sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Guiné 63/74 – P7226: Controvérsias (107): O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152/73)


1. O nosso Camarada José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER, CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar, 1974), enviou-nos, em 30 de Outubro de 2010, a seguinte mensagem:


Camaradas,

Já há muito tempo que estou faltoso em enviar as fotos da praxe, uma das condições do “alistamento” no Blogue.

Aqui as envio agora, com mais uma que já havia enviado, da cerimónia da entrega do aquartelamento de CUFAR ao PAIGC.
O que era ser ranger entre 1960 e 1974?
Camaradas de armas,

Ultimamente tenho estado a pensar nas condições e formação militar que a nossa tropa tinha para enfrentar, um inimigo com uma experiência profunda do terreno, armamento melhor e uma experiência que em alguns casos era superior a 10 anos de combate, assim como uma cultura e formação de guerreiro. Acho que já aqui foi escrito que, para certas tribos na Guiné, um homem, para ser homem, tinha que beber por um crânio humano.

Como todos nós sabemos, os nossos soldados, na sua maioria, eram agricultores, pedreiros, pastores, etc. e iam para a guerra com cerca de 6 meses de treino e os oficiais e sargentos milicianos com cerca de um ano de instrução e uma idade muito perto dos 20 anos.

Na minha opinião este treino era absolutamente inadequado, principalmente quando era administrado por pessoas que não tinham vontade, capacidade nem conhecimentos para o fazer como era o caso dos milicianos.
Muitos dos oficiais milicianos eram recrutados no curso de sargentos milicianos e não tinham idade e, ou, maturidade suficiente para assumirem as responsabilidades de comando.

Vejamos: um alferes miliciano, que era responsável por administrar uma recruta e depois a especialidade aos soldados que eventualmente iam consigo para a guerra, aprendia o “ofício” de militar instrutor e comandante em 6 meses (dos quais 3 eram para a sua própria introdução no Exército e os outros 3 para frequentar um curso intensivo - a especialidade), no meu caso “Operações Especiais”.

A maior parte dos milicianos não tinha convicção para esta guerra e o seu principal objectivo era sobreviver, ele e aqueles que serviam sob o seu comando.

Isto era totalmente demonstrado pela dedicação que a grande maioria dos milicianos dava à formação dos praças, que eventualmente iam arriscar a vida na Guerra do Ultramar.

A formação militar era insuficiente e inadequada!

Isto era sabido pelos escalões do nosso Exército e um dos remendos que tentaram fazer, foi colocar pessoal de operações especiais na formação de companhias para que, estes milicianos melhor treinados mas muito longe de profissionais, conseguissem uma melhor formação operacional nas suas companhias.

Esta filosofia era-nos transmitida em Lamego, mas eu penso que era uma “táctica” muito mal pensada, pois os Rangers nunca foram aceites e não queriam, nem se podiam impor, aos seus demais camaradas e aos capitães milicianos que, na sua maioria, não tinham conhecimento de tal estratégia ou ignoravam-na por completo. Na minha opinião não havia metodologia implementada para esta integração.

Os 10 Mandamentos RANGER lidos todos os dias em Penude, na formatura matinal
Então o que era um Ranger nos anos da guerra?

Um Ranger, era um miliciano recrutado nas fileiras dos milicianos (após prestação de testes às suas capacidades físicas e psicológicas), para serem chefes militares de elite, preparados e treinados para isso, e que no fim de cursos duríssimos e altamente exigentes (a nível de equipa, grupo de combate e companhia de instrução no C.I.O.E.), eram distribuídos pelas diversas unidades de tropa normal.

Esta política, na minha opinião pessoal, não fazia absolutamente sentido nenhum a não ser que houvesse uma estratégia perfeitamente definida e melhor delineada, para que os conhecimentos que os Rangers adquiriam (apesar de eu os achar inadequados), fossem disseminados por todos os militares que compunham uma companhia.

Isto estava muito longe do que acontecia na realidade, pois quando da formação das companhias, aos Rangers eram-lhe atribuídos uma equipa (no caso de um 1º Cabo Miliciano) ou um pelotão (no caso de um Aspirante Miliciano), para serem treinados para a guerra.

Os outros pelotões e equipas eram treinados pelos outros milicianos que não tiveram o treino de Ranger.

