domingo, 31 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7198: O Soldado Africano Esquecido / Forgotten African Soldier (1): O que podemos fazer pelos nossos antigos camaradas guineenses ? (Carlos Silva / Luís Graça / Paulo Santiago)



Guiné > Saltinho > Pel Caç Nat 53 > 1971 > O Alf Mil Paulo Santiago, de bigode e barrete fula na cabeça, ladeado, à sua direita, pelo 1º Cabo Verdete, e à sua esquerda pelos Sold Samba Seidi, bazuqueiro, e Abdulai Baldé, um dos seus fiéis guarda-costas. O Paulo é autor, entre outras, da série Memórias de um Comandante de Pelotão de Caçadores Nativos, de que se publicaram até agora 17 postes, salvo erro. Tem, além disso, a experiência de instrutor de milícias, em Bambadinca.




Foto: © Paulo Santiago (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




1. Comentários ao projecto Forgotten African Soldier (*):




(i) Carlos Silva:


Já expliquei ao nosso amigo Jochen todas essas dificuldades que o Luís Graça aponta e mais algumas. Espero que ele compreenda agora.


Mesmo a sugestão do Luís Graça de reencaminhar para a AD,  tenho dúvidas que resulte, pois só se for que o Pepito consiga alguns contactos com antigos combatentes do PAIGC.


Dos nossos,  presumo que seja muito difícil, mesmo aqui no nosso País.


Quantas entrevistas é que o Luís Graça consegue ou conseguiu, até hoje,  dos soldados da CCaç 12 a que ele pertenceu ? Já conseguiu alguma?


Para mim, já expliquei ao nosso amigo Jochen que o projecto é excelente mas muito arrojado para o levar por diante. Espero que tenha bom êxito.


Aqui em Bissau 2 eu contacto com muita malta e já assisti pessoalmente a negas dadas por eles a pedidos de entrevistas.  Eu estava ao lado deles. Com isto não quero dizer que não haja alguém que alinhe. Falo com dezenas e trabalhei/trabalho para dezenas. Sou muito conhecido em Bissau 2 e na Guiné.


(ii) Luís Graça: 


Tens razão, Carlos, os obstáculos são muitos. Tu conheces, e melhor do que eu, o terreno, a actual Guiné-Bissau, a realidade da diáspora, o processo de diabolização dos guineenses (fulas, manjacos, e outros) que foram "colaboracionistas"... Não conheço o Jochen, nem sei se é americano de origem... Não me parece em todo o caso um daqueles americanos com uma visão etnocêntrico do mundo, e que nada sabe de geografia... Pelo menos, viveu em Portugal, conhece Portugal...


Quanto à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, dirigida pelo nosso amigo Pepito, é a única que eu saiba que tem trabalho feito na preservação da memória da guerra colonial / luta de libertação. Com o apoio da televisão comunitária TV Klelé, foram feitas entrevistas, gravadas em vídeo, a talvez uam dúzia (ou mais) de antigos guerrilheiros do PAIGC que combateram no sul, e nomeadamente em Guileje. Essas entrevistas, em geral, são feitas em crioulo.


(iii) Paulo Santiago:


Carlos e Luís, não queiram já pôr o Jochen perante um imenso mar de dificuldades. A tarefa a que se propõe é complicada, mas é exequível, penso eu. Claro que só posso falar de ex-militares do Pel Caç Nat 53 com quem contactei em 2005 e 2008 e sabendo onde moram na actualidade (são apenas meia dúzia).


Já troquei vários mails com o Jochen, e no último disse-me andar a tentar contactar a AMFAP (Associação dos ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas) (**), em Bissau, da qual não tenho contacto. se tiverem esse contacto,  ele agradece. Ele não quer entrevistar ex-guerrilheiros do PAIGC,apenas ex-militares das NT, mas está muito interessado em falar com um dos meus mais fiéis guarda-costas que em 1998/99 andou com o Ansumane Mané.


O Jochen já me pôs o problema dos cuidados a ter quando chegar à fala com esses ex-militares, como isso  poderá ser encarado pelas autoridades da Guiné-Bissau. Dei-lhe a minha perpectiva.


