´rança de vivência
agora retomada a independência,
punidas as traições e os abusos...

© Manuel Maia (2009)

[Fixação / revisão de texto: L.G.]

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd.postes de:

13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 , o Camões do Cantanhez

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3915: Cancioneiro do Cantanhez (1): De Cafal Balanta a Cafine, Cobumba, Chugué, Dugal, Fatim... (Manuel Maia)

27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4087: Blogpoesia (33) : O bardo de Cafal Balanta (Manuel Maia)

(**) Vd. postes anteriores desta série:

2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II

15 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4351: Blogpoesia (47): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (IV Parte): II Dinastia (De D.Manuel, O Venturoso, até ao fim)

7 comentários:

João Seabra disse...

Caro Manuel Maia,

Tenho o maior respeito por vocês, pelas duríssimas condições que suportaram em Cafal Balanta, e a pergunta que se segue não tem qualquer intuito provocatório.
Mas não se dará o caso de - como preliminar à ocupação do Catanhez - terem andado por lá uns "especiais" que, quando estavam no conforto das cidades, usavam bóinas verdes?
Se sim, saberás que sairam do Catanhez para irem para Gadamael. Aliás uma Companhia deles, antes disso, ainda passou por Guidage.
E posso assegurar-te que, em consequência, não tiveram direito a quaisquer medalhas.
Azar deles, porque não tinham um Comandante de Batalhão fotogénico.
Estou deliciado com a tua História de Portugal. E, como seria de esperar, ansioso para que chegues à partida do Sr. D. João VI para o Brasil.
Uma abraço do teu sincero admirador
João Seabra

Anónimo disse...

Caro Manel
Vejo que andas a subir na vida, já tens um admirador. Eu é que não me conformo: então agora já não se fala do AB?
Qualquer dia até nos esquecemos dele. Da fisionomia. Do estilo. Das valorosas acções. Imagina, que por um acaso, vou no mesmo autocarro que o dito, mas o valoroso vai despido das latinhas. Como é que o reconhecemos? Como é que o identificamos se adormecemos sobre o passado? Com que motivação vou continuar a levar comigo o sheltox?
Peço, encarecidamente, que metas qualquer coisa relacionada com ele, um título, mesmo um sub-título, uma referência aos RayBan, sei lá, tu tens o inspiramento suficiente.
Ai que saudades!
Um abraço
J.Dinis

JC Abreu dos Santos disse...

... ao camarada José Manuel Matos Dinis,

Optando por não enviar directamente por correio electrónico, aqui ficam algumas "perplexidades" ao comentário por si aposto e que exorbita das sextilhas do bardo de serviço.
Ficamos a saber, que recentemente viajou com o general João de Almeida Bruno:
E não aproveitou o momento para, ao menos, o cumprimentar?
E agora, contraditando a sua própria (recente) chamada ao "bom senso" e à "tolerância", aqui regressa com mais umas piadas pr'à geral?

E que adianta uma tal cegada, para o enriquecimento deste blog?
E quer ser levado a sério?

Afinal, bem prega frei Tomás...

Cordialmente,
Abreu dos Santos

Hélder Valério disse...

Caro M. Maia,
Sou, também, um seguidor atento e interessado (e agradado...) da tua "História de Portugal em verso".
É pelo seu conjunto que a quero relembrar, que a quero apreciar.
Apesar disso, do conjunto, do todo, aproveito para sublinhar o que de didáctico se contém nas duas últimas sextilhas desta série de hoje.
É que há lá umas referências a atitudes e comportamentos que podiam, e deviam, ser bem assimilados, até para se poderem utilizar na apreciação de certos acontecimentos.
Continua.
Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Meu Caro Abreu dos Santos,
Suspeito que terás lido apressadamente o meu comentário, e tomaste uma suposição por uma situação de facto. Provavelmente, também não interpretaste a minha intenção de elogiar o M. Maia, autor das sextilhas. Mas posso garantir que me junto ao Seabra como admirador.
Faz o favor de desculpar o que parece ser mau feitio, a propensão para a brincadeira. Mas não é. Só espero que o Manel tenha lido conforme o meu intento.
Vai um abraço
José Dinis

manuel maia disse...

CARO JOÃO SEABRA,

AGRADEÇO AS PALAVRAS DE APREÇO RELATIVAS AOS MEUS ALINHAVOS.

PERGUNTAS,SABENDO,SE ACASO NÃO TERÃO PASSADO UNS ESPECIAIS DE BOINA VERDE LÁ POR CAFAL.

QUANDO CHEGUEI,ESTAVA A COMPANHIA RESIDENTE HÁ POUCO E EFECTIVAMENTE OS PARAQUEDISTAS AINDA FICARAM UM TEMPO,NECESSÁRIAMENTE CURTO QUE NÃO POSSO PRECISAR,DAÍ NÃO TECER QUAISQUER CONSIDERANDOS RELATIVAMENTE À SUA OPERACIONALIDADE.

JÁ O MESMO NÃO SE PASSA COM A OUTRA TROPA ESPECIAL,FUZILEIROS, QUE PERMANECERAM BEM MAIS TEMPO
E MARCARAM-ME FUNDAMENTALMENTE POR VÁRIAS SITUAÇÕES A QUE NÃO ESTÁVAMOS HABITUADOS NO EXÉRCITO.