Por outro lado muitos dos Rangers que foram integrados nas companhias “de tropa macaca como alguns lhe chamavam”, com as suas melhores formações físicas e psicológicas incutidas na sua especialidade, impunham treino rigoroso e muito exigente a homens mal alimentados que, como é óbvio, os debilitava nas suas melhores aptidões físicas e pior animados nas suas capacidades mentais.

Cometeram-se muitos disparates que, por vezes, resultaram em ferimentos graves nos soldados que estavam sob os seus comandos.

Como devem saber, porque acho que aqui já foi referido, o treino dos Rangers era realizado, na sua quase totalidade, com bala real, mas havia muita preocupação por parte do pessoal instrutor e monitor, altamente competente em minimizar a eventualidade de provocação de acidentes.

Vários Rangers, acabada a especialidade e integrados nas unidades a que eram destinados, decidiam incutir o mesmo treino que lhes foi ministrado em Penude, aos soldados que lhes foram destinados, mas sem as condições (alimentação, equipamento, armamento, munições e outros sistemas de suporte), que lhes permitissem que estes treinos obtivessem os sucessos desejados.

Em diversos casos estes métodos foram completamente desastrosos devido, essencialmente, às faltas de capacidade de transmissão das técnicas e conhecimentos adquiridos, pelo lado dos instrutores e, por outro lado, à falta de poder de assimilação dos instruendos.

Grande quantidade dos soldados que eram incorporados nunca se convenceram que iam lutar feroz e mortalmente contra outros homens, numa guerra (ainda por cima de guerrilha), perigosa e traiçoeira, que os poderia mutilar ou que lhes poderia ser fatal.

Eu tive militares que foram comigo para a Guiné, que não consegui no seu período de instrução que dessem uma simples cambalhota. Ao forçá-los a fazerem isso, caíam mal e, num caso específico, um deles inclusivamente partiu a clavícula.

Pensei na altura que talvez 50% ou 60% tivessem reunidas as capacidades mínimas (físicas e psicológicas), para enfrentar a guerra.

Mas era óbvio que isso, para o poder político e militar, não era importante e o que se pretendia era carne para canhão e formar os tais dispositivos de quadrícula (linha dianteira da guerra espalhada por todo o lado na Guiné).

Era assim que se formava a “tropa macaca portuguesa”, que aguentou 3 frentes de guerra durante 14 anos, apesar de todas as vicissitudes, como treino insuficiente, fraco armamento, péssimas acomodações, transportes deficientes e uma alimentação de bradar aos céus.

Quero só acrescentar um acontecimento que se passou numa das poucas vezes que fui em patrulha, antes do 25 de Abril, e que me foi relatado por um dos oficiais do PAIGC, em Gadamael-Porto, durante uma das nossas conversas.

Qual não foi o meu espanto, quando um chefe do PAIGC nos perguntou, se nos lembrávamos de uma patrulha que tínhamos feito no dia X, pelas tantas horas, na região de Unsiré e Gadamael fronteira.

Respondemos que sim e perguntamos porque nos fazia essa pergunta.

Mais espantado fiquei, quando ele nos disse que, nesse dia, tínhamos passado por uma emboscada montada por eles nessa zona.

Perguntamos logo porque não abriram fogo e a resposta foi algo que ainda hoje me regozijo: “NÃO ABRIMOS FOGO PORQUE PENSAMOS QUE ERAM COMANDOS”.

Como oficial que fui, quero dizer a terminar que nunca mais quero ir para uma guerra, nem comandar ninguém, mas se tivesse que ir de novo hoje só aceitaria desde que me acompanhassem os mesmos militares portugueses desse tempo, porque demonstraram capacidades invulgares de enorme de sacrifício, tolerância e adaptação às circunstâncias mais adversas.

Espero que este texto gere novos “postes” sobre este assunto, pois considero-o como um dos pontos fundamentais, para compreendermos como conseguimos aguentar uma guerra daquelas durante tanto tempo.


Cufar > 07SET1974 > Cerimónia da entrega do aquartelamento ao PAIGC
Cumprimentos para todos
José Gonçalves
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152/73
__________

Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

29 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7190: Controvérsias (106): Venho aqui para vos dizer que estou vivo! (António Matos)

25 comentários:

JOSE CASIMIRO CARVALHO disse...