Fora do contexto, o Jochen tem grandes saudades das francesinhas que comeu durante a sua estadia no Porto


______________


Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 30 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7192: O Mundo é Pequeno e o Nosso Blogue... é Grande (30): Forgoten African Soldier / O Soldado Africano Esquecido (Jochen Steffen Arndt, Universidade de Illinois em Chicago)


(**) Selecção de notícias na Net relacionadas com a Associação de Ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas (AMFAP), da Guiné-Bissau:


(i) Ex-militares guineenses das FAP querem dialogar com Lisboa


NL - Notícias Lusófonas, 29-Apr-2004


A Associação de Ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas (AMFAP) da Guiné-Bissau entregou uma carta na embaixada de Portugal em Bissau em que pede uma reunião com representantes do Ministério da Defesa português, disse hoje fonte oficial.


O encarregado de Negócios da missão diplomática portuguesa na capital guineense, João Queirós, indicou que a carta foi entregue pelo presidente da Associação, Regino Veiga, em representação dos milhares de ex-combatentes guineenses que combateram ao lado das tropas portuguesas na guerra colonial (1963/74).


Segundo fontes oficiais, cerca de 15.200 alegados ex-combatentes reivindicam uma pensão do governo português pelo seu envolvimento no conflito na então província portuguesa da Guiné.


João Queirós esclareceu que a carta, recebida também na presença do adido militar adstrito à Embaixada de Portugal em Bissau, coronel João Araújo, seguirá para o "competente destinatário", neste caso, o Ministério da Defesa português.


O diplomata português, sem adiantar pormenores, assinalou ter-se limitado a receber a carta das mãos de Regino Veiga e que, no acto, ficou vincada a necessidade de as duas partes manterem "canais abertos de diálogo".


Fonte do Ministério da Defesa guineense confirmou hoje à Lusa que a questão será abordada na reunião anual dos ministros das Defesa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), marcada para fins de Maio em Bissau.


Liga dos Combatentes portugueses apoia guineenses que serviram no exército colonialpublicado




RTP > 18 de Março de 2008


Gabú, Guiné-Bissau, 18 Mar (Lusa) - A Liga dos Combatentes (LC) de Portugal ofereceu hoje 6,7 mil euros aos membros da Associação de ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas da localidade guineense de Gabú, a 206 quilómetros leste de Bissau.


O dinheiro, entregue numa cerimónia simbólica pelo presidente da LC, o major-general Carlos Manuel Camilo, vai ajudar na construção de um poço e na compra de bombas de águas para a agricultura, utilização doméstica e alimentação dos animais na localidade de Oukmaundé, a primeira localidade onde colonos portugueses viveram quando chegaram à vila de Gabú, no século XV.


(...) Presente na cerimónia de entrega do cheque simbólico doado pela Liga dos Combatentes de Portugal, o régulo (autoridade tradicional) de Oukmaundé, Moreira Dauda Embaló, disse que o gesto significa que "afinal Portugal não esqueceu os seus combatentes".
 
"Dignificação é o primeiro passo para o reconhecimento daqueles que deram tudo pela causa portuguesa", afirmou Moreira Embalo, que espera outras iniciativas em prol "daqueles que serviram à Pátria lusa durante a sua juventude".
 
Já no final da cerimónia, Mussá Seidi, um antigo soldado que serviu no exército colonial.  disse à Lusa que "a ajuda e a festa foram bonitas, mas o melhor mesmo era receber um documento oficial de reconhecimento de Portugal".
 
O velho agricultor Mussá Seidi assumiu assim uma das mais antigas reivindicações dos ex-soldados do exército colonial, ainda sem resposta das autoridades portuguesas. (...)

(iii)  Liga dos Combatentes - PASSADO, PRESENTE E FUTURO > Arquivo de notícias > 20OUT2007 - A Liga dos Combatentes de Portugal assinou um protocolo de cooperação com o Instituto de Defesa Nacional (IDN) da Guiné-Bissau, que prevê, entre outras questões, a dignificação dos locais onde se encontram sepultados militares portugueses mortos em combate.(...)
 
