1. Mensagem do nosso camarada António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66, com data de 1 de Novembro de 2010:
Companheiro Carlos e toda a Tabanca Grande, bom dia.
Companheiro, vou escrever aqui umas linhas, pois este dia ficou-me gravado para sempre. Se entenderes que deves publicar, podes avançar, mas também agradecia que alteres alguns erros e o que entenderes pois sou um analfabeto nestas tecnologias e tenho a 4.ª classe feita a martelo.
Sou o António Paulo S. Bastos, do Pel Caç Ind 953.
Neste fatídico Dia 1 de Novembro de 1965, pelas 21:30, horas estava eu de passagem por Farim esperando transporte para Canjambari, quando se dá um rebentamento no Bairro da Morocunda em Farim que causou a morte a 27 pessoas, 70 feridos graves e vários ligeiros, todos civis.
As NT sofreram 1 ferido grave e um ligeiro.
O engenho, duas granadas reforçadas com explosivos, pregos e lâminas, foi lançado para o meio do batuque onde era suposto estar muita tropa, o que não aconteceu, porque se tinha feito uma operação e o pessoal estava ainda a descansar.
Pela primeira vez na Guiné um Dakota levantou de noite para proceder à evacuação dos feridos.
No dia seguinte já se encontravam presos na 1.ª Companhia de Caçadores em Nema (Farim), 60 indivíduos entre eles: Pedro Mendes Fernandes, Bernardo da Cunha, Raul Teixeira Barbosa, José Maria Jonet, Dionísio Dias Monteiro, Pedro Tertuliano, Dionísio da Silva Pires (este empregado dos C.T.T.) e muitos mais, todos empregados das repartições públicas e casas comerciais.
As prisões foram feitas pelo agente da Pide de nome Prodízio e militares da CCS do BArt 733.
Passados 43 anos, na minha terceira viagem a Farim, vou encontrar uma sobrevivente do massacre que na altura tinha 7 anos, a Cadi ou Kati, que como vêem ainda carrega as cicatrizes.
Ainda me recordo de ver o saudoso Capitão Silva Marques, comandante da 1.ª CC, a fazer, nos dias seguintes, o interrogatório aos presos em conjunto, com o Prodízio, diga-se que não era nada meigo.
Companheiros, tinha muito mais a publicar sobre este ataque mas fica para outra ocasião.
Um abraço para todos os camaradas da Tabanca Grande e um bom Feriado.
António Paulo,
Ex-1.º Cabo
Pel Caç Ind 953
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7115: Efemérides (53): Recordando os camaradas mortos na emboscada do Infandre no dia 12 de Outubro de 1970 (Jorge Picado)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Caro camarada António Bastos
As efemérides têm sempre esta característica, recordam-nos sempre um acontecimento marcante.
Este foi mais um dos episódios relevantes, do conjunto dos vários ocorridos na Guiné, que é sempre evocado com emoção e até com aquela posição tipicamente portuguesa de "podia ter sido ainda pior". A verdade é que passados todos estes anos aqui estás tu a evocar a data e o acontecimento e, ao mesmo tempo, a prestar homenagem às vítimas.
Um abraço
Hélder S.
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