Camarada militar:
Camarada Ranger :
Sábias palavras que subscrevo na integra, sei bem do que falas.
Parabéns pela eloquência.

Um abraço

J Carvalho
Ex Fur Mil OP/ESP
Guileje
Gadamael

Joaquim Mexia Alves disse...

Com algumas "nuances", assino por baixo.

Julgo no entanto que, apesar das fracas condições, se conseguiu dar uma melhor instrução aos pelotões comandados pelos O.E., no computo geral, claro e não como regra.

Ao que julgo saber, a ideia era em cada companhia de quadricula haver, digamos assim, um "pelotão especial", o que à partida era inviabilizado pois os três Furriéis de O.E, em vez de serem colocados no pelotão do Alferes o. E. eram disseminados pelos outros pelotões, o que acabava por não aproveitar a ninguém.

Seria talvez muito diferente se o Alf. e Fur. de O.E. constituissem um pelotão com soldados escolhidos em toda a companhia.

Não seria essa a ideia inicial que presidiu aos cursos de O.E.?

Um abraço camarigo para todos

Carlos Vinhal disse...

Caros camaradas Rangers
Gostei muito dos 10 Mandamentos, (onde é que eu já ouvi isto?), mas em boa verdade vos digo que não acrescentáveis grande coisa no meio da tropa (mais) macaca.
Um abraço sem grito, porque estou doente da garganta.
Carlos Vinhal

Anónimo disse...

Caros camaradas

Enfatizando o sentir do Carlos Vinhal, atrás manifestado no seu comentário, aproveito a boleia e apraz-me dizer o seguinte: Entre alguns acontecimentos fatídicos vividos em Canjadude, há dois, um deles coincidiu com a minha estadia, em que umas acções que aparentavam serem rotineiras, resultaram em tragédias, com mortos envolvidos. Foram a consequência do facilitismo e improvidência de tropas especiais (nestes casos), que desencadearam o acidente, num dos casos fogo das nossas tropas a fazer fogo contra nós, que provocou mortos. Eram tropas que se supunham altamente treinadas (não pertenciam à CCAÇ. 5). É lógico que com este desabafo quero tão-somente extrapolar, que a eficácia da especialização (por aquilo que me apercebi no terreno) por vezes era bem mais modesta do que aparentava ser, não por falta de brio dos seus elementos, mas talvez falta de instrução. É da natureza humana cada um puxar a brasa à sua sardinha, valorizando a sua arma.

Um abraço

José Corceiro

antonio graça de abreu disse...

Pois é.
Não são tanto os rangers (ou serão?)
mas este gosto tão português de nos transformarmos em vítimas.
Fomos o que nos foi possível ser, numa guerra errada. Mas há guerras certas?

Abraço,

António Graça de Abreu

José Marcelino Martins disse...

Na realidade, a opinião que nos faz chegar o nosso camarada José Gonçalves, cuja entrada na Tabanca Grande saúdo, são pertinentes e lógicas, não fora o estarem desfazadas no tempo.

Na realidade o/os comandantes das nossas Forças Armadas, incluam-se aqui também o/os políticos da época, não viam com bons olhos as novidades, nomeadamente no exército.

Em 1950, quando foi criada a primeira força para-quedista, era para ser incluída no exército, mas como era novidade e não era bem vista, acabou por ir "parar" a Força Aérea, sob a tutela de Kaúlsa de Arriaga, que por sua vez era sub-secretário de Estado da Força Aérea, que como "coisa também nova", não tinha "direito" a Ministério. Essa força, inicialmente destinada ao Exército seria designada como "caçadores", passando a ser designados como "caçadores para-quedistas".

O aparecimento e estudo do nome Caçadores, surgido no inicio do Século XIX (aquando das invasões francesas), também é interessante.

Em 1959/1960 surge o CIOE (hoje CTOE) que se destinava a formar unidades com instrução em contra subversão, antecipando os acontecimentos em África, que se registariam no ano imediato.

Essas unidades, a quem seria ministrada uma instrução especifica, viriam a ser designadas como "Caçadores Especiais" que, mais uma vez, por serem "Especiais" deixaram de ser formadas em Lamego e foram instruídas por todo o país como "Caçadores" independentemente de serem de infantaria, artilharia ou cavalaria, sendo também designadas, face à diferente origem das armas de "unidades tipo caçadores".

