terça-feira, 10 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5246: Memórias de Jolmete (Manuel Resende) (1): A visita dos Deputados a Jolmete em Julho de 1970

1. Mensagem de Manuel Resende*, ex-Alf Mil da CCaç 2585, BCaç 2884, que esteve em Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, (1969/71), com data de 6 de Novembro de 2009:

Caros amigos Luís Graça e Carlos Vinhal:

Em relação ao Post 5162 e 5176TRÁGICO ACIDENTE AÉREO EM 25 DE JULHO DE 1970, devo acrescentar o seguinte: não sei até que ponto posso ajudar, mas acho que devo mostrar os fotos que ainda guardo da visita dos deputados à Guiné em 1970, para os interessados tentarem descobrir as pessoas que conhecem.

Estive em JOLMETE desde Maio de 1969 até Março de 1971.
Vim de férias em Julho de 1970. Embarquei no 707 da TAP que levou os Deputados para visitarem a Guiné, conforme fotos que mostro abaixo.
No Aeroporto de Bissalanca havia grande agitação. Esperava-se a chegada do avião da TAP com os deputados da metrópole que vinham visitar a Guiné. Tirei algumas fotos, mas como a minha meta era embarcar, não liguei muito a essa visita.

Aguardando a chegada do 707 da TAP

Saída dos passageiros

Sessão de cumprimentos

Chegado a Jolmete, depois das férias, fui informado que os tais deputados tinham ido lá visitar o aquartelamento, e que no regresso, um dos helicópteros tinha caído antes de chegar a Bissau, com um tornado. Como havia fotos da visita tiradas pelo Furriel Rodrigues da minha Companhia, eu adquiri cópias, que são as que mostro a seguir.
Terminada a visita os helis saíram de Jolmete para Teixeira Pinto depois do almoço, para deixarem o pessoal do CAOP. Como não estive lá, não sei quem foi do CAOP, mas pelo menos o Sr. Coronel Alcino, comandante, esteve lá, como se pode ver em quase todas as fotos. Ainda estava próxima a dor pela morte dos Majores e do meu colega Alferes Mosca. Depois seguiram para Bissau, e nessa viagem aconteceu o acidente.

Abre-se a porta e vê-se o Gen Spínola. No banco de trás o Cor Alcino, CMDT do CAOP

Do outro heli saem outras individualidades

Cap Almendra CMDT da CCAÇ 2585 cumprimenta e dá as boas-vindas ao Gen Spínola

Cumprimentos ao Oficial de Dia, Alf Mil Marques Pereira, pelo Ministro Silva Cunha e Gen Spínola. Vemos distanciado, à esquerda, o Cor Alcino

Visita da comitiva à Cozinha. Além de Siva Cunha e Coronel Alcino, vemos dois Furriéis dos helis e dois repórteres

Visita à Capela

Despedidas finais


JOLMETE era um aquartelamento exemplar no mato. O Sr. General Spínola tinha um fraquinho por Jolmete; esta mensagem foi-nos transmitida logo à chegada. Os nossos antecessores, CCaç 2366 comandada pelo Sr. Cap. Barbeites, construíram o quartel de raiz, nós continuamos e aperfeiçoamos. Eles tiveram uma forte actividade militar, nós continuamos e aumentamos, com saídas praticamente diárias, o que nos privou de ataques ou flagelações ao aquartelamento durante toda a comissão. Construímos, entre outras coisas dois abrigos, a vala de defesa em volta do quartel, uma escola e 24 casas para a população civil, graças à nossa equipa de pedreiros, como o Firmino (Régua), o Ramos, o Lima, o Spínola (não confundir com o nosso General), o Risadas e outros que não me recordo os nomes, mas que de seu modo, deram o corpo ao manifesto, erguendo obra que após a independência foi toda destruída.

Manuel Resende junto ao Memorial da CCAÇ 2366 e 2585

Vista aérea do nosso aquartelamento como nos foi entregue pela CCAÇ 2366

Vista aérea do aquartelamento e casas civis como deixamos para a CCAÇ 3306

Grupo de Combate da colher e da gamela

Não sei nada da companhia que nos sucedeu, a 3306. Se alguém souber algo desta Companhia, agradeço que me informe, pois gostaria de saber, pelo menos, o que foi feito do Rádio-receptor de OM e OC, a válvulas e com retransmissor em OM, para que todo o pessoal nas casernas pudesse ouvir a Emissora Nacional a partir das 17/18 horas e não só, que eu deixei para eles. Também fazíamos programas em directo de discos pedidos, com os poucos recursos que tínhamos. O estúdio era montado no quarto do nosso primeiro Vinagre, no edifício do Comando. O locutor principal era o colega Alf Mil Marques Pereira e Alf Mil Godinho, além de outros, como o Furriel Pargana (ilusionista que engolia agulhas), o Furriel Meireles, que cantava o Alfredo Marceneiro, etc.
Por falar nisto, era muito bom que alguém tivesse alguma cassete gravada desses programas e que se dispusesse a emprestar para que, com as tecnologias de hoje, pudessemos todos ouvir neste blog. Resta dizer que este aparelho foi totalmente construído e adaptado para retransmissão por mim. Muitas das peças usadas foram retiradas de rádios apanhadas aos nossos agora amigos da Guiné.

Rádio a válvulas do Curso da Rádio escola

Rádio anterior,mas já adaptado para retransmissão


Olá João Tunes
Lembras-te do Alferes de Jolmete que mexia nos Rádios? Sou eu. Se me quiseres dar a porrada, ainda estás a tempo. Um grande abraço.