(...) "f. Promove acções que se traduzam no aprofundamento de relações com a Associação de Combatentes da Liberdade da Pátria (ACLP), Associação dos Deficientes das Forças Armadas da RGB (ADFA/RGB) e Associação de Ex-militares das Forças Armadas Portuguesas (AMFAP).

12 comentários:

Anónimo disse...

Camarigos
Já se faz tarde, mas ainda a tempo para o Governo Português assumir as suas responsabilidades, para com os Ex-Combatentes Africanos, que tudo deram, ao nosso lado, a vida , o seu sangue, e depois fuzilados ignóbilmente na altura da Independência.
Honra e Glória para todos eles, os ainda vivos e os mortos...
Luís Borrega( 1º Português, depois Fula)

Torcato Mendonca disse...

## TODOS ACHAM QUE ALGO É IMPOSSÍVEL

DE REALIZAR,

ATÉ QUE APARECE ALGUÉM QUE NÃO O SABE

E O INVENTA ##

Albert Einstein

É Ele que o diz...e eu, com vénia e agradecimento, retiro sem autorização da Pág.26 do 1ª caderno de O Expresso de ontem, 30 de Outubro.

Já AGORA PODEM LER O ARTIGO. É DE lUÍSA SCHMIDT. Vale a pena.

AB do TM

Carlos Silva disse...

Amigo Luís Borrega

Que tipo de responsabilidades?
Podes expressar ou consubstânciar em concreto?
Já agora acrescento, não só para os ex-combatentes africanos, mas também para os combatentes europeus, já que creio existir um principio da igualdade consagrado na CR.
Recebe um abraço amigo
Carlos Silva

Cherno Baldé disse...

(...)No entanto, este problema tem em grande medida a ver com a estrutura dos arquivos históricos existentes: os documentos e os relatórios oficiais incluem poucas informações sobre os soldados, as suas vidas, e as suas experiências".

A frase em cima é do investigador Jochen...que a meu ver é muito simpático para Portugal quando pensa que a atitude histórica desse país para com os seus auxiliares africanos se resume em questões triviais como "estrutura de arquivos...

Não seria melhor perguntar se esses mesmos auxiliares (sejam eles soldados os milicias) tiveram seus direitos reconhecidos, primeiro como humanos e depois como soldados ou milicias voluntarios da sua propria desgraça por alinharem com uma nação que depois não os soube defender quando era possivel e era necessário ???

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Dado o profundo conhecimento que Carlos Silva tem da realidade dos nossos antigos camaradas guineenses, gostaria de lhe perguntar o seguinte:
- é-lhes reconhecido o estatuto de DFA, com as compensações respectivas?
- os ex-prisioneiros de guerra podem requerer o subsídio respectivo?
- têm direito a requerer (com o pagamento das respectivas quotas, o que, como se compreende, será muito difícil ou quase impossível)a reforma ou aposentação pelo tempo de serviço prestado às Forças Armadas Portuguesas e respectivo complemento ou acréscimo?
No fundo, o que gostaria de saber é se lhes são reconhecidos os direitos que têm os outros militares portugueses nas mesmas circunstâncias.
Estou certo que o nosso camarada Carlos Silva será uma das pessoas mais conhecedoras desta questão e que, portanto, pode fazer o grande favor de nos fornecer informações fundamentais para compreendermos melhor a situação dos nossos antigos camaradas guineenses.
Com um abraço,
Carlos Cordeiro

Jochen Arndt disse...

Caro Cherno Balde,
nao concordo consigo. A questao dos arquivos existentes nao e uma questao trivial para os historiadores que hoje e nos proximos 300 anos (e mais) tentam analisar e escrever a historia do colonialismo e do nacionalismo em Africa. De facto, eu acho que seja impossivel analisar esta historia do ponto de vista dos soldados de origem africano com os arquivos existentes. E sem o ponto de vista deles a historia do colonialismo e nacionalismo vai ficar incompleto para sempre.
Peco desculpa para os erros ortograficos (o meu teclado nao me permite utlizar alguns caracteres quando escrevo para o blogue).
Jochen Arndt

Carlos Silva disse...