Assim o CIOE passou a formar oficiais e sargentos com a especialidade de Operações Especiais, também designada de Rangers, porque o "especial" no exército não era bem aceite.

Não quero com isto tirar o mérito a estes especialistas mas pergunto: no universo de 140 a 150 homens, qual a diferença em acções de combate de 4 elementos desta especialidade, enquadrados no universo de militares não preparados da mesma forma? Mesmo se existisse um pelotão OE, qual/quais seriam as reacções dos seus elementos, cuja instrução inicial era basicamente a dos restantes? Seria suficiente o conhecimento e o empenho dos seus chefes directos (oficial/sargentos) para os prepararem para uma actuação diferente e por ventura mais eficiente?

Coloco-me, agora, no tempo actual para perguntar: Seriam necessários OE's na guerra que travamos em África? Seriam necessários, tão somente, militares da já estafada "tropa macaca"? Ou seria melhor que, em devido e avisado tempo, se ter dado "ouvidos a quem sabia da situação" e alertou, mas que ficou a bradar no deserto?

Creio que, nestes tempos, o nosso conhecimento, saber e experiência já não vai modificar os acontecimentos.

No fim, e mesmo no fim, todos fomos soldados. Quer quiséssemos quer não.

Cumprimos o nosso dever. Respondemos PRESENTE quando nos foi solicitado/exigido. Temos a consciência do dever cumprido.

Apenas nos falta o HAVER!

Torcato Mendonca disse...

Pois!

Com Vossa licença eu Copy o Carlos Vinhal e António Graça de Abreu e Paste.
Acrescento:
Continuo sem saber o que é isso de "tropa macaca"
E
A quase totalidade dos graduados da minha ("") Companhia fez a Especialidade tendo como CMDT da instrução o General,nesse tempo Capitão Comando Victor Oliveira, ex. Presidente da Liga de Combatentes.

Informo ainda que vos desejo um óptimo fim de semana, não com Marte mas com Vénus ou Afrodite se não temerem a crise Grega.

AB do T.

Joaquim Mexia Alves disse...

Antes que batam mais no ceguinho, quero afirmar aqui que nunca me achei mais do que os outros lá por ser O.E.

Aliás, fui voluntário à força como costumo dizer, mas tenho muito orgulho em tê-lo sido!

De qualquer modo repito que já que o fizemos podiamos ter sido melhor aproveitados.

Se dava resultado ou não, sei lá eu bem e agora também já não interessa muito.

Seria um exercicio de "futurologia no passado".

Enfim tudo se pode falar e tuido se pode discutir, sem menosprezar ninguém, nem coisa nenhuma.

Tenho dito!

Um forte e camarigo abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves
Alf. Mil. de Operações Especiais
nºmec. 01028270

Pois então!!!!

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caros camaradas

Para quem esteve entre 69/71, só escrevo

15.ª Comp. Comandos, o resto é conhecido.


Um abraço

Mário Pinto

Anónimo disse...

Uma coisa que nunca percebi é o que é que o verbo 'ranger' tem a ver com Operações Especiais...


SNogueira

Anónimo disse...

O verbo "ranger"?
Se calhar está associado às artroses e outras manifestações reumatismais.
JD

antonio barbosa disse...

Boa noite camaradas Ranger e não só
Claro que sou quase obrigado e subscrever as palavras do camarada
José Gonçalves, pois comigo aconteceu precisamente a mesma coisa quando comecei a dar instrução como Asp. Mil no ex-GACA3
foi-me proibido transmitir aos soldados parte dos ensinamentos que
trouxe de PENUDE, um deles a utilização de bala real e pedir um pouco mais de empenho e destreza
fisica o mesmo aconteceu em PENAFIEL no Ral 5 quando formáva-mos Batalhão para irmos para a Guiné a minha alcunha era a do fogueteiro mor da Compª tendo sido diversas vezes ameaçado de que iria
para a guiné como Aspirante, de qualquer forma tenho a certeza de que os homens do meu pelotão estavammais bem preparados do que os outros, o que não serve de forma
alguma de consolo pois a Compª tinha que funcionar como um todo.
Um abraço do tamanho do mundo
ANTONIO BARBOSA, ex- Alf.Mil Op. Esp/RANGER da 2ª CART/BART6523

Anónimo disse...