Disse atrás que o Sr. General Spínola enchia a boca com Jolmete, e era verdade. Tivemos algumas visitas de estrangeiros e militares de outras zonas que iam lá ver como se trabalhava. Não esqueço uns repórteres do Washington Post que foram fazer uma reportagem filmada, de que tenho fotos, mas que comentarei em outra altura, para não tornar este apontamento muito pesado. Também o Sr. Major do SM António Goulartt Branco, após visita ao aquartelamento no Natal de 1969, fez o seguinte relatório:

Relatório (clicar para ampliar)

Fotos © ex-Alf Mil Manuel Resende e ex-Fur Mil Rodrigues (2009). Direitos reservados.
Legendas: Manuel Resende
Edição das fotos: CV


Um abraço para o Luís Graça e Carlos Vinhal
Manuel Resende
Manuel Resende
Alf Mil
CCaç 2585/BCaç 2884
1969/1971
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4228: Louvores e punições (6): Alf Mil Cav Joaquim J. Palmeiro Mosca, morto a 20/4/1970 no chão manjaco (Manuel Resende)

7 comentários:

JC Abreu dos Santos disse...

... ao ex-alf. mil. Manuel Resende, estimado veterano da Guiné,

Joaquim Moreira da Silva Cunha (1920-2003), na qualidade de ministro do Ultramar, visitou a Guiné em quatro momentos: 13-14Abr69 (integrado na comitiva do PM); 10-19Mar70; 06-09Abr72; e 21-24Jul73.
Assim, e salvo melhores informações, algumas das fotos acimas publicadas – designadamente as legendadas «Cumprimentos ao Oficial de Dia, Alf Mil Marques Pereira, pelo Ministro Silva Cunha e Gen Spínola. Vemos distanciado, à esquerda, o Cor Alcino» e «Visita da comitiva à Cozinha. Além de Siva Cunha e Coronel Alcino, vemos dois Furriéis dos helis e dois repórteres» –, não ilustram o tema proposto [visita dos Deputados a Jolmete em Julho de 1970], mas sim uma parte da "agenda" de 2ª feira 16Mar70, como segue:
– «De Bissau seguem de jipe e sem escolta para chão manjaco, o ministro do Ultramar e o comandante-chefe. No trajecto para Teixeira Pinto visitam "Jolmete, onde está aquartelada uma companhia com um capitão, quatro alferes e uma centena de soldados que, quando ali chegaram há dois anos não podiam transitar na zona, encontraram tudo queimado e as lavras destruídas com a população transviada no mato pelo PAIGC; depois levantaram habitações, uma escola, um posto sanitário e uma capela a Nossa Senhora de Fátima; esta unidade já tem sete cruzes de guerra¹, dezenas de louvores e promoções por distinção ou feitos em combate". Os visitantes percorrem de helicóptero a circunscrição de Teixeira Pinto e dali regressam de jipe a Bissau, parando em Pelundo, Có e Bula e João Landim; a estrada Bula-São Vicente está quase concluída e alcatroada.»
¹ (a primeira unidade aquartelada em Jolmete foi a CCav1651 em Jun67, rendida em Ago67 pela CCac1683, que é rendida em Nov67 pela CCav1649, que é rendida em Fev68 pela anterior CCac1683 que, novamente e até Abr68, fica naquela tabanca; em Mai68 chega a CCac2366 e dois meses depois é formado o PelCacNat59 que fica estacionado permanentemente em Jolmete; a CCac2366 muda em Mar69 para Quinhamel - onde agora termina a comissão com 9 Cruzes de Guerra - e em Jolmete fica apenas o PelCacNat59 no período Mar-Mai69, quando é ali colocada a CCac2585 sob comando do capitão graduado António Camilo Almendra; além do PelCacNat59, aquela é a única unidade estacionada em Jolmete nesta data, mas não tem ainda qualquer cruz de guerra atribuída).

Melhores saudações veteranas,
Abreu dos Santos

JC Abreu dos Santos disse...

... que, na sequência de subunidades aquarteladas em Jolmete, falta referir: ter sido a mencionada CCac1683, em 17Abr68 rendida pela CCac1622 [vd ex-fur. mil. tms José Augusto dos Santos Brás], e esta em 05Jun68 substituída pela citada CCac2366, a qual só em Mai69 seguiu para Bissau (e Quinhamel dois meses depois).
Quanto a militares da CCac2585 agraciados com Medalhas da Cruz de Guerra, foram 5 (Cap Almendra, Fur Cristo, 1Cb Maçorano, Sld Mota, Sld Pascoal).

Zé Cruz disse...

A minha guerra foi feita com muito sigilo e bastante sofrimento já que estive permanentemente debaixo de olho do comandante da companhia, Capitão Fidalgo. Eu só tinha interesse em escutar as rádios do inimigo e como eu só fazia serviço de rádio das 24,00 horas até ás 06,00 horas da manhã, aproveitava para escutar tudo o que se dizia do outro lado e para conversar com pessoal que passava a noite na população e que não era de Jolmete.Vi muitos e com todos eles conversava, trocando opiniões, algumas bastantes interessantes. A guerra, fi-la eu à minha maneira, sempre com a maior discrição. Histórias tenho muitas e verdadeiras.




Zé Cruz disse...

Há, resta acrescentar que eu fazia parte da companhia de caçadores 3306 que cumpriu a comissão entre 1970/72 em Jolmete.

Zé Cruz disse...

Há, resta acrescentar que eu fazia parte da companhia de caçadores 3306 que cumpriu a comissão entre 1970/72 em Jolmete.

Zé Cruz disse...

Há, resta acrescentar que eu fazia parte da companhia de caçadores 3306 que cumpriu a comissão entre 1970/72 em Jolmete.

Zé Cruz disse...

Há, resta acrescentar que eu fazia parte da companhia de caçadores 3306 que cumpriu a comissão entre 1970/72 em Jolmete.