Part I

Meu Amigo Homónimo Carlos Cordeiro

1 - Não foi por acaso e nem por ingenuidade que faço a pergunta ao nosso camarada Luis Borrega para concretizar que tipo de responsabilidades, que no meu entender, tem muito de subjacente às questões que colocas e não só, pois na minha cabeça corre muitos outros aspectos, mas que ele não respondeu.

2 - Modéstia à parte, de facto sinto a moralidade para invocar um profundo conhecimento da realidade, não só dos nossos ex-camaradas guinenses, como da realidade do povo quinense, pelas razões aqui e noutros lados invocadas, ou seja, face à minha formação académica e profissão de advogado, nessa qualidade e não só pelo apoio que dou a esses camaradas, ao convívio diário que tenho com muitos deles, à minha deslocação quase todos os anos à Guiné, à ajuda humanitária a que me dedico, ao apoio que lhes dou em várias vertentes desde patrocínio judiciário, questões de nacionalidade, antes junto do SEF e agora junto dos Registos Civis; Autorizações de Residência, Segurança Social, no domínio Fiscal etc. etc. e apoio não só aos nossos ex-camaradas, como aos próprios filhos deles sobreviventes e aos filhos dos muitos já falecidos.

3 – Em face desta minha experiência elaborei um documento exaustivo, sobre todas estas vertentes e mais algumas, juntamente com o Cor Manuel A Bernado que me pediu para integrar uma Comissão com ele, Amadu Bailo Djaló; JuJdé Djaquité; Mansata Djau, que são guineenses, mas o documento não foi restrito só a estes, ou seja, só aos guineenses, mas foi global e abrangente para todos os outros camaradas, designadamente Angola, Moçambique etc. como não poderia deixar de ser.
Tal documento foi entregue no Ministério da Defesa dirigido ao Ministro onde fomos recebidos por alguém que o representou.
Face às questões suscitadas e à sua complexidade, bem como, a transversalidade do mesmo por abranger vários Departamentos Governamentais, a resposta não foi, nem poderia ser imediata, mas sei que têm sido resolvidas muitas das situações.

4 --Não só tenho dado apoio a camaradas africanos, como tenho dado apoio aos camaradas europeus, também em vários domínios sem ser apenas na área do Direito

5 – Tenho colaborado com fotos, textos e sugestões em vários livros de camaradas e tenho felizmente uma biblioteca com mais de 200 livros sobre a Guiné, embora ainda não tivesse tempo para os ler todos, mas infelizmente ou não, não tenho o teu por opção, porque a poesia não é um dos meus temas preferidos.

6 – Tenho o meu Site ao qual dedico horas a fio, que neste momento se não me enviassem matéria para publicar, tenho material para lançar para 2 anos. E com mais de 300 pessoas registadas e cujo contador apenas conta uma visita por computador, pois se contasse as visualizações, já teria atingido um milhão, mas não é isso que é relevante para mim.
http://carlosilva-guine.i9tc.com/site/
Fundei a Tabanca dos Melros em Gondomar
http://www.tabancadosmelros.blogspot.com/
Escrevo há muito e creio que há mais tempo do que tu aqui no Blogue da Tabanca Grande
Colaboro e sou amigo de muitos e muitos camaradas da Tabanca de Matosinhos com a qual colaboro.
http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/
Sou um dos fundadores da Ajuda Amiga-Associação de Solidariedade e Apoio ao Desenvolvimento
http://ajudaamiga.com.sapo.pt/
Enfim, faço parte de outras associações criadas por camaradas nossos, é um questão de te dedicares a fazer buscas e a consultar o que indico e já tens aí muito pano para mangas se tiveres interesse nesses temas.
Continua

Carlos Silva disse...

Parte II - Continuação

6 – Tenho o meu Site ao qual dedico horas a fio, que neste momento se não me enviassem matéria para publicar, tenho material para lançar para 2 anos. E com mais de 300 pessoas registadas e cujo contador apenas conta uma visita por computador, pois se contasse as visualizações, já teria atingido um milhão, mas não é isso que é relevante para mim.
http://carlosilva-guine.i9tc.com/site/
Fundei a Tabanca dos Melros em Gondomar
http://www.tabancadosmelros.blogspot.com/
Escrevo há muito e creio que há mais tempo do que tu aqui no Blogue da Tabanca Grande
Colaboro e sou amigo de muitos e muitos camaradas da Tabanca de Matosinhos com a qual colaboro.
http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/
Sou um dos fundadores da Ajuda Amiga-Associação de Solidariedade e Apoio ao Desenvolvimento
http://ajudaamiga.com.sapo.pt/
Enfim, faço parte de outras associações criadas por camaradas nossos, é um questão de te dedicares a fazer buscas e a consultar o que indico e já tens aí muito pano para mangas se tiveres interesse nesses temas.
Continua

Carlos Silva disse...