Caro José Gonçalves,

Um texto bom, mas que a meu ver tem algumas lacunas e que passo a expor:

- O estar em Lamego, não quer dizer que todos sejam de Operações Especiais (Rangers)era necessário ser aprovado no Curso. Hoje quem qizer saber quem é quem é fácil.

- No meu Curso ( 3º. de 1964) dos próximo de 50 que o frequentaram o curso, apenas 22 ficaram aprovados.

- No meu Curso, não eram apenas milicianos, mas sim também alferes do quadro, um dos quais foi o capitão Pamplona a quem foi imposta a Torre Espada.

- Ao (cabo miliciano) não era atribuida uma equipa, mas sim uma secção formada por duas equipas comandadas por primeiros cabos.

- Oficiais milicianos recrutados nos sargentos milicianos sem maturidade. Desculpa, conhecedor de casos verídicos, isso não é verdade e parece um pouco duro para esses camaradas. Mas só te digo que na minha C.CAÇ. 763, era um furriel miliciano que comandava o grupo de combate em vez do Alferes.

- Não sei como era no teu tempo, na minha companhia não existiam pelotões, mas sim grupos de combate.

- O acima referido, talvez porque o comandante de Companhia, tenha tirado o Curso de Contra-Insurreição em Lamego, e o meu grupo de combate era comandado por um dos tais (cabos milicianos) que passarou para (Aspirante miliciano). Portanto estávamos os dois de Op. Especiais no mesmo grupo.

- Pelo que tenho lido aqui no nosso blog, já verifiquei que consoante o comandante de companhia e o pessoal da mesma, as formas de actuar eram muito diferentes, pois nós em determinadas operações formávamos por vezes grupos com elementos dos diferentes grupos de combate.
Este método era utilizado, quando faziamos operações em conjunto com a Milicia do João Bacar Jaló, com quem aprendemos muito.

- Já que falámos na Milicia do João, onde se encontrava o Alfa nan Cabo quando foi o arriar da Bandeira? Tenho curiosidade porque ele tinha desertado (para não ser fuzilado) pelo "Nino", isto em 1965 e ele continou a combater até 1974 segundo informações que tenho.

- Fica-te bem não querer ir para mais ninhuma guerra, tenho a certeza que aqui na Tabanca Grande esse sentir é geral.
Mas... se fosses!
Bonito gostei da tua referência ao valoroso soldado Português, pena não ser aqui mais vezes feita essa referência!

José Gonçalves, aí vai aquele braço do tamanho do Cumbijã,

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caro José Gonçalves,

Um texto bom, mas que a meu ver tem algumas lacunas e que passo a expor:

- O estar em Lamego, não quer dizer que todos sejam de Operações Especiais (Rangers)era necessário ser aprovado no Curso. Hoje quem qizer saber quem é quem é fácil.

- No meu Curso ( 3º. de 1964) dos próximo de 50 que o frequentaram o curso, apenas 22 ficaram aprovados.

- No meu Curso, não eram apenas milicianos, mas sim também alferes do quadro, um dos quais foi o capitão Pamplona a quem foi imposta a Torre Espada.

- Ao (cabo miliciano) não era atribuida uma equipa, mas sim uma secção formada por duas equipas comandadas por primeiros cabos.

- Oficiais milicianos recrutados nos sargentos milicianos sem maturidade. Desculpa, conhecedor de casos verídicos, isso não é verdade e parece um pouco duro para esses camaradas. Mas só te digo que na minha C.CAÇ. 763, era um furriel miliciano que comandava o grupo de combate em vez do Alferes.

- Não sei como era no teu tempo, na minha companhia não existiam pelotões, mas sim grupos de combate.

- O acima referido, talvez porque o comandante de Companhia, tenha tirado o Curso de Contra-Insurreição em Lamego, e o meu grupo de combate era comandado por um dos tais (cabos milicianos) que passarou para (Aspirante miliciano). Portanto estávamos os dois de Op. Especiais no mesmo grupo.