QUANDO SAIAM PARA O MATO EM SIMPLES PATRULHAMENTOS OU OPERAÇÕES MAIS COMPLICADAS,FAZIAM-NO NA SUA GLOBALIDADE,EM COLECTIVO,OU SEJA,O ÚNICO A FICAR NO AQUARTELAMENTO ERA O COZINHEIRO..TAL QUAL!

ISSO INDICIAVA UMA SOLIDARIEDADE E UM ESPIRITO DE CORPO NOTÁVEIS.

O COMANDANTE(SUBTENENTE OU TENENTE)
ACOMPANHÁVA-OS NAS DEAMBULAÇÕES PELO MATO.TODOS IGUAIS PESE EMBORA RESPONSABILIDADES DIFERENTES.

ISSO NÃO ACONTECIA NO EXÉRCITO,ONDE TODOS SABEMOS A GUERRA SE FAZIA DE ALFERES PARA BAIXO MAS O COMANDO NÃO FAZIA INCURSÕES FORA DE PORTAS...

A OUTRA FOI QUE FICARAM UNS ESCASSOS DIAS,PENSO QUE DOIS OU TRÊS,A DEPENDER EM TERMOS ALIMENTARES DA COMPANHIA DE CAFAL,TAL QUAL OS NOSSOS DOIS GRUPOS.

PURA E SIMPLESMENTE NÃO GOSTARAM DO QUE LHES ERA SERVIDO COMO REFEIÇÃO E QUASE DE IMEDIATO FOI ENVIADA UMA COZINHA DE CAMPANHA PARA OS SERVIR.

ISTO INDICIAVA QUALIDADE A NÍVEL DE ALTOS COMANDOS DA MARINHA PARA QUEM O BEM ESTAR DAS TROPAS ERA FACTOR IMPORTANTE A TER EM CONTA

UM DIA,PAIVA, FURRIEL CAFAL,DECIDIU JUNTAMENTE COM DOIS SOLDADOS DIRIGIR-SE AO LARANJAL SITO A ESCASSOS 50/100 METROS DO ARAME PARA TRAZER OS APETECIVEIS CITRINOS A PEDIREM PARA SER COLHIDOS...

MAL CHEGADOS FORAM ATACADOS PELO IN.
NESSA PRIMEIRA FASE ERA MUITO HABITUAL OUVIR-SE TIROS DE KALASH DURANTE O DIA,OU POR SIMPLES AVISO ENTRE ELES OU POR OPÇÃO DE CAÇA,TENTATIVA DE ATINGIR À DISTÂNCIA,ENFIM...O CERTO É QUE SE OUVIA TANTO QUE PRATICAMENTE,JÁ FAMILIARIZADOS,JÁ NEM NOS PREOCUPÁVAMOS...

SALTANDO DOS SEUS LOCAIS,COMO QUE IMPELIDOS POR MOLAS,UM GRUPO DE FUZILEIROS AVANÇOU NA DIRECÇÃO DO LARANJAL E CONSEGUIU AFASTAR O IN RESGATANDO O FUR PAIVA E O SOLDADO QUE LÁ FICARA(O OUTRO DADA A PROXIMIDADE DOS BURACOS/COVA/HABITAÇÃO CORREU PARA DENTRO...)
ASIM AQUELES DOIS FORAM SALVOS PELOS FUZILEIROS.
SERÁ QUE TIVERAM UMA SIMPLES MENÇÃO HONROSA? O MAIS PROVÁVEL É QUE NÃO...
FICARAM A DEVER-LHES AS SUAS VIDAS...

OUTRO PORMENOR RELATIVO À MARINHA ACONTECEU MAIS TARDE,JÁ EM CAFINE.

HOUVE NECESSIDADE DE FAZER UM ESTUDO SOBRE AS MARÉS E FORAM ENVIADOS DOIS MARINHEIROS QUE TINHAM POR FUNÇÃO FAZER AS LEITURAS
DE HORA A HORA.

FOI COLOCADO À SUA DISPOSIÇÃO UM PRÉ-FABRICADO DE MADEIRA QUE REUNIA AS CONDIÇÕES MÍNIMAS DE DESCANSO.

A NÓS CALHOU-NOS MAIS UMA INCUMBÊNCIA,A DE LHES PRESTAR SEGURANÇA À NOITE.

EM SITUAÇÃO INVERSA O EXÉRCITO NUNCA DISPORIA DO PRÉ FABRICADO...

COMO VÊS NÃO TENHO PEJO DE FALAR EM ESPECIAIS.
É QUE HAVIA ESPECIAIS E...ESPECIAIS.
OS FUZILEIROS ERAM EXTRAORDINARIAMENTE ESPECIAIS.
MAS O MELHOR É DESPEDIR-ME ANTES QUE ALGUÉM MENOS ESPECIAL SE SINTA ALVO DE COMENTÁRIOS QUE NÃO QUERO FAZER.

UM BEM HAJA E UM ABRAÇO PARA TI EXTENSIVO A TODA A TABANCA.

MANUEL MAIA

Anónimo disse...

Caro Maia,

Obrigado por mais uma parte da História de Portugal, agora entregue a Espanha, já passou.

É bom quando sabendo o que passámos, ou não, sabemos reconhecer o que passaram outros.

Quanto às coisas que dizes ir enviar-me, espero ser capaz e estar à altura, sendo certo que nada prometo, só o empenho e não desarmar.

Um abraço,
BSardinha