Parte III - Continuação

7 - Tudo isto para te dizer e fundamentar, que modéstia á parte, sinto-me à vontade para responder a muitas questões, embora não tenha a veleidade do dom da sabedoria e do conhecimento total e da verdade.
8 – Agora vou responder-te em síntese te a 2 ou 3 questões que colocas, mas face ao que digo atrás, como deves compreender, não é aqui a sede própria para prestar todos os esclarecimentos que pedes, bem como, compreendes, quase teria de escrever um livro, isto é, se não escrevi, mais do que um, se juntasse todos os meus trabalhos e pareceres.
Contudo, tenho muito gosto em trocar impressões contigo pessoalmente se fores ao Jantar/Convívio de Natal no dia 10-12-2010 a realizar conjuntamente pelas Tabancas dos Melros e de Matosinhos como é do teu conhecimento, embora muito rapidamente, pois isto são temas que levam horas a expôr e se quiseres ficar bem informado sobre essas matérias tenho muito gosto em informar-te, mas para isso terás de ir aos nossos convívios à Tabanca dos Melros, onde reunimos ao 2º sábado de cada mês e eu vou de propósito para o efeito a partir daqui de Massamá-Sintra, como tal, terás oportunidade de ficar informado a pouco e pouco.

9 – Acresce dizer, que todo o meu apoio tem sido gratuito. Aliás, costumo dizer e repito até “pago para dar”.

10 – Posto isto, no que se refere à 1º questão devo informar-te que é reconhecido a qualidade de DFA a todos os nossos camaradas sem distinção, quer africanos quer europeus, desde que preencham os requisitos da Lei nº 46/76 e não só aos nacionais, mas também aos estrangeiros com residência legal no País.
Aí estão previstas todas as compensações a que os DFAs têm direito.
Mas não te esqueças, que para ser qualificado de DFA têm de ter uma incapacidade igual ou superior a 30%.
Ainda hoje, estão a correr tramites de processos, apesar de já ter decorrido quase 40 anos após a guerra e as independências.

11 – Os prisioneiros de guerra que foram qualificados como tal estão a receber as respectivas pensões.

12 – Claro que têm direito a requerer as respectivas pensões desde que preencham os requisitos das respectivas leis aplicáveis e não há distinção.
Desde que preencham o período de garantia, para o caso de velhice ou de invalidez.
Claro, sobre esta matéria não posso aqui dar-te um parecer exaustivo, nas é uma questão de tu ou quem estiver interessado, deve informar-se junto dos Organismos da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações.
Continua

Carlos Silva disse...

Parte IV – Continuação

13 - Já agora informo-te que a maioria dos ex-camaradas residentes nos territórios das ex-Províncias Ultramarinas, não estão abrangidos, quer por não terem descontado para nenhum regime contributivo de protecção social, quer mesmo que viessem a pagar as contribuições, a sua maioria não atinge o período de garantia, ou seja, 5 ou 10 anos, aliás, teríamos de ver qual a lei aplicável no tempo, pois houve muitas alterações.
E não te esqueças do princípio da igualdade e o que isso importa.

14 – A contagem do tempo de serviço é aplicável a todos sem excepção, embora haja regimes diferentes. Eu fui um dos prejudicados relativamente a esta situação relativamente a muitos efeitos.
Pois os ex-camaradas que eram trabalhadores por conta de outrem ou funcionários públicos, nos termos da lei aplicável nesse tempo, o tempo de tropa foi-lhes contado sem pagar um “tostão”, enquanto que eu tive de pagar contribuições relativamente a 4 anos e meio do meu bolso, porque não estava naquela situação. Bati com os costados na Guiné, e muitos deles ficaram aqui no “marmelanço” e tiveram mais benesses do que eu.
Onde estava o princípio da igualdade?