- Pelo que tenho lido aqui no nosso blog, já verifiquei que consoante o comandante de companhia e o pessoal da mesma, as formas de actuar eram muito diferentes, pois nós em determinadas operações formávamos por vezes grupos com elementos dos diferentes grupos de combate.
Este método era utilizado, quando faziamos operações em conjunto com a Milicia do João Bacar Jaló, com quem aprendemos muito.

- Já que falámos na Milicia do João, onde se encontrava o Alfa nan Cabo quando foi o arriar da Bandeira? Tenho curiosidade porque ele tinha desertado (para não ser fuzilado) pelo "Nino", isto em 1965 e ele continou a combater até 1974 segundo informações que tenho.

- Fica-te bem não querer ir para mais ninhuma guerra, tenho a certeza que aqui na Tabanca Grande esse sentir é geral.
Mas... se fosses!
Bonito gostei da tua referência ao valoroso soldado Português, pena não ser aqui mais vezes feita essa referência!

José Gonçalves, aí vai aquele braço do tamanho do Cumbijã,

Mário Fitas

Anónimo disse...

Só para saudar a boa disposição do Torcato. Aquela do "informo ainda que vos desejo um óptimo fim-de-semana... com Vénus ou Afrodite" fez-me dar uma gargalhada. Mais parecia um ofício circular do comando-chefe.
Bom fim-de-semana ao Torcato e a todos os camaradas e amigos,
Carlos Cordeiro

Cesar Dias disse...

Caro Torcato

"tropa macaca" eram todos os que usavam fitas pequeninas na boina, foi a grande diferença que notei no meu Batalhão.
Um abraço para todos, independentemente da tropa a que pertenceram.

César Dias

Anónimo disse...

Caros amigos,
É bom não nos esquecermos que estamos em período de "fazer contas à vida". É a lei natural das coisas. Olhamos para trás e colocamos cada coisa no seu prato da balança. Como é evidente, um fuzo, pára, op.esp. cmd. coloca esta sua qualidade no prato "haver". E não podia deixar de ser assim, pois todos teremos muita coisa a colocar no "deve". Aos 40 anos havia outras coisas muito importantes a resolver e não se pensava nisso. Ainda bem que agora se pensa, pois os at. Inf., Art. Cav., cond., enf., mec., coz., clarins, bás., e sei lá que mais também encontrarão outros elementos positivos para colocar no prato "haver".
Infelizmente, o o açoriano cabo ESCRITURÁRIO Raposo, grande Herói de Gadamael, não terá esta possibilidade. Provavelmente nem saberá que foi um herói, mas simplesmente que fez o que considerou correcto. Que pena tenho do facto de nunca termos sabido nada dele.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Estimados Camaradas.Desculpem "a
colherada" deste modesto combatente
que andou por terras de Moçambique.
"Em tempo de guerra,não se limpam
armas?".Pelo contrário,é quando e_
las, devem estar mais limpas.Subs_
crevo(não totalmente)o texto do Ca_
marada,José Gonçalves.Foi?(é)apaná_
gio dos exércitos modernos de todo o mundo,treinarem os seus soldados
de forma a torná-los aptos para a
guerra,na minha maneira de sentir(ver)nem sempre a mais correcta.Não
me arvoro em Freud,quem sou eu para
contradizer,tantos estrategas ; teo_
ricos, nacionais e estrangeiros.As:
castração e coação psicológicas;a despersonalisação o militarismo.Eu
não confundo com disciplina e com_
petência,para nos tornar bons sol__
dados e melhores matadores?.O vexa_
me e o achincalhar, comigo não re_
sultam.Fui recâmbiado para o C.G..
Estimados Camaradas,sou neto e fil_
ho de paramilitares,fui educado no
respeito pelo próximo;na disciplina
respeito pelas hierarquias;ser
prestável sem ser servil.Fui para o
serviço militar,não completamente às "escuras"nem arvorado em "chico
esperto".Com alguns livros lidos
sobre:conta-gerrilha;Argéla;Indo_
cinha(Dien Bien Phu)onde tropas de
Élite,por culpa do militarismo do
general Navarre levaram uma valen_
te tareia,a França perdeu 7 mil
Páras e o Vietnam."A fábrica de O_
ficiais"de Hans Hellmut Kirst é a prova do que mais atrás eu disse.
Não quer abusar da vossa paciência,
só vos digo que lá no To,nunca fui
voluntário para qualquer missão,era
escalado,ía.Nem o "zé" soldado como eu,tratava por tu.Vim de Mo_
çambique a uma semana de fazer 25 anos e Agraciado pelo meu desempe_
nho.Afinal fui útil ser deixar de ser gente.As minhas desculpas,um muito obrigado,desde Setúbal.
Carlos Nabeiro.

