1. O nosso Camarada José Marcelino Martins, (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais uma mensagem, em 3 de Novembro de 2010, da série “Patronos e Padroeiros do Exército”:
Foto: Wikipédia, com a devida vénia
Major Caldas Xavier
A 25 de Setembro de 1852 em Lisboa, na freguesia das Mercês, filho de Henriqueta Pereira Caldas Xavier e António Prado Xavier, nasce Alfredo Augusto Caldas Xavier que, face à sua habilidade manual, os pais pretendiam que seguisse a carreira de escultor mas, por influência de seu avô materno Pereira Caldas, oficial superior do exército e com quem viveu desde novo, acabou por abraçar a carreira das armas.
Em 1871, terminando o curso no Liceu Nacional de Lisboa, pretende entrar para a marinha de guerra, mas assenta praça no Regimento de Caçadores nº 5 enquanto se matricula no curso de infantaria na Escola do Exército, hoje Academia Militar. No ano seguinte casou com Amélia do Nascimento Conti.
Efectua uma primeira comissão, civil, em Moçambique, chegando a Lourenço Marques no dia 7 de Março de 1877, com o objectivo de colaborar no levantamento de obras públicas necessárias naquela província.
Não esqueceu a sua condição militar colaborando nas Campanhas de Pacificação realizadas na zona de Inhambane e distinguiu-se, especialmente, no apaziguamento da revolta do Batalhão de Caçadores de Inhambane (1877) e nas negociações com o régulo de Zavala, em Outubro de 1879. Das negociações com o régulo fazia parte o estabelecimento de um quartel em Nhagondel, que fortaleceria a presença portuguesa a sul do Inharrime, na direcção das terras do Império de Gaza.
Regressa ao Reino durante um curto período, altura em que, a 11 de Agosto de 1881, foi promovido ao posto de Tenente, tendo regressado a Moçambique em 1883, mas na qualidade de administrador da Companhia de Ópio da Zambézia. Constata que o quartel apenas tinha sido iniciado. A sua materialização, estabelecimento de um comando militar ao sul do Inharrime, só foi conseguida em 1884, por imposição de uma portaria de Agostinho Coelho, governador-geral.
Enfrentou, ainda, problemas originados com a forma como contratava trabalhadores para a companhia que administrava, como o ataque por grupos armados, a 20 de Junho de 1884 de que resultou a morte do Capitão Victoriano Queirós, a família deste e a quase totalidade dos elementos do destacamento, sendo apenas poupado o Alferes Curado, por ser genro de um dos assaltantes.
Aquando do assalto às instalações da Companhia de Ópio da Zambézia, os revoltosos acabaram por ser desbaratados, rendendo-se ao Capitão-mor de Manica em 11 de Agosto seguinte.
Quando a Companhia do Ópio passa a ser dirigida por ingleses, o que acontece em Janeiro de 1886, Caldas Xavier tem de abandonar o lugar e regressa a Portugal.
De 1887 a 1890 vai para a Índia Portuguesa, agora já com o posto de Capitão, para cumprir mais uma comissão de serviço. Ocupa os cargos de inspector-geral do Caminho-de-Ferro de Mormugão, chefe da repartição militar de Mormugão e, por pouco tempo, governador de Diu. Quando termina a comissão e regressa ao país já tinha sido promovido a Major.
Chegado a Lisboa, parte de novo para Moçambique, a convite do engenheiro Joaquim José Machado, para integrar a comissão de técnicos para delimitação das fronteiras entre o distrito de Lourenço Marques e a República do Transvaal, mas, face aos problemas levantados com o ultimato inglês, estes vieram a sofrer algum atraso.
Com a posição de força tomada pela Inglaterra no ultimato, uma força da British South Africa Company provoca incidentes em Manica, reclamando a sua posse e aprisionou as autoridades estabelecidas.
Em reunião pública de 10 de Dezembro de 1890 na Câmara Municipal de Lourenço Marques, é aceite a proposta de organizar uma força militar para expulsar o invasor, pelo que, estando presente Caldas Xavier, é o mesmo nomeado para comandar a mesma.
Enfrentando grandes dificuldades, consegue reunir uma força constituída por elementos do Regimento de Caçadores nº 4, do Corpo de Policia e uma companhia do Batalhão de Voluntários, constituído na altura, partindo para a Beira em 10 de Janeiro de 1891, a bordo do vapor Rovuma.
A 11 de Maio a expedição entra em combate com a força ocupante, tendo de bater em retirada. Face a concessões feitas por Portugal à Grã-Bretanha, a força retira, chegando a Lourenço Marques em 4 de Setembro de 1891.
Ao Major Caldas Xavier, apesar de não ter obtido êxito na expedição efectuada, foi-lhe reconhecido o mérito do seu empenhamento, sendo condecorado com a medalha de Oficial de Ordem Militar da Torres e espada, a juntar ao grau de Cavaleiro, que já lhe tinha sido atribuído, anteriormente.
Regressa à Metrópole em 1893, onde profere várias conferências sobre a necessidade da ocupação efectiva de Moçambique, à luz dos requisitos impostos pela Conferência de Berlim.
Regressa a Moçambique em 1894, chegando a Lourenço Marques na altura que uma rebelião punha em causa a presença portuguesa na área.
Apesar da comissão de serviço de Caldas Xavier ser de carácter civil, foi o escolhido para efectuar um reconhecimento, pelo que, á frente de uma força do regimento de Caçadores nº 2, de uma secção de artilharia de montanha e tropas auxiliares do Batalhão de Caçadores nº 3 parte, a 21 de Janeiro de 1894, patrulhando a área circundante sem que tenha havido qualquer contacto.
António José Enes, Comissário Régio, determinou que Marracuene fosse ocupada pelas forças portuguesas, onde se reconhecia existir o maior foco de resistência.
Criada nova força, com elementos das unidades que tinham constituído a anterior, reunindo 37 oficiais e 800 soldados, Caldas Xavier parte como 2º comandante da força, comandada pelo Major José Ribeiro Júnior.
A expedição parte de Lourenço Marques em 28 de Janeiro de 1895. O comando passa para a responsabilidade de Caldas Xavier, uma vez que o comandante que continua a acompanhar a força, adoece, chegando a Marracuene por volta das 4 horas da tarde do dia 29.
Após ter bivacado na zona durante três dias em aparente calma, a força foi atacada no que ficou conhecido como o Combate de Marracuene.
Apesar do inimigo ter conseguido penetrar no quadrado defensivo, mas rapidamente reconstituído, a sorte das armas pendeu para o lado português, tendo esse combate sido o primeiro das Campanhas de Pacificação em Moçambique.
A coluna regressa a Lourenço Marques em 5 de Fevereiro de 1895 e, Caldas Xavier que não se encontrava na província devido à sua condição militar, volta a ocupar a missão para a qual tinha sido designado. No entanto, ainda colabora no apoio logístico às colunas que estavam empenhadas na campanha.
Sofrendo de doença tropical, veio a falecer em 8 de Janeiro de 1896, na cidade de Lourenço Marques, poucos dias depois da chegada aquela cidade de Gungunhana, principal opositor às pretensões portuguesas naquele território.
José Marcelino Martins
Fur Mil Trms da CCAÇ 5
02 de Novembro de 2010
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
23 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7163: Patronos e Padroeiros (José Martins) (18): Nossa Senhora do Cheche
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