Grande Camarigo:
De acordo com o teu texto. Fez-me recordar a carta que recebi este semana do Exército Português para ir prestar declarações sobre um camarada, que viveu comigo o tempo de guerra em Guileje e Gadamael, e que sofre de STRESS PÓS-TRAUMÁTICO DE GUERRA.
Há feridas que nunca se curam, se arrastam pelo tempo, sem que para tal as entidades responsáveis façam algo para melhorar a situação: olham para o lado e assobiam.
Este amigo desloca-se ao serviço de Psiquiatria no Centro de Saúde anexo ao Hospital Militar, desde 1986, e os serviços continuam a complicar-lhe a vida no que respeita à ajuda que precisa e merece.
Confessou-me que só a compreensão da mulher e da família mais próxima tem impedido um desenlace mais trágico. Há momentos em que a vida, para ele, deixa de fazer sentido.
Já devo ter sido solicitado para este tipo de declarações mais de 30 vezes, mas agora foi grande a surpresa. Desde 1986 não tiveram tempo nem disponibilidade para resolver um problema, de fácil visibilidade, que se apresenta com contornos de um certo dramatismo.
No dia 9 de Novembro lá me apresentarei, no Regimento de Artilharia Anti-Aérea nº1, para tentar ajudar o amigo e camarada Victor Santos. Terei de me conter, para não partir a louça, já que isso mexe com o meu estado de espírito, as minhas feridas estão controladas mas não debeladas. Como diz o Mexia Alves, a cauterização por vezes é lenta e difícil.
Nestes processos é fundamental a ajuda familiar, mas os convívios e as trocas de ideias sobre experiências vividas em guerra, com os nossos amigos e camaradas, constituem um óptimo complemento no acalmar das dores.
Um abraço amigo.
Manuel Reis
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Nota de L.G.:
Último poste desta série > 24 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7171: (Ex)citações (102): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Manuel Marinho / José Belo)
12 comentários:
Dizem-te, cinicamente, que tens direito à indignação... A burocracia é cínica e criminosa. Este caso p+ode e deve aparecer aqui ESCARRAPACHADO no nosso blogue...Se tu assinm o entenderes, e achares que isso não afecta a imagem e a privacidade do teu/nosso camarada.
Caro Manuel Reis
Lê-se...e fica-se sem fala.
Olha-se para a data novamente...deve ser da vista que já está cansada, a idade não perdoa pensa-se, e colocam-se os óculos...mas é de facto há um quarto de século antes...que se vai ao Hospital para a consulta de Psiquiatria...
Por quantos médicos já passou? Com certeza que pelo menos 2 já se reformaram!!
Isto é trágico.
Afirma o Luís que a burocracia é cínica e criminosa?
Isto não é burocracia. Isto é desleixo e ultrajante por parte dos agentes responsáveis.
Merecia e devia ser colocado na praça pública, para escárnio dos "Maiorais deste Triste País".
Pobre Povo que tão maltratado foi e continua a ser, por quem tem abraçado a Causa Pública "só para o defender!".
Um grande abraço e muita calma e paciência.
Jorge Picado
"Homenageamos os esforços de todos, curvamo-nos perante os que morreram e apoiamos os ex-combatentes e os deficientes das Forças Armadas ..."
Palavras de Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional, Dr. Augusto Santos Silva
Um comentário que é apenas....
.......uma transcrição!
Camaradas,
Refiro-me ao jorge Picado, que comentou muito bem, embora discorde da última frase: acho que o povo português tem revelado demasiada calma e devia manifestar impaciência.
Existe entre nós (ainda existia há pouco tempo) um caso revoltante, para o qual não se vislumbra solução, o do Baptista, antigo prisioneiro de guerra. Outros, como alguns sem abrigo, pessoas que não se adaptam, nem à sociedade, nem à família, também são manchas, terríveis nódoas que nos deviam atormentar. E, muito provavelmente, haverá alguns que nem saberão queixar-se do que sofrem.
Sobre as palavras de S.Exa. (será da nossa geração?), que o Zé Martins transcreveu para nós, representam o que de melhor se faz em hipocrisia política, sem qualquer intenção, para além de um não me aborreçam.
Podem fazer muitos discursos, e em bom portugês, mas não apresentam acções, nem corrigem injustiças, que são dívidas da sociedade.
Alguém ainda pensa, através do blogue, organizar um movimento reivindicativo dos interesses dos ex-combatentes? Ou ficamo-nos pelos postes de belo efeito?
Abraços fraternos
JD
Caro camarada Manuel Reis
Sou médico de clínica geral
Desconheço por completo a situação clínica do camarada citado, por isso não me vou pronunciar sobre o mesmo.