Anónimo disse...

Caros camaradas

Quero fazer um esclarecimento ao meu post que julgo ser necessário.

Quando afirmei que os oficiais milicianos recrutados do curso de sargentos milicianos não tinham experiência de vida nem instrução para assumir tais responsabildades não falo de outros mas sim de mim. Eu gosto de falar de experiência própria e não julgar os outros que não conheço msa por vezes sou culpado de fazer paralelos.

Eu fui recruta em Tavira e daí segui para Lamego para tirar o curso de oficial de Op Espc. Era um jovem de 20 anos sem muitas experiências vividas e só com o 7º ano do liceu que terminei estudando à noite num colégio em Lisboa. Quando formei companhia para ir para a Guiné era segundo comandante de companhia porque era o mais graduado devido aos valores que obtive no meu curso (15,7 valores).Assim eram as regras.

Quando o Capitão se ausentava, eu estava em comando de uma companhia operacional e tenho que dizer sinceramente que não estava preparado para tal. Todos os problemas que apareciam e apareceram alguns como um levantamento de rancho quando o capitão estava de férias tinham que ser resolvidos por um miúdo que na altura já tinha 21 anos.

Tudo foi resolvidos mas por vezes talvez não da melhor maneira e eu acho que esta era a prática corrente de resolver as coisas e foi assim que esta guerra foi feita (ao desenrasca o que aliás é uma qualidade muito portuguesa).

Também quero clarificar que este post não teve a intenção de ser um post "RANGER" mas sim um início de diálogo sobre as responsabilidades que foram dadas aos jovens milicianos para conduzir uma guerra durante 14 anos. Falar de treinamento militar, capacidades de comando e também da falta de informação que todos nós oficiais milicianos tinhamos da situação militar em que estavamos envolvidos. Quantas vezes saíamos para o mato sem saber qual o objectivo pois não haviam "briefings" para explicar para onde íamos porque íamos e o que fazer em caso de conflito. Tudo isto no meu vêr era aprendido com a experiência de cada um e "seja o que deus quiser"

Um abraço

José Gonçalves

Alf Mil Op Espc

Anónimo disse...

Também estive em Tavira,Julho de1967.Lembro-me muito bem das "re_
pescagens"feitas a instruendos mel_
hor classificados,para frequentarem
o COM,é verdade, sim senhor.
Carlos Nabeiro.

Unknown disse...

Independente do que acabei de escrever no Post 2 referente ao tema Ranger, pergunto: Mesmo com todos esses cursos quem estava preparado para enfrentar o desafio que nos foi imposto ? E foram tantos (fálo, melhor, escrevo por mim e do que assisti) começando logo por não sabermos lidar com os profissionais; depois com a própria malta,e não só daquela de quem muitos de nós fomos "responsáveis"; com o terreno, com o clima, com a alimentação, com as populações e finalmente com o IN.
Creio que só passado mais de um ano de comissão, fomos entendo o que eram as realidades. E aí os cursos especiais já tinham sido esquecidos. Quem ostentava essa vaidade teve de "baixar a bolinha". Uma coisa era (foi) o que aprendemos sem aprender quási nada no nosso tempo de instrução. Outra coisa a vida real que nos caía todos os dias em cima.
Essa é que nos foi ensinando.
O resto é de um bom domingo e que ganhe o Porto.

Anónimo disse...

