segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5465: Blogpoesia (60): Memórias da Escola Prática de Infantaria, Mafra e Macau (António Graça de Abreu)


China > Setembro de 2009 > Com a minha mulher Hai Yuan e os meus filhos João e Pedro, num restaurante em Xangai






China > Agosto de 2009 > Com a minha mulher Hai Yuan em Zhouzhuang, província de Jiangsu.





China > Agosto de 2009 > com actores da ópera de Pequim, em Yangzhou, província de Jiangsu.





China > Macau > Junho de 2009 > No Largo do Leal Senado, em Macau.


Fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2009). Direitos reservados


1. Mensagem,  de 10 de Novembro, do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu, ex-Alf Mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa, Cufar, 1972/74; especialista em cultura chinesa, tradutor de clássicos da poesia chinesa, autor de Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, 2007).


Blogopoesia - Memórias da Escola Prática de Infantaria, Mafra e Macau


 No dia 27 de Junho de 2009, acabadinho de chegar de Macau e já então a fazer a mala para nova viagem, agora até Xangai, Pequim e arredores, fui um dos quase dois mil convidados presentes num encontro e opíparo almoço no convento de Mafra oferecido pelos antigos governadores de Macau a todos quantos haviam trabalhado e vivido na velha cidade sino-portuguesa na foz do rio das Pérolas.


Por acaso, nunca vivi em Macau, sempre em Pequim e Xangai, mas tenho trabalhado, e muito, para e por Macau. Daí o convite. Comemoravam-se os dez anos da entrega à China do último pequeníssimo - mas rendoso  - bastião do Império.


 Solitário entre tanta gente, reencontrei os espaços tão conhecidos ao longo dos anos por muitos de nós, a parte militar do convento, ou melhor a Escola Prática de Infantaria nele integrada,  onde, em 1970 e 1971, passei seis meses de vida no COM (Curso de Oficiais Milicianos) como soldado cadete do 1º. e 2º. Ciclo, recruta e especialidade (Atirador de Infantaria).


Depois, em 1972 veio a Guiné...


Nesse dia de Junho de 2009, fui anotando num papel ideias e frases a utilizar num poema. Só agora o consegui concluir. Primeiro, três versos apenas, uma espécie de haiku, aqueles brevíssimos poemas japoneses com apenas dezassete caracteres, assim:


Magia em Mafra.
Sem vento
um convento oscila ao vento.
  
Em seguida, um poema mais extenso, deste modo:


 Dois lustros depois do fim de Macau,
efeméride faustosa no convento de Mafra.
Um almoço, mil iguarias,
governadores, embaixadores, amigos,
oportunistas, gente boa, lambe-botas,
mosaico das gentes do mundo.
Regresso ao mosteiro onde vivi há quatro décadas,
não na serena contemplação de Deus,
mas para o exercício das artes da guerra.
O mesmo sol nos jardins de buxo,
os mesmos chafarizes de mármore velho,
os mesmos corredores, as mesmas abóbadas, 
os mesmos nomes, La Couture, Vimeiro, La Lys,
as mesma mesas no mesmo refeitório de frades,
os mesmos  cheiros, a mesma humidade fria.
Depois de Mafra, guerreiro nas franjas do Império,
a gesta, a loucura, uma Guiné em fogo.
Rolaram os anos e veio a China, 
 envolta na bruma de todos os mistérios,
e veio Macau, agasalhando tanto desvairo de mim.
Hoje, um pouco antes do fim,
recolhimento solitário na capela do convento
e, nos Sete Altares vazios,
um cântico, uma prece ao Senhor do Céu.


 António Graça de Abreu

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