Poderá causar alguma perplexidade aquilo que vou dizer, mas nós médicos não tivemos qualquer preparação sobre o sindrome pós-traumático, nem mesmo os psiquiátras,e segundo julgo saber actualmente nas faculdades de medicina pouca importância se dá a este sindrome.Sei que em Portugal o Dr. Lourenço Marques (psiquiátra) foi um dos que se dedicou a este assunto.Não é de estranhar que a quase totalidade dos médicos esteja pouco sensibilizado até por ignorância.A nível da ciência médica há muita controvérsia mesmo nos Estados Unidos onde este sindrome tem sido estudado com maior acuidade.
Infelizmente na minha actividade profissional já encontrei alguns "espertos saloios" que ao ouvirem falar deste sindrome já me tentaram ludibriar,que considero uma afronta e uma falta de respeito para com aqueles que efectivamente sofrem.
Estou ao inteiro dispor para ajudar com o meu modesto contributo.
O meu telm. 964396059
Um gadamaelista
c. martins
PEÇO DESCULPA(deve ser da hora-são cinco da manhã), não é o Dr. Lourenço Marques, mas sim o Dr. Afonso Albuquerque.
Um gadamaelista
c.martins
Caro Manuel Reis,
Os almoços e os encontros onde se falam as coisas podem ajudar mas, não curam, se é que há cura, nem resolvem as situações.
Pelo que dizes estou de acordo com outros comentários, não existe burocracia, existe desleixo e admito que alguma falta de conhecimento sobre a matéria, sei e estou certo, esta certeza tenho, existe falta de vontade em resolver estas situações.
Cabe aqui uma vez mais perguntar, o que é feito da Liga? e a ADFA? e todas as outras associações existentes? É necessário criarem-se mais umas quantas para distribuição de cargos e competências?
Há que dividir para reinar, é, não é? Não me apetece escrever mais nada.
Estou de acordo com o Luis, se achares por bem divulga tudo o que sabes.
Um abraço,
BSardinha
Camarada C. Martins:
Vou fazer um comentário ao teu comentário, o que não me parece muito correcto, mas não queria passar esta oportunidade sem alguns esclarecimentos que se impõem.
Não fui eu que fiz o diagnóstico, foram os serviços competentes. Para que servem as minhas declarações?
Reconheço a complexidade de comprovar esta doença e também a existência de alguns camaradas, que, por vezes, tentam tirar partido desta situação. Mas serão necessários tantos anos, sabendo que o nosso camarada passou por Guileje e Gadamael?
Quero também agradecer-te a disponibilidade para ajudar e vou socorrer-me de ti, se para tal for necessário.
Foi uma agradável satisfação apanhar-te neste espaço (Blogue)e recordar a tua postura e a tua actuação em Gadamael.
Ficou-nos na retina, para sempre, a maneira como socorreste os feridos,que eram muitos, quando tu estavas bastante ferido, com uma das mãos inutilizada, cheia de trapos.
Mantiveste-te no teu posto quando se justificava a tua evacuação.
O teu gesto marcou-nos pela grandeza da tua dimensão humana.
Em meu nome e de todos os camaradas que ajudaste, naqueles momentos difíceis, o meu Bem- Haja.
Um abraço forte e amigo.
Manuel Reis
Caro José Dinis
Apenas um esclarecimento, sobre o que no fim escrevi no meu comentário e que, talvez pelo sentimento que me dominava, me toldou a forma de me exprimir.
"Muita calma e paciência" referia-se à presença com que o Manuel Reis deveria encarar o "interrogador" a quem se vai submeter.
Não queria de forma alguma referir-me "à bovina atitude com que o Povo Português espera embasbacado que uns iluminados tratem deles".
Calma e paciência para não ser ele, MR, a rebentar com algum ataque vascular.
Se tiver que "explodir", faça-o com palavras brutas e berros para descarregar todo o seu "ódio" sobre os "mangas de alpaca".
Abraços
Jorge Picado
Jorge,
Estou completamente esclarecido. Afinal, tu não perdeste o tino.
Belarmino,
Perguntas pela Liga e pela ADFA, e perguntas bem, pois deveriam ser entidades preocupadas e atentas, que gerassem, elas próprias, uma corrente de solidariedade, através da qual, qualquer cidadão se lhes dirigiria a relatar dificuldades pendentes sobre ex-militares. Essa, parece-me, seria uma primeira missão, para o posterior encaminhamento e acompanhamento dos necessitados.
Fico com a ideia de que os responsáveis, ou não terão capacidade para os cargos que exercem, ou estarão suficientemente instalados para se meterem em mais diligências. Neste caso, provavelmente terão achado os seus tachos.
Abraços fraternos
JD
Caro camarada Manuel Reis
Estás confundido, não fui eu que fiz o que descreves no teu comentário.
Por favor telefona-me ou põe o n.º do teu telf. que eu contacto-te.
Um abraço
c. martins
Caros amigos:
Rectificação:
O seu a seu dono. Referi-me, erradamente, ao Caria Martins, como médico de Gadamael.
Para ele vão as minhas desculpas, por este lapso.
Mantém-se, no entanto, tudo o que atrás referi sobre a actuação do médico de Gadamael,cujo nome não me ocorre, no período quente de 1973.
Um abraço.
Manuel Reis
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