Caro camarada José Gonçalves
basta de polémicas sobre "tropa disto e daquilo".
O QUE EU QUERO AQUI TESTEMUNHAR ERA A FORMA COMO TU E OS TEUS HOMENS SAÍAM PARA O MATO.
CLARO QUE PARECIAM "COMANDOS"
A MALTA DO PAIGC TINHA RAZÃO.
UM ABRAÇO
Um gadamaelista "artilheiro"
c. martins

correia lino disse...

corroboro muito daquilo que o ze gonçalves aí diz, no entanto eu acrescento mais alguns pormenores de grande importancia:
O curso dos OE devia ser ministrado em africa tal qual os dos comandos( os comandos que tiravam o curso em lamego eram reapreciados em africa e só aí ganhavam ou não o crachat) depois aquilo que o ministerio previa para os OE caiu pela base sendo um autentico fiasco pelos motivos que o ze gonçalves tão bem explana na sua curta mas boa experiencia de comandante de grupo.
o fiasco foi tão grande com o projecto OE , não por culpa dos integrantes mas sim dos mentores, que a maior parte dos oficiais e sargentos OE ultimamente tinham a missão de amanuenses, vago mestres ou chefes de outra coisa qualquer desde que não atrapalhassem "QUEM NA MACACA NADA QUERIA FAZER".
depois há aí uma pequena coisa que discordo do antifo Alf Gonçalves é o facto dele afirmar que alguns alferes tinham poucos conhecimentos por terem sido sargentos ,pois toda a gente sabe que todos os alferes que eram atiradores ou estavam nas tropas especiais tinham a proveniencia das escolas de sargentos milicianos, caldas, tavira santarem.. salvo uma ou outra excepção, e eram a estes homens que lhes era entregue a guerra no mato.
por "acaso" fui comando e acho, ao contrario do ze gonçalves, que os nossos antigos comandantes de companhia deviam ser milicianos...por razões que não interessa colocar aqui.
Dessem oportunidade aos antigos alferes dos comandos ou a furrieis, poderem vir a ser comandantes de companhia, os conhecimentos eram os mesmos sairam todos da mesma fornada..(alguns poucos ainda o foram com enorme sucesso todos)e a senda dos comandos ainda seria mais gloriosa.
um abraço
c.lino

Anónimo disse...

Face ao que acima escrevi e só depois de ler outras opiniões devo acrescenrtar o seguinte mesmo que seja considerado"o politicamente incorrecto":
quando um camarada diz aqui no forum que os melhores classificados na escola de sargentos de tavira passavam a oficiais (santa ignorancia)nada mais incorrecto...as milenas de contos de réis que os familiares ofereciam aos corruptos de outrora é que os fazia transitar de futuros sargentos para futuros oficiais, para não falar daqueles que assentavam praça no contigente geral em leiria como praças e acabavam em soldados cadetes atiradores em qualquer quartel de infantaria, cavalaria ou tropa especial..emfim.
tambem quando falei nos alferes e furrieis comandos que poderiam ser comandantes de companhia evidentemente que o não queria dizer que o fossem durante a primeira comissão aos 20/22 anos de idade ...como sabem 99,9% dos milicianos graduados dos comandos não metiam o "chico" (ser graduado naquela "merda", é mesmo o termo, não era facil) por tal aos referidos furriéis e alferes se lhe acenassem com condições para lá continuarem e serem comandantes de companhia...ai ..ai...
nalguns caso até foi possivel eh eh eh e com muito sucesso.
um abraço
correia.lino@gmail.com

correia lino disse...

Face ao que acima escrevi e só depois de ler outras opiniões devo acrescenrtar o seguinte mesmo que seja considerado"o politicamente incorrecto":
quando um camarada diz aqui no forum que os melhores classificados na escola de sargentos de tavira passavam a oficiais (santa ignorancia)nada mais incorrecto...as milenas de contos de réis que os familiares ofereciam aos corruptos de outrora é que os fazia transitar de futuros sargentos para futuros oficiais, para não falar daqueles que assentavam praça no contigente geral em leiria como praças e acabavam em soldados cadetes atiradores em qualquer quartel de infantaria, cavalaria ou tropa especial..emfim.
tambem quando falei nos alferes e furrieis comandos que poderiam ser comandantes de companhia evidentemente que o não queria dizer que o fossem durante a primeira comissão aos 20/22 anos de idade ...como sabem 99,9% dos milicianos graduados dos comandos não metiam o "chico" (ser graduado naquela "merda", é mesmo o termo, não era facil) por tal aos referidos furriéis e alferes se lhe acenassem com condições para lá continuarem e serem comandantes de companhia...ai ..ai...
nalguns caso até foi possivel eh eh eh e com muito sucesso.
um abraço
correia.lino@gmail.com