15 – Como vês, só a partir destas ínfimas informações, podes tirar muitas ilações, no entanto, podem bater à porta do Carlos Silva, pois já dei apoio a centenas, mas afinal, o que fazem as associações que pululam por aí? Que recebem subsídios do Estado, ou seja, de todos nós.
Porque não pedem informações junto dessas Organizações e porque não se dirigem aos Organismos respectivos?
E não só, pois há mais camaradas aqui no blogue que são técnicos de direito. Porque não se dirigem a eles também?
Todos querem MAMA?
Continua

Carlos Silva disse...

Parte V - Continuação

16 - Por isso eu digo, vejo aqui no Blogue muito lirismo e muitas baboseiras e não há bom senso na “Tola” de muitos camaradas que aqui escrevem para pensarem alto.
Haveria muito para dizer ainda, mas como vez não é num comentário que posso responder a matérias que envolvem muita explicação técnico-jurídica e neste caso já escrevi 3 fls A4 em Word, mas não gostaria de deixar em branco o que questionas, embora como disse não responda a tudo, porque estou à vontade para o fazer, pois já queimei muito as pestanas.
Espero que tenhas compreendido este pequeno panorama.

17 - Não te esqueças também dos nossos camaradas europeus que dormem na rua e já aqui aforado no Blogue e na Tabanca do Centro

18 - Também quero deixar aqui expresso que este comentário nada tem a haver com os 3 Post deste tema, embora daqui se possa inferir alguma matéria subjacente que responda aos mesmos

19 – Como vês não fujo às questões e não tenho temor reverencial seja por quem for.

E já agora, dado que este comentário é extenso e tem algo de muito subjacente que nos toca a todos, os nossos camaradas editores podem publicá-lo sob a forma de Post. se assim o entenderem
Recebe um grande abraço
Carlos Silva

Anónimo disse...

Obrigadíssimo, caro Carlos. Sabia bem que perguntava à pessoa certa, e por isso mesmo perguntei. Imagino que todos estes processos são dificílimos e é fundamental ter pessoas generosas como tu para ajudarem a ultrapassar questões administrativas e jurídicas muitas delas, como é natural, de grande complexidade. Acredito até que alguma documentação importante se terá perdido, ainda que me pareça que as nossas Forças Armadas sejam cuidadosas com a preservação dos seus arquivos.
Conheço e leio o teu blogue (aliás, cheguei lá quando procurava informações sobre uma companhia açoriana) e também sei que és um participante neste muito mais antigo do que eu. Participo no "Luís Graça & Camaradas da Guiné" como "amigo", pois a minha comissão não foi na Guiné, mas em Angola.
Quanto aos descontos, quando fui para o SMO pedi logo para continuar a descontar para a CGA. E digo-te mais: uma das minhas "glórias" na vida militar e de funcionário público em geral foi o facto de o primeiro pré que recebi(?) na recruta no CISMI ter sido negativo. Ou seja, em vez de receber, fiquei a dever à Fazenda Nacional 40 ou 50 centavos, precisamente porque com o desconto para a CGA, em vez de receber um ou dois escudos (havia os descontos para todo o género de coisas) fiquei a dever. Evidentemente que mal terminei o SMO pedi logo para descontar só o acréscimo dos 100%, pois o tempo normal fui descontando enquanto estive ao serviço. Pelo que percebi, a legislação agora em vigor faz a contagem de tempo quer se tenha ou não descontado na altura ou posteriormente. Aliás, segundo me parece, até retiraram o acréscimo que era devido aos ex-combatentes que haviam descontado para a CGA ou Previdência.

Como vivo aqui nos Açores, não tenho grandes possibilidades de participar nos convívios de ex-combatentes. Mas podes estar certo que, um dia que vá aí ao continente, te contactarei para conversarmos sobre estas e outras questões. Será com muito gosto que te conhecerei pessoalmente.

Repito: muito obrigado. Ainda bem que perguntei. Ficámos todos muito mais esclarecidos.
Um grande abraço,
Carlos Cordeiro